Festas Populares / Religiosas

Por Andréia Ferreira | 06/11/2008 | Sociedade

APRESENTAÇÃO

O presente trabalho tem o objetivo de destacar fragmentos importates nacultura baiana através da festa que acontece no dia 2 de fevereiro. Mostrar como o lazer ocorre na festa e se desenvolve na sociedade.

<. o empenho na realiza deste proporcionar um maior conhecimento e desenvolvimento sobre a cultura lazer sociedade atuando festa de iemanj>

1. INTRODUÇÃO

As tribos africanas que chegaram ao Brasil através do tráfico de escravos, todos tinham as suas religiões em particular. Essas religiões assumem nomes e identificações diversas, dependendo do lugar, da orientação do culto, da popularidade deste ou daquele santo católico ou da existência de tradições semelhantes.

Os escravos por serem negros não podiam cultuar a sua religião, eram proibidos pelos seus senhores. Mesmo sendo retirado da sua terra natal os negros não perderam seus aspectos culturais. Para que pudessem adorar as suas divindades, tinham que fingir adorar aos santos católicos, na tentativa de associar um orixá a um santo católico.

"Assim, associar um orixá a um santo católico era uma estratégia encontrada pelos escravos para manter acesas suas crenças e rituais, ao mesmo tempo em que ludibriavam os senhores fazendo-os acreditar que eram os santos católico a razão de sua devoção". (SALLES, 2005, ON-LINE).

Dessa forma a cultura tende a se modificar com o passar dos tempos, mas o seu significado permanecerá o mesmo.


Negra Africana no Brasil

Tendo que resgatar as histórias de suas vidas os negros relacionaram os orixás a alguns santos católicos,como:

Exú ? é a divindade festeira tido como o diabo;

Iansã ? Santa Bárbara;

Iemanjá ? Nossa Senhora da Conceição;

Nana ? Nossa Senhora de Santana;

Ogum ? Santo Antônio;

Omolú - São Lázaro;

Oxalá ? Senhor do Bomfim;

Oxossi ? São Jorge;

È apartir desses elementos simbólicos que eles foram obrigados a reconstruírem seu universo e condições para sobreviverem. "As relações com o catolicismo podem ter representado, de alguma forma, uma ampliação do universo religioso do africano, ainda que essa religião fosse a de seu senhor". (SOUZA, 2003, P.157 citando CONSORTE, 2000, P. 13).

"As festas populares da cidade de Salvador que são realizadas em torno dos santos católicos são apenas um momento da possibilidade dessa relação. (...) embora os santos possam ser diferentes, os devotos são os mesmos dentro de um único sentimento que é o sentimento religioso". (SOUZA, 2003, P.152).

Com as misturas entre o catolicismo e o candomblé, sucedeu na década de XX uma das manifestações que deu origem as festas populares na cidade de Salvador, quando os pescadores em número de três prepararam uma caixa com presentes para oferecer a Iemanjá.

2. O MITO DE IEMANJÁ

Iemanjá é a mãe de todos os orixás. É um orixá feminino comparado a outras divindades africanas. Tem variados nomes; Janaina, rainha do mar, sereia do mar. Sendo comparada a outras divindades africanas. CARNEIRO, (2002), diz que ela é: (...) princesa do Aiuká ou Aruká (o mar), serei, sereis do mar e sereia Mukunã, Dandalunda (Angola), Kaiola (Congo)". Iemanjá é vaidosa, é o princípio da fertilidade e dona da prata. Caracteriza-se pela paciência. SOUZA, (2003), diz que "a paciência é uma de suas características, o rigor sua marca; a beleza e a serenidade lembram a grande mãe que, quando dança nos seus filhos e filhas, balança os braços e as mãos como ondas que outrora embalaram o mundo. Iemanjá é a mão de todos."


Escultura de Iemanjá. Em frente à casa do peso.

Sendo a mãe das águas, os fiéis se dirigirão para os mares pedindo seus favores.

"É o orixá mais poderoso "do fundo do Calunga" (o mar) e é no mar, e em geral nas águas, que exerce o seu culto". (CARNEIRO, 2002, P.76).

Independente do dia oficial da sua festa, Iemanjá tem o seu dia de adoração, assim como os outros orixás, devido à tradição nagô, que trouxeram consigo. Pois os cultos aos orixás eram considerados como espírito da natureza e elementos fundamentais, distribuídos da seguinte forma:

Segunda-feira é o dia de Exu e Omolú;

Terça-feira é o dia de Nana e Oxumarê;

Quarta-feira é o dia de Xangô e Iansã;

Quinta-feira é o dia de Oxéce e Ogum;

Sexta-feira é o dia de Oxalá;

No Sábado é o dia de Iemanjá e Oxún. Assim como ela tem o seu dia, também tem sua cor ? o cristal claro, no dia 02 de fevereiro é o branco - e a sua comida ? fava, camarão, cebola e azeite doce.


