FISIONOMIAS VEGETAIS DA MATA ATLÂNTICA
Por Carlos Henrique de Oliveira Filipe | 09/09/2008 | Arte
FISIONOMIAS VEGETAIS DA
MATA ATLÂNTICA
CARLOS HENRIQUE DE OLIVEIRA FILIPE
LEANDRO CAMERINI NOGUEIRA
2008
RESUMO: As classificações para as diferentes associações encontradas na Mata Atlântica são baseadas em padrões fisionômicos e florísticos ou em padrões ecológicos. Assim, a Mata Atlântica apresenta variações florísticas muito maiores que as outras formações florestais, e essa característica se deve às variações climáticas que ocorrem ao longo de sua área de distribuição.O conjunto de fitofisionomias bastante diversificadas propiciou uma significativa diversificação ambiental, criando as condições adequadas para a evolução de um complexo biótico de natureza vegetal e animal extremamente ricoe é por este motivo que a Mata Atlântica é considerada atualmente como um dos Biomas mais ricos em termos de diversidade biológica do Planeta.
Palavras-chave: Bioma; Diversificação; Fitofisionomias; Mata Atlântica; Variações climáticas.
FISIONOMIAS DA MATA ATLÂNTICA
As classificações para as diferentes associações encontradas na Mata Atlântica são baseadas em padrões fisionômicos e florísticos ou em padrões ecológicos. A Mata Atlântica apresenta variações florísticas muito maiores que as outras formações florestais. Isto se deve às variações climáticas que ocorrem ao longo de sua área de distribuição (FILHO, 1987).
O conjunto de fitofisionomias bastante diversificadas, que formam a Mata Atlântica, propiciou uma significativa diversificação ambiental, criando as condições adequadas para a evolução de um complexo biótico de natureza vegetal e animal extremamente rico (TABELA 1). É por este motivo que a Mata Atlântica é considerada atualmente como um dos Biomas mais ricos em termos de diversidade biológica do Planeta (APREMAVI, 2008).
Atualmente entende-se como Bioma Mata Atlântica o conjunto de formações florestais e ecossistemas associados, incluindo a Floresta Ombrófila Densa, a Floresta Ombrófila Mista, a Floresta Ombrófila Aberta, a Floresta Estacional Semidecidual, a Floresta Estacional Decidual, os manguezais, as restingas, os campos de altitude, e os brejos de altitude (FIGURA 1). Entretanto este conceito nem sempre foi assim. Apesar de originalmente formar uma floresta contínua, até recentemente existiam diferentes denominações para a Mata Atlântica. Estas denominações eram baseadas em diversos pesquisadores que agrupavam as formações florestais de acordo com seus próprios critérios de considerações fitofisionômicas e florísticas (APREMAVI, 2008)
Tabela 1 – Fisionomias vegetais inseridas no Domínio da Mata Atlântica - DMA (1) | ||
Fitofisionomias (2) |
Km2 (3) |
% (4) |
Formações Florestais |
1.041.998 |
79,76 |
Ombrófila |
406.446 |
31,11 |
Densa |
218.790 |
16,75 |
Aberta |
18.740 |
1,43 |
Mista |
168.916 |
12,93 |
Estacionais |
635.552 |
48,65 |
Semidecidual |
486.500 |
37,24 |
Decidual |
149.052 |
11,41 |
Zonas de Tensão Ecológica |
157.747 |
12,07 |
Encraves |
65.468 |
5,01 |
Refúgio Ecológico |
103 |
0,01 |
Formações Pioneiras |
41.105 |
3,15 |
Total DMA |
1.306.421 |
100,00 |
(1) Conforme CONAMA, 1992 |
Fonte: www.ipaam.br/legislacao/CONAMA/1992/ (1992)
Figura 1 – Domínio da Mata Atlântica – Fitofisionomias
Fonte: www.ipaam.br/legislacao/CONAMA/1992/ (1992)
1- FLORESTA OMBRÓFILA DENSA
"Ombrófila" (grego) significa "amigo das chuvas". Caracteriza-se pela presença dominante de árvores que ocorrem em ambientes úmidos, praticamente sem épocas secas durante todo o ano, de clima quente e com pouca variação anual (FIGURA 2) (SOS, 2008).
