Experiências e contribuições de atuar no projovem urbano

Por GILSON MARCOS PAGES | 02/02/2012 | Educação

Atuar no Projovem Urbano é uma experiência única. Além do exercício da prática docente, o programa proporcionou importante papel em minha formação, tanto do lado profissional quanto para a formação humana, pelo fato de vivenciar e compartilhar novas experiências paralelas à práxis docente.
Sendo assim, uma vez engajado no referido projeto, somos condicionados a desenvolver nosso espírito crítico e responsável, de forma que, paulatinamente vão se construindo valores, como compromisso e envolvimento, ao tempo que nos ajuda a enxergar uma realidade que vai bem mais além dos limites da docência, refiro-me aqui, à formação pessoal e cidadã do indivíduo, a qual é um dos focos principais destacados no projeto.
Do ponto de vista mais geral, o Programa traz uma abordagem sistêmica para o nosso fazer educação, uma vez que aponta reflexões significativas, repensar o ensino, a formação do cidadão(ã), o aspecto político-pedagógico, o ensino de várias ciências e a sociedade em mudança, novas tecnologias (informática), a Qualificação Profissional e a Participação Cidadã.
Nesse sentido, o Projovem Urbano me fez ter uma visão de mundo maior, não somente pelo fato de ensinar, mas sim de poder aprender também junto com os alunos, pois a cada dia novas experiências e novas aprendizagens no cotidiano das aulas, nos debates, nos textos trabalhados, nas aulas de P.O, o envolvimento dos temas trabalhados, como disse o saudoso Guimarães Rosa que
"mestre não é somente aquele que ensina, mas que de repente aprende".
Importante que os alunos se mostraram por inteiro, não só nos seus conhecimentos cognitivos, mas puderam compartilhar seus saberes e vivencias diárias mantendo uma relação de respeito, a partir das diferenças, dos problemas e dos conhecimentos próprios. Como diz Paulo Freire, que Educar:
"Exige respeito aos saberes dos educandos e a possibilidade de associar as disciplinas estudadas as suas realidades concretas".
Cabe ressaltar que cada um em particular, valorizando a sua participação, incentivando a sua contribuição para o grupo e reconhecendo a sua própria aprendizagem. As dificuldades podem ser superadas com diálogo, atenção, compreensão e paciência. Lembre-se de que, na maioria, estes jovens estiveram fora da escola por algum tempo.
Nesta trajetória do Projovem Urbano muitos alunos entraram no programa para dar continuidade na sua jornada no mundo do ensino, mas por algum motivo não deu seqüência nesta caminhada e mesmo assim serão lembrados por todos. Aqueles que lutaram até o final, estes sim, merecem parabéns, porque isso representa uma vitória em suas vidas. Sabemos que as dificuldades para se estudar são grandes, mas acreditamos no potencial de cada aluno (a) do Projovem Urbano que aqui chegou no final do Programa, a saudade vai ficar, mas a certeza que cada um vai caminhar rumo a um futuro melhor e serão lembrados com maior carinho por todos os Professores, porque não foi alguns dias que convivemos e sim 18 (dezoito) meses, de momentos bons, alegres, de dificuldades, tristezas, conquistas, mas acima de tudo, de aprendizados.
Na proposta pedagógica do ProJovem Urbano, não só o professor ensina e o aluno aprende, o ensino não é entendido como transmissão e acúmulo de informação, pois a aprendizagem é vista como construção ativa do aluno, na interação com seus professores e colegas. Isso pressupõe uma nova perspectiva de cooperação interdisciplinar, voltada para o desenvolvimento de saberes e competências dos jovens, articulando, mobilizando e colocando em ação seus conhecimentos, habilidades e valores de solidariedade e cooperação, para responder aos constantes desafios do dia-a-dia de sua vida cidadã e do mundo do trabalho. O ProJovem Urbano enfatiza o desenvolvimento da subjetividade do jovem e de sua capacidade de pensar e agir com autonomia. Obviamente, o educador deve incorporar esses novos interlocutores ao seu processo de construção da sua identidade profissional, investindo também no desenvolvimento de sua própria autonomia.
