ETOLOGIA NA PRODUÇÃO ANIMAL - PARTE I-

Por Romão Miranda Vidal | 30/12/2009 | Sociedade

Etologia na produção animal ( Parte I )

Vamos iniciar uma série de artigos relacionados com a ETOLOGIA ANIMAL. Esta série tem o cunho único de prestar um serviço de informações através do site www.webartigosos.com que vem dando voz à classe produtora e técnica, em especial à Médica Veterinária, com a qual tenho o dever profissional de informar a respeito dos assuntos relacionados a esta profissão. O que não representa afirmar que as demais profissões devam sentir-se excluídas, ao contrário, a Interdisciplinaridade só tende a elevar o nível profissional, ético e produtivo, razão pela qual também estendo esta nossa modesta colaboração ao demais profissionais. Com todo o respeito aos demais profissionais, os convido também a participar desta jornada de informação, fazendo seus comentários e correções em relação ao assunto ETOLOGIA ANIMAL.

Na realidade do que estamos nos predispondo a fazer é uma tradução fiel dos artigos relacionados com ETOLOGIA. De início vamos nos ater ao que a Dra. Ana Petryna publicou em 2002 com a supervisão do Dr. Guillermo Alejandro Bavera, Professor Titular Efetivo de Produção Bovina de Carne do Departamento de Produção Animal da Faculdade de Agronomia e Veterinária da Universidade Nacional de Rio Cuarto, Província de Córdobda, República Argentina. O Dr. Guillermo Alejandro Bavera é também responsável pelo site Produção Bovina de Carne. Quanto a Dra. Ana Petryna, ela foi a responsável pelo Curso Introdução a Produção Animal e Produção Animal I. O que estamos traduzindo refere-se a matéria existente no Capítulo XI, do mencionado Curso da Faculdade de Veterinária da Universidade de Rio Cuarto. Mais uma vez, vamos deixar claro que esta matéria será traduzida e colocada à disposição da classe produtora e técnica, que não é da nossa autoria, mas sim uma tradução.

Etologia - introdução

A etologia é uma subdisciplina da psicobiologia que aborda o estudo da conduta espontânea dos animais em seu meio natural. A etologia considera que é um conjunto de "rasgos" fenotípicos: isto significa que está influenciada por fatores genéticos e é, portanto, fruto da seleção natural. A etologia se preocupa em compreender até que ponto a conduta é um mecanismo de adaptação, para o qual trata de estabelecer em que medida influi sobre o êxito reprodutivo. Em resumo, a etologia pretende descrever a conduta natural, explicar como se produz, que função adaptativa cumpre e sua filogenia ou evolução. A etologia é uma disciplina relativamente nova dentro da ciência animal, ainda que alguns de seus princípios tenham sido usados na produção animal por anos.

Konrad Lorenz, geralmente considerado como o fundador da etologia, descobriu o "imprinting" (impressão), um processo de aprendizagem especialmente rápido e relativamente irreversível que ocorre usualmente dentro de horas ou de poucos dias depois do nascimento da aves e do gado. O "imprinting" inclui como conceito básico um animal aprendendo quem é a sua mãe e a que espécie pertence. Os animas como as pessoas são sociáveis. Eles interatuam, se comunicam, desenvolvem relações amistosas ou apegos, uns são dominantes, e outros são subordinados ou submissos, têm alguma necessidade de privacidade ou "território", e são afetados pelas interpretações sociais.

Através do entendimento do comportamento animal - como funciona em forma individual e em grupos - pode-se beneficiar os estabelecimentos produtores de aves e de gado.

Etologia - padrões de comportamento


Pode-se definir como sendo um padrão de comportamento com segmento organizado, cujo comportamento tem uma função especial. Sua natureza é determinada principalmente por herança, mas tal pode ser modificado por treinamento e aprendizagem. Os padrões de comportamento estão relacionados com a anatomia fundamental e os processos da vida do animal e em assim os são extremamente estáveis, devido às condições de domesticação e a uma intensa seleção. Para o bovino e ou ovino devem ser usados padrões de comportamento nativo, não importando quão inusitado é o ambiente dentro do qual estão localizados.

Os padrões de comportamento influenciam a maneira pela qual os bovinos e ovinos utilizam as pastagens de maneira extensiva. As observações de tais padrões podem influenciar nas decisões relativas ao tamanho e forma das pastagens, a carga animal por grupo, a distribuição das aguadas, a mistura de sais minerais ou o uso de pastoreio rotativo ou continuado. Do mesmo modo, o entendimento (conhecimento) e a observação podem ajudar a determinar o tamanho ótimo do grupo de terminação de suínos: o desenho do equipamento, a quantidade necessária de espaço para alimentar aves de postura ou potros. Conhecer os padrões de comportamento animal e como podem ser ensinados ou condicionados, permite o uso de dispositivos ou sistemas que podem ajudar o funcionário a ganhar tempo. Por exemplo, as vacas leiteiras têm sido condicionadas a sair da área de pastagem para se dirigir à sala de ordenha quando escutam o som de um sino, ou ainda aceleram o processo de liberação do leite quando escutam uma música seja ela de um rádio ou aparelho de som, instalado na sala de ordenha.

Causas de comportamento


A função primária do comportamento é capacitar um animal para adaptar-se a algumas modificações nas condições, sejam elas externas ou internas. Muitos animais apresentam uma variedade de padrões de comportamento os quais podem ser provados em uma determinada situação, e por esta razão aprendem a aplicar um ou outro padrão, com o qual se ajustam melhor. Uma vaca localizada na sala de ordenha pode tentar se movimentar ou permanecer quieta até a hora de ser liberada. Razão pela qual somente o último procedimento produz resultados, muitos animais elegem este tipo de padrão de procedimento ou de comportamento.

Sem dúvida, antes que um animal possa aprender os resultados obtidos através de um treinamento, com o qual atinge este tipo de comportamento, deve existir preliminarmente, o que se denomina resposta, ou seja, se elegem práticas e procedimentos, todos voltados para que o animal responda ao tipo de padrão comportamental esperado e exigido. Cada padrão de comportamento tem uma série de variedades de estímulos primários ou liberadores, o que de certa forma exibe um tipo de comportamento natural, uma vez que não foi submetido a uma experiência prévia. É o exemplo de uma matriz leiteira que pela primeira vez será ordenhada, provavelmente terá um comportamento diferente de todas as demais, pois é a primeira vez que entra em tal ambiente.

Pode-se observar que o comportamento apresenta várias causas genéricas. Uma delas é a organização geral hereditária das espécies, a qual determina os padrões de comportamento. Outra é a presença ou a ausência da estimulação primária, a qual produz o comportamento esperado: deve existir uma gama de variações, sejam elas relacionadas com o ambiente externo ou algo relacionado com o seu corpo para que o comportamento esperado ocorra. Explicando. No caso hereditário, vamos nos ater ao exemplo de aves de postura. Elas sempre irão produzir ovos em maior ou menor quantidade, dependendo da ração. Mas se para estas aves forem apresentadas condições especiais, como luminosidade e ração, haverá uma postura esperada dentro do padrão produtivo, ligado diretamente ao seu padrão genético.

Outro exemplo é o da matriz leiteira, que ao entrar em uma sala de ordenha, ouve o zumbido ou barulho dos motores e já se condiciona na liberação dos hormônios, e ao serem colocadas as "teteiras", imediatamente libera todo o leite existente. Ou ainda no caso de cavalos de corrida. São submetidos a uma série de procedimentos e treinamentos antes de serem inscritos para a sua primeira prova. Ao serem colocados no local de partida, já sentem-se estimulados e ao ser liberada a cancela, são estimulados com os gritos, com o toque leve de um pequeno rebenque e em respostas avançam rumo a reta final. Existem inúmeros exemplos em que a somatória do conteúdo genético e do estímulo exterior, produz os efeitos desejados de um determinado padrão de comportamento. Portanto os animais organizam seu comportamento fundamentalmente através do processo de aprendizagem.

Ciclos diários e estacionais do comportamento animal

Se nós formos vigiar o comportamento os animais que vivem sob as mesmas condições, regularmente uniformes e típicas da domesticação, veremos que freqüentemente fazem as mesmas coisas dia após dia, e em tempos regulares. Parte desta situação deve-se a formação do hábito, como é o exemplo das vacas que se aglomeram próximas a sala de ordenha no momento em que se inicia o processo de ordenha. Parte desta situação também é causada por trocas regulares nas condições ambientais, à medida que o dia avança em direção a noite. Os animais são mais ativos provavelmente no momento de grandes trocas ambientais, como no amanhecer e no anoitecer, e menos ativos ao meio dia e a meia noite. Parte desta situação é também causada pelos ritmos fisiológicos internos que são parcialmente independentes dos acontecimentos externos. Isto se repete aproximadamente com intervalos de 24 horas e por tal razão se denomina "ritmo circadiano" (Aschoff,1965). Qualquer que seja o fator que se faça presente, a maioria dos animais tende a viver uma existência altamente regular dia após dia.

Os animais também trocam seu comportamento de estação para estação. Parte desta ação é a resposta direta às trocas nas condições ambientais. É mais provável que os animais em pastoreio se tornem mais ativos durante o tempo de elevadas temperaturas do que durante os períodos de frio. Em compensação, estas trocas estacionais e no comportamento podem acompanhar a atividade de cria estacional, como veremos adiante. A maioria dos animais selvagens tem estações (períodos) de cria regulares, o que resulta em estações (períodos) regulares para o nascimento e para o cuidado da cria. Em muitos animais domésticos a estação (período) de cria tem sido modificada ou estendida por seleção artificial para incrementar a fertilidade, mas muitos, não obstante, mostram uma estacionalidade regular, digamos, constantes, em relação ao comportamento. Exemplos: ovinos e caprinos

Médico Veterinário Romão Miranda Vidal.

CRMV-PR-0039