Família 5 - Os Novos Jeitos De Ser Família
Por Josué Ebenézer de Sousa Soares | 30/12/2006 | BíbliaPensando na família como sendo uma instituição milenar, não podemos deixar de avaliar suas transformações ao longo dos séculos. É sabido que várias mudanças se fizeram perceber ao longo da história. Da antiga família de gerações, em que prevaleciam os interesses do clã, passamos a ter uma família de esposos. Da antiga família patriarcal, onde a figura masculina era preponderante, passamos a ter uma família de parceiros, em que as idéias são compartilhadas. De uma família numerosa, que atendia aos interesses econômicos do clã, vimos originar-se uma família de poucos filhos. De uma família de posse, proprietária de terras passou a existir uma família de assalariados. A família de produção deu lugar a uma família de consumo; a família de trabalho, a uma de tempo livre; e a família estático-estável, a uma dinâmico-móvel.
Assim sendo, o "ser família" em nossos dias, difere em muito dos modelos que a sociedade viu surgir e transformar-se ao longo dos anos. E hoje? Como está a família nestes tempos? O fato é que, como instituição, a família está em constante processo de revitalização, adequando-se aos novos tempos. O que estes novos tempos sinalizam acerca da família? Nem tudo o que a gente percebe hoje, em termos das novas formas de ser família, significa algo bom. Todavia, precisamos estudar estes sinais para compreendermos para onde caminha o futuro da família.
A questão da "amizade colorida"
Se as perturbações morais de nossos dias apontam para aberrações do tipo: casamentos de homossexuais; "paternidade" e "maternidade" gays; direito a herança para companheiros de mesmo sexo que comprovadamente coabitaram; - tudo isto dentro de uma "normalidade" moderna que fere frontalmente os princípios cristãos -, vamos perceber que condenar tais práticas foge ao que a sociedade se acostumou a chamar de "politicamente correto". O próprio Conselho de Psicologia do Brasil retirou o homossexualismo de sua lista de doenças, sujeitando qualquer indivíduo que queira internar alguém para tratar-se, às penas da Lei. Muitas Igrejas e crentes evangélicos se assustaram com o Novo Código Civil que entrou em vigor em janeiro de 2003, o qual reposiciona várias questões importantes para as Igrejas. Todavia, no que tange à matéria de cunho doutrinário, para os cristãos bíblicos sempre valerá sua moral cristã, resguardada a separação entre Igreja e Estado, prevalecente
Nenhuma Igreja será obrigada a aceitar em sua membresia pessoas com comportamentos sexuais claramente anti-bíblicos. No entanto, não podemos estar de olhos fechados à esta realidade, pois, por certo, daqui para a frente, vamos nos deparar com mais regularidade com situações deste tipo. A Igreja deverá agir com sabedoria, procurando investir na recuperação das pessoas, porém, sem concordar ou ser conivente com seus pecados.
Um fato que queremos destacar neste tópico é o que se convencionou chamar na década de 90 passada de "amizade colorida", ou seja, um tipo de relacionamento pretensamente conjugal em que o indivíduo, interrogado se era casado, respondia: "não sou casado, eu estou casado". Entre "ser casado" e "estar casado" havia uma grande diferença... Não que neste tipo de relacionamento, não houvesse respeito, interesse, compartilhamento etc. A questão era que o item compromisso sofria um esvaziamento enorme, podendo tal relacionamento ser rompido sem maiores conseqüências.
A "amizade colorida" representava uma certa afinidade, troca de interesses, vivências, mas algo muito superficial quando comparada aos casamentos tradicionais. Uma marca deste tipo de relacionamento foi a opção dos parceiros em manter suas residências de solteiro, encontrando-se na casa de um ou de outro, apenas quando havia interesse mútuo.
É claro que este tipo de relacionamento descompromissado, contrapõe-se ao casamento como instituição e contribui para o seu esboroamento. Assim sendo, a Igreja não pode legitimar tais práticas, porém, deve estar preparada para enfrentar tais situações encontradiças em nossos dias.
Amigado ou juntado e sem papel passado
Outro modelo de relacionamento muito encontrado em nossa sociedade - este, mais antigo - é o de casais que vivem juntos, na condição que se acostumou chamar de "amigado" ou "juntado". Decide-se viver junto, passa-se por cima das conveniências por diversos fatores (irresponsabilidade, carências econômicas, desvios de percurso, transgressão às regras sociais) e, depois que se pula neste barco, acostuma-se a situação e não mais lembra-se ou deseja-se mudar o quadro.
