Fogo & Água Os contra-pesos do universo
Por Paulo Rabelo Guimaraes Machado Diniz | 08/06/2012 | CrônicasF O G O & Á G U A – O S C O N T R A - P E S O S D O U N I V E R S O
O mais preparado assume um reino muito próspero depois de o grande patriarca ascender aos céus.
Confiante e cheio de atitude por ser o mais bem preparado este jovem vislumbrava um reino em plena expansão.
Não tardou muito a perceber-se uma tendência à decadência. Desesperou-se. Como posso desonrar a memória de meu pai? Perguntava-se. Tenho que achar uma solução para reverter o quadro?
Seus conselheiros bajuladores de nada o serviam.
Foi ao mestre dos mestres. Aquele que tanto seu pai citava em suas sábias palavras. Vivia este mestre nas longínquas montanhas do seu reino.
O mestre com toda a sua humildade ouviu suas laboriosas lamentações. Em seguida, convidou-o para, sozinhos, caminharem pelo bosque.
Foram na mina d’água no topo da montanha e desceram, acompanhando aquele singelo fio d’água. Horas de caminhada e já estavam margeando um pequeno riacho.
Todas as vezes que o jovem rei pedia a palavra o mestre o interrompia pedindo: “_apenas observe”.
Já estava escurecendo quando na beira de um belo e extenso lago, o mestre sugeriu ascender uma fogueira para esquentar aquele convívio.
O mestre a contemplar, parecia uma criança brincando de lançar pedras e observar a formação das ondas naquelas tranqüilas e volumosas águas do lago.
O jovem inquieto e já concluindo que perdera seu tempo, pois aquele mestre nada queria te ensinar. Estava perdido. Não sabia o que fazer. Aquela viagem era a sua última tacada.
A fogueira apagou-se. O mestre levantou e falou com propriedade.
O fogo consome a si mesmo. Da fogueira só resta cinzas.
E daquele fio d’água no alto da montanha tens, agora, um lago inabalável de poder e força.
Vá! Deixa a essência d’água fluir no seu reino.
Há um ensinamento sobre as três maneiras de entendimento dentre os vários ensinamentos budistas
1-A primeira é aquela em que a mente verdadeira, que existe além dos cinco sentidos, atinge a pura sabedoria espiritual.
2-A segunda é aquela em que a mente reúne várias informações e dá forma às idéias reunidas, as arquiva e não as abandona.
3-A terceira é de âmbito emocional. Esta é facilmente perturbada por maus pensamentos, desejos carnais, e assim por diante.
O mestre, através da visualização, ensinou a primeira parte de um importante princípio – o da cruz de Miroku: a essência do fogo com a força da verticalidade e a essência da água com a força da horizontalidade. Para entender estas funções da horizontal e vertical da cruz perfeita ascenda um fósforo e tente tombar o fogo. Agora, tente colocar a água em pé. Parece obvio, mas a civilização humana está baseada neste princípio. Este princípio é também a base da filosofia dos nossos ancestrais guaranis. Para eles, o mundo está em balanço sobre uma cruz. Com o desequilíbrio se perde o rumo, se desmorona.
O importante é cruzamento dos elementos opostos, cruzando-os harmoniosamente. Todas as coisas foram criadas segundo o princípio: “O espírito é o principal, a mente obedece e o corpo acompanha,” e estão intimamente inter-relacionados.
Uma civilização com Deus no centro em uma cruz perfeita não se desmorona. O próprio nome de Deus no Japão é Kami, ou seja, ka = fogo e mi = água.