Mata perenifólia (sempre verde), com dossel ("teto" da floresta) de até 15m, com árvores emergentes de até 40m de altura. Densa vegetação arbustiva, composta por samambaias arborescentes, bromélias e palmeiras. As trepadeiras e epífitas (bromélias e orquídeas), cactos e samambaias também são muito abundantes. Nas áreas mais úmidas, às vezes temporariamente encharcadas, antes da degradação pelo homem, ocorriam figueiras, jerivás (palmeira) e palmitos (Euterpe edulis) (APREMAVI, 2008).
Este tipo de vegetação é caracterizado por fanerófitos, justamente pelas subformas de vida macro e mesofanerófitos, além de lianas lenhosas e epífitas em abundância, que o diferenciam das outras classes de formações. Porém, a característica ecológica principal reside nos ambientes ombrófilos que marcam muito bem a "região florística florestal". Assim, a característica ombrotérmica da Floresta Ombrófila Densa está presa a fatores climáticos tropicais de elevadas temperaturas (médias de 25º) e de alta precipitação, bem distribuídas durante o ano (de 0 a 60 dias secos), o que determina uma situação bioecológica praticamente sem período biologicamente seco. Além disso, dominam nos ambientes destas florestas, latossolos distróficos e, excepcionalmente, eutróficos, originados de vários tipos de rochas (AMBIENTE BRASIL, 2006).
Este tipo vegetacional foi subdividido em cinco formações ordenadas segundo hierarquia topográfica que refletem fisionomias diferentes de acordo com as variações ecotípicas das faixas altimétricas resultante de ambientes também distintos. Estes variam 1º C para cada 100 metros de altitude.
1. Formação aluvial: não varia topograficamente e apresenta sempre os ambientes repetitivos. Trata-se de formação ribeirinha ou floresta ciliar que ocorre ao longo dos cursos de água ocupando os terrenos antigos das planícies quartenárias. Esta formação é constituída por macro, meso e microfanerófitos de rápido crescimento, em geral de casca lisa, com o tronco cônico e, por vezes, com a forma característica de botija e raízes tabulares. Apresenta com freqüência um dossel emergente uniforme. É uma formação com bastante palmeiras no estrato dominado e na submata. A formação apresenta muitas lianas lenhosas e herbáceas, além de grande número de epífitas e poucas parasitas.
2. Formação das terras baixas: situada entre 4° latitude N e 16° latitude S, a partir dos 5 m até os 100 m acima do mar. É uma formação que em geral ocupa as planícies costeiras, capeadas por tabuleiros pliopleistocênicos do Grupo Barreiras. Ocorre desde a Amazônia, estendendo-se por todo o Nordeste até proximidades do rio São João, no Estado do Rio de Janeiro.
3. Formação submontana: situada nas encostas dos planaltos e/ou serras entre os 4° de latitude N e os 16° de latitude de S a partir dos 100 m até 600 m. Ocorre na base e nos contrafortes da cadeia de montanhas ao longo do litoral, expandindo-se em amplas extensões principalmente nos estados de Minas Gerais e Espírito Santo (interiores) e também no Rio de Janeiro (proximidade do mar). Ficam sobre os morros mais baixos que ficam atrás ou adiante das imensas cadeias de montanhas. Estas regiões são bastante povoadas e a imensa maioria destes morros foram desnudados ou estão sob capoeira de vários tamanhos. O andar superior apresenta árvores de 15-25 metros de altura, ausência quase completa de lianas, epífitas, e palmeiras, falta de raízes adventícias superficiais. Árvores características são: angico, maçaranduba, canela branca, cedro, jacarandás branco e pardo. Nas zonas mais úmidas pode atingir 20-25 metros com poucas emergentes destacando-se o jequitibá. Espécies características: pau jacaré, urucurana, guapuruvu, etc., também comuns em florestas de altitude.
