EXPECTATIVAS E PERSPECTIVAS DOS PROFESSORES DE LÍNGUA ESPANHOLA EM CUIABÁ-MT

Por Adriana Xavier da Silva Bello | 09/05/2011 | Educação

PERSPECTIVAS E EXPECTATIVAS PRESENTES NA FORMAÇÃO DO PROFESSOR DE LÍNGUA ESPANHOLA CUIABÁ- MT

Adriana Xavier da Silva Bello


RESUMO

O trabalho aborda as perspectivas e expectativas da formação dos professores habilitados em língua espanhola. A motivação adveio da seguinte indagação: a obrigatoriedade da Língua espanhola para o ensino médio nos estabelecimentos de ensino público e privado refletiu na formação dos professores? A partir disso buscou-se articular algumas informações sobre o processo de formação dos docentes do Estado do Mato Grosso. Para a realização da pesquisa, utilizou-se de uma metodologia de abordagem qualitativa, com análise interpretativa, por entendermos que o estudo de fenômenos educacionais é influenciado pelas deliberações políticas e pelo viés mercadológico que tem predominado o campo científico na contemporaneidade.

PALAVRAS-CHAVES: Formação de professores, Língua Espanhola, Ensino de Língua Estrangeira.



ABSTRACT

It considers the perspectives and expectations of the training of qualified teachers in Spanish. The motivation came from the following question: the mandatory Spanish language to high school education in public and private sectors reflected in teacher training? From that we attempted to articulate some information about the process of training teachers in the state of Mato Grosso. For the survey, we used a methodology of qualitative approach, interpretative analysis, because we understand that the study of educational phenomena is influenced by the bias policy deliberations and marketing that has prevailed in the contemporary scientific field.




INTRODUÇÃO


Observando os (des) caminhos que assolaram a implementação da Lei nº 11.161/2005, e a crescente inquietação sobre a formação de professores de línguas, buscou-se, nesta pesquisa entender, como os futuros profissionais estão sendo preparados. Diante dessa indagação, buscou-se tecer uma análise sobre as perspectivas e expectativas presentes na formação dos professores de língua espanhola em Cuiabá-MT.
Os resultados são pertinentes e salutares, e nos coloca a reflexão do atual estágio que vivenciamos, no entanto para abordar assuntos referentes ao assunto, muito embora o tema se apresente de forma objetiva, o seu contexto teórico nos amordaça pensamentos filosóficos, que são à base do conhecimento científico, e a conjuntura atual nos levam à promoção de discursos que dêem ênfase a democratização do conhecimento, já que a inserção da língua espanhola no currículo do Ensino Médio brasileiro é um verdadeiro ato de democracia.

1. A ATUAL FORMAÇÃO E ATUAÇÃO DOS PROFESSORES DE LÍNGUA ESPANHOLA EM MATO GROSSO

Investigar as influências lingüísticas em Mato Grosso equivale a investigar um grande número de diferenças de lugares e paisagens. Para investigar as diferenças, antes de qualquer coisa, é importante reconhecer as fronteiras, isto são os limites, as barreiras ou divisas que nos permitem distinguir os territórios desses lugares.
Os colonizadores hispânicos, embora tenham transitado em terras mato-grossenses, nelas não se fixaram, ou se o fizeram mais tarde foram abandonadas, pelos contornos políticos administrativos encontrados nas representações cartográficas da época ? o Tratado de Tordesilhas. Mas, foi na zona de fronteira do Estado do Mato Grosso, que os espanhóis deixaram o seu maior legado, a língua.
A fronteira é uma faixa de contato, e o contato lingüístico é uma conseqüência inevitável, citamos aqui o caso dos municípios de Cáceres/MT e Vila Bela da Santíssima Trindade/MT, ambos localizados na região sudoeste do Estado de Mato Grosso, nessas regiões o contato lingüístico foi historicamente determinado pelo domínio de territórios, pela política expansionista de ocupação e militarização das áreas.
Verifica-se nesse contexto histórico, que a língua se irradia, difunde-se e passa de geração a geração com todos os contornos, características e implicações a ela inerentes. Embora, nossa língua materna seja o português, o espanhol é língua de contato na zona de fronteira em todo território brasileiro, é através dela que as pessoas vivem e convivem,adotando as possibilidades de comunicação, considerando o seu idioma e a do país vizinho, em outras palavras as fronteiras se abrem para aceitar a fala do outro. Exemplo disso é destacado por Bisinoto, ao tratar da fronteira do Brasil com a Bolívia:
Os nativos [habitantes da cidade de Cáceres/ Mato Grosso] não têm conhecimento seguro da origem de sua fala. Acreditam sofrer influência do espanhol da Bolívia, ora atribuindo aos índios chiquitos da fronteira a procedência dos traços lingüísticos, ora mencionando os ?bugres? como falantes legítimos dessa variedade, sem saber definir exatamente esse segmento etno-social. (BISINOTO, 2001, p.147).

