Filosofia Cristã como ferramenta de ensino

Por Josimar Saldanha Nogueira | 16/11/2022 | Religião

O artigo realiza uma aproximação conceitual à filosofia cristã da educação, examina alguns enfoques filosóficos e as principais contribuições da filosofia que têm servido de alicerce para a constituição da filosofia da educação; por fim, levanta perspectivas e desafios que permitem compreender o sentido da filosofia da educação no contexto atual. 

Defende-se a ideia de que não pode existir filosofia da educação sem a presença de suas duas condições básicas: a filosofia e a educação. É uma investigação de caráter bibliográfico; utiliza os métodos (dedutivo - indutivo) (fenomenológico-hermenêutico) lógico - cientista e os métodos filosóficos. 

INTRODUÇÃO

Este estudo objetiva discutir a Filosofia Cristã como ferramenta de ensino.

Em cada momento da História os cristãos sentiram a necessidade de definir sua fé, explicá-la transmiti-la de modo e linguagem compreensível aos homens de seu tempo, assim como defendê-la contra distorções de dogmas e ensinos contrários que se infiltravam pelo víeis da sã doutrina e em muitos casos estavam sendo acolhidas por muitas igrejas. Entrementes a comunidade cristã presenciou, assim, o surgimento e desenvolvimento de muitas doutrinas e “heresias” no decurso dos seus quase dois mil anos de existência, hoje estas mesmas “heresias” são objetos de estudos dos pesquisadores da ciência do pensamento cristão. Resulta deste fato a importância de conhecer os acontecimentos que cercam a origem e o desenvolvimento da formulação de determinada doutrina a fim de poder compreendê-la e avaliá-la plenamente. Esse conhecimento histórico oferece, também, a partir disso, obter melhores condições para se determinar até que ponto uma formulação doutrinária está fundamentada na Escritura e até que ponto ela é fruto de circunstâncias transitórias.

A História do Pensamento Cristão

Por causa da natureza do objeto que investiga, isto é, os acontecimentos que envolvem o nascimento, desenvolvimento e aplicação do pensamento cristão, inevitavelmente, tende a ser um empreendimento teológico. A tarefa do historiador não consiste em mera repetição do que aconteceu - ou, neste caso, do que foi pensado. Como todo cientista, o historiador deve fazer uma seleção acurada do material e do campo que deseja pesquisar, muito embora seja altamente subjetiva a pesquisa deve obedecer a critérios técnicos e acadêmicos confiáveis, para que seus resultados sejam relevantes para o público que deseja atingir. Assim as obras pesquisadas pelo historiador do pensamento cristão e obrigado a fazer uma seleção, não somente quanto às quais obras incluir, mas também quanto as fontes a serem estudadas em preparação para a tarefa. Esta seleção depende, em grande parte, do autor, o que significa que toda historia do pensamento cristão e, inevitavelmente, também um reflexo das conjecturas teológicas do escritor; e o historiador que sugere que sua obra é livre de pressuposições teológicas está claramente iludido.

Muitos historiadores do pensamento cristão são claramente influenciados por pressuposições teológicas, algumas que, por algumas vezes põe em cheque a lisura da imparcialidade da pesquisa. JUSTO GONZÁLEZ (2004) em seu compêndio sobre a HISTÓRIA DO PANSAMENTO CRISTÃO, Editora Cultura Cristã, de 2004, diz que muitas vezes o técnico que se dedica a pesquisa do pensamento cristão acaba que se encantando pela magia dos postulados teológicos.

Igualmente, ainda na mesma obra, o referido autor, alega que muitos teólogos rejeitam abertamente a influência da filosofia na cátedra da teologia, por exemplo, os teólogos da escola de pensamento de Ritchl procuravam seguir as orientações de seu mestre que se esforçava por limitar a influência da filosofia nos aspectos religiosos, demonstrando, por exemplo, que a metafísica distorcia elementos do pensamento quando se envolvia em assuntos religiosos; para estes pensadores a religião é estritamente prática e não especulativa. Porém, não se pode afirmar que a religião não deva se perder no campo do subjetivismo. Pelo contrário, a religião estabelece os valores morais que são os únicos meios pelos quais uma pessoa pode libertar-se das condições de escravidão que caracterizam a vida natural e passageira. Nem dogmas nem sentimentos místicos constituem a fé cristã, mas sim aqueles valores morais que elevam uma pessoa acima da presente miséria da vida humana.

 

1- A IMPORT NCIA DA TEOLOGIA HISTÓRICA

A ciência da teologia é uma disciplina que se constitui em um arcabouço variado de outras matérias adjacentes, por isso, é possível também identificar a matéria como ciências teológicas ou teologias. Dentro deste campo a teologia divide-se em Bíblicas, Sistemáticas, Filosóficas, Pastorais e Históricas, mais à frente serão expostos pontos; porém, neste momento para se entender o desenvolvimento do pensamento cristão é necessário fazer-se um resumo do desenvolvimento da teologia história.