4. Formação montana: situada no alto dos planaltos e/ou serras entre os 4° de latitude N e os 16° de latitude S a partir dos 600 m até 2000 m. O alto dos planaltos e das serras estão situados entre 600 a 2000 m de altitude na Amazônia e de 400 a 1000 m no sul do País. A estrutura florestal do dossel uniforme é representada por ecotipos relativamente finos com casca grossa e rugosa, folhas miúdas e de consistência coriácea. Localiza-se na parte mediana (montana) e superior (alto-montana) desta mesma cadeia de montanhas. Esta é a floresta que reveste as serras. As árvores do andar superior alcançam entre 20-30m, com árvores emergentes (que se destacam no dossel) que podem atingir 40 m de altura. Um exemplo é o jequitibá rosa, gigante da Floresta Atlântica. No sub-bosque aparece o Palmito (Euterpe edulis), é rica em epífitas e lianas.
5. Formação alto-montana: situada acima dos limites estabelecidos para a formação montana. Trata-se de uma formação arbórea mesofanerofítica com aproximadamente 20 metros de altura, que se localiza no cume das altas montanhas com solos litólicos, apresentando acumulações turfosas nas depressões onde se localiza a floresta. Sua estrutura é integrada por fanerófitos com troncos e galhos finos, folhas miúdas, coriáceas e casca grossa com fissuras. A florística é representada por famílias de dispersão universal, embora suas espécies sejam endêmicas, revelando um isolamento antigo de "refúgio cosmopolita" (AMBIENTE BRASIL, 2006)
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Figura 2 - Floresta Ombrófila Densa.
Fonte: www.ipaam.br/legislacao/CONAMA/1992/ (1992)
2- FLORESTA OMBRÓFILA MISTA
Principalmente nos planaltos dos estados da Região Sul (Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, FIGURA 3) e nos maciços descontínuos de São Paulo e Rio de Janeiro (Serras de Pararanapiacaba, Mantiqueira e Bocaina) a Floresta Atlântica combina-se com o pinheiro do Paraná (Araucaria angustifolia) e dá origem a Floresta Pluvial de Araucária (ou Mata de Araucária). (APREMAVI, 2008)
O Pinheiro do Paraná (Araucaria anguistifolia) constitui o andar superior da floresta, com subosque bastante denso. Antes da interferência antrópica esta formação ocorria nas regiões de clima subtropical, principalmente nos planaltos do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, e em maciços descontínuos, nas partes mais elevadas de São Paulo, Rio de Janeiro e Sul de Minas Gerais (Serras de Paranapiacaba, da Mantiqueira e da Bocaina). (APREMAVI, 2008)
A composição florística desta vegetação, dominada por gêneros primitivos como Drymis, Araucaria e Podocarpus, sugerem, pela altitude e latitude do planalto meridional, uma ocupação recente a partir de refúgios alto-montanos. Apresenta quatro formações distintas:
1. Aluvial, em terraços antigos ao longo dos flúvios. Esta formação ribeirinha ocupa sempre os terrenos aluviais, situados nos flúvios das serras costeiras voltadas para o interior ou dos planaltos dominados pela Araucaria angustifolia associada à ecotipos que variam de acordo com as altitudes dos flúvios.
2. Submontana, de 50 até mais ou menos 400 m de altitude. Esta formação, atualmente, é encontrada na forma de pequenas disjunções localizadas em vários pontos do "Craton Sul-rio-grandense". No município de Lauro Mueller, por exemplo, na década de 50, podia-se observar cerca de 1.200 exemplares de Araucaria angustifolia. Contudo, nesta década, este número não chega a 200 exemplares de troncos finos e relativamente baixos, pertencentes ao estrato dominado. O que resta é uma floresta secundária, ficando cada vez mais raro encontrarem-se exemplares de Araucaria angustifolia, que tendem a desaparecer em poucos anos.
