Evasão na Educação de Jovens e Adultos

Por Maria Silva Munhoz | 20/03/2011 | Educação

EVASÃO NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS Cheila Portela Farias¹ Fernanda Kelly C. Ribeiro Maria Jucileide S. Munhoz Darcí Martins Neves² Resumo O presente artigo propõe uma análise direcionada à Educação de Jovens e Adultos (EJA), definindo os fatores principais que contribuem para que ocorra evasão. A partir de pesquisa de campo observamos o papel da escola e dos professores frente a esta modalidade de ensino, aos contingentes desafios e objetivos a serem alcançados, mediante o crescimento social, econômico e os avanços tecnológico em nossa sociedade, basicamente capitalista. Palavras-chave: Evasão escolar ? Permanência ? Escola ? Qualidade. Abstract This article proposes an analysis directed to the Youth and Adults (EJA), defining the main factors contributing to occur evasion. From field research noted the role of schools and teachers face this kind of education, quotas challenges and goals to be achieved through the social, economic and technological advancements in our society, basically capitalist. Keywords: Evasion School - Residence - School - Quality. Introdução Este trabalho tem como objetivo descrever a experiência realizada através de pesquisa de campo que ocorreu em uma sala de aula de EJA em uma Escola Estadual localizada na Zona Leste na Cidade de Manaus, observando se existe na prática uma metodologia voltada especificamente para esta modalidade de ensino, pois esta educação como relata Alair dos Anjos (2006, p.28) "destina-se a adultos identificados como pobres e marginalizados". A procura pelo ensino da EJA aumenta consideravelmente a cada ano, e o público consiste em pessoas que não puderam frequentar a escola na idade considerada apropriada4 ou que tiveram a trajetória escolar interrompida pelos mais diversos fatores, sejam eles internos ou externos. São pessoas que, em sua maioria encontram-se à margem da sociedade, normalmente envolto de uma realidade de desemprego, violência, inseridos num contexto socioeconômico desfavorecido. _____________________ ¹ Acadêmicas do sétimo período do curso de Licenciatura em Pedagogia do Centro Universitário do Norte ? UNINORTE. ² Coordenadora do Curso de Licenciatura em Pedagogia do Centro Universitário do Norte ? UNINORTE, Mestranda em Serviço Social pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro/UNINORTE. Especialista em Metodologia do Ensino Superior e Gestão do IES pelo Centro Universitário do Norte, Manaus/Amazonas. E - mail: darci@uninorte.com.br. ³ Para a lei 9394/96 ? com a alteração da Emenda Constitucional nº 59, a idade obrigatória para o ensino é de 4 a 17 anos. Na perspectiva de ascensão social, cria-se uma expectativa evidenciando que a EJA é uma educação possível e capaz de mudar significativamente a vida de uma pessoa, permitindo-lhe reescrever sua história de vida por meio da escola. O aluno da EJA tem no seu perfil marcas do processo de exclusão socioeconômico. Assim, o papel do professor, especialmente do professor que atua na EJA, é compreender melhor o aluno e sua realidade diária. Enfim, é acreditar nas possibilidades do ser humano, buscando seu crescimento pessoal, social e profissional. Discuti-se que a qualidade está diretamente ligada à preparação do professor, que terá que se capacitar para estar atuando junto às turmas de educação de jovens e adultos, tal capacitação deve ser reconhecida e valorizada, uma vez que esta modalidade de ensino, como mencionado anteriormente, acolhe jovens e adultos que não tiveram oportunidade de estudar na idade, considerada própria, demandando por isso, uma metodologia de ensino especificamente voltada para os jovens e adultos (da classe trabalhadora) que buscam resgatar o percurso escolar. No Brasil, como processo de consolidação dos direitos, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, lei 9394/96, estabelece que a formação de professores para educação básica se fará em curso de graduação plena, em curso de licenciatura. Desta forma, por ser a educação de jovens e adultos uma modalidade da educação básica, por ser ela um direito, por poder emitir um certificado de conclusão com validade