FÁBULAS: A FICÇÃO NO PROCESSO DE CONSTRUÇÃO CRÍTICA...

Por teoniza leite amorim | 08/06/2017 | Educação

FÁBULAS: A FICÇÃO NO PROCESSO DE CONSTRUÇÃO CRÍTICA DO LEITOR EM SALA DE AULA À LUZ DA PSICANÁLISE.

Introdução

Este trabalho apresenta uma reflexão sobre „‟Fábulas: A Ficção no Processo de Construção Crítica do Leitor em Sala de Aula á Luz da Psicanálise‟‟- e reflete sobre a importância do trabalho que o professor pode desenvolver, priorizando o uso da leitura e da escrita de textos em sala de aula. Sendo assim, a proposta deste trabalho é analisar a contribuição da psicanálise perante as fábulas na formação de leitores críticos na sala de aula do ensino fundamental, buscando compreender se essas práticas ajudam a formar o aluno leitor.
Dessa forma, o interesse em pesquisar as fábulas (gêneros textuais) surgiu da minha prática escolar como pedagoga, hora atuando como orientadora educacional e coordenadora pedagógica e, como já trabalho com a diversidade de gêneros textuais tive então, a curiosidade em saber como os gêneros podem ajudar o professor a construir o leitor crítico e a motivar os alunos do ensino fundamental para a leitura.
Como suporte teórico para a investigação do nosso objeto de estudo, recorreremos a teoria bakhtiniana dos gêneros do discurso e a análise e critica literária de autores que estão inseridos neste contexto, tais como: Afrânio Coutinho, Nelly Novaes Coelho, Maria das Graças Vieira, Rogel, Samuel, Hênio Tavares,Vicente de Paula Ataíde, Paulo Freire, Luis Antonio Marcushi, Ezequiel T. Silva, Monteiro Lobato, Kleiman, Freud, Jung, Lacan, entre outros que constituem referências indispensáveis a quem se propõe estudar a fábula como representação das criações ficcionais e literárias.
Para o desenvolvimento deste trabalho optamos por uma metodologia que leva em consideração os aspectos qualitativos, por considerá-lo relevante para as pesquisas realizadas na área das Ciências humanas e ainda possibilitar a descrição e a análise das práticas educativas dos professores relativas à utilização dos gêneros textuais em sala de aula. Entendemos que:
Ela se preocupa, nas ciências sociais, com um nível de realidade que não pode ser quantificado. Ou seja, ela trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis (MINAYO, 1994, p.49).
Porém, inicialmente, esta pesquisa pode ser classificada como bibliográfica, na medida em que buscou maior aprimoramento a respeito do tema abordado por meio de pesquisa e leitura feita em livros, periódicos, textos e artigos disponibilizados na internet. Para tanto, foi utilizado contribuições de estudiosos que possibilitaram à construção de conhecimentos relevantes à prática educativa no que diz respeito às teorias sobre leitura e gêneros textuais.
Conceito de texto e gênero
Atualmente, os conceitos utilizados para definir texto, ao contrário do pensamento tradicional difundido pela gramática normativa, orientam-se sob uma visão enunciativa e ou comunicativa na qual se busca ensinar os usos da linguagem ao invés de análise da língua. Texto (do latim textus, tecido) é toda construção cultural que adquire um significado devido a um sistema de códigos e convenções: um romance uma carta, uma palestra, um quadro, uma foto, uma tabela são atualizações desses sistemas de significados, podendo ser interpretados como textos. (KLEIMAN e MORAES,1999, p. 62).
Os textos organizam-se “a partir de natureza temática, composicional e estilística, que os caracterizam como pertencentes a esse ou aquele gênero. Desse modo, a noção de gênero, constitutiva do texto, precisa ser tomada como objeto de ensino” (BRASIL, 1998, p. 23).
Por isso, a riqueza e a diversidade dos gêneros do discurso segundo Bakhtin (2010, p.262)
‟são infinitas por que são inesgotáveis as possibilidades da multiforme atividade humana e porque em cada campo dessa atividade é integral o repertório de gênero do discurso, que cresce e se diferencia à medida que se desenvolve sua complexidade num determinado campo.