Constata-se, assim, que não há como apagar dos registros históricos o embate lingüístico fronteiriço, pois ele é determinante de toda uma situação cultural estabelecida num determinado lugar e época.
Fixaram-se os limites geográficos, e Portugal garantiu sua posse nos territórios mato-grossense, contudo, o Estado de Mato Grosso, por estar estrategicamente na região central e difícil penetração, permaneceu isolado por muitos anos. Esse isolamento acabou por criar um linguajar próprio, porém usando a mesma língua portuguesa a qual sofreu influencia espanhola e indígena.
Todo esse contexto histórico nos mostra dois momentos importantes: a proeminência da fronteira lingüística e o isolamento do Estado, ambos do ponto vista das políticas públicas são fatores que podem ou não fazer a diferença na formação do professorado.
Vejamos os porquês, embora a zona fronteiriça mato-grossense seja "bilíngüe" não há dentro do estado a tradição e ou cultura da língua espanhola, tal declaração se confirma, se basearmos nos números de escolas e instituições comprometidas com o ensino do espanhol dentro do estado, nas décadas passadas.
Pós, implantação da Lei n.º 11.161, que obriga a inserção da língua espanhola nos currículos do ensino médio, na rede de ensino pública e privada, passou-se a exigir profissionais habilitados para assumirem as vagas ociosas, e estarem dentro da legalidade.
O ensino demanda profissionais habilitados para atuarem com devida responsabilidade, e, é justamente a questão da construção da qualidade na Educação que tem sido preocupação constante de educadores e de gestores de política educacional ao longo desses anos.
No intuito de aprofundar nosso conhecimento sobre essa nova realidade, seguimos com a investigação sobre a formação dos professores de espanhol, tendo como foco aqueles que já atuam no mercado e vem buscando se aperfeiçoar.
A necessidade de conhecermos os caminhos da formação desses docentes é de termos uma noção de que a política pública da gestão educacional para o ensino da língua espanhola vem sendo cumprida e diante disso traçar um perfil das perspectivas e expectativas dos docentes frente a essa realidade.


2. MATERIAIS E MÉTODOS

Para a realização da pesquisa, buscamos apoio numa metodologia de abordagem qualitativa, com análise interpretativa, por entendermos que o estudo de fenômenos educacionais é influenciado pelas evoluções das ciências humanas e sociais. Na metodologia qualitativa é importante que o pesquisador compreenda o significado dado pelo sujeito ao objeto estudado, considerando-o sempre no contexto social em que este se encontra. Além, disso a pesquisa qualitativa ajuda a identificar questões e entender porque elas são importantes.
Para a pesquisa foram elaborados três tipos de questionários, um para grupos de professores, um para os graduados e graduandos, nesses questionários foram incluídas questões sobre dados pessoais, tempo de atuação como professor de língua espanhola, frustrações, expectativas dentre outras, todos conforme o perfil citado. As perguntas foram elaboradas de forma direta, deve-se salientar que nesta pesquisa será usado o método de amostragem aleatória conglomerado, ou seja, concentrada em parte da população, neste caso o Campus da UFMT, Instituto de Educação - IE. Os dados foram coletados através de entrevistas individuais entre os meses de fevereiro e março de 2010.
Os questionários foram examinados individualmente, antes da digitação, para verificação de possíveis erros de preenchimento, além de verificar a coerência interna do questionário como um todo. Os erros encontrados, passíveis de correção, foram assinalados nos próprios questionários. Nos casos de incoerências ou erros mais graves, os questionários foram eliminados. Também foram excluídos os questionários com excesso de questões em branco.

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES


O resultado da pesquisa deixou evidente que número de mulheres no mercado de trabalho, e em especial na disciplina de Letras/Espanhol, fundamentado nessas informações pode-se dizer que a profissão professora está cada vez mais legitimada em Cuiabá/MT. Confirmando a feminização do magistério na capital, isso indica que as mulheres estão conseguindo adentrar em cursos superiores, tidos antes como espaços masculinos, mas também pode significar que os homens estão demonstrando menos interesse pelo magistério.
A idade, embora tenhamos mencionado a docência na juventude, percebemos aqui nesta pesquisa que os professores ativos estão na faixa etária considerados adultos, ou seja, são responsáveis, éticos e sabem muito bem o querem, como mostra o gráfico 1.