Como o nome da matéria já expressa é também conhecido como História da Teologia e História das Doutrinas ou dos Dogmas, ambas se conectam com outras matérias, tais como História da Igreja e a Teologia Cristã. Assim, uma questão pode até se levantar no inicio do assunto, afinal a teologia histórica é essencialmente histórica ou teológica? Muitos estudiosos têm respondido que ambas se relacionam perfeitamente, portanto não é um erro afirmar que a história e a teologia se tocam e se fundem gerando a teologia histórica. Porém a teologia histórica é compreendida no ramo da história do cristianismo.

O estudo da história da igreja sem dúvidas é a maior divisão do estudo da teologia, pois é a matéria que mais produziu campos de pesquisa para estudos sobre o nascimento, evolução e solidificação de fé cristã enquanto religião e da igreja enquanto instiuíção, ALDERI DE SOUZA MATOS escreve sobre a matéria:

A história da igreja é a mais ampla das disciplinas que tratam do passado cristão. É o estudo da caminha e do desenvolvimento através dos séculos, em muitas áreas diferentes: missões e expansões geográficas, cultos, liturgia e sacramentos; espiritualidade e vida cristã prática, organização, estrutura e formas de governo; pregação, arquitetura e arte sacra; relacionamento com a sociedade, a cultura e o Estado. Enfim, pode-se afirmar que história da igreja ou do cristianismo inclui tudo o que a Igreja faz no mundo, sendo essencialmente um estudo e uma narrativa de eventos, personagens e movimentos. Inclui o que hoje se chama de história institucional ou social. (MATOS, Alderi de Souza; Fundamentos da Teologia Histórica; Ed. Mundo Cristão; SP – 2007; p.15)

 

A história da igreja, além de analisar a história da evolução prática do cristianismo, observa também a história do pensamento cristão e a virtude de seus ensinos. Assim, relaciona-se intimamente com a teologia histórica. Para MATOS (2007), as perspectivas teologias já expostas antes se bifurcam em: 

 

A prática da Igreja na área de missões (história da Igreja); e a reflexão que ela faz sobre sua missão (história da teologia), ou a evolução de suas práticas litúrgicas (história da igreja); e a reflexão que faz sobre a suas práticas litúrgicas (teologia do culto). Esse estudo do pensamento e da vida da Igreja pode ter várias abordagens. (Id. Op.Cit; p.15-16)

A história da teologia também aborda outra matéria de singular importância que é a história do dogma, que analisa a importância de certos temas doutrinários aplicáveis à igreja por seus líderes que receberam peso normativo para toda a comunidade de fé que durante o tempo passaram a ser analisados para se entender qual era a situação cultural, política, litúrgica e espiritual no dia em que foram promulgados. Nesse sentido os pesquisadores do tema entendem que apenas três disciplinas se inserem no escopo da história dogmática cristã, a saber: a doutrina da trindade (definida nos Concílios de Niceia e de Constantinopla), a doutrina da pessoa divino-humana de Jesus (definida no Concílio de Calcedônia) e a doutrina da graça, mais especificamente a graça divina e a vontade do homem que se encontram no que se refere à graça, gerando a salvação gênero humano.

Outra matéria que elenca os quadros da teologia e está na outra ponta é o pensamento cristão, que se ocupa da análise de temas filosóficos, questões éticas, morais, política e sociais; alguns intelectuais da área também chamam a matéria de história das ideias cristãs ou história da intelectualidade cristã, para referirem-se um contexto mais amplo em que se insere a teologia histórica, MATOS (2007) ainda escreve:

A história da teologia não tem um campo tão limitado como a história do dogma, nem tão amplo quanto à história do pensamento cristão, mas usa ambas as áreas em sua elaboração. Seu objetivo é considerar o corpo de doutrinas existente na vida da Igreja em cada período da história. (Id. Op.Cit. p.16)

 

É necessário observar que a teologia histórica se encaixa em outro campo do estudo teológico que se relaciona com a teologia cristã como um todo. Ao se considerar todo o escopo das Ciências Teológicas, ou seja, todo o conjunto que compõe as matérias que se dedicam ao estudo da teologia que segundo ALISTER MCGRATH em seu livro TEOLOGIA SISTEMÁTICA, HISTÓRCA E FILOSÓFICA (2005) é possível classificá-las de maneira abrangente: 

