Formação de Professores do Século XXI: Uma Visão Social e Cultural

Por natalia ferreira duque | 03/10/2016 | Educação

Natália Ferreira Duque1

Rosana Aparecida Siano da Silva ²

RESUMO

O presente artigo busca apresentar uma visão social e cultural da formação de novos Professores do século XXI. Ter clareza da função social da escola e do homem que se quer formar é fundamental para que o professor realize uma prática pedagógica competente e socialmente comprometida, particularmente num país de contrastes como o Brasil, que tem grandes desigualdades econômicas, social e cultural. Daí a importância da formação do professor, pois cabe a eles, em sua prática docente propiciar situações de aprendizagem que levem ao desenvolvimento de habilidades e de conteúdos que possam responder as necessidades dos alunos no meio social que habitam.

 

  1. INTROUÇÃO

Atualmente, o currículo escolar encontra-se na berlinda. Os grandes eixos da arquitetura da modernidade foram abalados: o Estado, a sociedade, a cultura, o trabalho e a subjetividade. Nesse contexto, a escola, no seu formato herdado da modernidade e do projeto republicano de nação, encontra-se em crise. As reformas educacionais que vêm sendo introduzidas em diversos países, entre os quais o Brasil, procuram ajustar a escola a essas mudanças mais amplas, de acordo com as concepções dominantes sobre as novas demandas da economia, da sociedade e da cultura. No Brasil, as deficiências na formação inicial dos professores e as precárias condições de trabalho que enfrentam nas escolas tornam difícil a concretização de um modelo no qual os professores tenham autonomia para adequar o currículo às características de diferentes grupos de alunos e de diversas condições locais, pois, segundo os ideólogos da reforma, é preciso que os alunos aprendam a aprender e não mais só aprendam.

Gimeno Sacristán mostra como os processos de globalização impactam a educação, pois incidem sobre as pessoas – maior individualismo, menor segurança social, novas formas de construção de identidades -, sobre os conteúdos do currículo – ampliação, diversificação e instabilidade dos saberes significativos - e sobre as formas de aprender – novos, poderosos e atrativos canais de circulação de informação fora do âmbito escolar (2007, p 15-40). Ao lado da formação de professores e da implantação dos sistemas centralizados de avaliação de resultados, o currículo compõe uma nova lógica de regulação da educação que procura combinar um certo grau de flexibilidade e autonomia local com o controle central de variáveis estratégicas, com o objetivo de intervir no âmago do processo educacional, ou seja, no que se ensina e como se ensina, no que se aprende e como se aprende.

No Brasil, as deficiências na formação inicial dos professores e as precárias condições de trabalho que enfrentam nas escolas tornam difícil a concretização desse modelo. Não é por acaso que se alternam, nas políticas educacionais brasileiras, a opção por um currículo prescritivo, que deve ser aplicado por um professor com pouca autonomia e a opção mais aberta, que requer um modelo de professor que seja co-autor do currículo.

Os modelos de formação de professores também se alteram e se alternam nessa dinâmica, ora enfatizando a necessidade de uma formação inicial mais sólida, realizada em nível superior, ora dela desacreditando e investindo em formações ad hoc, de acordo com um modelo de professor executor, bem longe do professor reflexivo sonhado por tantos.

A educação no século XXI deverá ser uma educação ao longo da vida. Este conceito permite “ordenar as diferentes seqüências de aprendizagem (educação básica, secundária e superior), gerir as transições, diversificar os percursos, valorizando-os”. A educação deverá se preocupar com a formação do cidadão, da pessoa em seu sentido amplo, e não somente com a formação profissional.

Delinear as caraterísticas de um professor ideal ou de uma edicação melhorada não é tarefa fácil. Essas qualidades devem ser adaptáveis ao período histórico, a realidade da escola, ao tipo de ser humano que se deseja formar, àquilo que influencia no conhecimento do entorno da escola e dos saberes a ele atrelados; devem ser adaptadas as necessidades socioculturais, econômicas e tecnológicas advindas da globalização. 

DESENVOLVIMENTO 

O século XXI  vive um tempo de revisões paradigmáticas em vários campos do conhecimento, e da ciência e tecnologia, sobretudo, em sua abordagem no contexto escolar, e são os professores, a partir de uma boa gestão, que podem colaborar para este movimento propondo estratégias adequadas a melhoria do processo de aprendizagem e, todavia, melhoria do processo de convivência nas instituições de ensino da atualidade.

            O ensino implica a escolha de paradigmas, e está opção está pautada no modelo de sociedade, portanto, ao analisarmos os diferentes paradigmas educativos percebemos que estes seguem a linha em que a sociedade evolui.

            A escola não pode ser desligada do mundo social, mesmo que esta tenha certa autonomia, e por isso, segue ainda hoje um modelo sistêmico para processar sua relação com a sociedade, pois é esta que determina seus fins e condiciona suas necessidades de mudança.