GRAFICO 1 - Caracterização dos sujeitos pela variável: idade

Esse comprometimento é comprovado no tempo de atuação dos entrevistados em sala de aula, que varia de 2 a 16 anos, quanto à tempo docência em língua espanhola, os anos, variam entre 6 a 2 anos, confirmando que a implantação da língua espanhola é uma realidade.
Quanto à situação Funcional dos sujeitos, o gráfico 2 apresenta o percentual de efetivos e interinos.





GRÁFICO 2 ? Aspectos da situação Funcional

No que se refere ao quadro funcional dos professores que participaram da pesquisa apenas 5 são efetivos no Estado. A instabilidade é uma condicionante para atuarem em duas ou até três escolas, ou assumirem compromissos com aulas particulares nos finais de semanas. O que para muitos é estafante, porém, necessário para a complementação salarial, contudo, a sobrecarga de aulas, acaba gerando insatisfação e pouca produtividade, gerando uma frustração, que pode vir a desenvolver uma depressão. Cabe ressaltar que há uma alternância entre as redes de ensino, alguns ministram aulas em escolas estaduais e municipais, outros nas municipais e privadas, estaduais e privadas e alguns cumprem a difícil missão de atuarem nas três redes de ensino, muitas vezes ocupando os três períodos (manhã, tarde e noite) como mostra o Gráfico 3 a seguir.

GRÁFICO 3 - Quantidade de escola que leciona

O gráfico 3 mostra que 76% dos professores lecionam em duas escolas, 14% em três escolas e apenas 10% em apenas uma escola. Quando analisamos a situação profundamente, percebemos que a elevada carga horária semanal afeta diretamente a qualidade de vida do cidadão, e conseqüentemente direta e indiretamente afetará outros indivíduos.
Isto porque, os fatores são vários os fatores imbuídos nessa situação podem citar: o transporte e o lugar. O fato de ter que trabalhar em duas ou três escolas, afeta o ser humano de diversas maneiras: a primeira são as realidades de cada "lugar", ou seja, a localização de cada estabelecimento de ensino, influência ou determina o comportamento social do individuo, que possivelmente irá externalizá-la perante um grupo de pessoas, isto é na escola; o mesmo "lugar" evidencia distâncias, distância demanda transporte, seja este coletivo ou de passeio, ambos em horário de rush será um transtorno, que infelizmente afetará diretamente o docente, e conseqüentemente afetará a produtividade em sala.
Quanto à habilitação, todos os entrevistados têm habilitação em Língua Espanhola. Dezesseis profissionais são graduados pela UFMT, duas na UNIC e 3 no UNIVAG. Todas as graduações ocorreram num período de sete a oito semestres entre os anos 1990 a 2008.
Vamos entender melhor, toda essa situação, pois um elemento complementa o outro, quanto à formação dos sujeitos observam-se quando analisamos que a maioria foram graduada na Universidade Federal de Mato Grosso, e saíram da vida Acadêmica entre os anos de 1990 a 2008, deve-se salientar que durante um bom tempo a UFMT era a única instituição de ensino superior, posteriormente veio a UNIC e seqüencialmente a UNIVAG, isso explica o número de graduados pela primeira instituição citada.
Quanto ao ingresso em outra faculdade, os entrevistados não se manifestaram, ficando subentendido que embora não sejam valorizados e bem remunerados, não tem interesse em fazer outra faculdade. Porém, em resposta a pós-graduação, alguns dos entrevistados que findaram a graduação no ano de 2007, estão cursando a segunda especialização, os outros entrevistados no ano de 2008, estão concluindo ou já concluíram a pós-graduação.
No contexto geral os entrevistados são pós-graduandos em Estudos Lingüísticos e Metodologia de Ensino de Língua Espanhola, Docência Universitária e/ou áreas afins da Educação, deve-se salientar que boa parte dos informantes, concluíram a pós-graduação em instituições privadas, comprovando o alto investimento destas na qualificação desses profissionais. Vejamos a situação, embora os professores não optassem por uma segunda faculdade, se dedicaram a se especializar na área que atua, provando a dedicação e a vontade de formar cidadãos críticos e preparados para a vida.
Quanto ao lecionar o português e espanhol foi unânime todos lecionam ambas as disciplinas, porém, os respectivos entrevistados usaram da ética, e mencionaram apenas o tipo de rede de ensino particular ou pública, portanto, pode-se dizer que todos estão atuando tanto na rede pública de ensino como na privada.
Quanto à carga horária, não há alternância entre as horas desempenhadas pelos entrevistados, isto porque, todos lecionam português/espanhol. Portanto, o panorama é o seguinte entre 10 horas/aulas á 30/horas aulas.
De modo geral, o único material didático considerado pelos professores foi o dicionário e o livro didático, e ainda assim alguns relatam ser em quantidade insuficiente. Em algumas escolas os professores alegam que nem dicionário tem. Na única escola que possui laboratório de língua a professora relata nunca tê-lo utilizado.
Não foram mencionados outros recursos didáticos como fitas de áudio e vídeo, jogos, revistas em espanhol, ou mesmo acesso o material via internet. Muitos professores reclamam pela falta de incentivo para participação em cursos, e quando planejam aulas no laboratório de informática é um "briga" com outros professores dificultando o ensino aprendizados dos alunos.
Quanto ao incentivo do MERCOSUL para implementação da língua espanhola no currículo do ensino médio brasileiro, os entrevistados foram objetivos, e responderam que o que implementação da língua espanhola no currículo do ensino médio brasileiro, está fundamentalmente relacionada aos interesses econômicos e políticos, a fim de fortalecer a economia do bloco econômico no mercado globalizado.
Sobre a AMPLE, todos os entrevistados se mostram insatisfeito, e dizem que a associação não defende os interesses da classe, prova disso é o apostilamento, os professores de inglês efetivos estão fazendo e em curto período serão professores de espanhol e aqueles que são habilitados (os 4 anos na universidade) na língua espanhola estarão fora das salas, os professores de inglês estão migrando para o espanhol.
Outros relatam que AMPLE é um grupo pequeno e fechado compostos por professores mais antigos, citam também que dentro de todo esse contexto educativo seria interessante serem unidos com todos os professores, seja para a capacitação e outros, e se perguntam: Para que então formar mais professores de língua espanhola se não tem trabalho? (pós-graduando). São questões a serem repensadas dentro das Universidades, se devem ou não abolir cursos que não terão mais campos de trabalho como está acontecendo atualmente.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A pesquisa evidencia o desinteresse ou descaso do professorado. Podemos dizer que estes profissionais, se vêem tão frustrados, decepcionados que se recusam a discutir o assunto, afinal o que não é lembrado não causa dor ou aflição. O fato é que não há uma perspectiva para dias melhores, partes dos recém formados se encontram desempenhando outras funções, e em muitos casos cursando outra faculdade, uma segunda graduação.
Considero que ser professor de Letras com habilitação em espanhol, hoje é uma tarefa bem difícil, e acima de tudo desgastante, por conta dos deslocamentos entre uma escola e outra. Embora, as vagas no mercado de trabalho apresentam-se escassas, somos muito cobrados quanto a nossa formação. Além de a formação adequada, precisamos ser mediadores da aprendizagem, participar ativamente do processo de aprender, incentivar a busca de novos saberes, ser detentor de senso crítico, conhecer profundamente o campo do saber que pretendemos ensinar, além de ser capaz de produzir novos conhecimentos, através da realidade cerca o aluno.
Enquanto, haver a ação política do apostilamento, com certeza termos muitos profissionais fora da sala de aula, atuando em outras funções, o que não dá sentido ao incentivo do Governo para abertura de novas instituições com cursos de graduação em Letras com habilitação em espanhol. Portanto, a profissão docente é uma das mais difíceis, às vezes uma lei que é para beneficiar, acaba sendo evasiva, e conseqüentemente prejudicando os próprios profissionais. O fato é que o professor aprende todos os dias, e a formação continuada deve ser uma constante.



