Fatores que levam ao desmame precoce e tabus relacionados

Por Krysna Sollana de Oliveira Florêncio | 30/01/2015 | Saúde

Fatores que levam ao desmame precoce e tabus relacionados

Factors that lead to early weaning and taboos

Fatores que levam ao desmame precoce e tabus relacionados

Krysna Sollana de Oliveira Florêncio1, Xisto Sena Passos 2, Júlia C. Marques de Paiva3

1 Aluna do curso de Graduação em Nutrição da Universidade Paulista – UNIP. 2 Doutor em Medicina Tropical pela Universidade Federal de Goiás. Professor Titular do Curso de Biomedicina da Universidade Paulista - UNIP. 3 Mestre em Ciência e Tecnologia de Alimentos pela Universidade Federal de Goiás. Professora Adjunta do Curso de Nutrição pela Universidade Paulista-UNIP.

Endereço do autor para correspondência: Júlia C. Marques de Paiva; Rua 54 nº64 Ap.2404 Residencial Carpe diem, Jardim Goiás; telefone: (62) 81551417; e-mail: judepaiva@hotmail.com.

Área Temática: Saúde Publica

 

Declaração da inexistência de conflitos de interesse: declaramos que não existe conflitos de interesse quanto à publicação deste artigo.

Resumo

O leite materno é o alimento mais adequado para o lactente sendo recomendado seu uso exclusivo até os seis primeiros meses de vida, pois possui nutrientes adequados ao metabolismo do lactente, e o ato de amamentar oferece vantagens para o bebê e também para a mãe. Embora se saiba dessas vantagens o desmame precoce tem ocorrido com grande frequência, por isso teve-se como objetivo detectar alguns dos fatores que levam ao desmame precoce e conhecer alguns tabus que se encontram inseridos nesse contexto. Foi identificado que entre as mães existe falta de conhecimento sobre os benefícios do aleitamento materno, além disso, crenças, tabus e mitos infundados que têm existido há tempos, têm contribuído para a baixa adesão dessa prática. Além disso, outros fatores tem provocado grande declínio da amamentação, como problemas mamilares que geram grande desconforto e insegurança nas lactantes e jornadas de trabalho exaustivas tem sido também grande motivo para o desmame precoce devido as mães permanecerem muito tempo fora do convívio com seus filhos, e assim acabam inserindo outros alimentos na alimentação desse lactente. Com base nisso observa-se a necessidade de intervenções, para que as mães compreendam os benefícios do aleitamento materno reduzindo assim riscos de desmame precoce.

Descritores: Aleitamento Materno; Desmame.

Abstract

Breast milk is the most suitable food for an infant being recommended its use only to the first six months of life, because it has the proper metabolism of nutrients infants, and the act of breastfeeding provides benefits for the baby and for the mother. Although it is known these advantages early weaning has occurred with great frequency, so had as objective to detect some of the factors that lead to early weaning and meet some taboos that are inserted in this context. It was identified that among mothers there is a lack of knowledge about the benefits of breastfeeding, moreover, beliefs, taboos and unfounded myths that have existed for some time, have contributed to the low uptake of this practice. In addition, other factors have caused great decline in breastfeeding as nipple problems that generate great discomfort and insecurity in infants and exhaustive working hours have also been major reason for early weaning because mothers remain long out of contact with their children, and inserting the other foods to feed this infant. Based on this observed the need for interventions, so that mothers understand the benefits of breastfeeding thus reducing risks of early weaning.

Descriptors: Breastfeeding; Weaning.

Introdução

O Aleitamento Materno é um ato indispensável à criança nos primeiros anos de idade. A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda como medida de saúde pública a realização do aleitamento materno exclusivo até os seis primeiros meses de vida{Formatting Citation}(1). O leite materno é um alimento completo e perfeitamente adequado ao metabolismo do lactente contendo nutrientes adequados ao seu crescimento e desenvolvimento. Entre suas vantagens podemos citar: proteção imunológica, proteção contra infecções e diarreias, valor nutricional adequado, livre de contaminação, econômico, e promove o fortalecimento do vínculo mãe-filho. Suas vantagens não se limitam apenas ao lactante, mas se estendem também à mãe, atuando como fator de anticoncepção, diminuição da possibilidade de ocorrência de câncer de mama, involução uterina mais rápida e diminuição do sangramento pós-parto, entre outras (1,2).