A condução dos trabalhos realizados dentro do programa esteve articulados de forma interdisciplinar entre os professores, mas tudo isso seria impossível sem a participação ativa dos alunos, como protagonistas desta história, transformando as expectativas de vida em direção à inclusão no mundo do trabalho, da formação humana e buscando a construção coletiva de uma sociedade democrática. Cabe destacar o "Tempo Escola" e o "Tempo Comunidade" são espaços formativos privilegiados de articulação entre estudo, projetos, teatro, ação comunitária, pesquisa, criação de propostas, de intervenção, afim de estimular diferentes aprendizagens nos jovens, tais como, leitura, escrita, arte, afirmação da diversidade étnica, cultural e gênero, desenvolver o espírito coletivo e solidário, superação dos valores de dominação, preconceito étnico-raciais e desigualdades existentes, desenvolver a autonomia, entre outras aprendizagens.
Além disso, considerar que a convergência entre a organização curricular e os tempos/espaços formativos deve apontar para o levantamento das necessidades apontadas pelos educandos/as e pela comunidade, através da pesquisa e sistematização dos dados, das discussões e dos diálogos suscitados, momento pedagógico no qual educadores, educandos planejam e realizam ações que envolvam a comunidade e instituições próximas e discutem alternativas coletivas para políticas de desenvolvimento social e de inclusão.
O conjunto dessa organização curricular atua para a formação integrada ao mundo do trabalho, na inclusão social e na formação da cidadania, valorizando os saberes das diferentes áreas do conhecimento. Portanto, da lógica do currículo, busca-se o processo de aprender a aprender, no qual a interdisciplinaridade é centrada nos trabalhos como objetos de diferenças nas ações e reflexões.
Desse modo, a proposta não indica a ampliação dos conteúdos, mas sim a criação de condições "para que o aluno adquira 'desenvoltura' em relação ao que foi selecionado".
A formação continuada, por sua vez, deve permitir que o educador, a partir de seus próprios conhecimentos, reflita sobre sua prática pedagógica e revendo-a no processo do curso e acrescente-lhe os novos significados da proposta pedagógica do ProJovem Urbano. Assim, ele amplia a compreensão das mudanças necessárias na sua prática pedagógica. Nas atividades destinadas à formação continuada, deverão predominar momentos coletivos de discussão e de encaminhamento de problemas além de questões do cotidiano da sala de aula, especialmente quanto à aprendizagem dos alunos. "A formação continuada significa os momentos em que o professor cria um afastamento crítico da prática para incorporá-la ao campo teórico. É isso que significa ação-reflexão-ação".
Por isso quando vejo os alunos percebo que eles ao final do programa tem uma visão totalmente inovadora e transformadora da realidade, que tem planos de terminar o Ensino Médio e poder sonhar em fazer faculdade, é muito gratificante fazer parte desta história.
Percebo nos alunos uma olhar diferente, a forma de se relacionar com outras pessoas em todos os níveis. As falas mostram a importância do programa na vida desses jovens, além da formação a busca de uma vida melhor, mais digna, a inclusão social e qualificação profissional. Fazer com que nossos alunos reflitam sobre o que acontece ao seu redor e no mundo os levará a um crescimento individual, tornando-os cidadãos críticos e defensores de suas próprias idéias.
Contudo, os avanços da cidadania dependem, também, da luta e das reivindicações, das ações concretas dos indivíduos. Ser cidadão é não se conformar diante das situações de discriminação e injustiças, é não acreditar que as desigualdades sociais são naturais, é se comprometer e interagir para tornar a sociedade melhor. Todo ser humano já nasce com uma série de direitos e precisa lutar para que os direitos não fiquem só no papel. É ter consciência de seus direitos e deveres e participar ativamente de todas as questões da sociedade.
Afinal, os direitos existem para que cada um de nós tenha uma vida digna e decente, ainda que nem sempre eles sejam respeitados.
Portanto, as experiências no decorrer destes 18 (dezoito) meses do programa me proporcionou vários aprendizados e uma bagagem que contribuiu muito para a minha vida profissional e formação humana também. Creio que na vida dos alunos não foi diferente ou até mais transformadora das realidades existentes. Concluo apontando a necessidade de se ter nova entrada do Projovem Urbano em 2012, porque a minha história ainda não terminou e tem muitas páginas para serem construída e quero escrevê-las.
(Gilson Marcos Pagés - é Professor de Geografia).