FILOSOFIA DA LINGUAGEM EM ROUSSEAU

Por FRANCISCO EDUARDO NETO FILHO | 29/03/2014 | Filosofia

FILOSOFIA DA LINGUAGEM EM ROUSSEAU 

Francisco Eduardo Neto Filho[1] 

INTRODUÇÃO 

A linguagem sendo um grande instrumento para facilitar a comunicação entre os seres vivos é de grande importância e requer bastante cuidado ao utilizá-la; para isso é necessário fazer ao nosso conhecimento o surgimento, as dificuldades, tipos de linguagem, etc.

            A linguagem, através de um acordo, de um consenso, ganhou espaço no mundo e assim se pode melhorar a comunicação que até então dificultava a convivência entre os seres. A linguagem portanto, não possui uma essência, pois existe por uma necessidade, necessidade de se comunicar e fazer que a mensagem que se queria transmitir pudesse ser compreendida por um grupo maior de pessoas, aí então percebe-se uma ligação da linguagem com o pensamento (razão), que a partir do filósofo escolhido para a discussão poderemos compreende-la.

            Jean-Jacques Rousseau, considerado um filósofo Frances por ter sido morto lá, é um importante filósofo que revoluciona o mundo com suas discussões por fazer parte do iluminismo e por ser um precursor do romantismo. Rousseau através de suas discussões entra a questão do homem, do ser enquanto natureza, e ao mesmo tempo do ser enquanto homem, enquanto vontade humana sucitada pelas paixões. Rousseau destaca a grande importância do ser humano enquanto homem que o diferencia dos outros animais (irracionais) a capacidade de pensar, de raciocinar a cerca das coisas de tudo, inclusive onde ele foca mais sua discussão sobre a linguagem: os sentimentos. É aí então que a linguagem, fruto do pensamento, dos sentimentos passa a ser uma diferença entre os homens e os outros animais, pois somente é possível fazer linguagem, até mesmo entender se for através da Razão que somente o homem possui.

Os homens primitivos com uma enorme necessidade de melhorar para aprimorarem sua convivência, se viu na obrigação de se comunicar, mas de que forma? É então que por necessidade e por convenção, por um acordo que a linguagem se desenvolve e se aprimora com o decorrer do tempo, já os outros animais também se comunicam mas com linguagem que podemos chamá-la de natural onde naturalmente os gestos e sons que os animais emitem fazem parte de sua natureza, de sua necessidade, não podendo portanto aprimorar esta linguagem, esta comunicação, pelo simples fato de não possuírem razão e portanto não se pode haver uma evolução quanto a linguagem ou ao conhecimento.

 

 

DESENVOLVIMENTO

 

1. Origem e entendimento da linguagem.

            É possível perceber através da obra de Rousseau, o quanto é importante nos comunicarmos, os seres humanos sentindo a necessidade de mostrar aquilo que estava escondido, ou seja, seus sentimentos buscaram uma forma de demonstrá-lo de forma mais “universal”, é então que diante da necessidade de expressar os sentimentos (dor, raiva, amor, etc) que o homem através da primeira forma de linguagem: os gestos expressam seus sentimentos; a linguagem mesmo sendo fruto da expressão dos sentimentos, não deixa de estar ligada a razão humana e que assim o homem pode atualizar e melhorar sua linguagem, é então descartada a possibilidade de apenas as necessidades físicas, naturais serem a causa de fazer linguagem. A segunda forma de linguagem: os sons, são também uma forma dos seres humanos poderem expressar seus sentimentos, mas é claro de forma diferente, percebe-se então a grande importância dos gestos e dos sons que segundo Rousseau são poderosos e eloquentes, que expressam de maneira precisa e clara bastante informação.

“Desde que um homem foi reconhecido por outro como um ser sensível, pensante e semelhante a ele próprio, o desejo ou a necessidade de comunicar-lhe seus sentimentos e pensamentos fizeram-no buscar meios para isso. Tais meios só podem provir dos sentidos, pois estes constituem os únicos instrumentos pelos quais um homem pode agir sobre outro. Aí está, pois, a instituição dos sinais sensíveis para exprimir o pensamento”.[2]

            Não se pode inferir sobre linguagem referente aos animais, tudo o que se infere aos seres humanos pois, mesmo possuindo gestos, sons dentro da espécie animal, não se tem uma mudança, aparentemente não muda a linguagem já é uma determinação natural. Os seres humanos por sua vez, desenvolveram a linguagem a partir do que Rousseau chama de convenção, onde há evolução destes gestos e sons onde mesmo que não seja uma predeterminação natural, é evoluído pela capacidade da razão humana que sente necessidade de evoluir ao longo dos tempos.