Apesar das informações sobre a importância do aleitamento materno, essa prática não vem sendo muito adquirida por muitas mulheres, resultando assim no desmame precoce. É definido como desmame precoce a introdução de alimentos de qualquer tipo, para aquelas crianças que se encontravam em aleitamento materno exclusivo; sendo assim, uma ação que vai desde a introdução desse novo alimento até a interrupção total do aleitamento materno(3).

São inúmeras as causas que levam ao desmame precoce, as mães se abstêm desse ato muitas vezes por motivos estéticos como a preocupação e o cuidado com o corpo; problemas relacionados com a mama; tabus; a entrada da mulher no mercado de trabalho; entre outros(3,4).

O objetivo do trabalho foi detectar os fatores que levam ao desmame precoce, para que haja uma intervenção que possibilite os lactentes receberem o aleitamento materno por mais tempo.

Revisão da Literatura

A coleta de dados foi realizada no site da Biblioteca Virtual de Saúde (BVS) em artigos publicados no período de 2004 a 2014, tendo como descritores o desmame precoce, aleitamento materno e a alimentação complementar. E para facilitar a compreensão do estudo, a revisão foi dividida em algumas categorias, a saber:

Mitos que podem prejudicar o aleitamento materno: “o meu leite é fraco”, “meu leite não sustenta” e “tenho pouco leite”

Existem várias crenças, mitos e tabus associados à amamentação que fazem parte de uma herança sociocultural onde passam por influências de amigos, vizinhos e familiares, contribuindo assim com a propagação de informações errôneas, acarretando transtornos em relação à prática da lactação(5).

 No estudo de Marques, Cotta e Priore(6), eles relatam que o mito de “o meu leite é fraco”, “meu leite não sustenta” e “tenho pouco leite” são os argumentos mais utilizados por parte das mães para a iniciação de complementos na alimentação dos seus filhos, gerando assim o desmame precoce. Supõe-se que um dos motivos para que as mães considerem seu leite fraco, ou que o mesmo não sustenta seja por causa da aparência aguada do leite materno que é bem diferente do leite considerado “forte”, que é leite de vaca, que também é bem valorizado por conter grande quantidade de proteína, por tanto as mães acabam acreditando que apenas com o leite materno as necessidades do lactente não serão supridas. Acredita-se que esse mito surgiu para que a culpa e a responsabilidade da mãe a respeito dos fracassos da lactação fossem minimizados(6).

Com o argumento de “ter pouco leite” muitas mães oferecem mamadeiras com outros alimentos para seus filhos além de introduzirem água e chás na alimentação do lactente sem perceber que esse fator leva a criança a mamar menos no seio por se sentir saciada, e quanto menor for a sucção menor será a produção de leite(7).

Problemas relacionados com a mama

Outro problema bem comum que impedem as mães de continuarem amamentando seus filhos é o aparecimento de fissuras nos mamilos, que geralmente é provocado por causa da pega incorreta do bebê, que ao invés de abocanhar o mamilo e a aréola exerce certa pressão apenas sobre o mamilo(8).

Além das fissuras, existem outros problemas relacionadas com a mama durante a amamentação, como, ingurgitamento mamário que é caracterizado pelo excesso de leite nas mamas e edema que é popularmente conhecido como “leite empedrado”. Isso acontece porque o leite fica retido nos alvéolos gerando assim uma distensão que acaba comprimindo os ductos mamários resultando na obstrução do fluxo de leite ocasionando assim edema(9).

Outro problema mamilar bem presente é a mastite que trata-se de um processo inflamatório podendo estar acompanhado ou não de infecção, e quando não é tratado consequentemente poderá evoluir para abscesso, essa inflamação geralmente ocorre entre a segunda e terceira semana pós-parto(10).

