Fahrenheit 451

Por Vera Lucia Rebonatto | 08/11/2016 | Resumos

Obra de ficção científica do autor americano Ray Bradbury, Fahrenheit 451 foi publicado originalmente em 1953 e reimpresso pela editora Globo em 2003.  Ray Bradbury também é autor de livros como “Algo Sinistro Vem por Aí” e “As Crônicas Marcianas”. Em Fahrenheit 451 o autor descreve uma sociedade futurista proibida de ter acesso a livros. A lei sancionada pelo autoritarismo – representado pelo personagem Beatty – oprime a leitura com bombeiros que não combatem incêndios, mas que queimam livros e com eles, se for o caso, pessoas que não querem respeitar a imposição a uma temperatura de 451 graus da escala Fahrenhait – aproximadamente 230 °C.

É protagonista na história o bombeiro Guy Montag que começa a questionar o sistema depois de conhecer a jovem Clarisse McClellan, que lhe incentivou a leitura contrariando as leis. O bombeiro foi denunciado às autoridades e à própria corporação pela esposa, alienada aos meios de comunicação que não aguentou a pressão de ter livros escondidos em casa. A perseguição inicia e Montag parte para um lugar que Clarisse havia comentado onde viviam “pessoas livros” – pessoas que decoravam livros impossibilitando assim que a informação fosse queimada porque acreditavam que voltaria um tempo em que a informação circularia livremente entre a humanidade.

Para não deixar os expectadores do sistema, que acompanhavam o desdobramento da trama como se fossem realitys shows, desapontados as autoridades dão clímax a perseguição apreendendo um indivíduo sem mostrar o rosto. Montag acompanha a própria perseguição que prova a alienação das pessoas a um sistema que começou com o contestamento de minorias contra livros que ofendiam. A sociedade não aceitava mais opiniões diferentes e, por isso decidiu destruí-los, pois era mais fácil aceitar a imposição do que encarar a realidade.

Com a publicação da obra Ray Bradbury critica o autoritarismo não só governamental, mas também midiático que manipula a população tornando-a ignorante. Seria mais fácil o domínio psicológico apelativo a sentimentos fictícios como, por exemplo, a vida novelesca, do que investir em formação intelectual. Uma vez que a população refém dos meios de comunicação, com informação controlada pensaria menos não interferindo no sistema capitalista da pós-modernidade iniciado por volta de 1950 – época da primeira publicação do livro.

A época também data a civilização da imagem e o início da Pós Modernidade, impulsionado principalmente pela invenção do microprocessador, tido como um mundo coisificado em que os objetos são protagonistas e não mais o homem. Homem e consumo relacionam-se, como defende Mássimo Canevacci, a tecnologia passa a tornar-se parte do homem na cultura digital num processo chamado simbiose em que o objeto passa a ser extensão do homem, a teoria é também defendida por Marc Augé.

A obra descreve aspectos de uma sociedade futurista, onde objetos passam a ter um valor maior do que lhe é comum e os humanos aceitam as leis impostas pela sociedade. Apresenta a Sociedade da Informação, marcada pela conectividade generalizada – conforme André Lemos que também afirma que a perseguição da humanidade está associada ao crescimento da artificialização do mundo e a colocação em disponibilidade de cada vez mais escolha informativa. Desse modo os personagens de Ray Bradbury enfrentavam uma sociedade bombardeada de informações tendo que selecioná-las, decepcionando-se com muitas realidades e, por isso apegando-se a realidades fictícias ou distantes como novelas e realitys shows. A obra é recomendada para uma análise metafórica em que a queima de livros pode ser atribuída à informação censurada.

REFERÊNCIAS

 BRADBURY, Ray. Fahrenheit 451. Rio de Janeiro: GLOBO.

Vera Lucia Rebonatto - Jornalista