ETNOMATEMÁTICA NA PRÁTICA DOCENTE NO ENSINO SUPERIOR: UMA...
Por Mauro Sérgio Soares Rabelo | 22/08/2016 | EducaçãoETNOMATEMÁTICA NA PRÁTICA DOCENTE NO ENSINO SUPERIOR: UMA ESTRATÉGIA MEDIADORA ENTRE A REALIDADE DO EDUCANDO E O CONTEÚDO MATEMÁTICO
Ivanilde Araújo Chagas[1]
Márcio Cley Maciel Faial
Orientador: Prof. Me. Mauro Sérgio Soares Rabelo2
RESUMO
Neste artigo temos como objetivo mostrar a importância da etnomatemática como estratégia mediadora entre a realidade do educando e o conteúdo matemático. A metodologia utiliza a etnomatemática na valorização dos saberes que o aluno possui, oriundo da sua realidade, seja como: pedreiros, carpinteiros, domésticas, feirantes, comerciantes, moveleiros entre outras. A metodologia proposta visa demonstrar que a prática do docente de matemática pode torna-se muito mais atrativo e de fácil entendimento, desde que haja contextualização com a realidade e que fuja de processos de memorização e de metodologias tradicionais
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INTRODUÇÃO
Quando se trata da prática docente no ensino superior, o ensino da matemática perpassa por metodologias e estratégias que possam conduzir o aluno a atingir o entendimento e a compreensão dos conteúdos matemáticos. A etnomatemática apresenta-se como uma proposta estratégica que tem o escopo de torna o conteúdo matemático mais significativo, ou seja, permitir que estes conteúdos possam de fato contribuir para a formação, e disponibilizar elementos que contribuam para aplicação na realidade pessoal e profissional dos educandos.
A forma como os conteúdos matemáticos são desenvolvidos em sala de aula, no ensino superior, em muitos casos, são ministrados a partir de uma prática docente que se sustenta em metodologias tradicionais que tratam o processo ensino aprendizagem como um ambiente de mera transmissão de conhecimento. O conteúdo matemático não deve ser desenvolvido dentro de uma visão superficial, distante das aplicações práticas e descontextualizadas. A construção do conhecimento necessita de uma justificativa plausível que convença os alunos da relevância destes conteúdos no mundo real.
Neste sentido, a etnomatemática mostra-se como estratégia mediadora que propícia à abordagem dos conteúdos matemáticos a partir da realidade vivenciada pelo aluno.
No primeiro capítulo, procuramos desenvolver um estudo especifico do tema etnomatemático, em que o objetivo se destina em promover reflexões e desenvolver a investigação na direção de se apresentar sua trajetória histórica até o momento de sua consolidação, segundo o entendimento do professor Ubiratan D’Ambrósio. Ulteriormente, demonstraremos sua acepção etimológica e, em seguida, apresentaremos, de forma clara e suscita, sua definição dentro de programa etnomatemático.
No capítulo seguinte, faremos um breve estudo das diferentes formas de como o conteúdo matemático se manifesta de forma informal dentro da realidade do educando. A matemática presente e vivenciada no cotidiano oriundo das interações em diversificados grupos e nas relações com o conjunto da vida social e cultural, isto é, os conceitos e aplicações dos conhecimentos matemáticas, independentemente, do ensino escolar e acadêmico, apenas pautada nas ideias e circunstâncias da experiência adquirida, em outras palavras, a matemática do dia-a-dia.
O terceiro capítulo tratará, exclusivamente, da etnomatemática como proposta metodologia mediadora entre o conteúdo matemático e a conhecimento matemático informal vivenciado cotidianamente pelo aluno no sentido de contribuir para o aprimoramento e melhoramento da prática docente no ensino superior. E tornar o ensino da matemática mais acessível e interessante para o aluno. Além de motivar e possibilitar o educando a refletir e problematizar a estruturação e restruturação da informação. Nesta perspectiva, a prática docente centrada numa metodologia etnomatemática possibilitará uma denotação significativa e útil para o conteúdo matemático.
