FELIPE: O NOSSO MASTER CHEF

Por Renato Ladeia | 20/10/2018 | Crônicas

O master chef da Unipar era nada mais nada menos do que o Felipe, um nordestino simpático e cordial, responsável pelo restaurante que alimentava os funcionários da empresa. No dia a dia não podia fazer os sofisticados pratos que conhecia, mas nas datas comemorativas se esmerava. Sempre atencioso, procurava resolver as reclamações com calma e de forma didática.  As pessoas tem uma forte predileção para reclamar da comida, muitas vezes sem razão. Alimentação de fábrica tem um padrão, com rodízio de carnes, peixes, aves e nem sempre bate com o paladar de algumas pessoas mais exigentes.

Quem é da área de RH sabe que muitas vezes as reclamações são formas de sublimar outros problemas mais graves, como condições de trabalho, salários, serviços ou com o próprio chefe. Normalmente quando começam as reclamações do restaurante podem-se esperar outras coisas mais sérias.

O Felipe fazia a sua parte, procurando caprichar no dia a dia, mas às vezes a carne que chegava às suas mãos não era bem de acordo com os padrões. Muitas vezes o bife era tão duro que não dava para engolir. Uma vez ele foi chamado à mesa onde almoçavam os diretores, ainda no prédio velho. Foi então que um deles perguntou qual era a carne do bife. Felipe, educadamente, respondeu que era um colchão mole. O diretor então emendou: “Você me desculpe, mas acho que alguém deve ter esquecido de tirar o estrado”.

Um dia o Felipe saiu do sério, quando um engraçadinho sugeriu que de porco, a feijoada só tinha o cozinheiro. Ele pediu que o dito cujo o respeitasse, pois era um profissional da cozinha e já havia sido cozinheiro de bons restaurantes em São Paulo. O gozador pediu desculpas, dizendo que era brincadeira e tudo voltou às boas.

Naquela época eu ainda me aventurava na cozinha e o Felipe me passava boas receitas e uma delas, foi de  um ótimo estrogonofe que fez um grande sucesso lá em casa. Apesar de que uma vez quase incendiei a cozinha na hora de flambar a carne com conhaque. Infelizmente, com as coronárias entupidas precisei fazer dieta e abandonei pratos mais gordurosos, deixando a cozinha nas mãos da minha mulher.

Alguns sabores da vida a gente nunca esquece e sempre me recordo da dobradinha, do pato a Califórnia (nas datas festivas), do virado a paulista, do filé ao molho madeira e tantos outros pratos. Não cito a feijoada porque é um prato que nunca gostei e quando era servida, o Felipe me fazia um filé de frango grelhado. Não sou especialista, mas eu gostava da comida dele e sempre que podia o parabenizava pela sua boa mão. Talvez o Wanderlei Retondo, um “chef” amador, consagrado pelo inconfundível ovo frito, não concorde, mas o “amigo dos cavalos” – significado do nome do cozinheiro, era um grand chef.