FICHAMENTO: AS ÉPOCAS DA CULTURA PORTUGUESA

Por Juliano Ramos Santos | 20/07/2012 | Literatura

 

 

       UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB

AUTORIZAÇÃO: DECRETO Nº92937/86, DOU 18.07.86 – RECONHECIMENTO: PORTARIA Nº909/95, DOU 01.08.95

DE       DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E TECNOLOGIAS – DCHT

                     Docente – Murilo da Costa

                     Disciplina – Aspectos da Literatura Portuguesa

                     Discente – Juliano Ramos, VII Semestre

 

FICHAMENTO: AS ÉPOCAS DA CULTURA PORTUGUESA

 

            História cultural é feita de acontecimentos que não tem entre si um nexo de causalidade e cuja dialética não compreendemos. Por vezes uma personalidade ou um grupo têm um papel decisivo no lançamento de um estilo ou de uma atitude quando se encontram numa posição estratégica. Os mitos históricos são uma forma de consciência fantasmagórica com que um povo define a sua posição e a sua vontade na historia do mundo, o mito também é uma formão de compensação em relação a uma realidade frustrante A idéia de “decadência” um contra-mito, em primeiro lugar, se opõe deliberadamente ao mito da Cruzada: em segundo lugar porque pretende não ser um mito, mas uma expressão racional da realidade; em terceiro lugar porque não tem a função de justificar e motivar a ação coletiva. Ela é antes de mais a expressão de uma ausência de ideal, da incapacidade de dar um sentido a vida coletiva, contra a qual reagiram alguns movimentos Lusitanos e o Salazarismo. O contra-mito da Decadência é o vazio deixado pelo desaparecido mito da Cruzada.

            Os chefes de guerra profissionais são hereditários, como todos os praticantes de qualquer oficio nesta época, exceto o eclesiástico. Os Clérigos eram privilegiados, ocupavam os postos mais elevados da hierarquia eclesiástica, tinham o papel muito importante da diplomacia, na burocracia, na tesouraria do rei.. A importância do modelo social cavaleiresco prolonga-se para alem da época da Reconquista. A guerra contra o Mouro persistiu na Península até a conquista do reino de Granada, em1482. Alinha de desenvolvimento da clericatura não se situa no mesmo plano que a cavalaria. A combinação do valor cavaleiresco e do valor cristão ascético atinge o seu auge provavelmente no primeiro terço do século XVI.

            O modelo da cortesania, com o seu desdém pelo trabalho manual, o seu culto da discrição, o seu gosto da despesa sumptuária, a suas artes de sociedade, impôs-se ao país interior, contrapondo-se à rusticidade e à obrigação de trabalhar, própria do camponês. À falta de uma corte prestigiosa, beneficiando do apagamento relativo dos heróis militares e do ostracismo que pendia sobre os mercadores, o clérigo pretende impor-se como o único mestre e exemplo do povo. Enquanto não em cena o mercador, o modelo social continua a ser o do cavaleiro-cortesão tradicional. A cortesia permanece, mas não se renova. O cortesão limita-se a conservar a herança, não inova o seu modo de vida. O mundo dos mercadores não parece ter sido bem acolhido num país em que a economia rural de subsistência continuava a ser dominante, e em que o clérigo continuava a ser no campo o conselheiro e juiz das consciências. As guerras liberais são o afrontamento entre os mercadores, entretanto desapossados do Brasil, com os seus aliados intelectuais, e s clérigos, que eram apoiados pela plebe ignara e fanatizada.

            O espetáculo cultural que nos dá a sociedade portuguesa depois do pombalismo é o de um mundo disperso, esfarrapado, desencontrados e que tanto se manifesta nas enormes peregrinações. Não há mutações súbitas no palco; o clérigo, o guerreiro, o cortesão coexistem durante certo tempo, embora troquem como num ballet os respectivos planos cênicos. O mercador e o clérigo coexistem a partir de certa data, embora irreconciliáveis.

            Uma cultura só tem identidade quando se sente diferenciada em relação a um exterior. Esse sentimento pode variar quanto às épocas e também quanto ao espaço desse exterior. Pode dizer-se que é através do todo ibérico que Portugal recebe, como uma criança no ventre materno, as influências do exterior, muito embora desde meados do século XII, a fronteira política estivesse perfeitamente reconhecida. De maneira geral, as áreas culturais na Península Correspondem às áreas lingüísticas.

            O desenvolvimento das duas literaturas nos séculos XVI e XVII é de certa maneira inverso. Na Espanha o século XVI prenuncia o século XVII, mas é neste último que se colhem os frutos sazonados da sementeira do século anterior, em Portugal, o século XVI é brilhante, mas o XVII só dá frutos pecos. O que possivelmente confirma que a integração em Espanha resultou culturalmente num empobrecimento nacional, que não podia deixar de ser também uma redação das promessas que no século XVI se ofereciam a Espanha no seu conjunto.