3. Montana, de 400 até mais ou menos 1000 m de altitude. Esta formação, encontrada atualmente em poucas reservas particulares e no Parque Nacional do Iguaçu, ocupava quase que inteiramente o planalto acima de 500 m de altitude, nos Estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
4. Altomontana, situada a mais de 1000 m de altitude. Sua maior ocorrência é no Parque do Taimbezinho (RS) e na crista do Planalto Meridional, próximo aos "campos de Santa Bárbara" no Parque de São Joaquim (SC). Atualmente, esta floresta alto-montana encontra-se ainda bem conservada e com elementos quase intactos no Parque Estadual de Campos do Jordão (SP) (AMBIENTE BRASIL, 2006)
FIGURA 3 – Floresta Ombrófila Mista
Fonte: www.ipaam.br/legislacao/CONAMA/1992/ (1992)
3- FLORESTA OMBRÓFILA ABERTA
Este tipo de vegetação, considerado durante anos como um tipo de transição entre a floresta amazônica e as áreas extra-amazônicas, foi denominada pelo Projeto RADAMBRASIL de Floresta Ombrófila Aberta. Esta floresta apresenta quatro faciações florísticas que alteram a fisionomia ecológica da Floresta Ombrófila Densa (com palmeiras, cipós, com sororoca e com bambu, além dos gradientes climáticos com mais de 60 dias secos por ano) (FIGURA 4).
1. Floresta Ombrófila Aberta das Terras Baixas: Esta formação, compreendida entre 4° latitude Norte e 16° latitude Sul, em altitudes que variam de 5 até 100 m, apresenta predominância da faciação com palmeiras.
2. Floresta Ombrófila Aberta Submontana: Esta formação pode ser observada distribuída por toda Amazônia e mesmo fora dela, principalmente com a faciação floresta com palmeiras. Na Amazônia, ocorre com quatro faciações florísticas entre os 4° de latitude Norte e os 16° de latitude Sul, situadas acima dos 100 m de altitude e não raras vezes chegando a cerca de 600 m.
3. Floresta Ombrófila Aberta Montana: Esta formação situa-se quase toda entre os 4° de latitude Norte e 16° de latitude Sul, ocupando a faixa altimétrica entre 600 e 2000 m e, por conseguinte, restrita a poucos planaltos do sul da Amazônia e muitas serras do Norte. Apresenta as faciações com palmeira e com cipó, sendo esta última bem mais comum. (AMBIENTE BRASIL, 2006)
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FIGURA 4 – Floresta Ombrófila Aberta
Fonte: www.ipaam.br/legislacao/CONAMA/1992/ (1992)
4- FLORESTA ESTACIONAL DECIDUAL
Este tipo de vegetação é caracterizado por duas estações climáticas bem demarcadas, uma chuvosa seguida de longo período biologicamente seco. (AMBIENTE BRASIL, 2006)
Mata com árvores de 25 e 30m, com a presença de espécies decíduas (derrubam folhas durante o inverno mais frio e seco), com considerável ocorrência de epífitas e samambaias nos locais mais úmidos, e grande quantidade de cipós (trepadeiras). Ocorriam antes da degradação pelo homem, a leste das florestas ombrófilas da encosta atlântica, entrando pelo Planalto Brasileiro até as margens do rio Paraná (FIGURA 5). O Parque Estadual do Morro do Diabo protege este tipo de floresta. (APREMAVI, 2008).
FIGURA 5 – Floresta Ombrófila Aberta
Fonte: www.ipaam.br/legislacao/CONAMA/1992/ (1992)
5- FLORESTA ESTACIONAL SEMIDECIDUAL
O conceito ecológico deste tipo de vegetação está condicionado pela dupla estacionalidade climática: uma tropical, com época de intensas chuvas de verão seguidas por estiagens acentuadas; e outra subtropical, sem período seco, mas com seca fisiológica provocada pelo intenso frio de inverno, com temperaturas médias inferiores a 15°C. É constituída por fanerófitos com gemas foliares protegidas da seca por escamas (catáfilos ou pêlos), tendo folhas adultas esclerófilas ou membranáceas deciduais. Em tal tipo de vegetação, a porcentagem das árvores caducifólias, no conjunto florestal e não das espécies que perdem as folhas individualmente, é de 20 e 50%. Nas áreas tropicais, é composta por mesofanerófitos que revestem, em geral, solos areníticos distróficos. Já nas áreas subtropicais, é composta por macrofanerófitos, pois revestem solos basálticos eutróficos (AMBIENTE BRASIL, 2006).
