Flores na janela
Por Robert Lima | 20/01/2015 | ContosEra um dia de chuva, o tempo estava escuro e as árvores balançavam forte nesse dia nublado...
Bruno era um garoto órfão, seus pais faleceram quando tinha dez anos de idade, a partir desse dia ele teve que morar com parentes, mas com o tempo se sentiu rejeitado, o tratamento com ele era diferente, e todas as responsabilidades que eram só pra um adulto, passou a fazer parte da sua rotina diária. Quando ele completou dezoito anos, resolveu morar sozinho, apesar de estar numa família, era mesma coisa que está sempre só. Ele vivia da pensão de seus pais, que ficou pra ele após ter adquirido a maior idade.
Bruno era introvertido, poucos colegas. Já era de se esperar, pois a vida pra ele não foi fácil. Ao lado da sua cama ele tinha sobre a mesa a foto de seus pais, e era isso que ele usava de válvula de escape quando queria desabafar, conversar com seus pais. Tudo que ele fazia durante o dia, antes ele ia até o porta retrato e conversava, pedia opinião, conselhos, e mesmo sem respostas, era como se os pais estivessem ali.
Em um dia de chuva ele saiu para trabalhar, pegou o ônibus e sempre quieto, colocou seu fone de ouvido e recostou a cabeça no banco como se estivesse dormindo. Era assim que fazia seu trajeto todos os dias para o trabalho.
Passando pela Lagoa Rodrigo de Freitas, o ônibus foi abordado por assaltantes, e Bruno não percebeu o que estava acontecendo, ele estava com fone nos ouvidos e os olhos fechados. Durante a ação ,os bandidos foram recolhendo o que podia, desde celular a dinheiro. Quando chegaram até Bruno, acharam que ele estava se indispondo com eles, por estar de olhos fechados escutando música. Numa violência tamanha, arrancaram seu fone e dispararam dois tiros contra bruno, que dormindo não teve tempo para reagir.
Bruno acorda...
_Venha meu filho, está na hora! acorda moleque, vamos perder a hora da escola.
_ Calma mamãe, já estou indo, eu só tenho dez anos, não sou como a senhora que acorda tão cedo hahahaha _ Seu menino sem vergonha, vem cá que eu vou te dar uma surra de beijos hahahahah.
Bruno senta-se a mesa e toma seu café, pão torrado, leite com Quik de morango, do jeitinho que ele gosta. Seu pai espera lá fora enquanto rega as plantas, como faz todos os dias.
_Tome, coloquei na mochila seu lanche, coma tudo antes da brincadeira, ouviu? Não vá deixar sobrar nada para não sujar o material. _ tá bom mamãe, já sei.
_Vamos meu filho, que garoto demorado! Falou seu pai com enorme sorriso, enquanto regava seu jardim de orquídeas.
O pai de Bruno o coloca em seus ombros e vai andando por um caminho de pedras, cercado de flores onze horas, eram muitas, tinha as de cor violeta e branca. Era tão engraçado, elas iam abrindo uma a uma conforme eles seguiam estrada a fora.
_Pronto, chegamos, se comporta meu filho, mais tarde virei busca-lo depois da aula.
Era uma escola diferente, só tinha nome de escola, mas era tudo céu aberto, todas as crianças ficavam sentadas em círculos, e os professores sentavam-se no chão. As disciplinas não eram matemática e nem português, eles falavam sobre o universo.
Na hora da saída...
_Meu filho, que saudades, vem cá pra eu te dar um aperto. _Papai, só se passaram cinco horas hahaha _ Eu sei Bruno, mas eu não consigo ficar muito tempo sem meu filhinhooo!!!
De mãos dadas eles voltam pra casa, o sol está querendo ir embora, mas as flores ainda estão abertas, e sorrindo para os dois.
Chegando em casa, sua mãe já preparou o lanche da tarde, e a família arruma a mesa embaixo de uma árvore. Enquanto comem, seus pais olham para Bruno e sorrir.
_Já terminou meu filho? Comeu tão rápido. _Já papai, acho que estou com sono. _Venha, deite aqui no nosso colinho, que é só seu.
Bruno ainda de mochila nas costas, se joga no colo de seus pais e adormece, olhando o campo de onze horas, sentindo o cheirinho bom do afago que só pai e mãe têm.
_Ele está acordando doutor, está reagindo, retirem o respirador, rápido!
Já se passaram vinte dias, e a equipe médica do Hospital Geral de Bonsucesso, estiveram monitorando Bruno por todo esse tempo, que entrou em coma logo após ter levado o tiro no peito.
_Como está Bruno, pode nos ouvir? _ sim, cadê meus pais? _ seus pais? Você chegou aqui sozinho, não encontramos ninguém da sua família pra avisar.
Bruno percebe mais ou menos o que estava acontecendo e fica em silêncio. Passaram-se uma semana e Bruno e liberado pra ir pra casa, devolvem seus pertences.
_Como está se sentindo Bruno? _bem doutor _Assim que fizer um mês, volte para fazermos a revisão.
Bruno sai de cadeira de rodas até a ambulância, que o leva de volta pra casa.
Chegando em casa, abre o portão, olha sua volta e tenta procurar uma lembrança daquilo que pareceu um sonho. Ele abre a porta, e tudo estava no mesmo lugar, sente um cheiro de café fresco, vai pra cozinha, a mesa está posta, pão torrado, café, leite com Quik. Corre para o quarto, gritando _ Mãe! Pai! Eu cheguei! onde vocês estão. Ninguém responde, sua cama está arrumada e lençóis estão limpos. Ele chora, deita no seu travesseiro até pegar no sono.
São seis horas da noite, Bruno se levanta, a mesa ainda está posta, olha para foto dos seus pais e abraça contra peito pra tentar matar a saudade, e cheira profundamente tentando extrair o cheirinho do colinho que era só seu. Ele abre as janelas, e pra sua surpresa, havia crescido em sua jardineira, varias flores onze horas, de cor violeta e branca. Nessa hora ele percebe que em nenhum momento da sua vida ele esteve sozinho.
Sentou-se a mesa, comeu as torradas e seu leite com Quik, e sorrindo ele pensou... Eu sou a pessoa mais feliz do mundo.