Estudos Bíblicos ou Teologia Bíblica: Trata-se do estudo direto das Escrituras Sagradas propriamente ditas – o texto bíblico é fonte primordial e objeto de estudos de pesquisadores envolvidos no seu entendimento e na comprovação dos fatos nela narrados; assim, como diz McGrath (2005, p.180) “A fonte fundamental da teologia cristã é a Bíblia, que representa uma prova das bases históricas do cristianismo, tanto pela história de Israel, quanto pela vida, morte e ressurreição de Jesus Cristo”. A Hermenêutica (a ciência que estuda a interpretação e a aplicação do texto bíblico) e a Exegese (Ciência que se ocupa dos textos sagrados e suas línguas originais). Em paralelo, pode se considerar esta matéria parte da teologia bíblica trabalha na pesquisa do entendimento das teologias expostas nos livros bíblicos como, por exemplo, em Pentateuco, Históricos, Salmos, Profetas, Evangelhos Cartas de Paulo, Cartas Gerais e Apocalipse. Assim com frequentemente se destaca a fé cristã gira em torno de uma única pessoa: Jesus Cristo, e não da fé em um livro: a Bíblia, porém estas duas coisas estão intimamente ligadas, pois, não é possível saber de um sem o outro.

 

Teologia Sistemática: é o ramo da teologia que se esforça para apresentar os dados obtidos através da pesquisa de maneira coordenada e concisa, para fins didáticos, uma vez que esta matéria é base de lançamento para o entendimento de outras ciências da teologia. No seu sentido primevo, a teologia sistemática busca conduzir a um panorama geral dos principais temas da fé cristã para cristãos. É padrão frequente nos livros de teologia sistemática seguirem os padrões do Credo Apostólico, iniciando-se da Doutrina de Deus até a Doutrina da Escatologia. Porém, a expressão, “teologia sistemática” a ser entendida como a “organização sistemática da teologia” destas expressões surgiu duas correntes que em relação ao significado deste termo. A primeira corrente, o termo significa “algo organizado com base em interesses educacionais ou explicativos”. A segunda corrente pode significar como “algo organizado com base em pressupostos metodológicos”, isto é, as ideias filosóficas acerca de como adquirir conhecimento que determinam a forma de como os materiais de estudo serão organizados com finalidade didática.

Teologia filosofia: é o segmento que surge do encontro entre as duas ciências que aparentemente antagônicas, para formar uma nova matéria que visa produzir novos campos intelectuais em alguns períodos específicos da história como, por exemplo, no período dos Pais da Igreja, no Escolástico e por último no período Moderno, porém em outros tempos do pensamento cristão, muitos expressaram suas reservas quanto à influência da filosofia na doutrina cristã, apesar de fazerem uso da mesma, para defenderem seus pontos de vista acerca da fé ante a filosofia pagã e a ameaça de heresias internas, mestre como Tertuliano redigiram longos tratados em defesa da fé pura, mas lançaram mão de elementos filosóficos para embasarem seus escritos.

 

Teologia Pastoral: este saber ocupa-se em aplicar os resultados produzidos pelas matérias da teologia bíblica, sistemática e filosófica á vida pastoral da comunidade de fé, no cuidado diário das ovelhas, na preparação dos estudos e do sermão que será ministrado á congregação e no aconselhamento. MACGRATH diz que a posição que o cristianismo ocupa hoje enquanto religião de destaque social, histórico e cultural, não se deve a instituições acadêmicas de teologia ou a departamentos de estudos religiosos; mas se deve a forte dimensão pastoral que a mesma tem sobre a vida dos indivíduos, porém, esta ação não é devidamente refletida pelos mesmas academias de teologia que se ocupam do conhecimento técnico da matéria. Em outro ponto o citado autor, aponte que a teologia da libertação nascida na América Latina supriu em partes este vácuo de atividade teológica, que fora engolida pela atividade excessivamente acadêmica da teologia; introduzindo de certo modo um ajuste saudável na direção da aplicabilidade social; porém esta tendência ficou defasada pelas convicções de políticas extremistas que estavam dominando o mundo de então. Outro movimento de excelente exemplo é o puritanismo que aliou sua integridade teológica à prática do pastoreio, crendo que uma coisa era incompleta sem a outra. As obras de grandes pensadores puritanistas como Richard Baxter e Jonathan Edwards estão impregnadas de mensagens de cuidado pastoral e nutrição de almas e seu bem estar espiritual.

A teologia histórica como bem define MACGRATH (2005, p.183) “A Teologia Histórica é o ramo da teologia que busca investigar as circunstâncias históricas em que as ideias se desenvolveram ou foram especificamente formuladas”. Seu objetivo primaz é desvendar a ligação que há entre o contexto histórico e teologia. Em outras palavras, a história da teologia documenta as respostas às grandes questões do pensamento cristão em todos os períodos da história social da igreja, e o mesmo tempo procura explicar os fatores que contribuíram para o desenvolvimento e consolidação destas respostas. Os campos de pesquisas da história da teologia e do pensamento cristão surgiram no século XVI em meio ao acontecimento da Reforma Protestante, principalmente quando o assunto era para dirimir questões teológicas que tiveram impacto nos primeiros tempos da comunidade cristã; nos intensos debates teológicos verificou-se a necessidade da afirmação da identidade histórica da igreja, isto é, se a Igreja Católica ou a nascente Igreja Protestante tinha ligação com a Igreja Primitiva. 