Mercado de trabalho x amamentação

Com a entrada da mulher no mercado de trabalho houve um declino no aleitamento materno exclusivo. Para muitas mulheres a amamentação e a maternidade não estão mais em primeiro plano, pois o mercado de trabalho se torna cada vez mais exigente, admitindo trabalhadores com maior grau de qualificação e maior tempo disponível, fato que consequentemente levará a mãe a ficar por mais tempo fora de casa, longe da convivência com seu filho. E em decorrência disso acabam sendo introduzidos precocemente leites artificiais e outros alimentos na alimentação dessas crianças, gerando assim o desmame precoce(11).

Discussão

São amplamente conhecidos os benefícios protetores e nutricionais do aleitamento materno. Portanto verifica-se a importância da prática do aleitamento materno nos primeiros seis meses de vida para o desenvolvimento e saúde da criança, pois milhões de bebês morrem por ano no período neonatal, e quanto mais demorada for à introdução do aleitamento materno, maiores serão as chances de infecção que consequentemente levarão à morte(12).

Há tempos surgiram mitos que têm prejudicado a prática do aleitamento materno exclusivo, como foi percebido no estudo de Santos e Botelho(13), onde 15% das mulheres entrevistadas acreditavam que o peito podia inflamar ou leite secar se a criança arrotar mamando; 16,9% das mulheres acreditavam que o peito fica flácido ou caído com a amamentação; 30,1% afirmaram não produzir leite; 36 % afirmam produzir leite fraco; 74% acreditam possuir pouco leite. Pesquisa semelhante a esta realizada por Araújo et al.,(8) objetivando demonstrar os fatores que levam ao desmame precoce, encontrou como motivos: 5,9% das mães apresentaram problemas na mama; 7,3% não tinham bico favorável; 23,5% relataram que o peito foi recusado pelo bebê; 26,5% acreditavam não ter leite suficiente; e 36,8% das mães relataram outros motivos. Os autores ressaltam(8,13) que grande parte das mulheres tem condições biológicas adequadas para a produção de leite, porém muitas utilizam esses mitos como o do leite fraco e insuficiente para minimizarem a culpa dos seus fracassos com a amamentação e para introduzirem logo complementos na alimentação de seus filhos.

Conforme a publicação de Sousa et al.,(9)existe falta de conhecimento das nutrizes sobre práticas que previnem e/ou tratam os problemas mamilares. A melhor forma de prevenir o ingurgitamento mamário é iniciando o mais rápido possível a amamentação, sendo oferecida em livre demanda, e sendo executada sempre com técnicas adequadas. Como base de tratamento recomenda-se continuar a amamentação em livre demanda; fazer ordenha manual antes da mamada, pois assim a mama ficará macia permitindo que o bebê abocanhe a mama de forma correta.

Estudo relata(10) que compressas de água fria ajudam na melhora dos sintomas, porque quando o frio entra em contato com a mama ingurgitada ocorre uma vasoconstrição temporária que diminui o fluxo sanguíneo e o edema e consequentemente ocorre diminuição da produção de leite. Algumas mulheres utilizam compressa quente ao invés de fria e de acordo com Giuliane(10) essa compressa alivia a compressão local, porém não é vantajosa, pois promove uma vasodilatação aumentando o volume de leite nas mamas piorando assim o quadro de ingurgitamento.

Segundo o estudo de Brasileiro et al.,(14) com objetivo de demonstrar índices de amamentação entre mães trabalhadoras, revelou que entre as mães que amamentavam durante a jornada de trabalho 34% desmamaram antes do quarto mês, entre as mães que voltaram ao trabalho após o quinto mês 82,9 % desmamaram após o quarto mês. A questão da mãe, desmamar antes do quarto mês deve-se ao fato de não conseguir amamentar durante a jornada de trabalho; uso de chupetas e mamadeiras e não possuir 30 minutos de intervalo por turno trabalhado. Esses dados são coerentes com a publicação de Vanalli e Barham(15) que afirmam que, a maioria das mulheres diminuem o tempo de amamentação, pois tem que cumprir horários fixos de trabalho. Portanto para não ficarem desempregadas, desmamam seus filhos precocemente. As autoras ainda relatam que um dos problemas para o desmame é a distância entre o local de trabalho e o local onde o bebê fica aos cuidados de alguém, pois as mães possuem apenas 30 minutos para amamentarem seus filhos o que não é tão viável para a maioria.

