FÉ E CONFIANÇA - Geraldo Barboza de Carvalho

Por Geraldo Barboza de Carvalho | 23/08/2009 | Crescimento

FÉ E CONFIANÇA

"Maldito o homem que confia em outro. Mas, felizes hão de ser todos aqueles que põem a esperança no Senhor. Eles são semelhantes a árvores plantadas à beira da torrente: sempre dão seus frutos a seu tempo, jamais suas folhas murcharão. Tudo o que fazem prosperará. Bem outra é a sorte dos perversos (sem fé): são iguais à folha seca dispersa e espalhada pelo vento. Por isso os ímpios e os perversos não resistirão na assembléia dos fiéis e no Juízo. Pois Deus vigia os caminhos dos justos, mas a estrada dos malvados leva à morte". Palavra de Deus, lúcida, verdadeira. Quem crê em Jesus confia nele sempre e em qualquer situação, porque é fiel e não nos abandonará nas mãos dos ímpios. Os ímpios perseguem, desprezam, maltratam, machucam os justos. Mas Jesus está atento ao sofrimento dos que crêem nele, vítimas da maldade dos ímpios. Porque ama o justo, o protege da maldade dos ímpios. O justo perseguido não paga o mal com o mal. A exemplo do Pai, "ama os maus e ingratos": em vez de maldiçoá-los, se compadece e os entrega nas mãos do Pai, "Amai vossos inimigos, orai pelos que vos perseguem e maltratam. Fazendo assim, sereis como vosso Pai celeste que faz o sol levantar-se sobre justos e injustos, a chuva cair sobre santos e pecadores. Não vos deixeis dominar pelo mal, mas triunfai do mal fazendo o bem". Ser santo é ser misericordioso como o Deus de Israel, é ter sentimentos de Jesus, que suporta as humilhações dos pecadores e ainda os chama irmãos. Mistério do amor. Humilhação alguma é maior que a compaixão de Jesus pelos pecadores. A Palavra é fiel: "Não tenhas medo. Anda no caminho reto, aconteça o que acontecer. Não te desvies do caminho reto por causa dos que praticam o mal. Fica firme na fé: Eu sou o mesmo ontem, hoje, sempre, e estou contigo todos os dias até o fim". É o apoio incondicional de Jesus que dá paz ao justo. Por isto, entre o justo e o ímpio há diferença de intenção, postura diante de Deus. O justo crê, o ímpio não crê em Jesus. Pro Justo Jesus é o parceiro; pro ímpio, concorrente. A fidelidade de Deus é a Rocha firme em que o fiel se apóia nada o demove. Jesus não passa nem morre. Nele podemos realmente confiar. É insensatez buscar segurança nas pessoas e coisas. É dever nosso amar as pessoas gratuitamente, sem esperar recompensa. Quem vive o amor de Deus, descobriu o tesouro mais caro, que nada no mundo substitui. Só ele pode saciar a sede de felicidade do fiel. Viver esta certeza é estar aberto a Deus mediante uma fé firme. A fé predispõe o justo a renunciar a si mesmo e às coisas do mundo, tomar cruz e seguir Jesus. Pois viver a fé é viver o amor de Deus entre constantes provações. Renunciar aos processos opressores do mundo custa caro a quem é vítima da maldade do mundo sem agredir os opressores. Foram esses processos que tragaram Jesus e o levaram à cruz. Mas ele não pagou o mal com o mal, mas perdoou em vez de condenar. A fidelidade do justo o exporá ao ódio do mundo, à 'kenosis", à auto-imolação sem revide, como condição da sua exaltação. Mas, por causa da fraqueza humana e poder avassalador e sedutor dos ímpios, os justos são tentados a seguir o mau exemplo deles e a duvidar do Deus da sua fé. "Então foi em vão que conservei puro o coração, na inocência lavei as mãos? Pois tenho sofrido muito e sido castigado cada dia. Se pensasse: vou falar como eles, seria infiel à raça dos vossos filhos. Para compreender reflito este dilema e muito penosa me parece a tarefa. Até o momento que entrei em vosso santuário e me dei conta da sorte que os espera. Sim, vós os colocais num tobogã e à ruína os conduzis. Quando exasperava-me, se me atormentava o coração, como animal qualquer não entendia. Mas estarei sempre convosco, porque me tomastes pela mão. Fora vós o que há para mim no céu? Se vos possuo, nada mais me atrai na terra. Pra mim a felicidade é estar perto de Deus, pôr minha confiança nele". perder tudo, sem perder a fé e esperança em Jesus. Serve de nada ganhar o mundo inteiro e perder a fé e amizade de Jesus. "Quem teria no céu se, estando contigo, não estou contente na terra? Está gasto o meu coração e o corpo também; mas o apoio do meu coração e herança é Deus para sempre. Quem se afasta de ti perecerá; destróis quem te deixa e se prostitui. Quanto a mim, minha felicidade é estar perto de Deus; refugio-me junto do Senhor, para anunciar todas as tuas ações". A fé uma relação de amor e Paz com Jesus Cristo.

Nos dias do Emanuel florescerá grande paz. Os dias do Deus-Conosco correspondem ao kairós, ao tempo da permanência peregrina do Reino de Deus no mundo. Ter a certeza que Jesus está conosco dia a dia, compartilhando nosso destino é motivo de alegria e paz. Por mais que os problemas nos afetem, maior é Jesus Cristo, que governa, dirige, domina com sabedoria todo o universo. "Ele tem o mundo em suas mãos. Sustenta o universo com o poder da sua Palavra (criadora: bará)". A fé é a certeza maior de alguém. Por maior que seja a dor, a rejeição, obrigado, Senhor, porque nunca me abandonas, posso contar Contigo em toda situação. Sempre te louvarei, até quando tudo concorre para eu blasfemar. Chova ou faça sol, "tu és minha alegria, a razão do meu cantar". Ele é fiel, amigo, companheiro, perdoa minhas faltas sem guardar lembrança delas. Ninguém faz isto por mim. Ele o faz, porque me ama e não tem prazer em me perder, mas gratuitamente me perdoar e redimir. Se estou comigo, mesmo surpreendido pelos acontecimentos, não sucumbirei, pois farás que me favoreçam. "Todas as coisas concorrerem para o bem dos que amam Deus". Até os males e contradições impostas ao justo pelos perseguidores testemunharão o amor de Jesus por ele. Por isto, não valorizarei tanto minhas deficiências, defeitos e fracassos, naturais no processo da fé, mas focarei a atenção no Emanuel, que me ama, perdoa, ensina-me a amar e perdoar todos sem guardar mágoas ou apurar o mal sofrido. Sempre dar a volta por cima, continuar agindo no Nome de Jesus, que nunca se afasta de nós, mas acompanha nossos pensamentos e atos, no processo da fé. Tudo isto é motivo de alegria, não de desespero. "Se Deus é por nós, quem será contra nós"? Ter esta certeza é a grande glória e privilégio dos justos pela fé. Mesmo em apuros, sabem que terão a companhia fiel do Emanuel. O justo tem santo orgulho da presença amiga de Jesus com ele pela fé; orgulho que a parceria com Jesus e sua paz concedem, não o mundo. "Que os homens nos considerem simples operários de Cristo, administradores dos mistérios de Deus". Existe algo mais grandioso que ser parceiro da aliança e administrador dos bens do céu? Por isto, por maior que seja a tribulação, o amigo Jesus é sempre maior que elas. Nada preciso temer, pois ele conduz a história e minha vida com sabedoria. Mesmo as coisas que absurdas que nos machucam estão sob o domínio do Senhor Jesus e com certeza redundarão em nossa benefício. "Tudo concorre para o bem dos que amam Deus. Se ele não poupou seu próprio Filho, como nos negaria o resto? Se confio nele, dificuldades e provações me afetarão, mas não destruirão. Elas são a providência divina desmascarando meus medos e ilusões, fortalecendo-me a fé.

Jacó fugiu para a casa do tio Labão com medo de Esaú o assassinar, porque usurpou o direito de primogenitura de Esaú com a ajuda da mãe, que enganou o velho Isaac servindo-o com a caça (falsa) que Isaac pediu a Esaú. Mesmo enganado, o patriarca abençoou Jacó, que passou a ser o primogênito com todas suas responsabilidades. Quando chegou o tempo de assumir o posto de cabeça da descendência de Abraão, Javé o chamou e ordenou-lhe que voltasse pra junto de Esaú. Jacó relutou em voltar, temeroso da vingança do irmão. Pra acabar com o medo dele e inspirar-lhe confiança, Javé enviou um anjo para combater com Jacó. Brigaram a noite inteira. Ao amanhecer, temendo ser reconhecido, o anjo ameaçou ir embora. Jacó não o largou, exigindo que dissesse seu nome. Continuaram a briga, e o anjo deu uma estocada na coxa de Jacó, para tentar evadir-se. Mesmo manco, Jacó não desistiu, até vencer o combate e o anjo lhe revelou o nome: "Fui enviado por Javé para combater contigo e fortalecer-te, dar-te coragem pra enfrentar Esaú. O pior já passou: venceste Deus na luta contra o medo. Estás forte, mais ninguém temerás, nada. Vai e serás bem sucedido no teu retorno. A partir de hoje te chamarás Israel, porque lutaste com Deus e o venceste". Isto mostra a necessidade de vencermos a quebra de braço das provações que Deus envia-nos, para nos exercitar no combate da santidade. "O Senhor adestrou minhas mãos para a luta, tornou-me forte como um touro". É entre as grandes tempestades existenciais, perigo da apostasia, de renegarmos Deus e perdermos a fé, é nos apuros e provações que Deus fortalece nossa fé e confiança. Prova que nossa força é a fé, nossa segurança é nosso Deus. "Cidade forte é a nossa; a salvação construiu-lhe muros e baluartes. A paz conservarás, gente de coração firme, porque em ti há confiança. Confia em Javé sempre, o Rochedo dos séculos". Por isto, se me deixo abater por provações e dificuldades, tornar-me-ei joguete dos acontecimentos. Ainda que seja difícil enfrentá-los, não abalarão irremediavelmente nossa fé. Crer firmemente, entregar-se nas mãos de Deus, é o primeiro remédio contra os males do mundo. A fé nos assegura que Deus não nos abandona. Precisamos fortalecer nossa confiança nele, qualquer que seja o tamanho do problema que enfrentamos, e nossos fardos ficarão mais leves: o Senhor os carregará conosco. "Vinde a mim, todos que estais cansados sob o peso do vosso fardo, eu vos darei descanso. Pois meu jugo é suave e meu fardo é leve". Isto mostra o quanto o Senhor nos leva a sério. Não importa se fazem pouco de nós, nos humilham, ele nos traz "gravados nas palmas das mãos". A razão da felicidade de Deus somos nós, imagem e semelhança sua, filhos, filhas da sua predileção, "povo que ele adquiriu, já antes da criação do mundo, para o louvor da sua glória" e parceiros seus na construção do mundo novo. Confiantes nele, posso dizer: "Se um exército acampar contra mim não temerei, porque o Senhor me defenderá. Caiam mil a tua esquerda, dez mil à tua direita. Mal algum te atingirá. Já que confiou em mim, o defenderei, porque conhece meu Nome (crê)". Atrevimento demais? Não. Javé é o Senhor dos exércitos: tem poder sobre seus aliados e os exércitos inimigos. O exercito dos anjos do Senhor defende o fiéis contra os ataques inimigos; estes nada farão contra o fiel, a menos que Deus o autorize por razão de salvação, jamais para fazer o mal. Por isso, unido a Deus pela fé, o fiel tem pleno poder sobre os inimigos e não os teme de modo algum. É a bravura, a confiança brotada da fé em Deus: "Se Deus é por mim, quem será contra mim? Deito-me e levanto-me bem tranqüilo; acordo em paz, pois o Senhor é meu sustento. Não terei medo de milhares que me cercam, furiosos se levantam contra mim". Mesmo pecador, o fiel se apóia em Deus, tem certeza da sua proteção. Apoiar-nos no Parceiro e Irmão, ciente da sua assistência. Aí as acusações do mundo já não doem tanto. Até porque são de má-fé: não visam ajudar-nos a corrigir-nos, mas acusar-nos e humilhar. Em todo caso têm o mérito de nos lembrar que somos pecadores. Mas, como é justo pela fé, relaciona-se com Deus na confiança. Por isso não teme ataques de inimigos de dentro e de fora. O Parceiro vem sempre em defesa do fiel. Os que pensam desmoralizar o fiel, serão logo confundidos. Confundem a humildade e a mansidão do justo com fraqueza e frouxidão. Por isso o atacam. Não entendem que a força do justo está em Deus, seu vingador. "É minha a vingança, eu é que retribuirei. O Senhor julgará o seu povo. Quão terrível é cair nas mãos do Deus vivo"! Que ninguém se atreva a acusar ninguém de pecado, pois também é pecador. Nem Deus acusa, mas acolhe e perdoa, dá vida, não morte. Só há um Rei: Jesus. Somos aliados seus e irmão uns dos outros com direitos iguais. O fiel sabe que é pecador, mas conhece a imensa misericórdia de Jesus que acolhe, perdoa, santifica os irmãos. "Se Deus justifica, quem acusará seus os eleitos"? Jesus quer que o pecador se converta e viva na sua amizade. Seus defeitos continuarão, os ataques inimigos também. Mas, a certeza de fé que Jesus o acolhe, o faz dia a dia vencer os inimigos: "Se Deus é por mim, quem será contra mim? Nada te assuste: só Deus basta".

A parceria com a Trindade é pela fé. Nesta parceria o Deus Trino é a parte santa e forte, o fiel, a parte pecadora e fraca. Por isso, nossa parceria não é em igualdade de condições. Mas, para alegria dos fracos, a parceria os beneficia. Cabe-lhe entregar-se confiantemente nas mãos divinas para o que der e vier, qualquer que seja a situação encarada. Entregues confiantes nas Mãos do Senhor nada nos acontecerá sem seu consentimento. A Trindade tem o mundo em suas Mãos e cada filho de Deus tem a garantia do Filho que é ternamente amado e protegido do jeito que é, com limites e misérias. Dissabores inevitáveis ocorrerão por causa das nossas limitações; mas o Senhor não nos abandonará à própria sorte, porque a misericórdia é a lei do Senhor. Por isso podemos dizer com toda confiança: "Quando me sinto fraco, aí é que sou forte" com a força de Ruah. Ouvindo Jesus, nunca resistir ao mal nem querer mudar as coisas impossíveis: fazer tudo para mudar o que está ao meu alcance como se tudo dependesse de mim; mas parar na hora certa, reconhecendo sua impotência e tudo entregar nas mãos de Jesus: ele saberá que destino dar às coisas impossíveis: "A Deus nada é impossível". Nunca querer que as coisas aconteçam sempre do meu jeito; tão pouco temer que não aconteçam conforme planejamos. Nós propomos, mas é Deus quem dispõe. Saudável sabedoria! Importa não perder a amizade de Jesus, a jóia preciosa da aliança com Deus. Guardada essa amizade, temos certeza que as coisas acontecerão da melhor maneira possível, mesmo que não sejam totalmente do nosso agrado. Jesus é parceiro fiel: jamais faria algo para prejudicar a parte mais fraca na parceria. Meu papel de parceiro mais fraco é confiar na lealdade do Senhor e louvá-Lo sempre. Louvá-Lo porque Ele não pára de agir sempre em meu favor, mesmo quando parece que não. Portanto, não adiante forçar a barra e querer impor nossa vontade às circunstâncias e situações; pois, agindo assim pode-ríamos até estar atrapalhando os Planos do Senhor. Com o coração cheio de amor pelo amigo, de boa fé Pedro queria afastar Jesus do caminho da cruz. E Jesus viu em tanta nobreza de sentimentos nada menos que astúcias de Satanás: "Afasta-te de mim, Satanás! Tu me serves de pedra de tropeço, pois não pensas as coisas de Deus, mas as dos homens. Teus pensamentos não são os meus pensamentos, e teu modo de agir difere radicalmente do meu"! Daí, diante das contradições da vida, ter calma e esperar no Senhor, deixá-lo agir com sua sabedoria. "Confia ao Senhor teu destino; espera nele e com certeza Ele agirá".

"Muito sofrer é a parte dos ímpios; mas quem confia em Deus, o Senhor, é envolvido por graça e perdão". O homem e a mulher de fé têm tudo a ver com o Senhor. Em virtude da parceria entre Deus e seu povo e cada fiel, tudo que ocorre na vida deste é do interesse do Senhor também. "Inútil fazer serão para angariar o pão de cada dia, porque o Senhor o dá a seus eleitos até enquanto dormem". O Senhor participa ativamente da vida dos seus fiéis e parceiros na fé. Até os acontecimentos negativos e humilhantes têm o consentimento do Senhor e sempre redundam para o bem do fiel. O Senhor mostra ao justo que é maior que qualquer acontecimento e capaz de lhe dar vitória. Por isso o justo nunca pode desesperar e dar razão aos inimigos de Deus, como se ele fosse impotente. Não; o fiel precisa confiar em Jesus. Este pode usar acontecimentos opressores e humilhantes para fortalecer a fé dos eleitos. Com isto, desmoraliza os inimigos e mostra a este que cumpre suas promessas. Não posso me deixar dominar pelos acontecimentos, mas deixar-me guiar por Deus Mãe. Meu Deus é também Senhor dos acontecimentos que me atingem. Confiando nele, terei vitória no fim da batalha, com certeza. "Esses acontecimentos são para nossa correção, não para nossa perda". Por isso o cristão adotará três atitudes ante as dificuldades: enfrentá-las de qualquer jeito, mesmo causando grande estrago em si e nos outros; dar tudo de si pra as resolver por meios pacíficos, sem violência; entregá-las na mão de Deus e ficar em paz, se são humanamente insanáveis. Das dificuldades insolúveis só os desígnios divinos sabem a solução. Submeter-se aos desígnios misteriosos de Deus deve ser glória, não humilhação para o justo. Pois "a salvação dos piedosos vem de Javé; ele os protege nos momentos de aflição". O justo se apóia no Senhor e deixa em suas Mãos as dificuldades e afrontas por quê passa na vida: ele não procura justiça pelas próprias mãos, nem usa de artifícios ou violência para vencer. Faz tudo a seu alcance para solucionar os problemas pacificamente, mas põe as soluções sempre nas Mãos de Deus. Deus dará vitória ao seu fiel na hora exata. "Põe tua confiança em Javé, ele te salvará, orienta bem teu caminho, espera nele. Conserva seu temor até na velhice". A maior glória para o fiel é calar-se diante das injúrias, entregar seu destino na mão de Deus e testemunhar em silêncio sua justiça, que tarda mas não falta. O Senhor é fiel. Não seria Deus se não fosse fiel, nem mereceria a confiança do fiel. Sem a fidelidade de Deus, ter fé seria uma temeridade; seria coisa de tolo. Mas a fé é o sério da nossa vida; é nosso trato com Deus que não mente. Quando precisar falar, o justo o fará, não para protestar inocência, que Jesus fará por ele. Mas, pra testemunhar suas maravilhas em seu favor e confundir a empáfia dos ímpios e orgulhosos, que pautam suas vidas pelos valores do mundo. Neste sentido, o justo é testemunha da vida de Deus nele e no mundo. Testemunhar é confiar em Deus no mundo da desconfiança e competição antropofágica; é amar no mundo sem amor; viver a esperança no mundo desesperado, mesmo abraçando o sofrimento, a dor, angústia e morte. Daí, ser cristão leva ao extremo do amor ao próximo, ao aniquilamento livre e consentido de si em favor do Reino. Esse testemunho passou a ser sinônimo de martírio para aqueles que dão a vida pela fé, a exemplo da Testemunha Fiel, o Cordeiro imolado e de pé. O maior testemunho de fé é dar a vida pelos outros, no sentido do sacrifício mesmo. Mas a vida que se consome lentamente no amor aos outros não deixa de ser um martírio também. O monaquismo nasceu como alternativa ao martírio 'stricto sensu'. Com a liberdade religiosa dada pelo Imperador Constantino e a exclusividade de culto concedida por Teodósio, acabaram-se as perseguições aos cristãos, arrefeceu o vigor testemunhal da Igreja, que aos poucos foi-se tornando burocrática, menos carisma, mais poder. Os monges, os anacoretas, os cenobitas surgiram com uma maneira de viver vida rigorosa na oração, no jejum e no duro trabalho a serviço do Reino. Desta forma, se não podiam mais derramar o sangue por Cristo, podiam consumir suas vidas lentamente por Ele na contemplação solitária ou comunitária. Não deixava de ser um martírio, um belo testemunho de fé em continuidade à Testemunha fiel, o Cordeiro de Deus.

A confiança é que regula as relações dos fiéis com o Deus de sua fé. Confiança fundada na

fidelidade de Deus. Sem o pressuposto da fidelidade e a confiança incondicional nele vida de fé alguma se manterá. Por isso, quem vive pela fé não desesperará ante as dificuldades e acontecimentos, pois o fiel sabe que o Senhor está presente em todos eles no mundo inteiro: "Nada se oculta ao teu divino olhar".O fiel precisa, pois, estar atento aos apelos de Deus Mãe e tentar fazer algo para encaminhar soluções segundo sua inspiração. O Senhor não dorme, trabalha sempre. Precisamos entregar-nos em Suas Mãos e deixá-Lo fazer Sua vontade através de nós. Até porque "nossa capacidade vem de Deus; é Ele que opera em nós o querer e o operar", e através de nós Deus faz sua obra no mundo. Cada um é um mensageiro (= ângelos; eu = bomàbom mensageiro), um anjo de Deus no mundo e temos o apoio de Deus para realizar sua obra no mundo. Nele os humildes da terra teremos vitória com certeza. Humildes são os que vivem pela fé em parceria com Deus e não se apavoram com as derrotas infligidas pelo mundo. O Senhor nos dará vitória no fim. Somos membros da Família de Deus, Cuja Casa é Jesus Cristo. Nele os humildes de Javé sentem-se seguros, acolhidos, amados, perdoados, agraciados, em Casa. Em Cristo o Pai revelou todo seu amor por nós. "Nele temos a vida, o movimento e o ser". O mesmo Espírito que habita em Jesus, habita em nós. Nele somos Casa de Deus também. Por isso precisamos vencer o temor vindo do mundo e confiar absolutamente no Senhor, pois está conosco em qualquer situação, não nos abandona nunca. Não podemos perder de vista esta certeza. Se confiamos no Senhor, até os acontecimentos negativos têm seu consentimento. Deus é Pai e sábio, nada fará contra os filhos. Até para os maus e ingratos Ele é bom. "Tudo contribui para o bem dos que amam Deus", dos que confiam nele, permanecem unidos a Ele pela fé e amam os irmãos. Embora possam ser mal sucedidos no mundo, os que vivem unidos ao Senhor "O Céu está muito longe/ Mas também está muito perto/ Quem vive no amor de Deus/ Já vive num Céu aberto". O céu é longe porque Deus é o Criador e nós, criaturas: é infinita a distância ontológica, não geográfica, que separa o Criador da criatura. O Criador é transcendente, inacessível; a criatura, imanente, visível. Mas o altíssimo Deus escondido, por amor por nós, revelou-se e rebaixou-se em Jesus Cristo e tornou-se criatura como nós. Além da distância criatural, o homem e a mulher se distanciaram de Deus ainda mais pelo pecado. Aqui a distância torna-se um abismo intransponível. Mas o Filho de Deus rompeu o abismo, vindo viver com os pecadores, numa carne semelhante à do pecado, para salvar-nos da morte, que é a distância maior que separa o Deus da vida do pecador portador da morte. "Mas agora, no Cristo, vós que outrora estáveis longe, fostes trazidos pra perto pelo sangue de Jesus. Ele vos reconciliou em seu corpo de carne, entregando-o à morte para vos apresentar diante do Pai santos e irrepreensíveis, contanto que permaneçais alicerçados e firmes na fé, sem vos afastar da esperança do evangelho que recebestes, que foi anunciado a toda criatura que vive debaixo do céu. Portanto já não sois estrangeiros nem adventícios, mas concidadãos dos santos e membros da Família de Deus". Ora, Deus é nosso Pai e todo Pai gosta de estar com os filhos; Deus é nosso Irmão, que nos conduz à Casa do Pai e lá vive conosco; Deus é nossa Mãe" que, com o Pai, nos gera filhos no Filho Jesus e alimenta nossa fé. A SS Trindade mora no Corpo de Cristo e no nosso, enxertado nele. O Corpo de Cristo unido aos irmãos é o Céu na terra. Sendo morada de Deus, meu corpo lhe pertence. Preciso cuidar dele, torná-lo digna morada de Deus.

As injustiças sofridas não tiram o amor de Deus da vida do justo, pois aprendeu a sofrer

com paciência. Mas, se pagasse o mal com o mal, revidando as injustiças, expulsaria "o

Espírito Santo de Deus do seu corpo". O justo é feliz se sofremos com paciência os males

do mundo. A fé faz a alegria de Deus permanece com ele, apesar dos males sofridos. Se o

Senhor está comigo, que mais desejo eu desta terra? Se o Senhor é meu Pastor, o que pode me faltar? Ele mesmo cuida de mim e faz a minha felicidade. Por isso, jamais se apavorar se as coisas não vão bem. De que me adiantaria se as coisas acontecessem conforme meus desejos e minha vontade, mas Deus não fosse ninguém para mim? Adiantaria o que eu ganhar o mundo todo, mas perder a amizade de Deus? Por isso, é preciso procurar antes de tudo o Reino de Deus e o resto virá como acréscimo. Se tudo me é contrário, mas tenho certeza que Deus está comigo, nada mais me falta. Se o Pai já me deu tudo junto com seu Filho único, que posso mais exigir de Deus? Se o Pai já deu o mais difícil, como negaria o mais fácil? E se no mundo só tivéssemos frustração de nossos desejos e decepção da nossa vontade e não tivéssemos refúgio em Deus, nossa vida seria uma tragédia, irremediável desespero. Mas, quando tudo parece perdido no mundo, a fé em Cristo faz tudo renascer. É o paradoxo da vida cristã, da vida com Deus. Só sobe quem desce; só é exaltado quem é humilhado; só renasce e vive, quem morre. Por isso pode me faltar tudo; mas se o Senhor está comigo, nada me falta. O Senhor mesmo nos envia bens e males, mas continua Senhor nosso. Bens e males passam; o Senhor, não. "Se aceitamos a felicidade das mãos de Deus, por que também não aceitar a infelicidade"? É desconcertante para o mundo a paradoxal lógica dos que pautam suas vidas pela fé. Porque, diante do mundo, o crente é desvalido, pobre porque não conta com nem age com as forças do mundo. Por outro lado, quem vive da fé tem a seu dispor muito mais que os poderes deste mundo: tem o poder de Deus, não apenas ao seu dispor, mas inerente ao seu próprio ser. Unidos a Jesus Cristo, sendo parte do Seu Corpo Místico, o crente tem praticamente o mesmo Poder Cristo. "Se guardarem a minha Palavra farão tudo que faço, e mais até, porque vou para o Pai. Posso tudo naquele que me fortalece". Da parte de Deus o poder está com os pobres. Daí a misteriosa força dos fracos, que resistem bravamente diante das agruras da vida. "Quanto a mim, sou pobre e desvalido, mas o Senhor vela por mim: Já que se uniu a mim, o livrarei e protegerei, pois conhece meu Nome. Senhor, em ti confiam os que conhecem teu Nome, não abandonas os que te procuram. Sabei que nenhum daqueles que confiam no Senhor foi confundido. Pois ele é compassivo, cheio de bondade e misericórdia; perdoa os pecados no dia da aflição". Por isto, a força do justo está em Deus, não no mundo. "O justo vive da fé: "confia em Deus e faze o bem. Coloca nele tua alegria, ele dará o que pedir teu coração. Deixa aos cuidados dele o teu destino, confia nele, com certeza ele agirá". Aconteça o que acontecer, jamais o Senhor abandonará o justo nas mãos dos pecadores. Ele, somente ele é fiel. Além do mais, fez seu coração de maneira tal que só nele encontrará paz e alegria. Nada neste mundo poderá substituir a alegria que o justo sente com o amor fiel do Senhor. "Fizeste-nos para Ti, Senhor, e o nosso coração não descansará enquanto em Ti não repousar". Só o Senhor tem poder e glória. Daí, todo poder vem de Deus. Só Ele tem e detém o Poder e o distribui com quem quer. Todo poder é participação no Poder de Deus. Toda glória é participação na glória de Deus. Daí "quem pensa gloriar-se, glorie-se no Senhor".

Os conflitos fazem parte naturalmente da convivência humana. São saudáveis quando partem de uma consciência reta e zelosa pela verdade e a justiça. Mas são danosos quando provocados no intuito de tirar proveito de outrem, lesar o direito, a justiça. São os conflitos de má-fé. Não raro somos enredados, presos nas teias da maldade desse tipo de conflitos. O desgaste emocional é grande, a convivência se torna penosa, não raro gerando violência entre as pessoas. O que fazer? Uns tentam resolvê-los usando de artimanhas; outros fazem prevalecer seus interesses de todo jeito e partem para a violência, para se defenderem dos achincalhes dos ímpios. Outros se resignam amargurados e passivamente sofrem calados. Outros se remetem nas Mãos de Deus, ficam em paz e esperam pela ação de Deus: sabem que justiça Ele lhes fará um dia. O Senhor da História, que tudo conduz pra o destino feliz, com certeza agirá em favor do justo pisado. E acontecerá o que aconteceu com o Servo Sofredor: apesar de humilhado, ofendido, remete-se às mãos do Senhor e confia no triunfo da justiça do céu. Loucura? Sim, loucura dos que vivem pela fé, um estilo de vida baseado na parceria de confiança com Deus. O justo, o que vive pela fé, não se deixa abater pelos acontecimentos adversos, pois sua segurança está no Senhor, que não dorme e trabalha sempre salvando seu povo. O Senhor da História é um só e quem se une a ele pela fé será vitorioso com Ele. Por mais que o mundo aparente vitória, ao final a vitória é do Senhor. Os que estão firmes na fé não se impressionam com o alarido dos agentes do mal, que tudo julgam com critérios perversos. Pensam que mandam e desmandam na história. Mas serão presos nos próprios laços. O justo percebe a futilidade do veneno que os ímpios parecem ostentar, e se convencem que só no Senhor podem confiar. Inútil buscar segurança junto às pessoas e coisas do mundo, pois são fracas e passageiras. Só no Senhor podem confiar sem medo de ser enganados. Todo amor buscado no mundo, só no Senhor o encontramos com abundância. Por isso é sabedoria não se lamentar por não ter encontrado amor e felicidade junto ao mundo. Somos todos fracos e pobres, incapazes de atender a todos os desejos do coração humano. Só o Senhor poderá atender a toda nossa necessidade de amor. Por isso só nele podemos confiar. "Maldito/maldita o homem/a mulher que confia noutro/noutra, que faz da carne sua força, mas afasta seu coração de Javé. Bendito o homem/a mulher que se fia em Deus, cuja confiança é Javé. Felizes os que se abrigam em Javé". Deus vê nossa fraqueza, nos ama e quer que confiemos nele do jeito que somos. "Nosso Deus carrega nossos fardos". Por isso, nunca desesperar diante das dificuldades e acontecimentos, pois o

Senhor está presente em todos os acontecimentos na terra inteira: "Nada se oculta ao Teu divino olhar". A não ser assim, como suportaríamos as perseguições do mundo e os males oriundos da nossa fraqueza? É esta certeza da fidelidade do Senhor que faz o justo, a justa, o homem, a mulher que vivem pela fé sentirem-se seguros mesmo em meios aos maiores sofrimentos e dificuldades a que são submetidos. "Caiam mil à minha direita, dez mil à minha esquerda, eu não temerei. Se o Senhor está do meu lado, que mal um simples mortal me pode fazer"? O Senhor, por sua vez, assegura fidelidade ao justo, à justa, reafirmando a confiança que depositam nele: "Já que confiou em mim, o defenderei". Sem essa parceria de confiança não há vida de fé que se sustente e a religião seria uma brincadeira. Mas não é. A confiança do fiel no seu Deus e a fidelidade deste é que dão credibilidade às relações dos seres humanos que apostam em viver pela fé. Trata-se de uma aposta de tudo ou nada, fundada exclusivamente na confiança do justo na fidelidade de Deus. Por causa dela a vida do fiel toma um rumo definido e ele passa a viver um estilo de vida que assusta quem não tem fé. Um documento da Igreja Primitiva, a "Carta a Diogneto", observa o fenômeno dos cristãos que vivem nas cidades com outras pessoas que não são cristãs: casam-se como elas, compram e vendem como elas, têm costumes semelhantes aos delas, respeitam as leis iguais a elas, mas têm um jeito de viver que as diferencia das outras pessoas. Esse jeito de viver peculiar vem da fé. Os torturadores de cristãos durante as perseguições do Império Romano ficavam pasmos com a coragem, o destemor de pessoas do povo que, arrimados na fé, entregues confiantes nas mãos de Deus, não cediam às ameaças dos carrascos para que apostatassem da sua fé para salvarem a vida. Mas, diziam o que os Apóstolos disseram após a embriaguez do Pentecostes: "Importa-nos antes obedecer a Deus que aos homens. Não recebestes um espírito de temor, mas o Espírito de Deus". Era a força de Ruah que os fazia enfrentar impérios, imperadores, governadores, generais, carrascos truculentos. Foi a força do Espírito da santidade de Javé que fez o ancião Eleazar enfrentar o martírio com confiança heróica no tempo dos Macabeus, desafiar seus algozes que queriam obrigá-lo a infringir as leis da fé judaica. Se ele cedesse aos caprichos dos ímpios, "seria preservado da morte e granjearia a benevolência em vista da antiga amizade deles. Mas, tomando uma bela resolução, digna de sua idade, da autoridade que lhe conferia sua velhice, do prestígio que lhe outorgavam seus cabelos brancos, da vida íntegra que conservava desde a infância, digna sobretudo das sagradas leis estabelecidas por Deus, Eleazar preferiu ser conduzido à morte, dizendo: Não é próprio à nossa idade usar de tal fingimento, para não acontecer que muitos jovens suspeitem que Eleazar, aos 90 anos, tenha passado aos costumes pagãos. E, após meu gesto hipócrita, se deixariam arrastar por causa de mim, e isto seria para minha velhice a desonra e a vergonha. E mesmo se eu me livrasse agora dos castigos dos homens, não poderia escapar, nem vivo nem morto, das mãos do Todo-Poderoso. Sendo assim, se eu morrer agora corajosamente, mostrar-me-ei digno da minha velhice, e terei deixado aos jovens um nobre exemplo de zelo generoso com o qual é preciso dar sua vida pelas santas e veneráveis leis". Dirigiu-se ao suplício, e quando estava prestes a morrer sob os golpes, exclamou: 'Javé que possui a ciência santíssima o vê: podendo livrar-me da morte, sofro em meu corpo os tormentos cruéis dos açoites, mas suporto-os com a alma alegre, porque é a ele que temo'. Passou à outra vida deixando um exemplo de coragem e virtude".

Quando tudo parece perdido, ainda dizer: nem tudo está perdido, pois Deus me ama com amor de Pai, Mãe e Irmão. Tudo passa, não seu amor fiel. Deus não nos persegue, apesar de nossas infidelidades. Algum castigo que sofremos, na verdade advertência de Pai para nossa correção, não castigo. Aconteça o que acontecer, jamais o Senhor nos abandonará. Por isso, nunca desesperar quando o deserto nos cercar e só miragens nos aparecem. Não estamos sós: Deus está sempre conosco em toda situação. Basta fixar nosso olhar no dele e deixá-lo iluminar o nosso. "Na sua luz vemos a luz". Mas, se só olharmos nossas derrotas, só derrotas teremos; mas olhando o Senhor que nos ama, vitória teremos nele. Pois "jamais se ouvir dizer que aqueles que confiam no Senhor hajam sido confundidos". Olhando as coisas assim, venceremos todo medo. Porque o medo nasce da ameaça, real ou imaginária, de perdermos algo a que nos apegamos: prestígio, poder, bens, pessoas. Vencido o apego, o medo desaparece. Porém, não podemos viver sem nos ligar, sem nos relacionar, apegar-nos de alguma forma a algo. De modo que, para nos desligarmos de algo, precisamos ter um motivo para isto: só podemos abandonar alguma coisa em nome de outra. A alternativa é esta: o mundo ou Deus, dois senhores poderosos. Jesus diz que não podemos servir aos dois ao mesmo tempo: precisamos optar por um deles. Ora, optar é escolher e escolher é excluir; excluir é desapegar-se. Daí só excluindo o mundo, desapegar-me-ei dele. Mas só posso excluí-lo se optar por Deus. Optando por Deus e excluindo o mundo, desaparecerá o motivo do medo, pois Deus preencherá todos os espaços do nosso coração e nos dará a paz - o oposto do medo. "A paz esteja convosco. Por que este medo em vosso coração". O medo nasce da percepção que as coisas passam e eu posso perdê-las. Mas, estando firmado em Deus, sei que não há medo de ser decepcionado. "Céu e terra passarão, não a Palavra de Deus. A esperança não decepciona, porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado. Se Deus é por nós, quem será contra nós? Ele não poupou seu próprio Filho, mas por todos nós o entregou, como também não nos dará com Ele todas as coisas? Por isso em todas essas coisas somos mais que vencedores pela virtude daquele que nos amou". Unir-se a Deus é viver a fé no amor. "Onde há amor não há temor". O temor é o maior inimigo da fé e do amor. "Por que temeis, homens de pouca fé? Credes em Deus, crede em Mim também". Quem crê e ama nada teme, porque sabe que a Pessoa amada jamais o trairá. Mesmo que no mundo as coisas vão mal, nada dê certo, quem vive da fé para valer fica inabalável, pois sabe que seu Amado não o deixará. "Espero confiante o dia da angústia que se levantará contra o povo que nos ataca. Porque a figueira não dará mais fruto, e não haverá frutos nas vinhas. Decepcionará o produto da oliveira, os campos não darão de comer, as ovelhas desaparecerão do aprisco e não haverá gado nos estábulos. Porém, eu me alegrarei em Javé, exultarei no Deus da minha salvação. Javé, meu Senhor, é a minha força, torna meus pés semelhantes aos das gazelas, e faz-me caminhar nas alturas". Habacuc era justo e vivia da fé: sabia que o amor de Javé por ele é maior que qualquer tribulação. Se cremos realmente neste amor, nada nos abalará. Mas, se depositamos nossa confiança nos seres humanos e coisas deste mundo, só podemos andar com medo. Como confiar para valer em pessoas falíveis e coisas perecíveis? "Maldito o homem e a mulher que confiam em outro homem e outra mulher, e da carne faz seu apoio e cujo coração vive distante do Senhor. Bendita a mulher, bendito o homem que depositam sua esperança no Senhor. Eles são como uma árvore plantada à beira do regato: mesmo no mais tórrido verão, estarão sempre verdejantes e darão frutos".

O mundo nos assalta, atacando-nos covardemente por nosso lado fraco, visando derrotar-nos. Aí, em atitude de não-violência passiva, nos entregamos derrotados aos poderosos e nos fechamos na mágoa e no rancor; ou reage à violência tentando mostrar que também é forte; ou, não resistindo ativamente à violência, em atitude de não-violência ativa a gente remete sua causa às mãos do Senhor e deixa que a justiça aconteça conforme os projetos divinos. "Não façais justiça por vossa conta, caríssimos, mas dai lugar à ira de Deus, pois está escrito: A mim pertence a vingança, eu é que retribuirei, diz Javé. Assim reagiu Jesus face aos que o perseguiam e agrediam: "Se Eu quisesse, Eu rogaria ao Pai e Ele enviaria uma legião de anjos para me defender. Mas meu Reino não é deste mundo". Tomando atitude de não-violência ativa não estamos nos entregando ao desânimo, reconhecendo a derrota da justiça para a injustiça, ou nos resignando ao impossível, ou nos omitindo ante a violência. Pela atitude da não-violência ativa continuamos apostando na vitória da justiça; mas, como essa vitória foge ao nosso alcance, remetemo-nos ao Senhor da justiça e da paz, a quem pertence todo poder no céu e na terra, para que nos dê a justa vitória. Ela virá. Foi desta forma que Jesus venceu o fracasso da morte pelo triunfo da ressurreição. Também assim devem proceder os que lutam pela justiça na terra: jamais entregar a vitória ao mal, mas fazer do nosso fracasso e impotência vitória no Senhor. Desta forma guardaremos nossa dignidade diante da violência e a justiça estará garantida. Por isso, confiando nossas vidas nas mão de Deus, as coisas podem não acontecer como queremos, mas acontecerão certamente da melhor forma, segundo os critérios de Deus, cujos pensamento ultrapassam os nossos em sabedoria. Pondo-me nas mãos de Deus, isto é, sob o influxo de seu poder, estou me dispondo a deixar tudo acontecer conforme os desígnios dele. Seria manipular a vontade de Deus querer que as coisas aconteçam como quero. Mas não se manipula Deus. Porém, fazendo sua vontade, ele fará também a nossa. "Em silêncio, abandona-te a Javé, põe tua esperança nele. Põe tuas delícias em Javé, ele atenderá os desejos do teu coração". Por isto, por mais que as coisas sejam adversas, nunca perder a confiança em quem merece confiança: o Senhor é fiel e jamais nos trairá. Em qualquer situação o Senhor caminha com aqueles que confiam nele. Os acontecimentos parecem abatê-los. Mas, quando relembram os feitos de Deus, recobram coragem. Daí a alegria dos justos, que vivem pela fé, confiam no Senhor, se abandonaram em suas mãos, vivem na sua amizade. A alegria é fruto da paz, que procede da certeza de estar sob a proteção do Senhor. O justo sabe que "se a obra vem de Deus, prosperará; se vem dos homens, será derrotada". Por isso, "confia ao Senhor o teu destino e com certeza ele agirá" e te assistirá. "O Senhor é meu Pastor, nada me falta. Afora vós, o que há para mim no céu? Se vos possuo, nada mais me atrai na terra. Meu coração e minha carne podem desfalecer. A Rocha do meu coração e minha herança eterna é Deus". Este aprendizado de estar sempre com Deus é o aprendizado da vida da fé. Não é fácil chegar alcançá-lo. É o fruto maduro de longa maturação, filho de um doloroso parto, gestado no deslocamento do eixo de prioridade de nossa atenção do mundo para o Deus da fé. "Amarás o Senhor teu Deus de todo teu coração, com toda a tua alma, com todas tuas forças - física, psíquicas, espirituais - e o teu próximo como a ti mesmo". Quem chega a tal nível de fé vive no mundo, mas não é mais do mundo. Vive no tempo cronológico, mas tem a atenção centrada no kairós, na presença amiga do Pai. Tempo do fim, inaugurado com a chegada do Último, Jesus Cristo. "Eu sou Aquele que sou": alimenta meus filhos com o corpo e sangue do meu Filho único. Com a chegada do Último enviado do Pai tudo no mundo é relativizado, "considerado como esterco, em comparação com este bem que é o conhecimento de Jesus Cristo meu Senhor". Viver nesta perspectiva é viver como pobre para o mundo, mas rico dos bens de Deus. Viver a paz dos pobres de Javé, guardados por ele. "O Senhor te guardará de todo mal, Ele mesmo vai cuidar da tua vida". O Senhor pôs Seu Espírito em nós, para que possamos ser a morada da SS Trindade. Por isto, somos seu povo e ele é nosso Deus, que cuida pessoalmente de nós. "Tomarei eu mesmo cuidado das minhas ovelhas, velarei sobre elas. Ninguém terá encargo de instruir seu próximo, porque todos me conhecerão, grande e pequenos, pois a todos perdoarei as faltas, sem guardar nenhuma lembrança dos seus pecados". Pelo perdão recebido sabemos quem é Deus: misericordioso e bom com os pecadores. Pondo seu Espírito em nossos corações, ele nos dá condições de ser instruídos por Ele e conhecer Sua vontade. Assim está cuidando de nós pessoalmente, alimentando-nos com Sua própria vida. Crer é viver em função dessa realidade mística. Deus mesmo se dá a conhecer perdoando Seu povo.

Se confio que Deus me ama e cuida de mim, não duvidarei que tudo que me acontece é para minha educação na fé. Jamais o Pai permitiria que um filho seu, justo pela fé, sofresse qualquer dano se daí não tirasse um bem maior relativo à educação dele na fé. Por isso, é possível alegrar-nos nas tribulações e angústias, porque sabemos em quem pusemos nossa fé. Se o Senhor está comigo, se é por mim, os males que me atingem terão sua importância relativizada, minimizados. Por que temer tanto o mais fraco, se o mais forte está comigo? Tenho mais é que louvar o Senhor pela sua presença salvífica em minha vida, malgrado os sofrimentos que me afetam. "Tudo (até as injustiças) concorre para o bem dos que amamDeus. Não só porque aí, sobretudo aí, a proteção divina é assegurada preferencialmente, mas também porque é nas contradições da vida que o cristão é chamado a testemunhar a sua fé em Deus; testemunha de que o mal não tem a palavra final, mas o poder de Deus. A palavra final é de "Jesus Cristo, a Testemunha fiel, o Primogênito dos mortos, o Príncipe dos reis da terra, que nos ama, lavou nossos pecados com seu Sangue, fez de nós realeza e sacerdote para Deus, seu Pai, a ele pertencem a glória e domínio pelos séculos dos séculos. Amém." Ele que, "em tudo é semelhante a nós, menos no pecado, tendo sofrido a tentação, é capaz de socorrer os que são tentados". Se Jesus não tivesse provado a condição humana e não tivesse mostrado como é possível sair vencedor apesar dela, ele não seria modelo pra nós. Ele é modelo porque passou primeiro pelas tribulações por que passaremos também. "No mundo tereis muita tribulação. Se vocês fossem do mundo, o mundo amaria o que é seu. Mas, como não sois do mundo, porque minha Palavras vos tirou do mundo (pela fé), por isto o mundo vos odeia. Adverti-vos antes, para que, quando ocorrer, não estranheis. Mas, coragem! Eu venci o mundo" e vocês vencerão comigo.

"Não é pela força que o homem triunfa. Nenhum rei se salva com exército numeroso, o valente não se livra pela sua grande força; para salvar, o cavalo é ilusão e todo o seu vigor não ajuda a escapar. Uns confiam em carros, outros em cavalos; porém nós invocamos o Nome de Javé nosso Deus. Eles se inclinam e caem; nós, porém, levantamos e ficamos de pé. Não sejas como o cavalo ou jumento que não compreende nem rédea nem freio: deve-se avançar para domá-lo, sem que ele se aproxime de ti. Javé não se compraz com o vigor do cavalo nem se deleita com os músculos do homem, mas agradam ao Senhor os que o respeitam, os que confiam esperando seu amor. Eis que os olhos de Javé estão sobre os que o temem, aqueles que esperam seu amor, pra da morte libertar sua vida e no tempo da fome fazê-los viver". Deus é o Senhor do universo, todas as coisas estão sob seu poder. Os que colocam suas vidas em mãos alheias serão confundidos e der-rotados. Por isso, diante das injustiças que escapam ao nosso controle, não devemos nos acomodar nem tentar pela força uma solução violenta. Sabedoria é entregar tudo nas mãos de Deus e pedir-lhe justiça para os humilhados e conversão para os opressores dos pobres. Os mártires da Palavra e do testemunho do Cordeiro clamam ao Cordeiro e ao que está no trono: "Até quando, Senhor, santo e verdadeiro, tardarás a fazer justiça, vingando nosso sangue contra os habitantes da terra? Foi-lhes dito que repousassem por um pouco de tempo até que se completasse o número dos seus companheiros e irmãos que iriam ser mortos com eles". É radical a opção da fé: nossa vida passa a funcionar com o Senhor. Os condicionamentos do mundo perdem força sobre nós, porque o poder de Deus em nossa vida contrabalança o veneno do mundo. "O que está em vós é maior do aquele que está no mundo. Eles são do mundo, falam como o mundo e o mundo os ouve. Nós somos de Deus. Todo aquele que ama nasceu de Deus e conhece Deus. Todo o que crê que Jesus é o Cristo nasceu de Deus. E todo que nasceu de Deus vence o mundo. E esta é a vitória que vence o mundo: nossa fé". Portanto, a fé, pela qual o homem nasceu de Deus, julga o amor. A fé é o poder extraordinário colocado por Deus à nossa disposição para enfrentarmos o mundo. "Trazemos, porém, esse tesouro em vasos de argila, para que esse incomparável poder não seja de nós, mas de Deus. Somos atribulados por todos os lados, mas não esmagados; postos em extrema dificuldade, mas não vencidos pelos impasses; perseguidos mas não abandonados; prostrados por terra mas não aniquilados. Sem cessar e por toda parte trazemos em nosso corpo a agonia de Jesus, a para que a vida de Jesus seja manifestada também no nosso corpo. Pois, embora vivamos, somos sempre entregues à morte por causa de Jesus, a fim de que também a vida de Jesus seja manifestada em nossa carne mortal. Doravante ninguém mais me moleste, pois trago em meu corpo as marcas de Jesus. Vivo, não eu, Cristo vive em mim".

Deus nos ama e nos quer felizes. Mas, não nos força a aceitar seu amor. Sabe que somos incapazes de ser felizes sem ele, mas quer que o acolhamos e recebamos livremente. Sabe que é nossa felicidade, que fomos feitos para ele e não encontraremos felicidade fora dele; mas quer que descubramos isto e o abracemos com liberdade. A felicidade não se impõe a ninguém. "Eis que estou à porta e bato: se alguém abrir, entrarei e cearemos juntos". Para aquele que crê, está garantida a felicidade, até na insegurança do mundo. A segurança de quem crê é Deus mesmo. "O Senhor é meu Rochedo e minha Fortaleza, meu Porto seguro, no qual encontro abrigo". Por isso, mesmo que o mundo desabe, o justo está seguro nada o abalará. Quem confia nele, jamais será confundido. "Feliz o homem que confia no Senhor: ele é como a árvore plantada à beira do riacho: que venha o sol e a seca, suas raízes ficarão fincadas na terra molhada e suas folhas, sempre verdes". Os que confiam em Deus estão sempre em segurança em qualquer situação. A Casa do Pai é a figura da segurança do fiel. Para os filhos e filhas, a casa dos pais é o lugar mais seguro do mundo, lugar da felicidade. A Casa do Pai é nosso destino seguro. Daí já que Deus é Aquele que permanece sempre o mesmo, podemos confiar nele, não seremos traídos. Que me abandonem e machuquem todos, o Senhor me conduzirá sobre asas de águia e para verdes pastagens me conduzirá. Ele não me fará mal algum: "O Senhor é teu guarda e vigia, sombra protetora durante o dia e luz à tua frente a iluminar teu caminho durante a escuridão das tuas noites. De dia o sol não te ferirá nem a luz por toda a noite. O Senhor te guardará de todo mal, ele mesmo vai cuidar da tua vida. Deus te guarda na partida e na chegada. Ele te guarda desde agora e para sempre". Saber isto e vivê-lo é motivo de muita alegria e segurança existencial. Nada nos abalará se estamos firmados na Rocha, que é Cristo. Se tudo desandar na minha vida, se até as pessoas mais próximas me abandonarem, se todos me abandonarem, não faz mal: o Senhor é fiel em Seu amor por mim em qualquer situação e estará sempre comigo; isto me basta. Se me passarem para trás, não importa: estarei sempre diante dos olhos do Senhor, usufruindo da Sua amizade. "Se Deus é por mim, quem ousará ser contra mim"? Mesmo que tudo e todos estejam contra mim, tendo a amizade de Deus, não me abalarei: o mais forte está comigo. Tudo passará, só Deus permanece: "Nada de perturbe nem te meta medo; tudo passa, Deus permanece sempre o mesmo. A paciência é a melhor prece. A paciência tudo consegue. Aquele que tem Deus consigo, nada lhe faltarás. Só Deus basta. O mais vos será dado por acréscimo".

"Confia no Senhor e faze o bem, e sobre a terra habitarás com segurança". Loucura para a sabedoria do mundo, que põe sua confiança na força e na violência. É um desafio para o fiel viver neste mundo, onde as relações entre as pessoas são pautadas pela desconfiança e a má-fé. Mundo onde ninguém confia em ninguém e leva as pessoas a não confiarem nem em Deus e a pagarem o mal com o mal. Nesse clima medra e prospera mentira e a trapaça. Tudo nesse mundo confuso conspira contra o justo que, se não cuidar, terminará passando para o lado dos maus. "Por pouco meus pés não resvalaram". Mas o pobre sabe em quem põe sua confiança: ampara-se em Deus contra os dardos inflamados do mundo. Confia em Deus e continua fazendo o bem, mesmo quando provocado a fazer o mal. A conquista da confiança em Deus num mundo dominado pela desconfiança é trabalho de toda uma vida de fé. Dia a dia o justo pede a Deus sabedoria para viver em paz num mundo conflituoso. É a vida de fé: viver da força de Deus na fraqueza humana. Por isso, o fiel não precisa se sentir inferior em relação aos poderosos, pois sua força está no Senhor, não no mundo. O fiel tem certeza da assistência do amor gracioso do Senhor em qualquer situação. Por isso, em vez de se envergonhar de suas fraquezas, tem mais é que louvar Deus por Sua Presença amorosa na vida do fiel fortalecendo sua fraqueza. "Glorio-me da minha fraqueza, porque é na fraqueza que Deus manifesta sua força". Grande é o privilégio de viver pela fé em parceria com a Trindade. O segredo da confiança do fiel, quando o mundo o dissuade a não confiar, é entregar-se por inteiro à ação do Divino Parceiro e deixar fluírem as coisas normalmente. Aí, totalmente entregues à Providência Divina, tudo que nos acontecer terá o consentimento dela em vista do Reino de Deus. Nunca esquecer que os pensamentos e caminhos do Senhor são diversos dos nossos e sempre nos são favoráveis. Se ficarmos firmes na caminhada, os segredos de Deus vão sendo revelados, para nossa grande alegria. Deus Mãe que nos acompanha nos mostrará a sabedoria de Jesus na aparente insensatez da nossa vida de fé. Por outro lado, em vez de exasperar-nos com os erros humanos, rogar ao Deus que encha nosso coração de compaixão e misericórdia pra sermos luzes nas trevas do mundo e compreendermos o incompreensível. Mas, além da misericórdia e compaixão, é preciso também revestir-nos de coragem para denunciar as injustiças que nos afrontam. Denunciar não é acusar gratuitamente, mas, em nome do amor de Deus que tudo assiste, colocar às claras os pecados do mundo que oprimem os pequenos. De resto, ter paciência, pois as coisas não mudam facilmente nem temos controle voluntário sobre as mesmas. Os corações de pedra demoram a tornar-se corações de carne. Não que Deus não queira, mas porque os pecadores resistem à ação da graça. E como Deus respeita a liberdade humana e a fé não pode atuar em nós sem nosso consentimento livre, Deus espera que o pecador se defina por Ele. Fazendo isto, pode confiar no Senhor e sem cessar louvar seu santo Nome.