“A língua de convenção só pertence ao homem e esta é a razão por que o homem progride, seja para o bem ou para o mal, e por que os animais não o conseguem. Essa distinção, por si só, pode levar-nos longe. Dizem que se explica pela diferença de órgãos. Gostaria de conhecer tal explicação”.[3]

           

Diante das necessidades físicas que, como já foi falado anteriormente não pode ser a causa da linguagem, mas sim os sentimentos, foram causa de necessidade para a convivência, pois era necessário expulsar um intruso, ordenar algo, entre outros. As necessidades naturais não poderiam ser a causa da linguagem pois através das necessidades (frio, calor, sede, fome, etc), os homens se dividem, se repelem; já os sentimentos fazem com que os homens se reunissem, pois era necessário estar convivendo socialmente para superar as dificuldades advindas da natureza. Os seres humanos assim tinham que “arranjar” meios para dialogarem, comunicarem aquilo que sentiam e tinha que ser expresso de alguma forma, a linguagem portanto é o que mais perfeito existe quanto a comunicação, pois não haveria comunicação se não fosse a linguagem pela necessidade de compreensão.

            Encontrado uma diferença nos povos em relação a linguagem, Rousseau percebe a diferença existente entre: o hemisfério norte e o hemisfério sul, no sul percebia-se uma linguagem de sons mais calmos, macios, por conta da vida que não estava ameaçadas por dificuldades da natureza; já os homens que habitavam no hemisfério norte, enfrentavam grandes dificuldades advindas da natureza (frio, gelo, invernos rigorosos), por isso a linguagem era mais áspera e requeria um convívio social maior, sendo que a linguagem neste hemisfério seria a que mais se desenvolveria pela necessidade de conviver mais, e consequentemente se comunicar mais.

        

“A principal causa que as distingue é local, resulta dos climas em que nascem e da maneira pela qual se formam. A tal causa deve-se recorrer para conceber a diferença geral e característica que se nota entre as línguas do sul e as do norte. O grande defeito dos europeus consiste em sempre filosofarem sobre as origens das coisas baseando-se no que se passa à sua volta. Nunca deixam de nos apontar os primeiros homens, habitando uma terra ingrata e rude, morrendo de frio e de fome, impelidos a conseguirem um abrigo e roupas; veem em todos os lugares somente a neve e os gelos da Europa, sem se lembrarem de que a espécie humana, como todas as outras, nasceu nas regiões quentes, e que em dois terços do globo pouco se conhece o inverno. Quando se quer estudar os homens, é preciso olhar em torno de si, mas, para estudar o homem, importa que a vista alcance mais longe; impõe-se começar observando as diferenças, para descobrir as propriedades”.[4]

            Diante do convívio com os outros homens para sobreviver, pode-se raciocinar acerca do conviver com o outro, que do mesmo modo que eu possui sentimentos, e que assim juntos pudemos nos livrar e superar as adversidades da natureza. Assim a língua falada foi sendo aprimorada e até então ter sido criada a linguagem escrita para facilitar ainda mais a comunicação, tornando a comunicação mais objetiva, mais clara. “Menos preocupado em ser claro, dá maior importância à força; não é possível que urna língua escrita guarde por muito tempo a vivacidade daquela que só é falada”. (ROUSSEAU, Jean-Jacques. Ensaio sobre a origem das línguas. 2.ed. São Paulo: Abril Cultural, 1978. (Os Pensadores). P. 277).

            A linguagem uma forma de cada vez mais facilitar a comunicação, traz também algumas complicações para o ser humano, pois através da linguagem se propagam as desigualdades e inferioridades existentes entre os homens, facilitando a origem de uma desigualdade maior, talvez pelo fato da comunicação não ser feita de maneira correta e clara, para se compreender de forma correta. Vendo de um lado diferente a linguagem é que nos faz viver, conviver, é através dela que somos facilitadores de comunicação, Rousseau percebeu que houve a necessidade dos homens utilizarem as palavras para pensar, mas o homem tinha necessidade maior em pensar o como se expressar através da linguagem, a linguagem portanto tem um laço estreito ao pensamento, cabe voltarmos a justificativa do porquê os animais não comunicarem-se através da linguagem, como os homens.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

            Nomeia Rousseau sobre a origem das línguas que a primeira forma de linguagem do homem pode-se chamar “grito da natureza”, onde existia uma necessidade básica para utilizar a linguagem, e essa necessidade aumentou cada vez mais a partir do momento em que o homem vive, pois necessita conviver com as pessoas e necessita cada vez mais se comunicar. Através de Rousseau percebemos a importância da linguagem modo de expressar tudo o que está a nossa volta e que ainda podemos aprimorar a linguagem.

  

REFERÊNCIAS

ROUSSEAU, Jean-Jacques. Ensaio sobre a origem das línguas. 2.ed. São Paulo: Abril Cultural, 1978. (Os Pensadores).

ROUSSEAU, Jean-Jacques. Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens. Ed. Martin Claret, 2005.



[1] Aluno da Universidade Estadual Vale do Acaraú do Curso de Filosofia Bacharelado, cursando o 5º Período.

[2] ROUSSEAU, Jean-Jacques. Ensaio sobre a origem das línguas. 2.ed. São Paulo: Abril Cultural, 1978. (Os Pensadores). P. 259.

[3] ROUSSEAU, Jean-Jacques. Ensaio sobre a origem das línguas. 2.ed. São Paulo: Abril Cultural, 1978. (Os Pensadores). P. 264.

[4] ROUSSEAU, Jean-Jacques. Ensaio sobre a origem das línguas. 2.ed. São Paulo: Abril Cultural, 1978. (Os Pensadores). P. 285.

Artigo completo: