Eu, a lua

Por Bruno Squarcio Fernandes Sanches | 24/05/2014 | Crônicas

     Há tempos percebi que as mulheres são astros celestes em torno de quem o mundo gravita, como sóis que atraem os corpos em torno de sua órbita. Eu já havia me surpreendido acompanhando a trajetória desses astros, mas somente percebi a intensidade dessa força com o nascimento de minha primogênita.

Explorador do céu, ainda me lembro das manhãs ensolaradas pelo sorriso de minha primeira filha. Os dias foram preenchidos por sua rotina e me percebi absorvido em sua órbita diante de uma beleza solar que me impedia de tirar os olhos do céu.

Passados seis anos, novo clarão se anuncia. Curioso, olho para o tempo que apenas esboça sinais de sua chegada. Outra vida se descortina diante de mim. A olho nu, não vejo sua luz. À noite, os olhos fechados abrem comportas de um telescópio e as lentes buscam o alto; parece que posso sentir. Reconheço planetas e luas, ainda sem novidade. Ansioso, mantenho os olhos fechados. Não ouço o ruído da explosão criadora, mas sei que está a caminho. A ciência não é justamente isso? Manter a convicção a despeito do engano dos sentidos. E eu sei, seu brilho viaja na velocidade do cosmos. Partindo de outra galáxia, percorre anos-luz em direção à vida. Em breve, o céu ostentará mais um astro diante de mim. Será Esther de primeira grandeza.

Estrela-rainha, como o segundo sol no horizonte, a desafiar a lógica dos astrônomos. De repente, outra força surgirá para me atrair à sua órbita. Pode um corpo gravitar entre dois astros? Essa parecer ser a minha dialética; ser um satélite lunar que oscila no universo e orbita entre duas estrelas como quem dança no céu. Uma dança em dois tempos (talvez seja esse o ritmo do universo), separados por seis anos.

A vida que me impele para a frente agora exige que eu olhe para trás. Os últimos seis anos estão em vias de serem revividos de outra forma. O nascimento de outra estrela relembra a dádiva da criação que já existe e do Criador que nunca para; nascimento que é também renascimento. E brotamento, sem divisão, porque plural de pai é pai mesmo, já que amor é infinito.

Dois astros maiores a se destacar em meu céu. Dois planetas a serem desvendados, vastidão para o trabalho de uma vida. Terei diante de mim uma senhora consagrada a Deus e uma estrela pulsante com codinome de rainha.

Nesse momento, a dois meses-luz do parto, viaja em nossa direção como um cometa destinado a surgir no mês de Augusto. Quando a Terra estiver contando os dias em homenagem ao imperador que se foi, estarei admirando no céu a rainha nascente batizada de estrela.

Um brilho intenso, incapaz de ser eclipsado, resistente ao breu da lua nova e à claridade do sol da meia-noite. Estrela-guia para os navegadores, que como eu se orientam pelo brilho do alto para recuperar suas almas e encontrar sua trajetória. Nesse mar revolto da vida, só mesmo as estrelas para nos conduzirem. Um farol a iluminar caminhos, não pela expectativa de méritos, mas pela força inata e indiscutível presente no gênero, pelo fato de ser mulher.

A caminho do estrelado, avoluma-se no ventre da mãe, prestes a despontar na constelação. Enquanto isso, os dias passam no ritmo apressado, e olhando para o céu eu conto as astros, sabendo que dentro de duas luas outros poderão admirar sua luz.

Que missão essa de ser estrela! De um ser gregário que atrai e concilia, que apaixona e tranquiliza, que provoca e muitas vezes faz calar. De ser cantada em verso e prosa, em serenata à luz da lua, por ser estrela perene.

E eu, ao elevar os olhos para o alto, repetindo o ciclo na órbita dos meus astros, vou compreender a trajetória e descobrir que o céu é a vida que me fez gravitar em torno de minhas filhas.