Como instrumento de pesquisa e desenvolvimento do pensamento intelectual cristão a história da teologia também é objeto pedagógico no que tange a aplicação didática dos ensinos teológicos na vida prática do crente; oferecem informações sobre o desenvolvimento dos grandes temas da teologia, os pontos fracos e fortes das diversas abordagens e as bases mais notáveis da doutrina no pensamento cristão, em termos de autores e seus documentos que compõe a biblioteca cristã ao longo dos tempos; além, desta função é uma ferramenta que permite enxergar as falhas, as deficiências, limites e condições das formulações doutrinárias e o fator que possibilita seu contínuo aperfeiçoamento no que toca a fé cristã enquanto crença.

A história da teologia cristã não é a apenas mais uma teologia cristã, mas ela implica também em fazer teologias, MATOS (2007, p.18) observa que teologia ou uma doutrina cristã específica, pode ser conceituada como a palavra da Igreja sobre o que diz à Palavra de Deus à Igreja, ou ainda pode ser conceituada como as palavras humanas com as quais a Igreja testemunha a Palavra de Deus aos homens. Portanto segundo a técnica teológica, a tarefa de um pesquisador está estabelecida sobre quatro bases: Deus, as Escrituras Sagradas, os Documentos da Igreja e o Mundo; MATOS (2007, p.18) ainda prossegue em seu: “Sendo a Teologia uma tarefa da Igreja e dos cristãos, ela exige envolvimento e participação responsável, objetivando engrandecer a Deus, valorizar sua revelação e contribuir para o ministério e a missão da Igreja”. ROGER OLSON em sua monumental obra sobre a História da Teologia Cristã, conceitua a atividade da Teologia:

A teologia é inevitável na medida em que o cristão (ou qualquer outra pessoa) procura pensar de modo coerente e inteligente a respeito de Deus. E não som ente é inevitável e universal, como também valiosa e necessária. Sem a reflexão formal a respeito do significado do evangelho da salvação que é parte da teologia, ele se degeneraria rapidamente para a condição de m era religião folclórica e perderia toda a sua convicção da verdade e sua influência sobre a igreja e a sociedade. (OLSON, Roger E; História da teologia cristã: 2 000 anos de tradição cristã; São Paulo – 2001; Ed.Vida; p.14)

A teologia não é uma ciência meramente especulativa como a filosofia; de pensadores alienados ensimesmados; como afirma o autor citado anteriormente, a doutrina cristã surgiu por razões necessárias à fé, seja por urgência ou por razões práticas, em resposta a desafios internos ou externos. Ale disso, toda a história da doutrina e as interpretações teológicas que se produz a partir da pressuposição que cada pensador tem das doutrinas. Neste sentido não existe a possibilidade de neutralidade ou objetividade plena em relação ao que se pretende pesquisar. Todo teólogo cristão mesmo que obedeça a rígidos critérios técnicos de pesquisa e que observe pressupostos de outras ciências; tem de considerar a contribuição que mestres do passado cristão ofereceram para o engrandecimento do evangelho e da teologia, para só então desenvolver pensamento intelectual próprio.

Muitos pensadores ao longo da história expressaram suas reflexões sobre os objetivos da teologia histórica e suas implicações para o pensamento cristão; OLSON aborda a temática da salvação para a teologia histórica e o desenvolvimento do pensamento cristão, para ele a soteriologia é a filigrana que liga todas as matérias na condução da reflexão cristã em todos os períodos da história da igreja:

A história da teologia cristã, portanto, é a história da reflexão cristã sobre a salvação. Inevitavelmente, também envolve reflexão sobre a natureza de Deus e da revelação que ele fez de si mesmo, na pessoa de Jesus Cristo, e sobre muitas outras crenças ligadas à salvação. N a realidade, porém, tu d o se resume na salvação: o que é como acontece e quais os papéis a ser desempenhados por Deus e pelo homem para que ela se concretize. (OLSON, Roger E; História da teologia cristã: 2 000 anos de tradição cristã; São Paulo – 2001; Ed.Vida; p.13)

 

Para BENGT HÄGGLUND no texto História da Teologia, considera que a teologia histórica é a análise da conduta e da regra de fé do cristianismo desde os primeiros dias da igreja e como elas têm sido interpretadas em todas as gerações “A história da teologia e, portanto, um ramo da historia das ideias; trata das fontes da tradição cristã e examina o desenvolvimento das ideias nelas refletidas”. 

