Filosofia da Educação

Por LUCIENE LEAL DA SILVA | 08/07/2013 | Educação

Filosofia da Educação.

 

A filosofia viu-se ligada à educação desde às origens, segundo SEVERINO in: A contribuição da filosofia para a educação, a filosofia já nasceu Paidéia! O filósofo clássico sempre foi um educador. Essa relação se enfraquece na segunda metade do séc. XX, rompendo-se assim a unidade do saber. Para Platão, a raiz do filosofar é o “espanto”, para Aristóteles, a “admiração” incitou os homens a filosofar. Do espanto e da admiração provém, portanto, a interrogação e o conhecimento. O ser humano torna-se consciente de sua ignorância e procura conhecer os fatos. Temos que ter a necessidade de reconhecermos a ignorância como caminho para a filosofia. E, esse caminho é o exercício de encontrarmos razões, boas razões para uma melhor compreensão. E, para a educação isso é urgente! Se quisermos entender alguma coisa, temos que ter humildade ao interrogá-la. A filosofia nos educa para o pensamento.

A filosofia da educação envolve áreas do conhecimento, entre elas, a prática, cuja finalidade dirige-se à formação dos indivíduos. E, de sistematiza  em todo e qualquer lugar onde se encontre o homem. É a idéia de colocar a educação em fôrma, existem várias outras fôrmas de educação como a família, comunidade escolar, igreja etc. Na fôrma de educação temos o homem e a relação de poder. O homem (indivíduo) tanto sofre o poder quanto ele realiza o poder. O homem criativo, político, também exerce o direito de poder dele dentro de uma determinada educação. Mas, há resistências, resistimos a muitas coisas daquilo que a educação nos coloca. O poder é relativo, em alguns momentos exercemos mais o poder e em outros momentos exercemos menos.

Podemos citar 3 modos de conceber a filosofia e, por conseguinte a filosofia da educação: refletir, contemplar e conceituar (criar). É tradicional no Brasil de que filosofia é reflexão, autores como SAVIANNI, GADOTTI E SEVERINO entendem a filosofia como base na idéia de reflexão. Para SAVIANNI, a filosofia da educação é uma reflexão radical, pois vai à raiz, ou seja, vai a fundo para compreender, para aprofundar o problema, é uma reflexão rigorosa, pois é metódica e de conjuntos. Outros como Eduardo Mendonça, defendem a idéia de filosofia como contemplação. A idéia contemplativa não é uma ação que exige que o homem se retire do mundo. Há diferença entre a vida operativa e contemplativa. A vida operativa tem sua finalidade fora do sujeito e a vida contemplativa tem sua finalidade dentro do sujeito. Fazer filosofia da educação exige perguntar sobre os elementos vitais ao processo educativo e de que filosofia da educação estamos falando? E, para isso temos elementos cruciais à filosofia da educação: O homem, o conhecimento e sociedade e currículo. O homem é multidimensional e plurirelacional, a educação não dá conta do homem multidimensional, ou seja, a escola consegue tirar algumas notas do aluno, mas, não toca. O conhecimento é o senso comum filosófico (sistemático e metódico) e científico (sistemático e metódico)

O profissional de educação, antes de tudo, é um educador. Tem como objeto de preocupação, segundo SEVERINO, atuar nos diversos níveis do sistema de ensino. Deve-se ter uma preocupação quanto ao curso, quanto à reformulação dos cursos, a formação de docentes reflexivos que concebam a educação como um fenômeno centrado no aluno. Para que isso ocorra, tornam-se indispensáveis o treinamento e a formação de professores dentro de princípios que discutam, principalmente, as relações de cada sujeito com as diversas formas de saber. A problemática da formação dos professores no contexto brasileiro se dá primeiramente, pela forma pela qual o formando se apropria do currículo, dos conteúdos que necessita. A posse desses conteúdos é importante, mas a forma como vêm sendo trabalhada no processo de ensino/aprendizagem não tem sido diferenciada como deveria ser.

 A formação de professores encontra, hoje, uma série de obstáculos que, contribuem sobremaneira para degradar a condição e a atuação do professorado. São problemas diretamente ligados à sua preparação, tanto no campo científico quanto no plano pedagógico, que levam o modelo vigente de formação a não atingir plenamente seus objetivos. Dentre esses problemas, citam-se os conteúdos que o professor deveria dominar para desempenhar seu papel, condição essencial para sua qualificação profissional, pois nos cursos de licenciaturas os elementos teóricos e técnicos que lhe são repassados não são enriquecidos com a prática necessária, através da realização de estágios que lhe proporcionariam a possibilidade de aprender fazendo. Esse fato o leva somente a "conhecer, com o devido rigor, profundidade e criticidade, as condições histórico-sociais do processo educacional concreto em que vai atuar, o que o acaba levando a uma prática docente puramente técnica, mecânica, quando não tecnicista" (SEVERINO, p.76). Poderia ser diferente, porque o estágio enriquece de modo contundente a formação do professor e lhe fornece subsídios absolutamente necessários à prática docente.

Hannah Arendt, analisando o mundo grego, constata uma oposição entre a organização política e a associação natural, cujo centro é a casa e a família. O que distinguia a esfera familiar era que nela as pessoas viviam juntas por necessidade, enquanto a esfera da pólis era a esfera da liberdade.

 “A pólis diferenciava-se da família pelo fato de somente conhecer iguais, ao passo que a família era o centro da mais severa desigualdade. Ser livre significava ao mesmo tempo não estar sujeito às necessidades da vida, nem ao comando de outro e também não comandar. Não significava domínio como também não significava submissão. Assim, dentro da esfera da família a liberdade não existia, pois o chefe da família, seu dominante, só era considerado livre na medida em que tinha a faculdade de deixar o lar e ingressar na esfera política, onde todos eram iguais” (CH, p. 41-42).

Desta forma, o lar privado caracteriza-se como espaço pré-político, sujeito à necessidade. A vida pública, em contraposição, oferece ao ser humano uma outra experiência, jamais proporcionada pela vida familiar:

“Ser visto e ouvido por outros é importante pelo fato de que todos vêem e ouvem de ângulos diferentes. É este o significado da vida pública, em comparação com a qual até mesmo a mais fecunda e satisfatória vida familiar pode oferecer somente o prolongamento ou a multiplicação de cada indivíduo, com os seus respectivos aspectos e perspectivas. A subjetividade da privatividade pode prolongar-se e multiplicar-se na família; pode até tornar-se tão forte que o seu peso é sentido na esfera pública; mas este “mundo” familiar jamais pode substituir a realidade resultante da soma total de aspectos apresentados por um objeto a uma multidão de espectadores. Somente quando as coisas podem ser vistas por muitas pessoas, numa variedade de aspectos, sem mudar de identidade, de sorte que os que estão à sua volta sabem que vêem o mesmo na mais completa diversidade, pode a realidade do mundo manifestar-se de maneira real e fidedigna” (CH, p. 67).

Na educação, como se configura atualmente entre nós, o mundo público está encolhido ou submetido à tutela do privado. Denominar a professora de tia ou designar de “maternal” um dos ambientes educativos com resquícios e sinais de que a educação ainda é compreendida como extensão do mundo familiar. Conclui-se então, que a ação pedagógica não é maternal, o educador não é um sacerdote, o magistério não é um ministério sagrado.