EXEMPLOS
Por Romano Dazzi | 25/05/2009 | Crônicas039 - EXEMPLOS
De Romano Dazzi
Nada vale mais do que um exemplo.
O exemplo ativa as nossas capacidades e nos induz a nos comportarmos exatamente como os outros.
Infelizmente, este fenômeno é também chamado “imitação” e está presente em qualquer zoológico do mundo.
Enfim, somos uns macacos.
Se todos os exemplos fossem bons, seríamos todos uns santos.
Mas aparecem cem exemplos maus para um bom; e os maus espalham-se e multiplicam-se com a rapidez da televisão.
É suficiente que um estúpido qualquer decida imprimir alguma coisa na pele ou colocar umas argolas no nariz – ou no umbigo, nas orelhas, ou em lugares ainda mais delicados e impróprios - e cem mil outros, estúpidos ou não, passam a fazer o mesmo.
Por quê? Ninguém sabe, ninguém entende; só podemos arriscar uma hipótese: porque, apesar do progresso da nossa sociedade, cada vez que nasce um indivíduo, nasce um ser primitivo, ignorante, egoísta, mais para ruim do que para bom.
O recém nascido é incapaz de se manter de pé, de procurar comida, de se limpar e só se comunica por gritos estridentes e insuportáveis. Impulsionado por um forte instinto de sobrevivência, este ser não aceita se submeter a ninguém, apropria-se de tudo o que vê, não entende quando você o ajuda; e muito menos, será capaz de agradecer pela proteção que recebe. Tudo deve ser-lhe ensinado desde o primeiro dia de vida.
Mesmo nascendo assim, bárbaro e individualista, este humanóide entende logo que, agindo como os outros, levará vantagem; e daí em diante, passa a imitá-los.
Aprende depressa, o pequeno mostrengo; em dois anos se torna quase auto-suficiente; passeia pelo “seu” ambiente, arrebenta um monte de coisas, come só quando quer e o que quer, escolhendo sempre os momentos mais inoportunos e desaconselháveis para fazer qualquer coisa. Dorme quando lhe convém; e grita e esperneia se as coisas não funcionam como ele deseja.
Em suma: é indisciplinado, egoísta, competitivo, sem regras e sem limites.
O que poderíamos esperar, de uma criatura assim?
Mas é claro!
Que ele saia à conquista do mundo, que submeta os animais, os pássaros, os peixes e toda a Criação; e que se aposse de tudo o que vê.
Nisso, somos diferentes dos macacos: com nossa falta de disciplina e nossa tendência para a ousadia podemos sujeitar todo o Universo, todas as criaturas.
Mas para evitarmos a autodestruição, precisamos de bons exemplos; temos que encher o nosso imaginário com Heróis.
É pena que a sociedade moderna não tenha sabido conservar na memória coletiva os Heróis do passado.
É naqueles seres fortes, inteligentes, capazes e destemidos, que nos deveríamos espelhar, imitando-os, mesmo que inconscientemente.
Não tem nenhuma importância, hoje, saber o que eles eram realmente, as suas verdadeiras motivações.
O que importa é dispor de uma memória que, mesmo traindo a verdade dos fatos, mantenha acesa uma chama de humanidade.
Tem mais: o Herói sempre fez o Bem; cresceu no Bem; defendeu o Bem, contra o Mal, em mil batalhas; e venceu todas elas - porque se tivesse perdido apenas uma, teria desaparecido. Merece ser imitado. Precisa ser imitado.
Hoje, tentamos inutilmente substituir os Heróis por Ídolos
Os ídolos são figuras públicas; são apenas imagens, passageiras e vazias; não têm vontade própria; são impostos pela mídia, e suas façanhas são repetidas0, vezes sem fim, a um público passivo, insensível e desinteressado.
Não nos transmitem nada de bom.
Como todos os seres humanos são fracos, vulneráveis, erram o tempo todo.
Porém, qualquer coisa que um ídolo faça, terá uma legião de imitadores, que tentam agir como ele, ser como ele.
Assim um erro pessoal torna-se um exemplo a ser acompanhado pela coletividade; esta é a nossa perdição.
Precisamos substituir os ídolos, por algum novo símbolo.
Este deve conter uma mensagem nova, vigorosa , forte, capaz de propor novamente aos indivíduos o caminho da honestidade, do respeito e da solidariedade.
Sem isso, a humanidade estará perdida.
Veja-se a cruz, por exemplo. Traz a lembrança e a mensagem de um homem, cujos ensinamentos são válidos até hoje, 2000 anos depois. Um símbolo poderoso, um exemplo de vida.
De tempos em tempos, aparece um novo símbolo.
Alguns são tão velhos quanto à raça humana; a cruz, o triângulo, a estrela de cinco pontas e de seis, de sete, de oito e de dez; e o sol, a lua crescente e a lua cheia, são apenas alguns.
É de se imaginar que alguns dos nossos descendentes, depois de um possível armagedon, voltem às selvas, dançando em círculo e tocando tambores – coisa, aliás, que nunca deixamos de fazer, desde as origens do mundo.
Já adoramos animais e objetos; veneramos sacerdotes e guerreiros, obedecemos cegamente a generais, títeres e ditadores; só nos resta recomeçar com um novo símbolo. Desde que contenha uma mensagem digna, poderá representar a salvação.