nacional, é preciso que seus professores sejam formados adequadamente na forma da lei e de preferência com um currículo adequado a essa modalidade. Fatores que causam a evasão na EJA O atual contexto socioeconômico do país, basicamente capitalista, tem gerado a evasão escolar, principalmente aos alunos da EJA, por ser constituído por um público jovem e adulto trabalhador que conciliam os estudos com o trabalho, perseveram, muitos sem saber das prerrogativas do papel da escola dentro do contexto social e cultural o qual está inserido. As escolas algumas vezes, contribuem, deixam de observar os padrões de qualidade de ensino e podem contribuir para desencadear o processo de evasão escolar com matrícula de número excessivo de alunos já contando com a desistência durante o ano letivo, onde há falta de uma educação de qualidade atraente e não descontextualizada. Ao realizarmos esta pesquisa em uma escola estadual da zona leste em Maio/2008, foi possível observarmos e identificarmos os diversos fatores que contribuem para o aumento da evasão escolar na EJA, dentre eles: a gravidez precoce no ensino fundamental5, situação econômica, metodologias ultrapassadas, todavia, temos ainda fatores internos à escola, que precisam ser (re)dimensionados, são eles: Currículos desatualizados, metodologias ultrapassadas e acima de tudo a necessidade de (re)significar o espaço escolar. A seguir comentaremos sobre alguns desses problemas, conforme presenciado durante a pesquisa: ? Gravidez precoce em nível do ensino fundamental, motivo que é frequente na evasão escolar, meninas que não se planejam e sem nenhuma orientação sexual, se tornam mães muito cedo se afastam da escola, muitas vezes, por vergonha, por falta de apoio dos pais e sem amparo social. Por consequência esta aluna-mãe deixará de estudar e dificilmente retomará os estudos, pois se sentem descriminadas pela escola e desistem por serem excluídas por seus colegas de classe. Quando retornam para escola, depois de algum tempo, vão para as salas de EJA devido o atraso na escolarização, precisando acelerar o processo de formação. ? Situação econômica também é um fator excludente na sociedade e não são diferentes no âmbito escolar, muitos alunos da EJA são trabalhadores braçais e diaristas, geralmente semi-analfabetos, assalariados e muitas vezes o que ganham se limita no sustento da família, nem sempre a escola é próximo de suas residências, os quais precisam pagar transportes para ter acesso à escola. Sendo assim, muitos desistem por não ter como pagar o transporte coletivo, causando com isso, inúmeras evasões. ? Metodologias ultrapassadas são um dos aspectos que as escolas permeiam e também contribuem para evasão escolar, não apenas porque não corresponde às necessidades dos estudantes, mas também porque não está em uma coerência com uma teoria educacional que justifica sua atuação, trata-se de uma escola que abandonou a ideia de ensinar o contribuem para evasão escolar, não apenas porque não corresponde às ne contribuem para evasão escolar, não apenas porque não corresponde às necessidades dos estudantes, mas também porque não está em uma coerência com uma teoria educacional que justifica sua atuação, trata-se de uma escola que abandonou a ideia de ensinar o conhecimento organizado e o desenvolvimento do raciocínio para ocupar-se fundamentalmente com o ensino de conteúdos fragmentados, sobrecarregando a mente do aluno, quando que a intencionalidade do ensino principalmente, é de uma metodologia para desenvolver a criatividade do educando. Segundo Moacir Gadotti: 5 No ensino fundamental ? aonde a faixa etária vai de 6 a 14 anos. A realidade dos que abandonam a escola o fazem por diversos fatores, de ordem social e econômica principalmente, e que, em geral, extrapolam as paredes da sala de aula, e ultrapassam os muros da escola, deixam a escola para trabalhar; deixam a escola por que as condições de acesso ou de segurança são precárias, deixam as escola por que os horários e as exigências são incompatíveis com as responsabilidades que se viram obrigados a assumir, deixam a escola porque não há vaga, não tem professor, deixam a escola sobre tudo, porque não consideram que a formação escolar