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALMEIDA FILHO, J. C. P. de. Dimensões comunicativas no ensino de línguas. Campinas: Pontes, 1993.

ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. Filosofia da Educação. 2ª Ed. rev. e ampl. São Paulo: Moderna, 1996.

BARCELOS, A. M. F. Ser professor de Inglês: Crenças, expectativas e dificuldades dos alunos de Letras. In: VIEIRA-ABRAÃO, M. H. (Org.). Prática de Ensino de Língua Estrangeira: Experiências e Reflexões. Campinas: Pontes, 2004, p. 11-29.

BENEDITO, Vicença e outros. La formación universitária a debate. Barcelona. Universidad de Barcelona. 1995.

BRASIL, MEC. Parâmetros Curriculares Nacionais: língua estrangeira/ensino fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1998, p.50.

BRASIL, Ministério da Educação. Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio. Linguagens, códigos e suas tecnologias. Brasília: Secretaria de Educação Média e Tecnológica, 1999.

BRASIL. Ministério da Educação. Orientações curriculares para o Ensino Médio Cap. 4 p 127-128.; v 1, 2006.
DARSIE, M. M. P. A reflexão distanciada na construção dos conhecimentos profissionais do professor em curso de formação inicial. Tese de doutorado. Programa de Pós-Graduação em Educação. Universidade de São Paulo, 1998.

DEMO, P. Desafios Modernos da Educação. Petrópolis: Vozes, 1995.

DIMESTEIN, G. Aprendiz do Futuro: cidadania hoje e amanhã. São Paulo: Ática, 1997.