As “regras de fé” antigas consistem em vocáculos-chave variável de acordo com a comunidade que se constituí, mas de conteúdo defino, que desta forma foram constituindo um credo uniforme para todas as comunidades.

Assim a teologia histórica busca investigar, como foi dito anteriormente as circusntância que históricas em as ideias nasceram e se desenvolveram; MCGRATH, diz que esta história é facilmente negligenciada por aqueles que tendem a serem influenciados pelo espírito especulativo da filosofia. A teologia cristã pode ser considerada como uma tentativa de compreensão de recursos básicos dá fé, à luz daquilo que cada época considera como os melhores métodos aplicáveis na compreensão das doutrinas fundamentais da igreja; isto significa que cada comunidade de fé absorveu a cultura local e fez uma releitura dos principais dogmas da igreja à realidade subjacente as questões teológicas das mesmas; assim, estas possuem forte impacto nas proposições teológicas dos primeiros pensadores da fé. Como religião o cristianismo e como ciência a teologia consideram-se universais, quanto ao que se refere aplicação na obra redentora de Deus na humanidade; contudo esta mesma religião possui particularidades locais, por isso não se pode considerar hoje, cristianismo como uma só crença, mas deve-se considerar sua relevância para as cultuas em que foi implantado, por exemplo, existe o cristianismo oriental, o cristianismo africano, o cristianismo eslavo, o cristianismo extremo asiático, o cristianismo europeu, o cristianismo norte americano e por fim o cristianismo latino americano; todos com sua importância histórica, cultural, antropológica, social, filosófica e teológica.

Contudo, com a teologia funciona da mesma maneira que também absorve aspectos dos cristianismos que a proporcionam vida útil dentro das culturas particulares, portanto, pelas percepções e limitações de pessoas que buscam, por sua vez, viver, o evangelho em um contexto local e particular. Assim, a universalidade do cristianismo e da teologia cristã é caracterizada também por suas particularidades locais MCGRATH ainda opina:

Dizer que o cristianismo normalmente absorve, de forma inconsciente, ideias e valores pertencentes ao seu contexto cultural nos parece óbvio. Contudo, essa observação é tremendamente importante. Aponta para o fato de que existe na teologia um fundamento transitório ou condicional que não é necessário, nem inerente a seus fundamentos. Em outras palavras, certas ideias que normalmente foram tidas como cristãs, podem acabar se revelando meras ideias importadas de um contexto secular e local. Um exemplo clássico é o conceito da impassibilidade de Deus – isto é, a ideia de que Deus não é capaz de sofrer. Esse, porém, era uma ideia sólida nos círculos filosóficos gregos da antiguidade. Os primeiros cristãos, ansiosos por conquistar respeito e credibilidade nesses círculos, não a contestaram. Como resultado disso, essa noção tornou-se profundamente arraigada na tradição teológica cristã. (MACGRATH, Alister E; Teologia Sistemática, Histórica e Filosófica; Ed.Shedd; SP – 2013, p.183)

Assim o estudo da história da teologia cristã e suas implicações para a teologia moderna do cristianismo põem a disposição do pensador uma poderosa arma para a correção das visões estáticas da teologia e ela permite ver que certas ideias foram formadas sob circunstâncias bastante específicas de um tempo específico da história humana, neste sentido, ocasionalmente erros são cometidos e que a evolução da teologia de acordo com seu contexto social não é algo irreversível para a história do pensamento cristão e que é possível corrigir erros do passado.

Portanto, ainda para MACGRATH, o estudo da teologia histórica é subversivo, à medida que aponta para o fato de quão facilmente os teólogos modernos se deixam desviar pelas “imagens de sua própria época”, isto é sofre influências de seu tempo; e isto não é algo restrito somente ao passado como foi dito na citação anterior; frequentemente, o pensamento teológico da modernidade também não passa de reações inconscientes das tendências culturais, sociais e políticas passageiras, vide as teologias da prosperidade e a da libertação. Por isso, o estudo da história da teologia alerta ao pensador com relação aos erros cometidos no passado que causaram tantas divisões entre irmãos de fé. 

Por sua natureza, ou seja, o estudo de quase dois mil anos de reflexão teológica cristã, a teologia histórica é um campo extremamente vasto ainda muito inexplorado na modernidade.

Roger Olson diz que a finalidade das relações da história da teologia e do pensamento cristão para a teologia cristã é revelar o plano da salvação de Deus para humanidade através de evidências históricas e intelectuais:

Existe um denominador comum que percorre toda a história da teologia cristã e une as pequenas histórias em uma única e grande narrativa do desenvolvimento do pensamento cristão. E o interesse que todos os teólogos cristãos (profissionais e leigos) têm pela salvação: o gesto redentor de Deus de perdoar e transformar os pecadores. Sem dúvida, outras preocupações entram em jogo no decurso da história, mas, aparentemente, o interesse em compreender e explicar adequadamente a salvação subjaz a quase todos os outros. (OLSON, Roger E; História da teologia cristã: 2 000 anos de tradição cristã; São Paulo – 2001; Ed.Vida; p.13)

Assim, o teólogo cristão deve ter o interesse de compreender o decurso da história e explicar adequadamente a salvação que subjaz a todo homem.