Pintura retratando Iemanjá. Sala de presentes na colônia dos pescadores.

2.2. HISTÓRICO DA FESTA DE IEMANJÁ

A festa de Santana, por muito tempo, foi a mais popular do bairro do Rio Vermelho, mas chegando ao século XX se via suplantada pela festa de Iemanjá. A proximidade da festa de Santana com a de Iemanjá fez com que esta festa religiosa, católica, perdesse o seu espaço em relação à festa do Rio Vermelho. Para manter a festividade da festa de Santana foi necessária a sua transferência para o dia 26 de julho, data oficial da Santa padroeira do Rio Vermelho.

Há uma contradição dos historiadores em relação à data exata do início da festa de Iemanjá. Tudo teve início, quando alguns pescadores inventaram um meio de fazer um presente para "mãe-d'água". Depositaram toda sua fé na crença da religião afro-brasileira, sendo escolhido um pescador que organizaria a festa e seria conduzido um presente em uma barca "filhos das águas" de acordo com a maré.

"A festa foi feita pela primeira vez em 2 de fevereiro de 1924, por vinte e nove pescadores, dos quais quatro ainda estão vivos. Eu, Pedro Moita; José moita e Sibién Moita". (TRIBUNA DA BAHIA, 1970).


Embarcação saindo para o mar.

A festa de Iemanjá é comemorada na praia do Rio Vermelho. Essa homenagem ocorre em duas datas 31 de dezembro último dia do ano - particularidade no Rio de Janeiro - e no dia 2 de fevereiro seu dia oficial em Salvador, já no calendário brasileiro. É uma festa que não é ligada a religiosidade do catolicismo, na festa não se vê presença de imagens católicas. Mas apesar de sua festa não ter ligação ao catolicismo, Iemanjá foi sincretizada como nossa Senhora da Conceição."É uma manifestação onde se percebe claramente a influência das tradições africanas reinventadas no Brasil". (SOUZA, 2003).


Ofertas a cima da gruta de Iemanjá na sala de presentes. Colônia dos pescadores

Segundo senhor Menezes, atual presidente da colônia dos pescadores, três dias antes da festa, existe um preparo para as pessoas e comissão organizadora. A mãe de santo responsável por esse ritual, faz tudo na sua casa, ela exerce esse papel há 9 anos com intervalos ? pois já existiu uma mãe de santo anteriormente nos anos em que ele ficou afastado ? essas pessoas tomam banho de pipoca, folhas e alfazema, para que faltando um dia para começar a festa já esteja tudo pronto. Ele diz ainda que para manter a tradição, os pescadores do Rio Vermelho mandam confeccionar dois presentes. Um da água doce, ricamente decorado, deixado no Dique do Tororó, a cerimônia é restrita só aos pescadores. O outro presente é o principal deixado na água salgada.

O presente principal oferecido a Iemanjá é muito especial. Fica no carramachão sob os cuidados da mãe de santo. É o local em que milhares de pessoas, todas vestidas de branco fazem fila para saudar e levar os presentes e oferendas pessoais a Iemanjá No ano de 2000, o presente oferecido foi uma linda sereia dourada, ela levava consigo coisas particulares, que só os organizadores e as pessoas que se prepararam com o banho sabem o que ali existe e principalmente a mãe de santo, que ensina e comanda os preceitos do culto-africano.

Tudo é feito com muito preceito. As mulheres tinham muito cuidado ao arrumar os balaios. Os presentes devem estar completamente desenrolado dos papéis, os perfumes abertos e assim sucessivamente. Tudo é feito com muita responsabilidade para que Iemanjá aceite todas as oferendas. "No local onde estavam os balaios não era permitido a entrada de pessoas nem fumando, nem bebendo".(SOUZA, 2003, P.150).


Presente principal. Uma linda sereira dourada em 2000.

Senhor Menezesainda nos informa que um dia depois é feita a consulta com búzios para saber se o presente foi aceito. Nunca aconteceu de Iemanjá não aceitar o presente. Sempre foi aceito. Relata ele.

Quando um presente voltar, isso significa que ela não aceitou. Os presentes são levados dentro de balaios, e levados à praia para ser embarcado num saveiro a sete milhas da costa, onde o presente principal também é deixado. No barco que fica o presente principal só os homens podem entrar.Tudo vai para o fundo do oceano, menos as flores, que ficam boiando, transformando a superfície do mar num imenso jardim aquático. Após a entrega dos presentes todos os devotos retornam para a areia da praia e começam os rituais. Cada orixá tem sua dança, a de Iemanjá, as pessoas ficam curvada para frente, encolhendo os braços para si, à altura do baixo-ventre.