Assim, vale salientar a grande heterogeneidade dos gêneros do discurso sejam eles orais e ou escritos. Para Marcuschi (2003, p.3 - 4) “os gêneros textuais manifestam-se através da oralidade e da escrita, sendo materializados através de situações comunicativas recorrentes”. Na visão do autor, são os textos que circulam em nossa vida cotidiana com padrões sócio-comunicativos característicos definidos por sua composição, objetivos enunciativos e estilo concretamente realizado por forças históricas, sociais, institucionais e tecnológicas.
Nos Programas Curriculares Nacionais de Língua Portuguesa – PCNLP, a noção de gênero refere-se, assim, a famílias de textos que compartilham características comuns, embora heterogêneas, como visão geral da ação à qual o texto se articula, tipo de suporte comunicativo, extensão, grau de literalidade, por exemplo, existindo em número quase ilimitado (BRASIL, 1998, p.22).
Dentre os inúmeros gêneros que circulam entre nós, podemos destacar: reportagem jornalística, canção, conto, telegrama, fábula, bilhete, receita culinária, curriculum vitae, bula de remédio, e-mail, artigo de opinião, poema, piada, carta,, aula expositiva, rótulos, lista de compras e assim por diante. Esses são apenas alguns exemplos. Desse modo, tendo em vista que esses textos são instrumentos comuns ao relacionamento das pessoas no dia a dia, temos de considerar outro fator de extrema relevância na atividade social: o contexto.
Quando contextualizamos o conhecimento, as informações transmitidas adquirem sentido mais amplo, o que possibilita maior assimilação dos conceitos abordados. Os gêneros não são enfocados apenas pelo viés estático do produto, mas principalmente pelo viés da produção. Isso significa dizer que a teoria estreita correlação entre os tipos de enunciados (gêneros) e suas funções na interação sócioverbal entre os tipos e o que fazemos com eles no interior de uma determinada atividade social: o contexto.
Segundo Faraco (2009, p.127), Bakhtin conceitua gêneros do discurso os tipos relativamente estáveis de enunciados que se elaboram no interior de cada esfera da atividade humana”. Face aos enfoques tradicionais da questão dos gêneros que privilegiavam as formas em si e chegavam a operar normativamente sobre sua reedificação, algumas observações são relevantes. Ao dizer que os tipos de gêneros são relativamente estáveis, Bakhtin (2010, p.127) enfatiza “a importância da historicidade dos gêneros e à necessária imprecisão de seus caracteres”. Historicidade significa chamar a atenção para o fato de os tipos não serem definidos de uma vez para sempre. Assim, o repertório de gêneros de cada atividade humana vai diferenciando-se e ampliando-se à medida que a própria esfera social se desenvolve e fica mais complexa. Assim, Faraco (2009, p.128) comenta que Bakhtin articula uma compreensão dos gêneros que combina estabilidade e mudança; reiteração (à medida que aspectos da atividade recorrem ) e abertura para o novo ( à medida que aspectos da atividade mudam). Desse modo, o gênero renasce e se
renova em cada etapa do desenvolvimento da literatura e em cada obra individual de certo gênero. É isso que constitui a vida do gênero.
Portanto, o gênero é um representante da memória criativa no processo do desenvolvimento literário e que precisamente por isso, o gênero é capaz de garantir a unidade e a ininterrupta continuidade de seu desenvolvimento, pois, os gêneros são considerados instrumentos de medir e de dar forma as produções de textos, viabilizando a materialização de uma atividade de linguagem. Além de conteúdos internos aos próprios gêneros, a própria seleção dos gêneros que deverão ser abordados ao longo das séries ou ciclos escolares possibilita a elaboração de uma progressão curricular mais articulada, algo praticamente inexistente nas escolas. Assim, considerando as diferentes culturas e comunidades existentes, os gêneros textuais ou discursivos utilizados para este fim dependerão das instituições sociais que os propõem ou exigem, isto é, cada gênero representará um contexto social determinado.

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