FORMAÇÃO DOCENTE E A DIVERSIDADE CULTURAL NO AMBIENTE ESCOLAR

Por Lúcia Maria Matos Silva Santos | 20/07/2020 | Educação

FORMAÇÃO DOCENTE E A DIVERSIDADE CULTURAL NO AMBIENTE ESCOLAR

 

Lúcia Maria Matos Silva Santos1

 

Resumo: Diversas são as questões que envolvem a diversidade cultural brasileira e por conta disso, muitos estudos têm sido feitos acerca deste tema. Aqueles que se preocupam com uma educação mais cidadã, tentam se aprofundar em conceitos de diversidade, igualdade e justiça social articulando, ao mesmo tempo, esses conceitos à formação de professores. É correto afirmar que cada escola tem sua história, suas preocupações, suas regras e cultura administrativa, tudo isso distingue umas da outras. Mas em cada uma delas é possível encontrar o que é mais evidente na população brasileira: uma formação étnica diversificada em seus costumes, rituais e crenças. Por conta dessa pluralidade, torna-se necessário compreender o papel do docente na difusão educacional para um convívio democrático dessa diversidade cultural, compreendendo a importância de estimular o respeito entre os indivíduos dentro e fora do ambiente escolar, respeitando suas diferenças além de demonstrar o quanto essa diversidade torna a sociedade mais interessante, mais variada em experiências humanas, aprendizado, um patrimônio de todos que enriquece a vida e ensina as diferentes maneiras de existir socialmente e criar o futuro.

 

Palavras-chave: Escola; Diversidade Cultural; Etnias.

 

Abstract: There are several issues surrounding Brazilian cultural diversity and because of that, many studies have been done on this subject. Those concerned with a more citizen education, try to delve into concepts of diversity, equality and social justice articulated at the same time, these concepts to teacher training. Is it true that each school has its own history, their concerns, their rules and administrative culture, all that distinguishes one from another. But in each of them you can find what is most evident in the Brazilian population: a diverse ethnic background in their customs, rituals and beliefs. Because of this diversity, it is necessary to understand the role of the teacher in spreading education to a democratic practice that cultural diversity, understanding the importance of encouraging respect among individuals within and outside the school environment, respecting their differences and demonstrates how this diversity makes society more interesting, more varied experiences in human learning, a heritage of all that enriches life and teaches different ways to exist socially and create the future.


Keywords: Education; Cultural Diversity; Ethnic Groups.

 

Introdução

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1Doutora e Mestre em Ciências da Educação. Licenciada em Arte, Comunicação e Expressão, Matemática e Pedagogia.  Psicopedagoga. Articuladora de Linguagens da Rede Municipal de Simões Filho e professora na Rede Municipal em Dias d’ Ávila – Bahia. E-mail. luciamar.21@hotmail.com

 

Atualmente é comum ver escolas enfrentando problemas de violência, tráfico de drogas e outras atitudes abusivas que acabam rodeando esse ambiente, principalmente nas instituições públicas. Porém, ainda assim a escola mantém o seu desafio de contribuir para a formação de cidadãos críticos, conscientes e atuantes.

As dificuldades encontradas pelos gestores e professores são muitas, o que exige da escola uma atitude que ultrapasse temas, uma metodologia que não seja apenas conteudista, idéias inovadoras que não se tornem apenas programas.

O docente define o seu papel com base na formação de cidadãos, e por conta disso a diversidade cultural é um fator de grande influência no ambiente escolar que pode causar diversos impactos entre os alunos, havendo a necessidade de o professor mediar isso. Dessa forma, os gestores e professores devem desenvolver uma maneira de atender a diversidade cultural do corpo discente, estimulando as diferenças e dando significados para oportunizar e produzir saberes em diferentes níveis de aprendizagens.