Roda de santo. Filhas de Santo mostram sua fé e dão passagem para os orixás

"A Casa do Peso (1919) - onde se pesa o pescado e se guarda as ferramentas de trabalho dos pescadores - serve até hoje de local para recebimento dos presentes dos devotos. Estes se organizam em filas para entregar os seus presentes que são arrumados em cestos de palha, transportados para os barcos de pesca para que, em determinado horário, sejam levados para o mar em oferenda a Yemanjá". (SALLES, 2005, ON-LINE).

Senhor Menezes é o atual presidente da colônia dos pescadores. Sua primeira gestão foi em 1972 até 1985, afastou-se, voltou em 1990 saiu em 1992 por motivo de saúde, retornou novamente em 1996 e irá até 2007.

A colônia dos pescadores possui atualmente um presidente Eulírio Menezes, um secretário Jorge Amorim e um tesoureiro Gilson Alves. Fica localizada no Largo do Rio Vermelho próximo a Igreja de Santana.


Casa do Peso e Iemanjá

A festa de Iemanjá é uma das maiores festas populares de Salvador. Só não ganha para a lavagem do Bomfim e o carnaval. Todos participam e se misturam para um só objetivo, homenagear Iemanjá.

3. PRINCIPAIS ELEMENTOS DE LAZER

O lazer está condicionado ao momento de desfrutar de oportunidades em que o tempo lhe oferece. Sendo um conjunto de atividades prazerosas e necessárias em um espaço, para que se possa desfrutar do mesmo.

"(...) tanto quanto espaço cultural é um espaço social onde se entabulam relações específicas entre seres, grupos, meios, classes. (...) é determinado pelas características da população que o utiliza, pelo modo de vida dos diferentes meios sociais que o freqüentam".(DUMAZEDIER, 1999, P.169).

A festa de Iemanjá não se dá como apenas um ritual. É o momento em que talentos e grupos teatrais mostram suas habilidades, se misturando na grande multidão em que se encontram diversas raças.

Adultos e crianças após a comemoração podem se divertir na água do mar com muita alegria e desprendimento. Esses momentos de descontração para algumas pessoas vão até a noite. A festa continua no bairro, onde barracas de comidas e bebidas típicas animam o público presente.

"As homenagens não se resumem à entrega de presentes. Diversos grupos culturais comparecem e se misturam à festa tornando-a um grande espetáculo cultural ao ar livre. São capoeiristas que comemoram através da prática da capoeira e da expressão sonora de seus berimbaus. A participação de grupos carnavalescos tradicionais a exemplo dos Afoxés filhos de Gandhi é notória..A cada ano novos grupos artísticos e culturais comparecem formando um verdadeiro cordão artístico no meio do povo que os acompanham dançando e mostrando que a festa de Yemanjá, além de ser tradicional no respeito aos seus preceitos, é também democrática encontrando-se aberta às diversas manifestações deste criativo povo baiano".(SALLES, 2005, ON-LINE).


Festa de Roda. Hora de dançar, brincar e se distrair. Foto em 2002.

Cada momento capturado por este povo criativo, se resume a vários elementos de lazer que fazem parte da cultura e do povo baiano. Assim o lazer influência e é influenciado por outras áreas de atuação, numa relação de mistura e ação.

4. LAZER E A IMPORTÂNCIA SOCIAL

O lazer é de suma importância para a sociedade. Passou a oferecer oportunidades de trabalho para o homem. Oportunidades que muitas vezes acontecem no momento de diversão. Para uns o lazer é a redução do trabalho desumano, para outros é a valorização das atividades em que conseguem obter uma margem de lucro.

As atividades do lazer custam dinheiro, e é através deste que a outra parte de sociedade tira o seu sustento. Com essa facilidade que o cidadão obtem, DUMAZEDIER diz que "(...) o próprio lazer passa a constituir um dos fatores de adaptação do trabalho ao homem, teremos mais uma vez de pensar sobre a direção que tomará o trabalho humano".

A festa constitui oportunidades de firmar uma união em diversas classes sociais. Envolvidos pela mídia e a cultura local, existem aquelas pessoas que vão a festa não por ser devoto, mais pela influência e outros só por curiosidade, como é o caso dos turistas, vão para ter um contato e para absorver novas vivências.

"As relações entre o lazer e as obrigações da vida cotidiana e as existentes entre as funções do lazer, umas com as outras, determinam de certo modo uma participação crescente e ativa na vida social e cultural. Essas relações são de grande importância na cultura vivida de nossa sociedade". (DUMAZEDIER, 2000, P. 34, 35).

