Experiências de leitura: Um relato pessoal
Por Gustavo Uchôas Guimarães | 16/01/2025 | LiteraturaA leitura é um exercício de contato com mundos que nos enriquecem, nos despertam, nos conscientizam. Ou, pelo menos, deveria ser assim em todas as vezes que lemos. O espírito aberto a estes enriquecimentos pela leitura traz atitudes filosóficas ao leitor, pois o coloca para pensar, para refletir sobre o que leu e para contemplar, ao seu redor, as inúmeras conexões na realidade que dialoga com o simbólico, o utópico, o espiritual, o cultural e com diversos outros aspectos pelos quais se pode enxergar a vida.
Em 2024, envolto por muitas demandas cotidianas, especialmente o trabalho em duas escolas e a escrita da dissertação de mestrado (sem contar o cuidado com a família e as atividades culturais e religiosas), consegui o feito pessoal de ler 45 livros completos, o que, para mim, foi uma vitória, pois ocorreu simultaneamente ao meu movimento de diminuir o tempo de uso do celular e das redes sociais. Todas estas leituras me enriqueceram na medida em que puseram para pensar, oportunizaram bons momentos com a família, incomodaram para exigir mudanças interiores, orientaram para caminhos diferentes na trajetória profissional e acadêmica, inspiraram novas maneiras de escrever.
É importante destacar que não li apenas estes livros completos. Além deles, também leio trechos de livros, artigos científicos diversos e outros materiais que não contabilizo como “livro completo”, seja porque não li por inteiro ou porque não são livros (por exemplo, um artigo científico, mesmo eu o lendo por inteiro, não é um livro). Nos próximos parágrafos, apresentarei os livros que li na íntegra em 2024, como forma de inspirar os leitores a buscarem estas leituras ou de aprofundarem suas leituras cotidianas. Quase todos os livros são fáceis de encontrar em sites de vendas, sebos (físicos ou virtuais), livrarias, etc. Sobre livros de autores da região sul de Minas, serão deixados, em notas de rodapé, links para acesso direto aos escritores.
No ano que passou, retomei um tipo de leitura que eu não fazia há muitos anos: literaturas grega e romana. Houve períodos da minha vida em que eu me debruçava sobre obras da Antiguidade Clássica para me deleitar com mitologias e com explicações sobre as culturas que embasaram a civilização ocidental. Assim, em 2024, li uma adaptação da “Ilíada” (de Homero, adaptada por Bruno Berlendis de Carvalho), além de “Sobre a brevidade da vida” (de Sêneca, que me colocou para pensar muito sobre viver o tempo presente e me aproximou bastante da filosofia estoica), “Prometeu acorrentado” e “Os persas” (ambas de Ésquilo, um dos precursores do teatro grego), “Rei Édipo”, “Antígona” e “Electra” (três peças de Sófocles, outro gênio do teatro grego), “Alceste”, “Electra” e “Hipólito” (três peças de Eurípedes, também um dos precursores do teatro grego; não houve equívoco em mencionar “Electra” duas vezes, pois, realmente, é o título de duas peças gregas) e “A literatura de Roma” (de Guilio Davide Leoni, fazendo um percurso histórico pela literatura romana). Em 2024, comecei a ler “Meditações”, de Marco Aurélio (o “imperador filósofo”), mas terminei em 2025; mesmo assim, vale mencioná-lo devido a contribuição que tem feito ao meu pensamento, fazendo com que eu me aprofunde no estoicismo, em seu intenso diálogo com o cristianismo e nas possibilidades de vivê-lo no mundo atual.
Sendo professor e estudante, preciso fazer leituras que ajudem a ampliar horizontes, rever conceitos, embasar discussões (seja nas aulas ou nas produções acadêmicas), auxiliar alunos em sua trajetória estudantil, entre outros aspectos que formam um leque de possibilidades. Neste sentido, li coisas diversas para melhorar como professor e estudante. O que li por completo foram as obras “A História da Filosofia através das ideias dos maiores pensadores” (de Cláudio Blanc), “Vivenciando a inclusão de um aluno autista na escola pública” (de Edêlma Targino), “O que é ética” (de Álvaro L. M. Valls), “Por uma outra globalização” (de Milton Santos), “Teoria Geral do Estado contemporâneo” (de Hélcio de Abreu Dallari Jr.) e “As tropas da moderação no Tempo Saquarema e a Revolução Liberal de 1842 no Sul de Minas” (de Maria Lúcia Prado Costa). Além destas, as demais leituras elencadas ao longo deste texto também me auxiliam como professor e estudante, considerando meu crescimento integral.