            Aplicação de conhecimentos está relacionada às novas necessidades das organizações no atual mercado global, onde o valor dos recursos humanos é multiplicado em relação a seu grau de conhecimento, onde esse dispõe de um papel ativo que possibilita a sua valorização pessoal e profissional perante a organização em que atua.

Segundo Gadotti (2000), o conhecimento tem presença garantida em qualquer projeção que se faça do futuro. Por isso há um consenso de que o desenvolvimento de um país está condicionado à qualidade da sua educação.

Sob essa ótica é importante ressaltar que a Sociedade do século XXI e em especial a Brasileira, busca uma educação que vise formar para a autonomia devendo fomentar nos educandos “a curiosidade e a criticidade”; considerando que um educador que busca despertar esses aspectos em seus educandos, não pode basear-se apenas na memorização mecânica (FREIRE, 2002).

O educador do século XXI, figura expressiva nesse contexto, deve contribuir para a formação de um indivíduo responsável, independente e cidadão, devendo estar atento à realidade atual, onde o aluno recebe informações a todo instante, devido às facilidades proporcionadas pelas novas tecnologias da informação e comunicação (GADOTTI, 2000).

Na sua formação reflexiva, o educador deve esforçar-se pela abertura e desenvolvimento constantes de vias de comunicação entre seus objetivos, seus limites, sua própria identidade (enquanto educador), o contexto escolar do qual faz parte, a realidade de sua sala de aula e a realidade de sua prática pedagógica, com o cuidado de não reduzir o seu “fazer pedagógico” a um processo técnico e mecânico, desconsiderando a complexidade presente do processo ensino aprendizagem. Nessa diretriz, sua ação centra-se no desvelamento da realidade, balizada pela análise da educação problematizadora em respostas às inquietações históricas situadas, não a reunião de ações esparsas e desarticuladas, mas inferências que orientem o jeito de caminhar pelo viés da politicidade e da escola orientada pelo princípio educativo propriamente dito.

 Portanto, ensinar, trocar informações e colaborar na construção de conhecimentos, é algo profundo e dinâmico onde a questão de identidade cultural que atinge a dimensão individual e a classe dos educandos, é essencial à "prática educativa progressista". Assim, torna-se imprescindível "solidariedade social e política para se evitar um ensino elitista e autoritário como quem tem o exclusivo do "saber articulado” (FREIRE, 2000)

Sob esse aspecto, Gadotti (2000) ressalta que:

“Educar para um outro mundo possível é fazer educação, tanto formal, quanto não-formal, um espaço de formação crítica e não apenas de formação de mão-de-obra para o mercado; é inventar novos espaços de formação alternativos ao sistema formal de educação e negar a sua forma hierarquizada duma estrutura de mando e subordinação; é educar para articular as diferentes rebeldias que negam hoje as relações sociais capitalistas; é educar para mudar radicalmente nossa maneira de produzir e de reproduzir nossa existência no planeta, portanto, uma educação para a sustentabilidade”.

Acredito que o professor do século XXI deve funcionar como um facilitador no acesso às informações. Deve funcionar como um bom amigo que auxilia a criança ou jovem a conhecer o mundo e seus problemas, seus fatos, suas injustiças e suas solidariedades, de forma que o aluno possa caminhar com liberdade de expressão e, consequentemente, de ação. Em contrapartida, o aluno deve respeitar o espaço escolar e valorizar o professor, sabendo aproveitar a magia do momento, o encantamento do aprender-ensinar-aprender.

Diante de tantas vicissitudes na sociedade, a ação docente também sofre a necessidade de alterações para se adequar ao contexto no qual está inserida. Segundo Roldão (2007), o que caracteriza e distingue o professor de outros atores sociais e agentes profissionais, é a ação de ensinar, ou seja, “o que se entende por ensinar,” conceito esse que não é consensual, nem estático. A emergência de um grupo profissional estruturado em torno dessa função é característica da modernidade. No tocante ao conceito de ensinar há controvérsias entre “professar um saber” e “fazer os outros se apropriarem de um saber”.

No contexto atual de acesso à informação e de estruturação da sociedade em torno do conhecimento enquanto capital global a concepção de ensinar enquanto transmissão pertence ao passado mais distante, quando esse significado era socialmente pertinente num contexto onde o saber disponível era menor, pouco acessível e seu domínio limitado a um número restrito de grupos e indivíduos, caracterizado até meados do século XX. Ensinar enquanto transmissão era aceitável nesse contexto como forma de tornar público o conhecimento aos que não o possuíam. Na atualidade, segundo Roldão (2007. p.95), a função de ensinar é caracterizada pela “figura da dupla transitividade e pelo lugar de mediação”. Assim, ensinar é a especialidade de fazer aprender alguma coisa (currículo), a alguém (destinatário da ação). Conforme Roldão (2007, p.102): “Saber produzir essa mediação não é um dom, embora alguns o tenham; não é uma técnica, embora requeira uma excelente operacionalização técnico-estratégica; não é uma vocação, embora alguns a possam sentir. É ser um profissional de ensino, legitimado por um conhecimento específico exigente e complexo.”

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