Extrema Desordem

Por Roque Aloisio Weschenfelder | 09/09/2006 | Poesias

A cama dorme um sono vazio,
os sonhos rondam berços infantis,
fantasmas desempregados
vagueiam na rua sem luzes.

Gritos ouve a lua,
medo sentem as Três Marias
e as Plêiades assustadas
ficam bem juntinhas.

Sopram ventos do norte.
Nuvens vestidas de branco
vêm em socorro dos astros,
encobrem a visão desolada.

Úmidos vapores escurecem
as vestes de noiva das nuvens.
Setas fogosas ferem os ares,
soltam os cúmulos terríveis lamentos,

Correm os fantasmas molhados,
gritam impropérios na noite.
Os berços imploram desolados
enquanto a cama toda se acorda.

Os lençóis fogem espavoridos
de fronhas e cobertores;
esquecem que, ainda há pouco,
suportaram carinhos e amores.
   
Saio em busca de mim.
Devo estar em algum lugar!
A noite, por certo, me esconde
para evitar que fácil me encontre.

Não posso ficar longo tempo perdido.
Preciso cumprir minha sina.
A vida é uma menina
que logo irá, novamente, acordar.

Como a noite é teimosa!
Insiste no ocultar das verdades.
Saio em busca do dia
ainda envolto em trevas fechadas.

Nada de mim está em tudo
e tudo de mim está no nada!
A busca perdura sempre
e o tempo se ri da ousadia.

Escorrem das telhas pedaços de nuvens;
levam embora lembranças tristonhas
de cruzeiros valiosos gastos em reais
na plêiade de muitas fugazes marias.

Os pobres fantasmas molhados
também não se encontram.
Talvez esteja entre eles
o eu perdido de mim.

O vento soberbo se arruma,
aos poucos ajeita a ordem.
Apaga as setas de fogo
e cala o retumbar dos vácuos.

A Lua desvenda a cara de prata.
Três Marias, Plêiades e Cruzeiro
riem de um astro perdido
por medo de um simples temporal.

Aos poucos descubro o lugar
em que posso me encontrar.
Sou um simples astro vazio
sem brilho, sem fama, nem par.

Enfim descobri meu endereço.
Com potente e terrível atração
um obscuro duvidoso objeto:
Buraco Negro fatal!