Como um “ser espiritual” com vivências religiosas, não pude deixar de me alimentar com aquilo que agregasse solidez às minhas crenças e, ao mesmo tempo, me ajudasse a refletir sobre minha postura diante do mundo atual, tendo como espelho pessoas que fazem o bem, que pregam a paz, que defendem o amor ao próximo (mesmo que levem críticas de pessoas de dentro da própria Igreja). Nestes sentidos, li “O Domingo”, de Giuseppe Midili (um dos cadernos da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB sobre o Concílio Vaticano II), “Não só de pão vive o homem” (de Rosanildo Queiroz, mais voltado à espiritualidade), “Zaqueu, o publicano” (de William Luz, sobre a experiência do perdão e da mudança de vida), “O deserto é fértil” (de Dom Hélder Câmara, grande defensor dos pobres e dos excluídos), “Tratado da castidade” (de Santo Afonso Maria de Ligório), “Innefabilis Deus” (do papa Pio IX, sobre a Imaculada Conceição de Maria), “Spes non confundit” e “Dilexit nos” (ambos do papa Francisco, sobre a esperança tão necessária nos dias de hoje e o amor e misericórdia do Coração Divino) e “Fides et ratio” (do papa João Paulo II, sobre a fé e a razão).
Moro em Varginha, localizada em uma região muito rica de literatura. O sul de Minas deu à literatura brasileira nomes como Rubem Alves, Murilo Rubião, Oneyda Alvarenga, entre outros. Por isso, não posso deixar de ler autores da minha região ou que participam ativamente da sua vida cultural (mesmo que nela não more), pois é uma forma importante de conexão com as raízes. Assim, li, na íntegra, os livros “Um cantor na floresta” (de Marinho da Mata[1], escritor de obras infanto-juvenis), “História de Varginha para estudantes” (de José Roberto Sales[2], historiador local), “Bernardino, o dinossauro menino” (de Mariana Marques[3], escritora de obras para o público infantil), “Elói Mendes – Uma história que começou em Portugal” (de Carlos Marcelino Coimbra[4], memorialista local), “Elói Mendes – Sua memória, sua gente” (de Glauco Biaggini, saudoso historiador local), “Portais” (de Eneida Monteiro Nogueira[5], escritora e poetisa) e “Poemas dissidentes” (de Willba Dissidente[6], poeta).
Na convivência com a família, é constante o incentivo para que meu filho leia. Aliás, ele também já publicou um livro: “Morte da minha vó”, de Alexandre Ribeiro Labat Uchôas Guimarães (lançado em 2023, quando ele tinha 6 anos). Este incentivo se dá pelo exemplo: ou eu lendo para ele ou ele me vendo ler em momentos do cotidiano. Dos momentos que li para meu filho, as obras que li, na íntegra, foram “O sorriso perdido”, “Lápis cor de pele” e “Estamos sem luz! E agora?” (os três de Sueli Ferreira de Oliveira), “O segredo do macarrão da vovó” (de Anne Lizie Hirle), “O segredo da selva” (de Steve Behling), “A bola e o pássaro” (de Celeste de Almeida Gonçalves), “Vó, para de fotografar” (de Ilan Brenman e Guilherme Karsten), “Poesia na varanda” (de Sônia Junqueira) e “Que bicho está no verso?” (de Adriano Messias), além, claro, dos autores regionais mencionados no parágrafo anterior. E, sem eu ter lido para ele, meu filho acessou também obras de outros autores (da nossa região ou não).
Por fim, também li obras de minha autoria, resultados dos meus processos de criação e escrita. Assim, li o livro de poesias “Versos fronteiriços”, que lancei em 2024, e li o livro de poesias “Versos marianos”, que ainda lançarei, além de ter lido minha dissertação de mestrado intitulada “Contribuições da presença indígena na região da bacia do rio Verde no sul de Minas Gerais como proposta para formação continuada dos professores de História da rede municipal de ensino de Elói Mendes (2024)”, defendida e aprovada na Universidad Del Sol, em Ciudad Del Este (Paraguai) e que ainda será publicada.
Para 2025, haverá muitas leituras e estudos em vista da tese de doutorado, mas também há um compromisso de manter a diversidade das leituras, como forma de enriquecer os múltiplos aspectos do que sou. É assim com cada leitor que vê nos livros uma oportunidade de acessar vários mundos e de permitir a expansão de seu mundo interior.
[1] https://www.instagram.com/autormarinhodamata/ - @autormarinhodamata
[2] https://fundacaoculturaldevarginha.com.br/colecao-joserobertosales/ - Coleção José Roberto Sales (downloads gratuitos das obras)
[3] https://www.instagram.com/mariamamarquesescritora/ - @mariamamarquesescritora
[4] Infelizmente, não tenho nenhum contato deste autor.
[5] https://www.instagram.com/eneidajmonteironogueira/ - @eneidajmonteironogueira
[6] https://www.instagram.com/rock_dissidente/ - @rock_dissidente