Até bem pouco tempo as Igrejas prestavam grande contribuição social ao, disseminando o Evangelho e alcançando casais nestas circunstâncias, paralelamente a recomposição de sua vida espiritual contribuir para os ajustes necessários à boa ordem social. Estes casais que viviam numa situação irregular, recebiam toda a cobertura da Igreja para ajustar-se perante a Lei. Os tempos passaram e a situação mudou. Primeiro, foi a evolução da interpretação da Lei que passou a reconhecer uniões estáveis, com mais de três anos de convivência, para fins de indenização, pensão ou herança. Depois foi surgindo uma regulamentação da situação e uma flexibilização das cobranças sociais sobre os indivíduos que assim procediam. Até que a questão caiu num total desinteresse social, dentro do esfacelamento dos valores éticos, passando a ser vista como normal.
Tal concepção, porém sempre esteve à margem da interpretação bíblica ou do reconhecimento cristão de que assim devesse se proceder. Muitas igrejas flexibilizaram e passaram a aceitar em seu rol de membros, gente "amaziada" - este é outro termo utilizado - gerando desconforto para as outras que primavam por só efetivar o batismo de um neo-converso quando o mesmo regularizasse sua condição civil. É aqui que reside todo o problema: quando a Igreja faz concessões por motivos outros que não a grandeza do Reino de Deus, ela põe a perder o que o cristianismo tem de mais importante que são seus princípios redentivos, que conduzem o ser a uma total recuperação de sua vida, após uma experiência de conversão, "o tudo que se faz novo" (2Co 5.17).
Tal procedimento teve início nas comunidades carismáticas e em outras igrejas que primam mais pela experiências extáticas de religiosidade, sem se preocupar com a ética comportamental. Mas hoje, já se espraiou no meio das chamadas igrejas tradicionais. Há inúmeros casos de gente aceita por aclamação ou mesmo por batismo nas igrejas, estando ainda numa situação civil irregular. Faz-se este ajuste por conveniências do tipo: Ela é descendente de militar e se casar perderá a vultosa pensão a que tem direito. Ou seja, por interesses pecuniários, sociais, familiares, culturais, abre-se mão de princípios. Há quem propugne sobre uma revisão nesta forma de pensar. Nada impede um estudo minucioso do assunto, principalmente focando a realidade dos tempos modernos, mas não se pode perder de vista nosso compromisso primeiro com a Palavra de Deus.
Casamento de fachada: A convivência entre matriz e filial
Evento muito difícil e constrangedor em nossos dias é a grande incidência de casamentos de fachada, em que já não se vive mais plenamente à relação conjugal, mas mantém-se o casamento pois, na balança entre perdas e ganhos, o lucro será maior em manter a situação como está, do que romper de vez. Situações como estas têm como causa, o esfriamento do amor; a rotinização do casamento; as lutas da vida; a diminuição do apetite sexual por parte de um dos parceiros; motivações econômicas etc. Com o passar do tempo, os longos anos de convivência, a batalha pela criação de filhos, o envelhecimento e, em muitos casos, certo despreparo para a vida ou um descuido em manter constante alimentação da vida a dois, faz com que muitos casamentos estejam sobrevivendo apenas como forma de dar uma satisfação à Igreja ou à Sociedade.
É de se refletir sobre a validade de tal procedimento. Quem lucra e quem perde com tal embuste? Daí a importância de se ter uma assistência por parte da Igreja através de ministérios específicos que cuidem da família, do cuidado pastoral em aconselhamento e edificação dos lares e do incremento da recorrência a terapia familiar especializada quando isto se fizer necessário. Tudo isto, porque, à revelia do nosso interesse e vontade, nossas igrejas estão cheias de casais vivendo em situação semelhante.
Não só isso! O passo seguinte é o mais assustador. Quando não se está experimentando a plenitude do casamento, da vivência conjugal, e, percebendo-se o passar dos anos, muitos indivíduos partem para a busca de um terceiro que venha a satisfazer seus desejos mais particulares de carinho, aceitação, compreensão, afeto e quejandos que, com os desgastes do casamento, seu cônjuge já não mais lhe propicia. É quando a intromissão desse intruso no casamento provoca iras, revoltas, dissensões e dissabores cujas conseqüências, sobre o casal e os filhos, não se pode aquilatar com certeza, tal o volume do estrago que faz.