Nesse sentido, a possibilidade da construção de uma relação social baseada na diversidade cultural nos leva ao conceito de cultura:

“Cultura ou civilização, no sentido etnográfico estrito, é este todo complexo que inclui conhecimento, crença, arte, leis, moral, costumes e quaisquer outras capacidades e hábitos adquiridos pelo homem enquanto membro da sociedade.” (Tylor apud ROCHA, 1994)

Assim sendo, as relações humanas são todas necessárias e é preciso saber lidar com isso em toda e qualquer instância da vida. Dada a importância do assunto, sabe-se que a diversidade cultural está presente diariamente no contexto escolar seja expressa na música, na dança, na culinária, na língua portuguesa e entre tantas outras situações cotidianas, por isso a escola deve propor um aprofundamento no conhecimento da cultura em geral não perdendo de vista o aspecto fundamental, ou seja, a noção de que o conhecimento não constitui uma série de informações técnicas a serem aprendidas pelos alunos, mas de construção de saberes.

Do ponto de vista da legislação, a Constituição Brasileira apresenta uma versão bastante objetiva do que seja cultura. Para o Art. 216 a cultura constitui:

 

[...] patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem: I - as formas de expressão; II - os modos de criar, fazer e viver; III - as criações cientificas artísticas e tecnológicas; IV - as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais; V- os conjuntos urbanos e sítios de valores históricos, paisagísticos, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e cientifico.  (BRASIL, 1988)

 

Por conta disto, a escola deve propor um aprofundamento no conhecimento da cultura em geral não perdendo de vista o aspecto fundamental, ou seja, a noção de que o conhecimento não constitui uma série de informações técnicas a serem aprendidas pelos alunos, mas de construção de saberes.

Com essa perspectiva, é preciso compreender o papel do docente na difusão educacional para um convívio democrático com a diversidade cultural e entender a importância de estimular o respeito a essa pluralidade nas escolas, pois o etnocentrismo (quando um determinado grupo social sente-se superior a outro) desenvolve o preconceito e desvaloriza as diferenças entre os seres.

Assim, para que o professor saiba lidar com a diversidade cultural no ambiente escolar, são necessários que em sua própria formação sejam incluídos estudos antropológicos culturais que auxiliem na compreensão do docente e nas atitudes que possa vir a ter caso se depare com uma situação de etnocentrismo em sua sala de aula. Então, pergunta-se: se a graduação deve preparar o docente a agir em situações de etnocentrismo, isso ajudará a enriquecer a construção do saber e a formação de cidadãos quanto à pluralidade dos povos no ambiente escolar?

Com este estudo espera-se identificar os pontos fracos e fortes quanto à formação do docente e sua preparação mediante alunos plurais, com uma multiplicidade cultural evidente, ajudando a prepará-los para um ambiente diverso, aprimorando sua aprendizagem a fim de contribuir na construção do saber do discente.

Assim, o principal objetivo desse trabalho é o de acrescentar à grade curricular do professor, enquanto em formação, um pouco mais de foco em relação aos movimentos culturais e a diversidade cultural em sala de aula para que melhor lide com rotinas diárias dessa mistura, que podem sempre trazer o preconceito junto a elas. A intenção é auxiliar na formação de cidadãos que respeitem a convivência democrática desses grupos culturais diversificados, respeitando as diferenças e reconhecendo seus direitos.

Especificamente pretende-se identificar as maiores dificuldades encontradas pelo docente para lidar com as questões culturais na instituição, bem como as situações diversas que ocorrem numa turma de jovens e adultos. Além disso, é necessário verificar se as divergências culturais influenciam no aprendizado e se o professor está apto, com o atual currículo, a lidar com situações de conflitos culturais em sala de aula.

Além do conteúdo introdutório, o trabalho segue de outras seções de referencial teórico onde são expostos conceitos sobre cultura e diversidade, além de demonstrar a importância da preparação do professor em lidar com situações de diversidade cultural em sala de aula.

A metodologia a ser abordada neste estudo é a pesquisa exploratória, fundamentada na pesquisa bibliográfica a fim de contribuir na identificação dos problemas e dificuldades, existentes ou não, quanto à diversidade cultural em sala de aula.