- BREVE HISTÓRICO E DEFINIÇÃO DA ETNOMATEMÁTICA
Depois do fracasso do método utilizado para ensinar a matemática na década de 70, apareceram várias correntes educacionais e educadores matemáticos contra a maneira imposta de ensinar a matemática, como se fosse à linguagem única e universal. Além de condenarem a matemática como uma disciplina que não valoriza o conhecimento que o aluno traz do seu cotidiano para a sala de aula. Estes educadores passaram a observar um outro tipo de conhecimento, com base na realidade do aluno.
Nasce, então termos metafóricos de diferentes autores para designar esta matemática, que está presente em contextos culturais diferentes do ambiente acadêmico ou escolar e diferenciá-los da então tradicional matemática. Entre estes termos podemos destacar:
Zaslawsky em 1973, com sociomatemática; D’Ambrósio em 1982 com matemática espontânea; Posner em 1982 com a matemática informal; Carracher em 1982 e kane em 1987 com matemática oral; Gerdes em 1982 com matemática oprimida; Carracher em 1982, Gedes em 1985 e Harris em 1987 com matemática não-estandartizada; Gerdes em 1982 e 1985 com matemática escondida, ou congelada; Mellin e Olsen em 1986 com matemática popular; Sebastiani em 1987 com matemática codificada no saber-fazer. Foi a partir de então que surgiu o termo etnomatemática, onde essas metáforas ou sinônimos, nada mais eram do que a própria etnomatemática. Mas, foi apenas em 1985 que Ubiratan D’Ambrósio utilizou pela primeira vez o termo etnomatemática.
O prefixo ETNO se refere à etnia, isto é, a um grupo de pessoas de mesma cultura, língua própria e ritos próprios, ou seja, características culturais bem delimitadas para que possamos caracterizá-los como um grupo diferenciado. Hoje é aceito como algo muito abrangente, no que se refere ao contexto cultural, e portanto, inclui considerações como linguagem, jargão, códigos de comportamentos, mitos e símbolos, MATEMA é uma raiz difícil que vai na direção de explicar, conhecer e entender e TICA que vem do termo techne, que é a mesma raiz de arte e de técnica. Assim poderíamos dizer que etnomatemática é a arte ou técnica de explicar, entender e conhecer nos diversos contextos culturais. De acordo com D’Ambrosio (1983): “aproximação etimológica a que nos referimos nos permite dizer que etnomatemática é a arte ou a técnica (techné = tica) de explicar, de entender, de se desempenhar na realidade (matema), dentro de um contexto cultural próprio (etno).“
Cada Etnia constrói a sua etnomatemática no seu processo de leitura do mundo. É o processo de construção do conhecimento para a explicação do fenômeno e logicamente, cada uma dessas leituras é feita de forma diferente.
Na verdade, diferentemente do que sugere o nome, etnomatemática não é apenas o estudo de “matemáticas das diversas etnias”. Para compor a palavra etno matemática utilizei as raízes tica, matema e etno para significar que há várias maneiras, técnicas, habilidades (tica) de explicar, de entender, de lidar e conviver (matema) com distintos contextos naturais e contextos sócio-econômico da realidade (etno). (D’Ambrosio, 1996: 111 - 112).
A etnomatemática é a matemática do dia-a-dia do ser humano, independente do ensino escolar e acadêmico, em outras palavras, é a matemática do cotidiano e da cultura dos povos. Ela tenta estudar as ideias matemáticas nas suas relações com o conjunto da vida social e cultural.
Todas as pessoas, todos os povos, em diferentes culturas, possuem diferentes formas de lidar com o conhecimento matemático que lhe são próprios. Sejam eles os grupos indígenas da Amazônia, sejam as comunidades agrícolas do interior do Brasil, sejam os moradores dos grandes centros urbanos, todos produzem, de alguma forma, conhecimentos matemáticos. É claro que estes conhecimentos estarão muito fortemente ligados às práticas e vivências de cada um destes grupos em questão.
A etnomatemática valoriza estas diferenças e reconhece que todas as formas de produção do conhecimento matemático são válidos e estão sempre ligados a tradição, sociedade e cultura de cada povo.
A necessidade de o homem lidar com diversas situações da realidade para sua própria existência e sua ascensão está contida nos diversos ambientes culturais. Isto está ligado a etnomatemática, que é um programa que tem por base relacionar o conteúdo e a realidade do aluno e, vem se mostrando uma sugestão positiva para ser trabalhada pedagogicamente no ambiente escolar.
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