Fome Zero: O Projeto Chupim De Lula

Por Félix Maier | 01/10/2006 | Política

O programa proposto pelo Governo Lula, Fome Zero, merece todo o respeito dos brasileiros. Só quem nunca passou fome na vida dirá que um projeto desse tipo é demagógico.


O programa merece todo o respeito, não porque é do Lula, mas porque é  simplesmente necessário. E urgente. Quem tem fome, tem pressa dizia um
ator na TV, no início do projeto. É verdade. Primeiro deve-se dar de comer a quem tem fome, pois senão ele pode morrer. Saco vazio não fica em pé. Depois deve-se pedir algo em troca desse cidadão que teve o estômago forrado de comida e aí reside todo o problema dos programas assistenciais já implantados no Brasil.

Não há necessidade de Lula inventar a roda. Há muitos programas de combate à fome já implementados em nossa sociedade, tanto por parte do antigo Governo, como de Igrejas, ONGs e inúmeras outras instituições. O que falta é aperfeiçoar esses programas, de modo a eliminar a corrupção que sempre existe em programas semelhantes, para maximizar o resultado final, que é levar comida ao maior número possível de famintos.

Em primeiro lugar, é importante eliminar todas as formas de desperdício e de
corrupção que programas assistenciais milionários trazem consigo. Se o
problema é fome, deve-se levar comida ao faminto. Essa premissa pode ser
verdadeira, mas nem sempre funciona a contento. Um programa de distribuição de alimentos envolve uma logística complexa, desde a compra, o transporte e a entrega dos alimentos ao destinatário final. Nesse longo processo, o que mais existe é desperdício e corrupção, especialmente através de preços superfaturados e desvio de produtos.

Assim, parece ser ponto pacífico entre os estudiosos do assunto que os
pobres recebam, mensalmente, um certo valor em dinheiro ou um
vale-alimentação. Além de evitar a corrupção que existe em todo processo de compra, transporte e entrega de cestas básicas de alimentos que
normalmente consome 1/3 da verba do programa , haverá um maior número de beneficiados. As cidades e os vilarejos em todo o País, onde o programa de combate à fome for implantado, serão imediatamente beneficiados, com o aumento tanto das transações comerciais locais, quanto da arrecadação de
impostos. Com o vale-alimentação numa das mãos e a identidade na outra, o cidadão carente teria direito a produtos especificados no vale, e somente
esses produtos poderiam ser adquiridos nos mercados locais. Me parece que essa é a melhor forma de se evitar que haja desvio de dinheiro para outra
finalidade, que não seja a compra de comida. Se o cidadão carente receber o dinheiro depositado no banco, em sua conta-corrente, há uma excepcional
vantagem, porém uma desvantagem também grande. Com o dinheiro na mão, por menor que seja seu valor, o carente se sentirá como uma pessoa que melhor está exercendo sua cidadania, pois estará incluído no processo
econômico-social de sua comunidade essa a vantagem. O ponto negativo fica
por conta de que esse cidadão pegue o dinheiro no caixa e vá direto à bodega para tomar cachaça.

Quem, afinal, além do Governo, pode cooperar com o programa Fome Zero de Lula? Ora, todos nós.

Inicialmente, os gordinhos do Brasil estão convidados a dar sua parcela de
ajuda. Além dos milhões de gordinhos anônimos, poderiam doar seu almoço aos pobres (quem sabe, o jantar também!) personalidades como Faustão, Jô Soares, João Gordo, Fafá de Belém (da Dieta Já!, na campanha de Tancredo), incluindo nesta lista a maioria dos rechonchudos bispos da CNB do B. Pelo menos até os(as) gordinhos(as) conseguirem uma silhueta parecida com a de Lucinha Lins. Nesse grupo, pessoas com barrigas já um tanto proeminentes a começar pelo próprio Lula poderiam doar pelo menos o almoço. Afinal, se até bandidos na prisão costumam doar, de vez em quando, uma de suas quatro alimentações diárias, por que não imitá-los? A longo prazo, essa prática teria dois importantes impactos positivos na sociedade: além de matar a fome de milhões, ajudaria a manter a saúde dos ex-gordinhos, que, sem colesterol, teriam uma vida mais longa e de melhor qualidade. O único senão é que, com a longevidade, os ex-gordinhos viveriam alguns anos a mais, onerando ainda mais a Previdência...