 

2. Cultura e Diversidade

De acordo com Marilena Chauí existe uma necessidade de ampliar o conceito de cultura, no sentido de uma “invenção coletiva de símbolos, valores, ideias e comportamentos de modo a afirmar que todos os indivíduos e grupos são seres e sujeitos culturais” (1995, p. 81). Para lidar com aspectos de diversidade cultural, é necessário compreendê-los melhor. Suas implicações sociais e no contexto escolar, muitas vezes são seguidas pelo preconceito e pela discriminação, é nesse momento que o professor precisa estar apto a lidar com esse tipo de situação, a diversidade cultural entre o corpo discente.

Pode-se perceber a necessidade de adotar uma formação ao docente que o guie à valorização das identidades plurais, sejam elas de gênero, raça, língua ou etnia, facilitando a construção do saber e respeitando a cultura individual em sala de aula.

Dessa maneira, o professor deve conduzir o ambiente escolar valorizando as diferentes culturas. Chauí (1995, p.50) defende que:

 

A cultura é a criação coletiva de idéias, símbolos e valores pelos quais uma sociedade define para si mesma o bom e o mau, o belo e o feio, o justo e o injusto, o possível e o impossível, o inevitável e o casual, o sagrado e o profano, o espaço e o tempo. A cultura se realiza porque os seres humanos são capazes de linguagem, trabalho e relação com o tempo. A cultura se manifesta como a vida social, como a criação de obras de pensamento e de arte, como vida religiosa e política.

 

Por isso o trabalho contínuo do docente e da instituição de ensino é fundamental, principalmente, no que diz respeito à valorização de diferenças, pois fará com que uma cultura não se sobreponha a outra e que o preconceito e a violência não ocupem lugar de destaque na educação.

Somente o professor pode estabelecer a ponte entre as diversas culturas presentes, pelo confronto positivo entre as mesmas, pela resolução autorregulada dos conflitos cognitivos e culturais.

A ele cabe, também, fazer da escola um espaço de pluralismo cultural, de expressão e afirmação prática de referências e identidades, como ponto de partida e núcleo estruturador dos percursos e processos de aprendizagem dos alunos.

Deverá ser quem concretiza a promoção educativa de cada um, sem desvalorizar a individualidade, resolvendo os conflitos entre globalização e diversidade, através do respeito pelas identidades e especificidades regionais, locais e pessoais que apenas consolidarão a integração e a coesão social.

Cada uma dessas definições está presente nas diferentes culturas e geram, na sociedade, um modo de pensar e agir que leva à desigualdade social, à exploração econômica, à violência e à escravidão.

 

3. O Currículo do profissional de Educação

 

O preconceito é uma das formas que o desrespeito à pluralidade se manifesta, o que acaba por comprometer a dignidade das pessoas. Por isso é necessário educar para a pluralidade, para garantir o respeito ao outro. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação, de acordo com esses princípios, determina, segundo Cury (2003,p.56) que:

 

“Educar para os direitos humanos é estimular uma prática educativa inspirada nos princípios da liberdade e nos ideais de solidariedade humana, com a finalidade do pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.”

 

Para desenvolver uma atitude que vise o respeito à pluralidade, é preciso que o educador tenha uma boa base, ou seja, um currículo apropriado na sua formação. Para Freire (1986), o currículo é entendido no sentido amplo que passa necessariamente por uma leitura do mundo:

 

“O currículo padrão, o currículo de transferência é uma forma mecânica e autoritária de pensar sobre como organizar um programa, que implica, acima de tudo, numa tremenda falta de confiança na criatividade dos estudantes e na capacidade dos professores!”.

 

Evidentemente não há como definir um currículo específico para cada tipo de classe, cada tipo de professor. O que pode ser feito é melhorar o currículo do docente em sua formação, incluindo e dando ênfase às questões culturais, antropológicas, que formaram a sociedade e que sempre irá influenciar no dia a dia de todos.

Assim, ele deve ser pensado para a diversidade, vendo cada indivíduo como uma unidade singular, com seu próprio modo de vida e personalidade. Essa prática deve ser exercida nas escolas, e estas precisam ser mais flexíveis quanto ao currículo do próprio corpo discente.