Essa preocupação com a salvação ficou evidente principalmente nas etapas formativas e reformativas do desenvolvimento da doutrina cristã. Os grandes debates sobre o que se deveria crer em relação a Deus, Jesus Cristo, ao pecado e à graça que consumiam a atenção dos primeiros pais da igreja, entre aproximadamente 300 e 500, basicamente visavam resguardar e proteger o evangelho da salvação. As divisões que ocorreram dentro da cristandade e na sua teologia durante o século XVI e que levaram às reformas protestantes e católicas na Europa deveram-se, em grande parte, às diferentes interpretações do evangelho. (OLSON, Roger E; História da teologia cristã: 2 000 anos de tradição cristã; São Paulo – 2001; Ed.Vida; p.14)

 

Entender e traduzir os elementos da teologia na matéria do pensamento cristão é elementar para o pensador que deseja ser eficaz em um mundo onde a secularização das doutrinas do evangelho distancia cada vez mais o fiel da sua plena responsabilidade como testemunha de suas crenças.

1.1- A NATUREZA DA TEOLOGIA E DA FILOSOFIA E SUAS IMPLICAÇÕES PARA O PENSAMENTO CRISTÃO.

O pensamento ou filosofia cristã é todo aquele que se distingue do pensamento helênico – grego – e dos chineses, hindus, entre outros povos antigos também alcança notoriedade e exerceram também certa influência na construção do saber cristão, como forma de preservar, transmitir e defender sua fé, graças à orientação da “verdade revelada” por Jesus Cristo, LUIZ SAYÃO em sua obra CABEÇAS FEITAS, FILOSOFIA PRÁTICA PARA CRISTÃOS (3ª EDIÇÃO, 5ª REIPRESSÃO, Ed. Hagnos, SP 2001) diz que Filosofia e Teologia utilizam-se do expediente da razão para abordar questões semelhantes, mas a teologia diferentemente da filosofia, parte de uma revelação apresentada por uma divindade transcendente, restando aos homens interpretar e transmitir esta revelação aos demais homens; enquanto que a filosofia parte da premissa racional e abstrata; assim cada uma delas tem o seu lugar, para Aristóteles a filosofia nada mais é “o estudo das causas ultimas de todas as coisas”. Isso quer dizer que ela (a filosofia) pretende descobrir o fundamento ultimo de todas as coisas, ou seja, dar uma explicação adequada e sistemática da realidade vivida pelo homem. Assim concluí-se que a realidade filosófica se interessa por tudo ao seu redor, em um sentido global, tão abrangente quanto possível e não particularizado a uma especialização científica, a filosofia tem como material de estudos unicamente a razão do homem; assim questões de valores fora do âmbito da ciência exata, assim, por exemplo, disciplinas Éticas, Sociedade, a Maldade e a Bondade humanas e o senso de Liberdade são os alvos de atenção do pensador.

Por outro lado à teologia, como já foi citado anteriormente, parte de um pressuposto revelado por uma divindade que existe além da compreensão humanas; o âmago desta revelação encontra-se nas Escrituras tidas como sagradas por uma sociedade semítica oriental, que mais tarde exerceria influência em todo o mundo conhecido, dominaria o senso de religiosidade pelos próximos milênios até a chegarmos a modernidade; outrossim, a teologia, entende que nas Escrituras, Deus decidiu não revelar toda a verdade que possa ser medida cientificamente; ela simplesmente fala daquilo que Ele decidiu revelar do seu plano de redenção para a humanidade, isto implica em ações meramente espirituais, sem compromisso com fatos exatos da história, linguística, cultura ou sociedades antigas; uma vez eu os atos nela descritos são alcançados pela compreensão da fé; de outra forma, a ciência tem se aplicado por ora desmentir, por ora comprovar fatos relatados na Bíblia; a Bíblia tem propósitos muito específicos “ela nada diz sobre a alimentação dos cangurus australianos e nem sobre as regras do raciocínio lógico, e nem deveria, pois, este não é seu propósito” (Op.cit p.11) 

Essas ideias foram iniciadas pelos seguidores de Cristo no século II e vêm se seguindo até os dias atuais, já que no primeiro século de vida da igreja, a comunidade ainda estava sofrendo grande perseguição e seus líderes (isto é os apóstolos) estavam saindo de cena, cabia agora a seus discípulos a tarefa da apologia de sua fé através do maior dos instrumentos já utilizados pelo homem: a Filosofia. Apesar de não se contrapor aos dogmas, a filosofia cristã parte de evidências racionais para alcançar explicações plausíveis sobre Deus e o mundo. Pode-se dizer que a fé é, para os filósofos cristãos, um apoio para que a realidade seja mais bem compreendida, evitando erros ou desvios.

