Festejos Juninos

Por NERI P. CARNEIRO | 13/06/2011 | Filosofia

Festejos Juninos

"Santo Antonio casa,
São João Batiza
Para entrar no céu
São Pedro é quem autoriza"
Esse é o refrão de uma música cantada por Jacó e Jacozito. O tema? Festejos juninos.
É isso mesmo, estamos no mês de junho e durantes este mês, as atividades folclóricas invadem não só as escolas, como os mercados, lojas e os veículos de comunicação. Nas escolas, em geral, a finalidade é celebrar o folclore e manter viva a tradição dos festejos e folguedos juninos. Mas nos demais espaços (comércio e veículos de comunicação) a intenção é faturar alto, em cima de manifestações culturais. Tanto que em várias localidades, pelo Brasil a fora, a indústria do turismo fatura alto com grandes festas juninas. Principalmente nos estados do nordeste.
É bem verdade, também, que foi a partir das escolas que se percebeu que o mês de junho era curto para todos os festejos que acabam penetrando o mês seguinte inaugurando uma nova tradição dos festejos julhinos. E neste caso, também nas escolas, a intenção primeira deixa de ser a preservação folclórico-cultural para se converter numa fonte de receitas, uma vez que (no caso das escolas públicas) por não possuírem orçamento próprio e, por serem instituições de serviço público, não desenvolvem atividade lucrativa. Por isso usam dos artifícios das festas para arrecadar alguns trocados a serem usados em inúmeras situações emergenciais, que o poder público não soluciona. (Sei de escolas públicas em que se contratam professores ? negligenciados pelo poder público ? com rendas originárias de inúmeras práticas comerciais dentro do espaço escolar).
Que são, portanto, os festejos juninos? São as festas, realizadas em junho, comemorando os três santos católicos: Santo Antônio (dia 13), São João (dia 24) e São Pedro e São Paulo (dia 29).
A tradição é antiga, e foi trazida para o Brasil na mala dos portugueses, desenvolvendo-se, principalmente nas comunidades interioranas, por meio do catolicismo popular, muito mais fundamentado nos festejos aos santos (bem ao modelo do paganismo antigo) do que nas celebrações eucarísticas tão ao gosto do clero. O cunho popular destes festejos se deve, principalmente ao fato dos santos aludidos serem patronos de momentos fundamentais da vida humana.
Santo Antônio é patrono dos casamentos. Embora o modelo tradicional de casamento esteja em baixa, isso não invalida o fato de que as pessoas continuam organizando um festejo ? rito de passagem ? para expressar o fim de uma vida individualizada e inicio de uma vida conjunta. Pelo casamento o indivíduo deixa de viver só para dar inicio não só a uma vida a dois, mas à possibilidade de uma nova família. O casamento, portanto, é o processo de perpetuação da vida, pois o casal ao constituir uma nova família, também legitima a possibilidade da procriação.
Constituída a família, surgem os filhos. E, na mentalidade cristã, a criança precisa ser apresentada à comunidade religiosa. Isso é feito pelo ritual do batismo. Da mesma forma que João Batista (São João, para os católicos) batizou Jesus, apresentando-o como "o cordeiro de Deus", os pais apresentam a criança à comunidade cristã, a fim de que a criança seja incorporada à comunidade e, com isso, possa ajudar a manter viva a vida comunitária, sendo testemunha da presença do mesmo espírito cristão. Pelo batismo, portanto a criança passa a pertencer à comunidade e ajuda a preservar essa comunidade. O batismo, portanto é a celebração da vida. Vida que se tornou possível graças ao casamento.
Na festa do dia 29, de modo geral os festejos populares celebram São Pedro. Não se trata de menosprezar a São Paulo, mas de realçar a figura do porteiro. A Pedro Jesus teria dado as chaves da porta do céu. "Aqueles a quem ligares na terra serão ligados no céu". Portanto a comemoração ao redor da figura de Pedro se deve ao fato de ser o encerramento de um ciclo. A família constituída sob os auspícios de Santo Antonio, contribui com a preservação da humanidade, por meio dos filhos acolhidos pelo batismo. Mas o ser humano, por ser finito, quer se ligar ao infinito. E faz isso, liga-se ao infinito, ao céu, por meio de São Pedro, o porteiro.
Os festejos juninos, de caráter popular, apesar de serem usados, na maioria das vezes como espaço de diversão ou o que é pior, como recurso de exploração financeira, quando entendidos a partir de seu sentido antropológico pode oferecer uma contribuição para o próprio sentido da vida: nascer, viver e morrer.

Neri de Paula Carneiro ? Mestre em Educação, Filósofo, Teólogo, Historiador.
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