Em geral tal prática - recurso do amante para desafogo de carências - é mantida em segredo pelo tempo em que se puder manter tal situação; embora a Bíblia afirme que "não há nada encoberto que não haja de ser revelado" (Mt 10.26). Porém, quando descoberto, tende a provocar duas situações mais imediatas: Primeira, ruptura do casamento com todas as conseqüências previsíveis de desgastes e incompreensões, contendas e desditas. Segunda, fingimento e hipocrisia, principalmente por parte da mulher que - sem a cobertura da sociedade, por questões econômicas, criação de filhos, "dependência" do marido -, aceita tais imposturas.
Infelizmente trata-se de um fato social mais corriqueiro do que é de se desejar. A igreja, porém, deve ser firme e segura quanto a condenação do adultério, pois o mesmo é abundantemente condenado em toda a Bíblia (Ex 20.14; Lv 20.10; Jó 24.15; Mt 5.27; Rm 7.3; 1Co 6.9; 2Pe 2.14).
O projeto original de Deus
O modelo de família de Deus para a humanidade e, mais especificamente para os seus filhos, é o modelo de relacionamento responsável, união estável, amor conjugal, interesse mútuo, paternidade e maternidade responsável, participação solidária na vida familiar.
No projeto original de Deus, sua percepção de que não era bom o homem estar só, o leva a formar a mulher, com o propósito de que esta viesse a ser sua companheira, sua ajudadora (Gn 2.18-25). Daí se originaram os primeiros filhos. Estava formado o primeiro núcleo familiar no mundo, dentro dos padrões de Deus.
A família que nasce em Deus, é uma família voltada para a satisfação do ser: "Não é bom que o homem esteja só" (Gn 2.18). Esta constatação, por si só, evidencia que Deus estava interessado no bem estar da sua criatura. Família, portanto, surgiu para trazer satisfação, complementação, ajuste, prazer, alegria, plenitude e todos os outros sentimentos inerentes a própria condição de ser família. Ou seja, família é para ser bênção segundo a intenção original de Deus. Daí, os servos do Senhor não deverem se contentar com nada menos que uma família bem estabelecida, ajustada, onde reine a paz e o amor. Se não experimentam esta realidade por algum motivo circunstancial, devem lutar diante de Deus, corrigir seus erros (2Cr 7.14) e arrependidos procurar elevar a sua família à condição original para a qual Deus a estabeleceu.
No plano divino a família é formada de um só parceiro/a, por isso Deus providenciou apenas uma companheira para Adão (Gn 2.18) e recomendou que os líderes fossem maridos de uma só mulher (1Tm 3.2). Ele estabeleceu que o casamento fosse o lugar para procriação e que o casal teria essa tarefa de povoar a terra (Gn 1.28). Estabeleceu que o relacionamento entre marido e mulher seria de submissão, por parte dela (Ef 5.22) e amor, por parte dele (Ef 5.25). Ele definiu que os filhos são bênçãos, heranças, do Senhor (Sl 127.3-5) e que por isso, os pais deveriam zelar por eles, aplicando disciplina, se necessário, com amor (Ef 6.4). Também definiu que os filhos fossem obedientes a seus pais (Ef 6.1) e que a eles deveriam honrar, prometendo longevidade para aqueles que assim procedessem (Ex 20.12). Qualquer constituição familiar que fuja a este padrão divino é pecado, pois contraria frontalmente a intenção de Deus, caracterizando-se como desobediência aos seus ensinamentos. Todo servo de Deus deve primar por uma família dentro dos padrões divinos.
Se necessário, a família deve optar pelos ajustes, mas nunca incorrer em embustes, fugindo daquilo que é recomendado pelas Sagradas Escrituras. O servo do Senhor quererá agir e viver em conformidade com a vontade de seu Deus.
Aplicações para a vida
Algumas considerações finais sobre como ser família hoje dentro dos padrões de Deus:
1ª) A família deve reconhecer os desajustes de nossos dias - Não podemos ignorar as realidades à nossa volta. Reconhecê-la é a melhor maneira de prevenir e ajudar.
2ª) A família precisa rejeitar o pecado sem discriminar o pecador - Convivemos com pessoas das mais diversas formações e concepções. Podemos conviver socialmente com todos, respeitando e agindo com maturidade, sem, contudo, ser conivente com o pecado ou ter que segregar alguém.
3ª) A família deve prevenir-se do mal vivendo em amor - Uma união sólida, respeitável, onde se construa uma família com bases espirituais, em amor e santidade, será condição para prevenir-se dos ataques de Satanás.
4ª) A família precisa sempre querer saber a vontade de Deus - A aprovação divina para nossa maneira de ser família deve ser buscada constantemente, com sinceridade e devoção.