Com intuito de unir a ciência e a fé, a filosofia cristã se desenvolveu a partir das explicações racionais naturais, mas com auxílio da revelação cristã. Isso porque pensadores acreditavam haver uma relação harmônica entre a ciência e a fé, mas outros ainda afirmavam ter contradição. A discussão era, então, iniciada no campo da filosofia.

Alguns filósofos, inclusive, questionam a existência dessa filosofia, pois afirmam não haver alguma originalidade nesse pensamento, sendo que os conceitos são herdados da filosofia grega – relacionando os dois pensamentos, por fim.

Boehner e Gilson, no entanto, afirmaram que, embora devam à ciência grega os conhecimentos que foram elaborados por Platão, Aristóteles e Neoplatônicos, os pensamentos da filosofia cristã não são repetição da filosofia grega antiga. Para exemplificar, é como se os mestres gregos fossem uma espécie de pedagogos para os pensadores cristãos.

O principal objetivo, portanto, é tentar harmonizar, ou elucidar, a fé por meio da razão. Mas essa relação sempre foi bastante conflituosa no decorrer dos anos, mesmo dentro do grupo desses filósofos.

 

 

1.2- FILOSOFIA CRISTÃ COMO FERRAMENTA DE ENSINO

 

A filosofia é uma ciência que se constitui no estudo dos problemas fundamentais relacionados à existência humana, que versam sobre as causas, efeitos e propriedades dos seres. Etimologicamente, a palavra filosofia vem da unidade de duas frases gregas: philos (amor) e sophia (sabedoria). Nesse viés, a filosofia é traduzida como amor ao conhecimento. Além disso, além de ser uma disciplina, a filosofia é inerente ao homem, não só como sabedoria, mas também como frase natural do ser.

Como na ciência ou no direito, existe uma disciplina que trata da análise relacionada às questões intrínsecas da educação denominada filosofia da educação. No campo da filosofia racional, o campo da educação é exposto como uma disciplina cujo propósito é esclarecer teorias pedagógicas e saberes educacionais. Nesse contexto, o campo de que trata a filosofia da educação é constituído pelos saberes e instrumentos essenciais de esclarecimento designados pelas características desse saber.

Em síntese, a filosofia da educação tem como objetivo primordial esclarecer os saberes educacionais, priorizando as teorias pedagógicas, por meio de análises dialéticas, lógicas e retóricas. Estas, no caso da lógica, baseiam-se em ferramentas constituídas para realizar verificações de enunciados que se relacionam com a verdade. Esses elementos argumentativos devem ser examinados para se obter a compreensão e o desenvolvimento de teorias relacionadas ao campo educacional.

Em detrimento dos atuais desafios e transformações da sociedade, a formação é considerada necessária para cidadãos capazes de compreender o meio em que vivem, para que reconheçam criticamente as diferenças. No entanto, a educação brasileira apresenta diversas fragilidades relacionadas à educação inclusiva, na qual, quantitativamente, grupos minoritários têm privilégios sobre os outros de forma homogênea e ampla, impedindo o estabelecimento da educação.

A fé cristã enfatiza que quando Deus criou os seres humanos à sua imagem (Gênesis 1:26), ele compartilhou com eles sua criatividade, o que certamente implica uma capacidade racional. O raciocínio humano pode muitas vezes ser defeituoso ou mal utilizado, mas isso não significa que não tenha um papel na vida cristã. Na verdade, a própria vida de fé de um cristão deve ser vivida, explicada e compartilhada em um mundo que está sintonizado com o uso de ferramentas construídas pela razão. Uma parte da tarefa da educação cristã é desenvolver a capacidade racional ao máximo. Ellen White escreveu: “Todos os que estão empenhados na aquisição de conhecimento devem se esforçar para alcançar o degrau mais alto da escada. Avance os alunos o máximo que puderem; deixe o campo de seu estudo ser tão amplo quanto suas faculdades possam alcançar. "Esta meta elevada, porém, vem com um aviso: “... mas faça de Deus a sua sabedoria, apegando-se Àquele que é infinito em conhecimento, que pode revelar segredos escondidos por séculos, e pode resolver os problemas mais difíceis para os espíritos que eles acredite nele”. 

