Fariseus e publicanos
Por josé maria couto moreira | 04/03/2016 | CrônicasJosé Maria Couto Moreira*
Há muitos fariseus para poucos publicanos em nossa sociedade.
Seguidamente a imprensa mostra “estouros” de pontos do jogo do bicho, da sempre rica São Paulo ao mais distante e empobrecido burgo de nosso país.
Ora, leitores, esta ação eventual de nossa polícia, quando a própria não está nela envolvida, a exemplo da indevassável e sempre reincidente Cidade Maravilhosa, precisa ser descriminalizada, não por argumentos outros, mas pelo fato de o Estado estar reprimindo uma ação, dir-se-ia, quase inocente, em detrimento do custo deste serviço e do que é o mais importante para a comunidade como prevenir os latrocínios, os homicídios e abordagens de fato criminosas, ameaçadoras à nossa integridade física e ao nosso patrimônio.
O histórico e contumaz anarquista Fernando Gabeira propôs – e ainda defende – o que o outro Fernando, político e sociólogo, também teve a cachimônia de sugerir à alta consideração dos brasileiros: a descriminalização da maconha. Convenhamos que aí está um processo de suicídio lento a que seriam submetidos nossos irmãos e nossa pátria. A defesa da legitimidade do uso de um alucinógeno é o primeiro passo para a perda de nossa soberania e dos valores que sustentam nossa organização social.
Quanto ao jogo do bicho, esta modalidade de perseguição de prêmio financeiro é absolutamente igual às demais opções que o governo oferece e estimula a todos os brasileiros, quais sejam: as loterias estaduais, a loteria federal, a megasena, a sena, a loto e demais cartelas oficiais que tornam esse país um adorável e imenso casino. Porque não incluir o jogo do bicho, aliás uma modalidade genuinamente brasileira, tal qual a cachaça, como uma alternativa para os aficionados do jogo ? Se algum argumento possa existir de identificação de práticas criminosas que o jogo do bicho possa encobrir, façamos então como a legislação eleitoral agiu com os comunistas, isto é, aqueles que pregavam na clandestinidade um sistema de governo que colidia com os valores e princípios democráticos que todos defendemos, o que resultou na legalização do partido. Assim, a todos seria dado conhecer sua ação programática e os homens que a defenderiam, favorecendo o debate transparente e responsável das idéias.
É o que se pergunta sempre: porque não legalizar esta especulação a que se entregam, apaixonadamente, milhões de brasileiros ? Vamos então aceitá-la, organizá-la, tributá-la e oferecê-la como as demais loterias, o que virá a constituir-se em nova fonte de recursos caudalosos. Poderíamos direcionar a receita para a infraestrutura, atualmente tão sucateada, ou para a saúde, um serviço também precarizado, clamor diário dos que procuram seu bem estar. O que falta a esse país é livrar-se do farisaísmo que o acompanha desde a proclamação da República. É ele que impede, há muito tempo, que nosso país seja uma terra de práticas transparentes e legítimas, e os personagens que nos governam despertem para o desafio do futuro.
*Advogado