Portanto, o professor deve dominar o conteúdo e os métodos de ensino sendo capaz de diversificar seus meios para atingir os objetivos cruciais para a formação escolar de jovens e adultos. Por conta disto que o currículo na formação do professor deve ser revisto, reconhecendo a variedade de culturas e posicionamentos sociais existentes na sala de aula, para que possa melhor alicerçar o currículo do discente, no reconhecimento dessas diferenças buscando o respeito ao outro e a valorização da diversidade cultural.

Muitas problemáticas envolvem o cotidiano escolar, a vida social de cada indivíduo que está presente nesse ambiente, por isso o professor deve sempre querer ir além dos resultados esperados pelo currículo regular. Deve aprimorar sua metodologia a cada dia, questionando-se sempre onde ainda pode melhorar.

Assim, este estudo consiste em analisar quais as maiores dificuldades do docente em lidar com a diferenciação cultural na educação de jovens e adultos na Escola Estadual Azevedo Fernandes, no município de Salvador-BA, e suas percepções quanto à sua formação, seu currículo, e a influência desse conhecimento ao lidar com determinadas situações relacionadas a essa problemática.

 

4. Produtos e resultados esperados

 

O estudo apresenta extrema relevância na construção do saber e na formação de profissionais aptos a lidar com a diversidade cultural. Dessa forma, espera-se contribuir na formação do profissional de educação, utilizando um embasamento cultural maior, incentivando também o processo contínuo de aprendizado pelos professores.

Assim, o professor deve aprender a lidar com o etnocentrismo sem tentar homogeneizar o corpo discente. O que deve ser ensinado é o respeito, as questões interessantes que cada um tem a acrescentar, e passar conhecimento. Espera-se desenvolver a transformação de atitudes e valores, formando novos comportamentos cotidianos para a superação da discriminação.

Além disso, o trabalho deverá lidar com a pluralidade cultural em uma sociedade marcada pela diversidade o que não se resume à palavra fácil. Para que funcione, é preciso ampliação da consciência dos gestores e professores, bem como dos alunos, mas também exige ética, respeito e valorização das diferenças.

Acredita-se na importância desse estudo, pois a escola é fundamental no desenvolvimento de cidadãos e na sua capacidade de análise e reflexão crítica.

 

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

Fica explícita a importância da formação escolar na vida dos discentes. Além disso, deve-se enfatizar a formação dos docentes e discentes com base nos princípios da ética e pluralidade cultural. Essa formação é fundamental para a convivência em sociedade num país como o Brasil, ou ainda, em um estado como a Bahia, que se distingue por sua diversidade cultural, étnica, racial e socioeconômica.

Dessa maneira, ao realizar este estudo considerou-se sua relevância como referência para elaboração das atividades voltadas para as técnicas de ensino. Além disso, uma reflexão acerca do tema é imprescindível para que todos os atores envolvidos reflitam sobre seus conceitos e valores, libertando-se de preconceitos para legitimar seu trabalho. O papel do professor é o de mostrar para a sociedade que a escola é um ambiente onde todos têm o direito à diferença e ao direito de viver com ela em comunidade.

 

REFERÊNCIAS

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Artigo 216 parágrafo único.

CHAUÍ, Marilena. Cultura política e política cultural. São Paulo: Estudos Avançados 9 (23), 1995, p.71-84.

CURY, Roberto Jamil. Lei de Diretrizes e Bases da Educação nacional: lei 9.394/96/ apresentação. 6. Ed., Rio janeiro: DP&A, 2003.

FLEURI, Reinaldo Matias. Intercultura e Educação, Revista brasileira de Educação, n.23, maio/ago., p.16-35. Disponível em: . Acesso em: out.2012.

FREIRE, Paulo; SHOR, Ira. Medo de Ousadia - O Cotidiano do Professor. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1986.

Rocha, Everardo. O que é etnocentrismo. São Paulo: Brasiliense, 1994.

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