Portanto, há uma ligação entre razão e fé; ambos são dons de Deus e devem fazer parte da educação cristã. As escrituras ordenam que desenvolvamos nossa mente; na verdade, o crescimento em conhecimento é parte do processo de santificação (2 Pedro 1: 5-7). Visto que a fé cristã requer transformação da mente (Romanos 12: 2), ela, portanto, não anula a mente ou a razão, mas as transforma de tal maneira que a mente humana funciona com a ajuda da iluminação divina. Esta é uma tarefa que somente a fé pode realizar e realizar.

O segundo mito que alguns cristãos acalentam é que o crescimento intelectual prejudica a fé cristã. Mas, na realidade, um cristão educado pode ser um comunicador mais bem informado e mais eficaz. Enquanto a maioria dos discípulos de Jesus eram mal educados (mostrando assim que Deus pode usar quem quiser), homens como Moisés, Daniel e Paulo ilustram o poder de pessoas instruídas que se submetem às exigências da fé. Ser santificado não significa ser estúpido. 

Um terceiro mito é a percepção de que existe uma distinção entre o sagrado e o secular e que devemos viver essa separação. Uma compreensão mais profunda da fé cristã requer que, enquanto vivemos no secular, nunca devemos negligenciar o sagrado; na verdade, devemos conectar o sagrado com as pessoas seculares, para que possam compreender, apreciar e alcançar melhor a dinâmica de realização encontrada no sagrado. Deus é o Deus do altar e do laboratório, e o cristão não deve se desculpar pelo primeiro ou se apaixonar pelo segundo.

Não devemos separar o sagrado do secular a ponto de restringirmos a religião ao coração e o sábado, e a educação à mente e o resto da semana. O perigo oculto do secular é pensar e viver como se Deus não existisse. É um mandato de fé enfrentar esse perigo em seu próprio terreno e superar seus males. Para fazer isso, a fé precisa manter sua capacidade dada por Deus de raciocinar com eficácia. Vivemos no mundo, mas não fazemos parte dele. O mundo é tanto nossa casa quanto nossa missão. Deve ser vivificado pelo Espírito de Deus, a fim de servir aos propósitos mais nobres. Quanto mais íntimo nosso relacionamento com Deus, mais plenamente podemos compreender o valor da verdadeira ciência; pois os atributos de Deus, conforme vistos em suas obras criadas, podem ser mais bem avaliados por alguém que conhece o Criador de todas as coisas, o Autor de toda a verdade.

Ao lidar com a filosofia, os cristãos devem evitar os perigos da capitulação ou da indiferença. Por um lado, eles podem ser tentados a se render ao ataque da filosofia e sentir-se compelidos a reinterpretar ou rejeitar alguns pontos de suas crenças. Por outro lado, eles podem evitar enfrentar questões críticas. Embora desistir possa destruir seu compromisso de fé, o pânico também torna seu testemunho de fé ineficaz. Em vez disso, o cristão tem a responsabilidade de lidar efetivamente com as questões colocadas pela filosofia e fornecer respostas confiáveis a partir da perspectiva de uma cosmovisão cristã. “O cristianismo tem a oportunidade… de falar claramente do fato de que suas respostas têm exatamente o que o homem moderno busca desesperadamente: a unidade de pensamento. Ele fornece uma resposta unificada para toda a vida. É verdade que o homem terá que renunciar ao seu racionalismo, mas então, pelo que se pode discutir, ele tem a possibilidade de recuperar sua racionalidade”.

À medida que os filósofos encontram sua unidade de pensamento no ponto de partida escolhido: mente, matéria, existência, materialismo, linguagem, classe, etc., onde iremos para desenvolver uma cosmovisão cristã? Sem pretender ser exclusivo ou exaustivo, deixe-me sugerir três afirmações básicas de fé que podemos usar. Essas declarações são de natureza abrangente, de escopo universal, de origem bíblica e com um compromisso inegociável.

 

 

CONCLUSÃO 

 

A filosofia cristã aplicada no campo educacional permitirá que as disciplinas educacionais não deixem de lado o espanto e a contemplação (elementos que se iniciam nos primeiros anos de ensino); aumentará a capacidade de questionar e propor soluções para a melhoria da sociedade. Irá promover o pensamento analítico, crítico, reflexivo e propositado individual e socialmente.

Historicamente, a filosofia cristã tornou-se a melhor referência para a compreensão da essência, dos problemas, do sentido e do sentido da educação, portanto, todas as inovações pedagógicas tiveram como ponto de partida a filosofia.

A filosofia da educação centrou sua atenção na delimitação dos propósitos da educação, as funções e papéis dos sujeitos da educação. Fornece ferramentas teóricas e conceituais para nortear o papel do professor e compreender a atuação dos alunos em seu processo formativo.

A filosofia da educação só pode cumprir a sua função teórico-prática se fizer parte de um processo educativo pensado, concebido, integrado como uma unidade dialética, como um todo onde todas as suas partes se precisam e se complementam e onde é importante valorizar a inter, trans e multidisciplinaridade.

 

 

 

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

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