Filhinho De Papai (e De Mamãe)

Por Antonio Pereira (Apon) | 01/02/2007 | Sociedade

Nascia o primeiro e único filho daquele casal de alta classe média. Bem cuidado, o pimpolho foi crescendo forte e saudável, logo vieram os primeiros palavrões, tapas no rosto da mãe, beliscões nos primos, tudo muito engraçadinho e até estimulado, afinal, era coisa de criança.

Como criança não para de crescer, logo chegou a idade escolar; o menino batia em um, tomava o lanche de outro, mandava a professora para lugares insólitos... Mas, segundo os pais: era coisa da idade, fazia parte do aprendizado, era normal para aquela faixa etária...

E lá se ia o garoto crescendo, e proporcionalmente ao seu desenvolvimento físico, aumentavam as queixas. Mas seus progenitores: Isso é intriga de vizinho, maledicência de parente, implicância do professor... O guri começou a achar dinheiro na rua, ganhar presentes caros, trocar coisas com colegas... Ninguém checava nada e enchiam o queridinho de mimos: Meu filho vai ter tudo que eu não tive, não cansavam de repetir.

Como o leitor já deve ter deduzido, na adolescência estávamos diante de um bad boy, o carinha era o cão chupando manga, mas papai e mamãe: Isso é coisa da juventude, todo jovem faz isso, deixe o menino se desenvolver... Quando o sujeito repetiu o ano pela primeira vez, foi por que era hiper ativo, na segunda, foi déficit de atenção, na terceira, foi despreparo da escola.

Quando já não tinha mais para onde crescer e com o cangote mais grosso do que devia, papi e mami diziam: Não sei mais o que fazer com esse menino, já não suporto mais o que ele apronta, não sei a quem ele puxou, não sei como ele ficou assim, ele sempre teve tudo, eu desisto, é caso perdido...

Numa fatídica tarde, após ter cheirado tudo e mais um pouco, o de menor invadiu a casa alucinado, queria dinheiro para comprar mais droga e pela primeira vez, sua mãe e seu pai tiveram a ousadia de dizer não...

A mãe foi sepultada no belo jazigo da família, o pai está vegetando num leito de hospital e o filhinho querido, cumpre pena numa penitenciária estadual.

Infelizmente, esse é um cenário familiar que se reedita, cada vez com maior freqüência. Pais permissivos criam filhos sem limites, e essa lacuna pode ser preenchida de forma desastrosa. Os pais são os grandes educadores dos filhos, a escola e todo o resto são coadjuvantes, tentar inverter papéis e se eximir do que lhes cabe, é quase sempre, agendar dissabores.