Conclusão

O leite materno é o alimento mais adequado ao bebê nos primeiros seis meses de vida, e a amamentação traz benefícios tanto para o lactente quanto para a mãe. Porém mesmo em meio a tantos benefícios o desmame precoce tem surgido com grande impacto. Parte dos fatores que influem negativamente sobre o aleitamento materno está relacionado com a falta de informação por parte dos profissionais de saúde; com isso as mães se baseiam nas experiências de familiares, vizinhos e amigos que geralmente têm um mito, crença e/ou tabu arraigado em sua cultura, que acaba por contribuir para o desmame precoce. Essa situação pode ser resolvida ou reduzida através de intervenções e ações educativas no período pré-natal; para isso é importante que os profissionais de saúde estejam capacitados para orientarem bem essas mães promovendo assim o aleitamento materno exclusivo até os seis meses de vida.

Referências

1.        Barbosa MB, Palma D, Domene SMA, Taddei JAAC, Lopez FA. Fatores de risco associados ao desmame precoce e ao período de desmame em lactentes matriculados em creches. Rev Paul Pediatr [Internet]. 2009;27(3):272–81.

2.        Carrascoza KC, Costa Júnior ÁL, Moraes ABA De. Fatores que influenciam o desmame precoce e a extensão do aleitamento materno. Estud Psicol. 2005;22(4):433–40.

3.        Araújo OD de, Cunha AL da, Lustosa LR, Nery IS, Mendonça R de CM, Campelo SM de A. Aleitamento Materno: fatores que levam ao desmame precoce. Rev Bras Enferm. 2008;61(4):488–92.

4.        Mutsumi S, Ichisato T. Revisitando o desmame precoce através de recortes da história. Rev Lat Am Enfermagem. 2002;10(2):578–85.

5.        Araújo VS, Medeiros APDS, Barros ADC, Braga LS, Trigueiro JVS, Dias MD. Desmame precoce : aspetos da realidade de trabalhadoras informais. Rev Enferm Ref. 2013;(10):35–43.

6.        Marques ES, Cotta RMM, Priore SE. Mitos e crenças sobre o aleitamento materno. Ciência e Saúde Coletiva. 2011;16(5):2461–8.

7.        Queirós P de S, Oliveira LRB de, Martins CA. Elementos que interferem na amamentação exclusiva: percepções de nutrizes. Rev Saude Publica. 2009;2:6–14.

8.        Araújo JP, Almeida JLS, Souto CMRM, Oliveira AEA de, Sudério MARP. Desmame precoce e suas causas : experiência na atenção básica de campina grande -PB. Rev da Univ Val do Rio Verde, Três Corações. 2013;11(2):146–55.

9.        Sousa L de, Haddad ML, Nakano AMS, Gomes FA. Terapêutica não-farmacológica para alívio do ingurgitamento mamário durante a lactação: revisão integrativa da literatura. Rev da Esc Enferm da USP. 2012;46(2):472–9.

10.     Giugliani ERJ. Problemas comuns na lactação e seu manejo. J Pediatr (Rio J). 2004;80(5 (Sulp)):147–54.

11.     Morais AMB de, Machado MMT, Aquino P de S, Almeida MI de. Vivência da amamentação por trabalhadoras de uma indústria têxtil do Estado do Ceará, Brasil. Rev Bras Enferm. 2011;64(1):66–71.

12.     Oddy WH. Aleitamento materno na primeira hora de vida protege contra mortallidade neonatal. J Pediatr (Rio J). 2013;89(2):109–11.

13.     Santos KK, Botelho A do CF. Mitos que podem prejudicar o aleitamento materno em Perdizes, MG. Rev Saúde e Pesqui. 2010;3(2):139–47.

14.     Brasileiro AA, Ambrosano GMB, Marba STM, Possobon R de F. A amamentação entre filhos de mulheres trabalhadoras. Rev Saude Publica. 2012;46(4):642–8.

15.     Vanalli ACG, Barham EJ. A demanda para políticas públicas adicionais para trabalhadores com filhos pequenos : o caso de professoras. Temas em Psicol. 2008;16(2):231–41.

 

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