seja assim tão relevante que justifique enfrentar toda essa gama de obstáculos a sua permanência escolar. (2000, p.19) Dos vários tipos de problemas detectados em nossas pesquisas da evasão da educação de jovens e adultos, entre eles, as dificuldades financeiras é o que mais contribui. Algumas mães não têm com quem deixar seus filhos menores para ir à escola, algumas insistem em levá-los, mas tem causado muitos transtornos, tanto para as mães que não conseguem se concentrar nas aulas, quanto para a escola que não pode se responsabilizar por qualquer eventual acidente com a criança. Dos alunos entrevistados, nos chamou atenção o relato de uma senhora idosa de 68 anos de idade, dizendo que necessita estudar para aprender a ler e principalmente a escrever seu nome, pois, segundo ela, depende de terceiros para ler e escrever para ela. Ela relata ainda, que gosta de estudar, mas as dificuldades são muitas, devido sua idade, a cabeça não ajuda, a visão atrapalha, a coordenação motora está em declínio, as suas habilidades de atenção e concentração desfavorecem no acompanhamento do ritmo acelerado da professora. Diante da questão exposta, sofre pressão psicológica ao deparar-se com a dificuldade para acompanhar, na sala de aula, as atividades. O professor-educador procura desenvolver um trabalho diferenciado, com metodologia apropriada às características do aluno da EJA: adulto, jovem, trabalhador, desencantado, ansioso, mas cheio de esperança e com uma gama de conhecimento prático que podem ser valorizado para motivá-los a concluir a educação básica. Papel do professor e da escola frente à eja. As escolas, juntamente com os professores possuem um papel fundamental para formar pessoas autônomas, críticas e conscientes de seus direitos e deveres junto à sociedade. Porém, hoje nos deparamos com uma realidade quase que totalmente contrária ao seu objetivo principal. Esta escola não oferece estrutura física, que ofereça conforto aos discentes e docentes, iluminação adequada, entre os professores que atuam nesta modalidade, não há uma preocupação na qualificação para atender a necessidade do ensino de EJA, muitos estão ministrando aulas sem ter passado por um processo de preparação metodológica para dinamizar e lhe dar com essa realidade, que é voltada para alunos das mais diferentes idades e contextos sociais diversificados que se encontra no processo de distorção idade/série. Conforme expõe Álvaro Pinto: Neste sentido compete ao professor, além de incrementar seus conhecimentos e atualiza-los, esforçar-se por praticar os métodos mais adequados em seu ensino, proceder a uma análise de sua própria realidade pessoal como educador, examinar com autoconsciência crítica sua conduta e seu desempenho, com a intenção de ver de está cumprindo aquilo que sua consciência crítica da realidade nacional lhe assiná-la como sua correta atividade. (PINTO, 2000, p. 113). O professor comprometido verdadeiramente com a causa da educação, participando diretamente na formação do aluno, articulando junto a eles a importância que cada indivíduo representa na sociedade e qual seu papel dentro dela. Porém, quando há uma divergência deste papel da escola e do professor do conjunto de suas funções em sua totalidade, dentre outros fatores, promoverá as desigualdades sociais, o que irá ocasionar principalmente a evasão escolar. A escola deve priorizar principalmente o aluno respeitando os diversos conhecimentos que já trás consigo, seu contexto social, suas experiências, seus valores, devendo observar e analisar os conteúdos, que devem ser: "interessantes e contextualizados, e não uma versão empobrecida do que é dado as crianças e adolescentes" Meire Cavalcante (NOVA ESCOLA, 2005, P. 57). Desafios da educação de jovens e adultos Com o crescimento social a mudança econômica e o avanço tecnológico, as pessoas se sentem obrigadas a procurar a escola na tentativa de conseguir um emprego na cidade, melhorar seu padrão de vida ou manter-se atualizado. As mudanças ocorridas no mercado de trabalho, no entanto, exige mais conhecimentos e habilidades das pessoas, assim como atestados de maior escolarização, obrigando-as a voltar à escola básica, como jovem, ou depois de adultos, para