FIGURA 6 – Floresta Estacional Semidecidual.
Fonte: www.ipaam.br/legislacao/CONAMA/1992/ (1992)
6- MANGUEZAIS
Formação que ocorre ao longo dos estuários, em função da água salobra produzida pelo encontro da água doce dos rios com a do mar. É uma vegetação muito característica, pois o manguezal tem apenas sete espécies de árvores - menos de 1% das registradas na mata atlântica -, mas abriga uma diversidade de microalgas pelo menos dez vezes maior. Essa floresta invisível, revelam pesquisadores da Universidade Federal Rural de Pernambuco, é capaz de ocupar, com cerca de 200 mil representantes, um único centímetro quadrado de raiz de mangue. De acordo com os pesquisadores, por estar na base da cadeia alimentar, essa abundância de algas garante a sobrevivência de uma grande quantidade de animais e a produtividade do ambiente para a população dos litorais, que vive da pesca artesanal de peixes, camarões, caranguejos e moluscos. (APREMAVI, 2008)
Por ser um país com extensa faixa litorânea, o Brasil possui uma das maiores áreas de manguezais do mundo, estimada em mais de dez mil quilômetros quadrados. (COMCIENCIA, 2008)
As águas trazidas pelos rios contêm grande quantidade de argila e matéria orgânica em suspensão. O contato com a água salgada resulta na aglutinação desse material que vai se depositando sucessivamente e formando um solo lodoso, muito úmido, salgado e pouco oxigenado. Nesse ambiente de águas salobras, uma grande quantidade de microorganismos decompõe ativamente os restos orgânicos existentes, liberando nutrientes que vão enriquecer as águas costeiras, os quais são aproveitados por inúmeras espécies marinhas, o que torna os manguezais um dos ecossistemas mais produtivos da Terra. (BRAZADV, 2008).
No litoral brasileiro existem três tipos de mangue: mangue branco, mangue vermelho e mangue preto (Siriúba). Estas espécies possuem raízes providas de poros, que se projetam para fora do solo pobre em oxigênio e têm capacidade de utilizar esse gás diretamente da atmosfera. Ademais têm glândulas nas folhas, capazes de excretar o excesso de sal absorvido do solo encharcado por água do mar. Nas árvores do mangue as sementes germinam antes do fruto se desprender da planta-mãe de tal modo que, ao cair, já apresentam um embrião bem desenvolvido, provido de pequenas raízes capazes de fixar facilmente no solo lodoso. (BRAZADV, 2008)
Segundo um levantamento, aproximadamente 80% dos manguezais do país estão nas regiões Norte e Nordeste, especialmente nos estados do Amapá, Pará e Maranhão. Este último possui cerca de 500 mil hectares de mangue.Apesar de ainda terem extensão relativamente grande no país e serem protegidas desde 1993 pelo Decreto Federal 750, as áreas de mangues brasileiras tiveram uma redução de cerca de 46,4% num período de catorze anos. De acordo com um estudo feito por norte-americanos, o Brasil tinha uma área de aproximadamente 25 mil quilômetros quadrados de manguezais em 1983 e, segundo fotos de satélites, passou a ter apenas 13,4 mil quilômetros quadrados em 1997. Os pesquisadores norte-americanos apontam entre as possíveis causas a proliferação de fazendas para exploração do camarão e o desmatamento para uso da lenha do mangue. Mas existem outros agentes de degradação, como esgotos industriais e domésticos e, nos últimos anos, o mundo assistiu a agressões mais severas a esse ecossistema das regiões tropicais litorâneas: os acidentes envolvendo derramamento de óleo nas águas costeiras do oceano. (COMCIENCIA, 2008)
Além das árvores, os manguezais abrigam grande variedade de outras plantas e animais característicos. Entre as plantas, destacam-se as epífitas (plantas que vivem apoiadas em outras) como orquídeas, bromélias, samambaias e liquens. (BRAZADV, 2008)
A fauna do mangue pode ser dividida em três grandes grupos: o primeiro constituído por seres que vivem toda a sua fase adulta nos mangues, como caranguejos, ostras e o jacaré-de-papo-amarelo, o segundo, constituído por aqueles que se utilizam do mangue durante sua fase juvenil, formado principalmente pelos peixes; e o terceiro formado por alguns mamíferos e, em especial, pelas aves marinhas continentais como o papagaio-de-cara-roxa, biguá e as garças. (BRAZADV, 2008)
7- RESTINGA
Ocupa grandes extensões do litoral, sobre dunas e planícies costeiras. Inicia-se junto à praia, com gramíneas e vegetação rasteira, e torna-se gradativamente mais variada e desenvolvida à medida que avança para o interior, podendo também apresentar brejos com densa vegetação aquática. Abriga muitos cactos, orquídeas e bromélias, quaresmeiras, pitangas. Esta formação encontra-se hoje muito devastada pela urbanização. (APREMAVI, 2008).
