FAMÍLIA EM PROCESSO DE MODERNIZAÇÃO: Elementos para a concepção do discurso

Por jeane da silva ramos | 06/12/2016 | Família

O debate sobre família e sua relação com o processo de modernização, põe em discussão questões que representam elementos para o caminho dos contrates os quais estão condicionados o centro das relações sociais. A proposta deste artigo é apresentar análises de caráter reflexivo sobre a temática da família, numa perspectiva epitemológica, considerando como destaque o discurso da intergeracionalidade, sob a reflexão de importantes autores que se interessam por tal investigação, através de literaturas importantes ao objeto. Como viés para efetivação, torna-se proeminente analisar o sujeito enquanto ser social, o qual perpassa por contradições da vida moderna. Em primeiro momento são discutidas as bases conceituais acerca da modernização da sociedade e seus reflexos na convivência entre gerações. Em análises posteriores, a observação da divisão dos principais conceitos de família na atualidade, salientando a relevância da reflexão da dinâmica familiar relacionada à contemporaneidade.

Introdução 

 A elaboração deste estudo acerca da temática da família em seu processo de modernização caracteriza um momento propício para efetuar a análise do tema uma vez

*Doutoranda e Mestra em Família na Sociedade Contemporânea da Universidade Católica do Salvador (UCSAL). Assistente Social (UNIME), especialista em Gerontologia (UCSAL), Gerente do Núcleo de Assistência e Assessora da Presidência do Abrigo do Salvador, instituição de assistência ao idoso. 

que, os campos acadêmicos – científicos retomaram essa discussão em face da solidez de uma incorporação da concepção de transição dos padrões de família difundidos na sociedade. Fazendo um breve relato histórico da discussão, Barros (2006) em seu livro intitulado Família e Gerações afirma que o recomeço das práticas de sua análise no âmbito sociológico expandiu-se a partir da década de 1960, reiniciando sua caminhada pelo século XX, ampliando a partir de então informações relevantes para compreensão do discurso.  

Mesmo perante a complexidade, hoje no século XXI o tema família está na pauta das discussões centrais, focando basicamente na análise dos seus novos moldes e efeitos na sociedade, partindo da ideia de que os principais atores sociais que lidam com as consequências dessas mudanças envolvem uma conjuntura abarcada por questões intergeracionais, de gênero e de papéis sociais (BARROS, 2006). 

Merece destaque o método de análise acerca da modernização da família realizado por Donati (2008), o qual afirma que tais pontuações originaram-se das críticas de um número significativo de “estudiosos, sociólogos, psicólogos e teóricos” (p.29) que acreditam ser pouco provável que não haja uma perda da sua centralidade, pois, diante de diversos acontecimentos contraditórios dessa instituição, dificilmente a família terá os contornos bem delineados e representará o centro das relações sociais. 

Em contraposição a essa demanda, Donati (2008) afirma que mesmo diante dessas mudanças a família está se adequando e se adaptando à realidade ainda que muitas vezes aparente estar enfraquecida, sendo assim, sobrevivendo às transformações decorrentes desse processo. Destaca ainda que os problemas da sociedade se originam das relações sociais e não individuais logo, no âmbito da família essas relações estão presentes e podem ser redefinidas, princípio da sua Teoria Relacional. 

Nas investigações sobre a problemática da intergeracionalidade, pensar a pluralidade da família na sociedade contemporânea requer uma análise mais sucinta das principais mudanças ocorridas em sua composição ao longo do processo histórico de modernização, decorrente da industrialização e urbanização da sociedade (GIDDENS, 1991), para que assim, haja possibilidades de compreensão da família nos dias atuais.

 Contudo, este ensaio não possibilitará analisar todas as mudanças ocorridas no âmbito da família, pois, a mesma possui peculiaridades que requer nas, palavras de Eco (2012) uma profunda reflexão crítica, cabendo à observação de que não existe conceito único de família, justamente pelas grandes contradições inseridas neste contexto. Partindo desse viés, em primeiro momento será feita uma abordagem das principais teorias que implicam no tema família e a convivência geracional, sustentando a ideia de que cada autor a ser mencionado possui uma concepção de sociedade, de família e relações sociais com seus “contornos teóricos sólidos” (HAGUETTE, 1992, p.21). Em segundo momento serão analisados os principais reflexos dessa mudança e em terceiro e último período, as considerações finais sobre essa nova contestação dos conformes de família. 

Breve percurso do debate sobre família, modernização e intergeracionalidade   

Levantar discussões sobre a família em processo de modernização tendo como importante reflexo a questão geracional, nos dias de hoje, vem acompanhado de uma representatividade pela tomada da análise do tema no século vigente. Contudo, decorre seguido de uma série de confrontos com a interpretação desta instituição.