Hoje o lazer está cada dia tomando conta da sociedade, principalmente nos momentos em que há as festas populares - homenagens aos orixás - quando bem interada com as tradições da comunidade à festa só tem a desenvolver o lazer, e dessa forma a população em torno só tem a ganhar.

"O real é a vivencia da viagem em si; e aqui os aspectos de surpresa e aventura que cercam a ruptura com o cotidiano são muito importantes. (...) Assim com as demais atividades de lazer, o turismo pode ser uma simples ocasião de consumo conformista ou de desenvolvimento pessoal e social (...)". MARCELLINO, 2000).


Festa de Roda. Gente de todas as cores, raças e nacionalidades. 2002.

Desta forma percebe-se o papel das festas populares. Em todas as festas de largo sempre há quem trabalhe, sempre existirá comerciantepara sanar as necessidades - uma garrafa de água, uma latinha de cerveja, um prato de tira-gosto e assim por diante - de quem está naquela comemoração por obrigação ou por diversão. "(...) As festas que você vê, todas por aí: Bonfim, Boa Viagem, Rio Vermelho...são festas feitas pelo povo de candomblé. Tire este povo, para vê o que é que fica".(SOUZA, 2003, P.174citando Sr. PEDRO). Tirando este povo não haverá festa, lazer, trabalho, com isso os turistas deixarão de vir e a renda deixará de ser gerada..

4. CONCLUSÃO

Ao fim de um breve estudo sobre o mito de Iemanjá e o lazer, percebe-se que há uma preocupação. Esta fica por conta dos descendentes africanos localizados na Bahia. Eles se preocupam em continuar as tradições antepassadas. Tradições que era o momento de sua alegria para cultuar seus orixás, e este, são visto também através das Festas Populares.

O lazer tornou-se acessível a um público cada vez mais extenso. E vem ganhando um peso cada vez maior no cotidiano da vida moderna.

A festa de Iemanjá tem tido uma presença cada vez mais forte entre os moradores locais, turistas e principalmente pelos meios de comunicação. O evento desperta as atenções de toda a empresa local divulgando as imagens para todo o país, graças ao progresso tecnológico e organizacional da sociedade.

Desta forma nota-se o papel das festas, e nesse caso a Festa de Iemanjá, como um importante indutor do lazer e do turismo. Pois, a partir do momento em que a população passa a usufruir da festa e mostrar sua cultura agregado as tradições dos ritos, mitos e homenagens, a tendência é se desenvolver o lazer durante a festa, pois dar-se-á ruptura do cotidiano destas pessoas.

Portanto, a relação com o trabalho, a sua presença ao longo da história da humanidade, o caráter de classe e a influência que a mídia e as tradições culturais contemporânea pode apresentar, coloca-se teoricamente como os principais elementos definidores do lazer.

REFERÊNCIA

BERNADINO, Eustáquio. Entrevista do Pescador. Tribuna da Bahia. Salvador Bahia 14 dez. 1970.

CARNEIRO, Edson.Candomblés da Bahia. 9º Edição Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002.

DUMAZEDIER, Joffre. Lazer e Cultura Popular. 3º Edição. São Paulo: Perspectiva, 2000.

EMTURSA ? Empresa de Turismo de Salvador. Guia de salvador. Disponível em : http://www.apemba.hpg.ig.com.br/guia%20salvador.htm.> Acessado em: 09 maio 2005.

MARCELLINO, Nelson Carvalho. Estudo do Lazer: uma introdução. 2º Edição. Campinas, ao Paulo. 2000.

MARCELLINO, Nelson Carvalho. Lazer e humanização. 4º Edição. Campinas, são Paulo,

2000.

SALLES, José. Festa de Iemanjá. Disponível em: http://www.iemanja.cjb.net > Acessado em: 13 maio 2005.

SANTOS, Reinaldo. Tudo sobre Salvador da Bahia. Publicado em 11/Abril/2005. Disponível em: http://www.juntos.juntos.nom.br/salvador.htm> Acessado em: 09 maio 2005.

SOUSA, Vilson Caetano. Orixás, Santos e Festas: encontros e desencontros do sincretismo afro-católico na cidade de Salvador. Salvador: UNEB, 2003.

Texto e ilustração extraídos do livro Os Orixás, publicado pela Editora Três. O Perfil dos Orixá. Disponível em: http://www.oxum.com.br/iemanjadet.asp>. Acessado em: 09 maio 2005.

Visita Técnica. Colônia dos Pescadores, localizado no Rio Vermelho. Realizada em 21 maio de 2005.