No Brasil, as restingas são encontradas ao longo do litoral desde a costa leste do Pará até a costa do Rio Grande do Sul, perfazendo um total de aproximadamente 9.000 km de extensão. (GUIAGUARUJA, 2008)
De maneira geral, a palavra restinga é utilizada para todos os tipos de depósitos arenosos litorâneos, de origens variadas, caracterizados, em geral, por superfícies baixas e levemente ondulados, com suave declive rumo ao mar. Podemos considerar como "vegetação de restinga" o conjunto de comunidades vegetais fisionomicamente distintas, sob influência marinha e flúvio-marinha, distribuídas em mosaico e em áreas com grande diversidade ecológica, sendo classificadas como comunidades edáficas, por dependerem mais da natureza do solo que do clima. A Restinga é uma vegetação mista composta por árvores, arbustos, epífitas, trepadeiras, muitas bromélias de chão e samambaias. A vegetação da Restinga se caracteriza por folhas rijas e resistentes, caules duros e retorcidos e raízes com forte poder de fixação no solo arenoso. Nas proximidades da praia aparecem arbustos de pequeno porte, de 1,5 a 2 m de altura. Para o interior há árvores pequenas e, nos terraços marinhos, árvores que chegam a atingir 15 m. (BRAZADV, 2008).
A expansão urbana e a caça indiscriminada têm concorrido bastante para o desaparecimento de muitas espécies de mamíferos da restinga. Até a onça-parda e a suçuarana ocorriam aí normalmente, assim como suas presas, o veado-do-catingueiro, o porco do mato e roedores como a capivara, a paca e a cotia. Atualmente os mamíferos predadores se restringem ao cachorro-do-mato, o quati, o guaxinim e alguns felinos como o gato-do-mato, esses bastante escassos. Além de gambás ocorrem ainda alguns roedores, entre eles o caxinguelê. Nas praias arenosas, há urubus, gaivotas e maçaricos entre outras, que são comedores de pequenos artrópodes ou se alimentam de carniça (GUIAGUARUJA, 2008).
Nas partes mais internas das restingas, onde a vegetação florestal é mais desenvolvida encontram-se aves como a rolinha-da-restinga, anus, bacuraus, beija-flores. Nas partes descampadas vive a corujinha-buraqueira, que usa as tocas abandonadas de tatu ou constrói seus abrigos, cavando o solo com as patas. Também podemos encontrar a corujinha-do-mato. Também são numerosos os passeriformes, como o sabiá-da-praia, o tiê-sangue, os sanhaços, sairas e a pequena cambacica. Entre os répteis ocorrem serpentes, como a surucucu, lagartos e calangos, os jabutis são atualmente raros e até uns anos passados era possível encontrar o jacaré-de-papo-amarelo nas lagoas circundadas por restingas. À medida que a vegetação surge com maior pujança ocorrem outras espécies, como é o caso do crustáceo, maria-farinha e alguns anfíbios, entre eles diversas pererecas (GUIAGUARUJA, 2008).
IMPORTÂNCIA ECONÔMICA DA RESTINGA
Ornamental e Paisagística – apresentam grande valor visual, por apresentar espécies muito interessantes e por estar adaptadas às condições costeiras, rústicas e resistentes.
Industrial - As matas secas e paludosas das restingas serviram aos propósitos humanos, até quase desaparecerem. As matas de restinga serviram na produção de lenha e carvão, de engenhos de açúcar, ou mesmo de padarias, olarias, etc. A Caixeta (Tabebuia cassinóides) durante anos foi explorada para ser usada na fabricação de tamancos, caixotes e num uso mais nobre: na fabricação de lápis, chegando a ser exportada por sua qualidade superior. Das matas paludosas também se retirou a Jacareúba (Calophyllum brasiliensis), para servir na fabricação de mastros de naus coloniais, postes e de jangadas. Do Algodoeiro-da-praia (Hybiscus pernambucensis) muita corda e sacaria já foram feitas.
Medicinal - aqui e fora do país, pesquisas vêm comprovando o que diz a tradição popular, o valor medicinal de várias espécies das restingas, por exemplo: as clusias, o sumaré, o salsão-da-praia, o cacto. Espécies aparentemente sem valor podem esconder tesouros.
Alimentício - o caju e a pitanga são as mais famosas frutas ocorrentes nas restingas, mas há outras espécies de valor: a mangaba, o bacupari e o guriri (palmeira anã).
Arqueológico - as restingas abrigam os sambaquis, depósitos deixados pelos índios que habitavam a costa brasileira; por eles podemos conhecer como era a costa e a vida nela há mais de 3.000 anos atrás.
Ecológico - conhecer como as espécies colonizam ambientes tão hostis é muito importante quando pensamos no trabalho de recuperação de áreas degradadas. Entender como essas espécies vivem é muito importante quando pensamos em cultivar ou criar espécies de valor medicinal.
O uso conservacionista do ecossistema de restingas facilitaria o controle, em zonas urbanas costeiras, de espécies com potencial para pragas como os cupins, as formigas, os escorpiões e as baratas. A preservação do perfil arenoso do solo é importante para a ocupação urbana em áreas de restinga, pois por esse solo ser altamente poroso, a água das chuvas infiltra-se nele com facilidade, o que reduz os riscos de enchentes e os custos com obras de drenagem.
Contenção de dunas - a vegetação cria obstáculos que barram ou redirecionam os ventos que carregam as areias, além de segurar essa areia com as raízes e com os ramos e folhas.
8- BREJOS DE ALTITUDE
São áreas de clima diferenciado no interior do semi-árido, também conhecidas regionalmente como "serras úmidas", por ocuparem primitivamente a maior parte dos tabuleiros e das encostas orientais do nordeste. (APREMAVI, 2008)
Cercados por caatinga - a vegetação característica do Semi-Árido brasileiro - os brejos de altitude já pertenceram no passado a um único bloco de floresta úmida. A hipótese mais aceita sobre a origem desse ecossistema está associada a variações climáticas durante o Pleistoceno (entre 2 milhões e 10 mil anos atrás). Em períodos interglaciais, de clima mais úmido, a floresta atlântica teria penetrado nos domínios da caatinga. Ao retornar à sua distribuição original, na região costeira, ilhas dessas florestas permaneceram em locais de microclima (FALCÃO, 2001).
