Fé e Razão: inimigas ou aliadas?
Por Alan Geraldo Myleô | 23/05/2011 | ReligiãoFé e Razão não são concepções e práticas humanas rivais. Não podem ser. A religião, a fé é fruto do racionalismo humano.
A razão humana, desde nossa existência, se dedica em explicar. Explicar tudo. A ciência moderna alcançou teorias, comprovadas ou não, para a existência de tudo. Ou melhor, quase tudo. Uma das coisas que não há explicação comprovada é a origem do Big Bang por exemplo. Sabe-se que existiu. Sabe-se que antes dele era nada. Então de onde veio? Do nada? Como pode algo vir do nada? Assim sendo o pensamento científico associa tal origem ao mistério da criação, ou seja, DEUS. Isso não passa de uma repetição do pensamento lógico e primitivo. Quando nos tornamos animais pensantes passamos a buscar explicações sobre tudo. E tudo o que não conseguíamos explicar automaticamente e inconscientemente associávamos a Deus. Deus então representa a força criadora, o mistério da criação, que recebeu muitos nomes de acordo com cada cultura.
A ciência moderna, à qual acompanha superficialmente, já provou que somos infinitamente pequenos perante o universo. Perante tamanha grandiosidade, que até mesmo pelo pensamento racional foi criada por Deus, somos muito pouco significativos. Por essa lógica, Deus não atua diretamente sobre nós. Não é onipresente e onipotente em nossas vidas.
Isso quer dizer que a existência humana é pura e simplesmente voltada a sobrevivência material e à sucessão de acasos? ABSOLUTAMENTE NÃO.
Podemos associar as acontecimentos, situações e manifestações misteriosas ao espiritualismo, ou seja na permanência do espírito, ou alma, após a morte material.
Mas como comprovar a existência da espiritualidade pela razão?
Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma.
A energia é a base de toda a existência, material e imaterial, que paira no universo. Isso é comprovado. Ela se processa e desenvolve em infinitas formas. Umas das principais formas é a vida, a energia vital que também se dá em muitas outras formas.
A espiritualidade humana se dá sob dois fatores principais: a energia vital universal e a consciência humana. Dois mistérios que se somam. O mistério da energia vital e o mistério do cérebro humano. Uma massa orgânica com impulsos elétricos que é responsável por toda a capacidade intelectual que nos diferencia de todas as outras formas de vida.
O espiritualismo se dá pelas transformações, movimentos e permanências das formas de energia. A maioria das religiões antigas como o Budismo, Hinduísmo, culto aos Orissás ( candomblé no Brasil) e os muitos cultos à ancestrais ameríndios direcionavam suas doutrinas e ritos sob a lógica da permanência e transformações do espírito humano, da energia vital humana. Tal movimento é também entendido como algo que adquire ou não algum tipo de evolução, sendo tal evolução de acordo com a consciência. Exemplo: o carma das religiões orientais se sobrecarrega ou se ilumina de acordo com o tipo de vida e consciência enquanto materializado.
Nos seres humanos, enquanto energias materializadas e com consciência dispomos da atuação e contato com energias humanas não materializadas, o que chamamos de mediunidade. Ou seja nossa consciência permite uma relação diferenciada com tais energias, e é isso que chamamos de espiritualismo.
Os espíritos, ou energias humanas não materializadas em diferentes níveis de desenvolvimento, atuam constantemente entre nós. Ao longo da história da humanidade alguns desses espíritos se destacaram por seu alto grau de evolução da consciência enquanto vivos, materializados. Como os Orissás africanos, Buda, Jesus e outros. Agora continuam atuando para a melhoria da humanidade, pois ainda são energias humanas não materializadas e altamente evoluídas, por isso divinizadas. Assim como eles muitas outras energias humanas desmaterializadas, as entidades e os santos, continuam trabalhando em prol da humanidade. Em alguns casos essas entidades seguem uma lógica que se baseia na ancestralidade, como no caso das religiões afro-brasileiras e ameríndias.
Da mesma forma que espíritos evoluídos atuam para a melhoria, existem espíritos não evoluídos, ou sem luz, que atuam de forma negativa. Pela falta de consciência de sua própria morte, ou por ter passado por um tipo de vida que não proporcionou uma evolução espiritual e de consciência em matéria, muitos espíritos permanecem entre nós em busca de energia vital. Acompanham pessoas comuns causando negatividade, podendo afetar em vários aspectos da vida e do cotidiano.
A idéia de Diabo e trevas segue uma concepção Judaica-Cristã de opostos extremos, que não convivem e não geram movimentos. Ao contrário desse pensamento, a maioria das correntes religiosas e suas bases filosóficas acreditam na necessidade dos opostos. Não existiria o "bem" sem o "mal", portanto o bem depende do mal e vice-versa.
A convivência dos opostos na mesma entidade é uma das idéias que permeiam a linha do pensamento religioso das religiões de culto ao Orissás (candomblé). Assim Esú - associado ao diabo pelo sincretismo ? tem atribuições positivas e negativas, assim como Osalá ? associado a Jesus ? tem também suas atribuições positivas e negativas.
A idéia de trevas, inferno e diabo provinda da concepção Judaica-Cristã separa a necessidade de convivência dos opostos do pensamento religioso, ético e filosófico do mundo cristão (todo o ocidente), o que vai contra o pensamento racional que caminha juntamente com várias outras religiões e também com o desenvolvimento da ciência, inclusive a ciência ocidental.
As tradições orientais reunidas no Budismo também seguem a concepção da existência mútua dos opostos, da evolução do espírito e da iluminação da consciência do ser (material ou imaterial). Tal concepção nada mais é do que o racionalismo conduzindo o pensamento religioso com base no princípio da energia e da consciência humana.
O pensamento Judaico-Cristão construído pelo catolicismo e pelo protestantismo é o pensamento que mais se distancia da racionalidade. As contradições desse pensamento são estáticas. Se destroem e não geram movimento. Além disso, foi o pensamento que ofereceu as bases das principais instituições religiosas que mais causaram morte e sofrimento à humanidade, que dominam o mundo nos dias de hoje e que estão diretamente associadas às alianças políticas e econômicas. São elas as instituições católicas, as islâmicas e as protestantes.
Contudo é necessário reconhecer a questão das contradições entre fé e razão são desnecessárias. O espiritualismo, a existência de uma força criadora, o grande mistério da vida e da consciência humana são fatores totalmente interligados e mútuos em sua existência.
Podemos concluir também que a reprodução do pré-conceito religioso, a idéia de verdade absoluta que gera tanto fanatismo e conflitos religiosos é pura ignorância, falta de racionalismo, pois as religiões são formas diferentes da manifestação de uma mesma coisa: a fé. A fé por sua vez é um tipo de energia especificamente dominada e praticada pelos humanos através de sua consciência, partindo do princípio da existência, movimento e transformação de energia.