O que não quer dizer que você, magricela como eu, não tem o dever de
contribuir para a eliminação da fome no Brasil, continuando a comer como um porco, sem mostrar nenhum tipo de remorso. Algum alimento em casa sempre poderá ser doado a organizações de caridade, como 1 kg de arroz, feijão, fubá ou açúcar. Com certeza, não lhe irá fazer falta alguma. Aquele pão velho, não jogue fora. Separe em uma sacola para doar a quem necessita o porteiro, o menino de rua que dorme sob a marquise aí no lado do seu prédio, que você finge que não existe, o mendigo que pede comida.

Mas, o mais importante num programa desse tipo é ensinar aos pobres como eles podem também combater sua própria fome. Porque, com essa política
paternalista de dar tudo de graça, sem exigir nada em troca, não se elimina
o problema. Pelo contrário, só faz aumentar a malandragem. Tem muito sujeito aí que é pobre porque é malandro, não gosta de trabalhar. Para esses, a doação de cestas básicas é um maná que cai do céu todo mês, não é preciso mais procurar trabalho. Com a rede esticada na varanda ou dentro do barraco, com o bucho cheio, a única coisa que tem em mente esse Jeca Tatu criado pelos programas assistenciais é agarrar a comadre e fabricar mais um bacurizinho. Tem já uma escada de 13 barrigudinhos, andando pelo terreiro, com a bunda de fora, um a mais não vai fazer diferença.

Esse o erro essencial de todo programa paternalista, que nada exige do
protegido. Quem recebe uma ajuda precisa dar uma parcela de seu trabalho em troca. Nem que seja pintando o meio-fio das ruas, combatendo incêndios florestais, recolhendo lixo, capinando jardins públicos, participando de uma
frente de trabalho, como a construção de açudes. Dar tudo de graça a uma
pessoa, mesmo que seja comida, não educa. Pelo contrário. Quem se sujeita a um esquema desses, só querendo ajuda, sem nada dar em troca, tem pouco respeito por si mesmo. Só o trabalho dignifica a pessoa humana.

O programa Fome Zero, é lógico, vai ser implantado para matar a fome de
famintos, não necessariamente para criar empregos. Porém, nenhum programa assistencial desse tipo triunfará se não forem exigidos dos beneficiados pelos menos duas ações concretas:

- todo beneficiado deverá contribuir com alguma forma de trabalho para a
sociedade que o está auxiliando;
- todo beneficiado deverá ser incluído no projeto de controle de natalidade
governamental, para que não tenha mais filhos (desde que já tenha, digamos,
três).

Não dando a população carente essa contrapartida à sociedade, o programa Fome Zero de Lula será como todos os outros já foram até aqui: um antro de
corrupção, um cabide de empregos para os compadres, um palanque para a
politicagem petista, além de sobrar uma enorme massa de manobra, que tanto poderá ser utilizada como voto de cabresto nas futuras eleições
municipais, como poderá ser aliciada a participar de movimentos contestatórios, tão ao agrado do PT, de modo a aumentar ainda mais o
exército falangista que tem seu núcleo no MST o braço armado do PT.

E, sem um programa sério de controle de natalidade, de nada valerá esse novo esforço governamental, pois o problema se estenderá ad aeternum nessa terra de Jeca Tatu, com a agravante de mais e mais crianças famintas serem jogadas no mundo, sem amparo, devido à paternidade irresponsável que tanto desgraça nosso País.

Isso me faz lembrar do chupim, um pássaro preto, cuja fêmea costuma colocar seus ovos nos ninhos de tico-tico, para que sejam chocados e, os filhotes, criados pelo casal de tico-tico. O filhotes de chupim crescem rápido, muito mais do que os filhotes de tico-ticos, que muitas vezes são jogados para fora do ninho, vindo a morrer. Enquanto isso, os chupins continuam a
choramingar nos ninhos, exigindo cada vez mais comida, mesmo já tendo duas vezes o tamanho da mãe tico-tico.

O que causa estranheza no programa Fome Zero do Governo Lula é que, em
nenhuma oportunidade, se falou até agora em planejamento familiar. Será medo do bispo? Ora, cada família deve estar consciente de quantos filhos pode criar. Se alguma família não tiver condições de criar um filho sequer, que não tenha nenhum. Ou seja, além da cesta básica, cartão magnético ou
dinheiro, o Governo deveria incluir camisinha ou anticoncepcional também.

Chega de criarmos os chupins dos outros!

() O autor é casado, tem dois tico-ticos, nenhum chupim criado nos ninhos dos outros...