Segundo Falcão (2001), os brejos de altitude são formações vegetais úmidas e subúmidas, inseridas na região da Caatinga de Pernambuco e Paraíba, onde predomina uma vegetação xerófila, típica de ambientes semi-áridos. Essas ilhas de vegetação arbórea mais densa são condicionadas pela orografia, proporcionando um microclima diferenciado, com pluviosidade bem superior à do entorno. A floresta típica dos brejos de altitude guarda forte semelhança com a floresta úmida litorânea, ocorrendo espécies vegetais e animais comuns a ambos os ecossistemas; por isso, são consideradas formações disjuntas de Mata Atlântica. As condições de fertilidade e de disponibilidade hídrica atraem agricultores para implantar lavouras, predominantemente de ciclo curto, como as hortaliças. Tal fato exerce forte pressão predatória sobre a floresta e a água. A maioria dos brejos de altitude localiza-se no Maciço da Borborema, que exerce em Pernambuco e Paraíba importante papel no conjunto do relevo, na diversificação do clima e nas principais redes de drenagem. Assim, grande parte dos rios litorâneos dos dois estados origina-se e possui grandes afluentes nesta região do agreste. Dentre eles, destacam-se os rios Una, Ipojuca e Capibaribe, em Pernambuco, e os rios Paraíba, Miriri, Maranguape e Curimataú, na Paraíba.
Os brejos de altitude ocorrem em alturas que variam de 500 metros a 1.110 metros. A presença da floresta, que resulta na evapotranspiração, associada ao relevo serrano, faz com que eles recebam mais chuvas que o restante do Semi-Árido. Enquanto o índice pluviométrico registrado na caatinga não ultrapassa 900 milímetros por ano, nos brejos esse número fica em torno de 1.200 milímetros anuais (FALCÃO, 2001).
Os brejos de altitude são os setores mais ameaçados da mata atlântica no Brasil. Levantamento realizado pelo Núcleo de Biodiversidade da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) indica que dos 18.569 quilômetros quadrados de brejos existentes em 1970 no Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba e Pernambuco, restam apenas 2.626 quilômetros quadrados. Em quase meio século, 85% dos brejos de altitude foram destruídos. O desmatamento começou no século 19, para abastecer as caldeiras dos barcos a vapor que navegavam no Rio São Francisco e dar lugar à cafeicultura. Depois, os brejos passaram a ser alvo do corte seletivo para extração de madeiras nobres, como o cedro. A árvore, que atinge 30 metros e é usada na fabricação de móveis, inspirou pesquisadores do século passado, como Vasconcelos Sobrinho, a denominarem alguns brejos de altitude de florestas de cedro. Hoje, a planta é encontrada em apenas dois brejos. (FALCÃO, 2001).
A devastação continua e, agora, além de sofrerem exploração de madeira, as matas úmidas do Sertão estão sendo substituídas pelas plantações de chuchu e de cenoura. Em Pernambuco, o levantamento do botânico indica que nos últimos 50 anos desapareceram 11 brejos. Dos 23 apontados na década de 70 num livro do ecólogo Vasconcelos Sobrinho, restam apenas 12. A estimativa é que em 10 anos os brejos sumam do mapa se uma política de conservação não for implementada (FALCÃO, 2001).
9- CAMPOS DE ALTITUDE
Os campos de altitude são um ecossistema do bioma Mata Atlântica que ocorre acima dos limites de ocorrência da floresta altomontana, acima de 1500-2000 metros, nas cadeias de montanha do sudeste e do sul do Brasil, onde predominam rochas expostas e vegetação rasteira formada, principalmente, por gramíneas, muitos liquens, pequenas árvores tortas. São espécies herbáceas e arbustivas notadamente das famílias Poaceae, Cyperaceae, Asteraceae e Mimosaceae. Freqüentemente as espécies arbustivas baixas ocorrem esparsamente em meio ao denso tapete graminóide. O caráter disjunto e o isolamento geográfico deste ecossistema constituem fatores relevantes para a ocorrência de um alto grau de biodiversidade e endemismo. (PEGALEVEORG, 2008).
São as baixas temperaturas encontradas no inverno que representam uma barreira às espécies tropicais que ocorrem nos demais habitats da Mata Atlântica.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FALCÃO, V.. 2001. Brejos ameaçados de desaparecer. Jornal do Comércio, Recife (PE). Disponível em: http//www.biodiversityreporting.org. Acessado em: 10 Jun. 2008.
FILHO, L.. 1987. Considerações sobre a florística de florestas tropicais e sub-tropicais do Brasil. IPF, São Paulo, n.35, p.41-46.
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