 O primeiro ponto que acredita ser relevante para compreensão desse discurso de mudança é, a priori, a realização de uma análise do conceito de cultura nas ciências sociais explicada por Bauman (2012), onde alcança uma forma de compreensão deste assunto que vem acompanhado de maneira contraditória na sociedade, mas se fazendo necessário uma leitura com mais intensidade, pois, a forma como Bauman (2012) enxerga a temática é bastante oportuna para analisar o debate.

 

Nas reflexões de Bauman (2012) há uma forte tendência em perceber que houve um processo de desconstrução do conceito de cultura na sociedade resultante da fragilização do mundo moderno, afirmando que a sociedade constituída pelos homens não possuem a cultura de dar continuidade ao passado, para ele, há uma necessidade do homem se renovar. A própria sociedade se permite adentrar num processo de desarticulação para se rearticular.   

A família do século XXI está em constante mudança, os quais envolvem questões sociais, culturais, simbólicas e ideológicas que representam, na visão de Boudieu (2010), uma forma de dominação da realidade em suas relações sociais. Essa afirmativa pode ser complementada por Haguette (1987) onde põe em evidência que a “A ação social é fundamental na configuração da sociedade” (p.20), ou seja, a ação do homem na sua coletividade de certa forma repressora determina os acontecimentos sociais. Considerar essas mudanças numa perspectiva funcionalista durkeiminiana implica de imediato na contraposição desse contexto, em termos, análises para questionamentos posteriores. 

Existem alguns autores como Villadrich (1987, p. 93) que traça um paralelo entre as famílias dos séculos passados com a família que está em processo de modernização, o mesmo afirma que essas mudanças soam de forma negativa para a sociedade, deixando claro que esses “novos” padrões terão como consequência a perda da identidade humana uma vez que,

A família era imprescindível nas sociedades do passado porque cumpriam nelas importantes funções militares, políticas, econômicas, religiosas, educativas, sanitárias, de prestação de serviços e segurança nacional e, por excelência, era a única unidade reprodutora da espécie com caráter estável e institucional. Através da família se transmitiam profissões, funcionando como uma escola de artes de ofícios, os laços de família foram suportes para alianças políticas, sociais, econômicas e culturais. Nas sociedades avançadas modernas, um grande número de instituições, tanto privadas como públicas, substitui a família nessas funções ‘históricas’. O atual desenvolvimento tecnológico, que permite controlar artificialmente o processo reprodutor humano, terminou com a última das funções da família, a de ser uma unidade de produção insubstituível. Não cumprindo nenhuma função, a família nas sociedades do futuro só poderá ser um anacronismo residual.   

Pode-se perceber que as considerações de Villadrich (1987) explica o que Bourdieu (2012) denomina de cultura dominante, onde a sociedade tem que seguir as regras impostas pela sociedade de classe, do contrário, sofrerá grandes conseqüências.  A família moderna dentro desse contexto é uma explicação a isso e pode ter uma forte tendência ao desaparecimento.

Sobre essa cultura dominante, Bourdieu (2010, p.11) diz que: 

É enquanto instrumentos estruturados e estruturantes de comunicação e de conhecimento que os sistemas simbólicos cumprem a sua função política de instrumentos de imposição ou de legitimação da dominação, que contribuem para assegurar a dominação de uma classe sobre outra (violência simbólica) dando o reforço da sua própria força às relações de força que as fundamentam e contribuindo assim, segundo a expressão de Weber, para a domesticação dos dominados.

É dentro desse processo de conceituação e ditames da família que entram as questões pontuais, de determinações e caracterização da família a qual uma recente discussão está atrelada ao âmbito das questões econômicas analisadas por Salles (1992) e através dessas “nomeações” vem o exame acerca do conceito geracional.

O significado da palavra geracional relaciona-se com a questão das gerações, um dos importantes fenômenos que reflete a mudança na estrutura da família.  Em destaque ao fator dessa questão geracional é o envelhecimento populacional que por sua vez é uma realidade já constatada em esfera mundial, reflexo do processo de modernização da sociedade e nela a questão da família.  Entende-se como intergeracionalidade o momento em que as principais gerações de família convivem entre si, basicamente os pais, os filhos, os avós e os netos (BARROS, 2006). 

Hoje é possível coexistir com as diferentes gerações, a expectativa de vida aumentou de 35 anos início do século XIX atravessando século XX, para 65 anos no século XXI. O controle das taxas de natalidade e mortalidade, o avanço tecnológico, a medicina no tratamento e prevenção de doenças, os métodos contraceptivos e a mulher no mercado de trabalho marcam esse processo (SARTI, 2010).

No que se refere às gerações de idosos dentro do âmbito familiar pode-se ter afirmativas que os mesmos sofrem sem dúvida com a questão intergeracional, destacando a sua resistência da aceitação do presente, pois, os tempos são outros, não são como descritos por Bosi (1994) sobre lembranças de um Rio de Janeiro que só ficará apenas nos pensamentos, ainda existe a condição de ser compreendido com todas as limitações da idade e principalmente a aceitação de pessoas com gerações posteriores a exemplo os filhos e netos.

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