Famílias E Dramas
Por NERI P. CARNEIRO | 25/06/2008 | EducaçãoFamílias e dramas
Um filho agride o pai e o mata a facadas; um senhor reclama com o gerente do banco que está faltando dinheiro em sua conta, verificam as gravações de acesso ao caixa eletrônico e o homem vê seu filho sacando dinheiro de sua conta; o garoto fora criado e vivia com a avó. Mas numa noite, o rapaz fica irritado porque ela o proibira de sair com alguns colegas pouco recomendáveis, em reação ele a mata, estupra e rouba o dinheiro que ela acabara de receber, da aposentadoria... dentro do supermercado, uma criança de aproximadamente seis anos, pede algo ao pai, que diz não. O menino começa a gritar, rolar no chão e chutar as pernas do pai... depois de muito apanhar o pai compra o que o filho pedia...
Esses são só alguns exemplos aleatórios para falar de um desencontro que está se agravando. Um desencontro que tem o outro lado: pais e mães acovardados e que não estabelecem limites para as atitudes dos filhos. E assim, sem limites, os jovens se sentem donos do mundo.
Não vamos parar na hipocrisia de dizer que alguns pais também não sejam malandros. E sua malandragem incentiva a postura dos filhos. Entretanto, nos parece, o principal problema é a falta de "pulso firme" dos pais.
Mas não é só. Na ausência dos pais, estabelecendo normas e fazendo-as respeitar, outras instituições assumem esse papel. Quem está assumindo esse papel? Podemos resumir da seguinte forma: as crianças, direcionadas pela propaganda.
Os valores se inverteram de tal modo que hoje quem diz o que deve ou ao deve ser feito é a propaganda, para que a criança mande os pais comprarem. E, dessa forma, quem dá as ordens dentro do circulo familiar não são os pais, mas as crianças. E são assessorados pela propaganda que diz o tempo todo: "Compre! Mesmo que os pais digam não, compre!"
O que vale é a lei do mercado consumista: que compra sem necessidade. E assim os filhos cada vez mais, assumem o controle de tudo. E a coisa não vem de hoje; o problema é antigo e se agrava. Veja a letra desta música, de Tião Carreiro e Pardinho, dizendo que A vaca foi pro brejo:
"Mundo velho está perdido, já não endireita mais
Os filhos de hoje em dia já não obedece os pais
É o começo do fim, já estou vendo sinais
Metade da mocidade estão virando marginais
É um bando de serpente
Os mocinhos vão na frente, as mocinhas vão atrás...
Pobre pai e pobre mãe, morrendo de trabalhar
Deixa o coro no serviço pra fazer filho estudar
Compra carro a prestação, para o filho passear
Os filhos vivem rodando fazendo pneu cantar
Ouvi um filho dizer: O meu pai tem que gemer,
não mandei ninguém casar...
O filho parece rei, filha parece rainha
Eles que mandam na casa e ninguém tira farinha
Manda a mãe calar a boca, coitada fica quietinha
O pai é um zero à esquerda, é um trem fora da linha
Cantando agora eu falo: Terreiro que não tem galo
Quem canta é frango e franguinha...
Pra ver a filha formada, um grande amigo meu
O pão que o diabo amassou o pobre homem comeu
Quando a filha se formou, foi só desgosto que deu
Ela disse assim pro pai: "quem vai embora sou eu"
Pobre pai banhado em pranto
O seu desgosto foi tanto que o pobre velho morreu...
Meu mestre é Deus nas alturas, o mundo é meu colégio
Eu sei criticar cantando: Deus me deu o privilégio
Mato a cobra e mostro o pau; eu mato e não apedrejo
Dragão de sete cabeças também mato e não alejo
Estamos no fim do respeito
Mundo velho não tem jeito, a vaca já foi pro brejo."
Como deixamos chegar a esse ponto?
Ocorre que somos a geração pós década de 1960. Lutamos por liberdade e contra as tiranias. Uma delas era a tirania dos pais. Estávamos certos nisso.
Nosso erro foi não saber dar o passo seguinte. E aí, invertemos os papéis. Passamos a dizer que: "meu pai não me dava nada. Não serei assim com meu filho. Eu lhe darei tudo." Esquecemos, ou não nos demos conta, que a criança não quer tudo. Ela quer ser amada, mas como não sabe ainda, o que é certo ou errado, isso deve ser-lhe ensinado. E aos pais cabe isso. Os pais precisam aprender que estabelecer limites não é ser tirano. É uma forma de demonstrar amor.
Neri de Paula Carneiro – Mestre em Educação
Filósofo, Teólogo, Historiador
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