aprender um pouco mais ou para conseguir um certificado de conclusão da escolaridade. Essa realidade tem sido responsável pela criação de diversos projetos voltados para a alfabetização e educação de jovens e adultos. Se por um lado, a educação tem assumido novos contornos em face às mudanças ocorridas na sociedade, por outro, a educação é a responsável pelo crescimento social, pois à medida que as pessoas vão ficando mais escolarizadas, o nível de vida vai melhorando, as pessoas ficam mais conscientes, críticas e exigentes. E, com isso, vão melhorando as condições de higiene, de alimentação, de saúde, de segurança e de satisfação pessoal. As mudanças que vem acontecendo na EJA, nos deixam otimista em relação aos avanços na educação, o crescimento no atendimento de matricula houve um salto considerável em termos de demanda, porém o professor deve se atualizar para que consiga desenvolver uma relação harmoniosa com seus alunos possibilitando a permanência desse aluno na escola. É preciso consolidar suas experiências no cotidiano da sala de aula, para que possamos reverter o quadro de desigualdade e exclusão, transformando a escola num lugar de referência. Muitos desafios devem ser conquistados para a melhoria dos indicadores educacionais, tanto estadual, quanto municipal. Entre os mais urgentes estão: a conquista de melhores salários, a melhoria das condições físicas e materiais das escolas, autonomia financeira das unidades escolares, ampliação e atualização do acervo de biblioteca, informatização das escolas, erradicação do analfabetismo, mudanças curriculares e metodologias. Considerações finais Os diferentes fatores que contribuem na decisão do aluno a desistir dos estudos, ou seja, as causas da evasão são várias e de ordem pessoal, social e econômico e outros. Identificar as causas é o ponto chave para tentar reverter este quadro que cresce consideravelmente. Para que isso ocorra faz-se necessária a participação de todo o corpo escolar: gestores, professores, alunos e principalmente a família, para que haja essa integração, onde se deve zelar pelo bem-estar do educando, o desenvolvimento de sua auto-estima, o seu interesse pelo ensino-aprendizado, e sua busca pela autonomia, sem torná-los jamais meros reprodutores de conteúdos. Concordamos com Freire (1987, p.120), ao defender a ideia de que não existe transformação social sem a contribuição da educação: "O importante do ponto de vista de uma educação libertadora, e não ?bancária?, é que, em qualquer dos casos, os homens se sintam sujeitos de seu pensar, discutindo o seu pensar, sua própria visão do mundo, manifestada implícita ou explicitamente, nas suas sugestões e nas de seus companheiros." A educação deve promover e desenvolver a tomada de consciência e atitude crítica. O homem ao mudar a sua realidade também vai se transformando na medida em que ele se integra à sociedade, vai construindo a si mesmo. A Educação de Jovens e Adultos deve propiciar não apenas um certificado rápido, mas deve visar um ensino de qualidade, valorizando as experiências prévias desses alunos e a partir deste ponto redimensionar seus currículos, métodos e técnicas, promovendo assim o acesso e principalmente a permanência deste aluno na sala de aula. Referências ABRANCHES, Sérgio Henrique. Os despossuídos: Crescimento e pobreza no país do milagre/Sérgio Henrique Abranches. RJ: Jorge Zahar ed. 1985. ALBUQUERQUE, Eliana Borbes Ferraz. A Alfabetização de Jovens e Adultos em uma perspectiva de letramento. 2.ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2005. BRANDÃO, Carlos da Fonseca. Estrutura e funcionamento do ensino. São Paulo: Avercamp, 2004. CAVALCANTE, Meire. O que dá certo na Educação de Jovens e Adultos. NOVA ESCOLA, São Paulo, nº 184, p.50-57, Agosto, 2005. Educação de Jovens e Adultos; disponível em acesso em 24/11/2007. FREIRE. Paulo, Pedagogia do Oprimido. 17° ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987. GADOTTI, Moacir. Perspectivas atuais do educador. Porto Alegre, Artes Médicas, Sul. 2000. MIRANDA, Alair dos Anjos Silva de. Educação de Jovens e Adultos. Manaus: EDUA, 2003. PINTO, Álvaro Vieira. Sete lições sobre educação de adultos. 11° ed. SP, cortez, 2000.