ÉTICA: UM DOS CAMINHOS PARA SE CHEGAR A UMA MUDANÇA NOS PARADIGMAS AVALIATIVOS ESCOLARES

Por CLECIA SIMONE GONÇALVES ROSA PACHECO | 10/12/2010 | Educação

Ética: um dos caminhos para se chegar a uma mudança nos paradigmas avaliativos escolares

Segundo o dicionário Aurélio entre outros, ética é o estudo dos juízos de apreciação referentes à conduta humana sustentável de qualidade de ponto de vista do bem e do mal, seja relativamente à determinação sociedade, seja de modo absoluto.
Bem, significa qualidade atribuída a ações e as obras humanas que lhe conferem um caráter moral que levam a busca e à definição de um fundamento que os possa explicar. Austeridade, moral e virtude. Bem é aquilo que é nocivo, prejudicial e, bom é aquilo se opõe ao bem, à virtude, à prosperidade, à honra. Fazer mal nada mais é que, incorrer em falta, errar.
A palavra ética possui dois significados principais segundo MOREIRA (1999, p. 21) "disciplina integrante da ciência da filosofia" e "conjunto de regras."
Como parte da filosofia, a ética é o estudo das avaliações do ser humano em relação às suas condutas ou às dos outros. Essas avaliações são feitas sob a ótica do bem e do mal, de acordo com um critério que geralmente é ditado pela moral. Como conjunto de regras, a ética é o rol dos conceitos aplicáveis às ações humanas, que fazem delas atitudes compatíveis com a concepção geral do bem e do mal.
Os conceitos éticos são extraídos da experiência e do conhecimento da humanidade. Há pelo menos cinco teorias a respeito da formação dos conceitos éticos, que nesse trabalho serão também referidos como preconceitos.
Partindo destes pressupostos, é possível afirmar que a primeira teoria é a fundamentalista que propõe que os conceitos éticos sejam obtidos de uma fonte externa ao ser humano, a qual pode ser um livro (por exemplo: a Bíblia), a um conjunto de preceitos adotados por um grupo, ou até mesmo outro ser humano.
Os críticos da teoria fundamentalista costumam dar ênfase ao fato de que ela não permite que o ser humano encontre o certo e o errado por si mesmo. Essa realidade pode levar as distorções conceituais.
A segunda teoria é a do utilitarismo que se baseia principalmente nas idéias de Jeremy BENTHAM (1748-1823) e John Stuart MILL (1806-1873). Esta teoria propõe que o conceito ético seja elaborado com base no critério de maior bem para a sociedade como um todo. Segundo esta teoria, diante de cada fato, o ser humano para escolher a conduta em maior conformidade com a ética, deverá selecionar aquela que gere o "maior bem" para a sociedade, não leva em conta o numero de pessoas beneficiadas, mas sim o tamanho do bem. Em outras palavras, em uma circunstancia na qual o maior bem beneficie poucos, em contraposição ao bem menor que possa ser feito a muitos, a primeira atitude deverá ser a escolhida.
Os critérios do utilitarismo colocam em destaque a dificuldade de se igualar em cada caso, o seu "bem maior para a sociedade". Alem disso, expressam os seus desagrados pela submissão da moral e uma regra matemática.
A terceira teoria é a do dever ético, defendida por Emanuel Kant (1724-1804) propõe que o conceito ético seja extraído do fato de que cada um deve se comportar de acordo com PRINCIPIOS UNIVERSAIS. Um exemplo seria o dever de cumprir com um compromisso assumido. É um princípio universal aquele que determina a quem assume uma obrigação e o dever de cumpri-la.
"Teoria Kantiana: dever ético a partir de conceitos universais aplicáveis a todos, sem exceções, desde que exija do próximo o mesmo que exigimos de nós." Kant propõe, também, que os conceitos éticos sejam alcançados através da aplicação de duas regras, a saber.
? Qualquer conduta aceita como padrão ético deve valer para todos os que se encontram na mesma situação, sem exceções;
? Só deve exigir dos outros, o que exigimos de nós mesmos.
A crítica a teoria Kantiana fundamenta-se na dificuldade de alcançar um consenso sobre quais sejam os princípios universais.
A quarta teoria é a contratualista, que se baseia, sobretudo, nas idéias dos nossos que possui uma moral própria teria as suas ações legitimadas sob o ponto de vista ético.
E a quinta e ultima informadora dos princípios éticos é a teoria do relativismo, segundo a qual cada pessoa deveria decidir sobre o que é ou não ético, com base nas suas próprias convicções e na sua própria concepção sobre o bem e o mal. Assim sendo, o que é ético para um pode não ser ético para outro.
A crítica a essa teoria é idêntica àquela feita em relação à anterior: ela pode ser usada para justificar ações que não são compatíveis com a concepção coletiva de moral.
Entretanto, o estudo de todas estas teorias revela que os conceitos ou preceitos éticos precisam ser elaborados tendo em conta todas elas, mas sem se ater a uma em especial. Todavia, cada conceito ético, para ser aceito como tal, precisa claramente encontrar protegido em pelo menos uma teoria.
Em suma, a ética é o estudo filosófico da natureza e dos fundamentos do pensamento e das ações morais. As teorias, no sentido puro do termo, são marcadamente diferentes dos sistemas ou doutrinas morais, que tem por objetivo a elaboração de conjuntos específicos de regras de condutas que orientam a vida (por exemplo, a moral cristã). Também se distingue da ética pratica ou aplicada, que analisa os argumentos empregados para embasar determinadas premissas ou conclusões morais (por exemplo, a condenação ou aceitação do aborto).
A questão geralmente considerada fundamental na ética filosófica é a justificação da moralidade, isto é, se é possível ou não demonstrar que uma ação moral é racional.
As escolas e correntes éticas podem ser divididas, grosso modo, em três categorias:
a) A primeira deriva da Ética de Aristóteles e privilegia as virtudes (Justiça, caridade e generosidade), tidas como propensas tanto a provocar um sentimento de realização pessoal àquele que age quanto simultaneamente beneficiar a sociedade em que o mesmo vive. A ética Aristotélica, por valorizar a harmonia entre a moralidade e a natureza humana concebendo a humanidade como parte da ordem natural do mundo, é também qualificar como naturalista.
b) A segunda, representada de modo mais sistemático e profundo por Kant, faz do conceito de dever o ponto central da moralidade. Kant dizia que a única coisa que se pode afirmar que seja boa em si mesma é a "boa vontade" ou "boa intenção", aquela que se Poe livremente de acordo com o dever. O conhecimento do dever, segundo Kant, é conseqüência da percepção, pelo sujeito, de que ele é um ser racional e que, portanto está obrigando a obedecer ao que Kant chamou de "imperativo categórico": a necessidade de se respeitar todos os seres racionais na qualidade de "fins em si mesmo." As idéias de Kant acerca da moralidade estão estritamente ligados à sua visão de livre arbítrio.
c) A terceira corrente dentro da ética é o utilitarismo, já mencionado anteriormente, segundo o qual o objetivo da moral é o de proporcionar "o Maximo de fidelidade ao maior numero de pessoas."
As teorias relativas à ética podem ser divididas conforme afirmação ou negação de existência de uma moral objetiva "HUME", por exemplo, como subjetivista, sustentava que a moral está profundamente enraizada nos sistemas humanos, e não em um princípio objetivo.
A ética no ultimo século tem ligado principalmente com a análise do significado da linguagem moral, abordando, por exemplo, as relações entre as afirmações morais e a expressão de atitudes emocionais. A ética pedagógica no pensamento de Martin BUBER, tem origem na religião, isso não significa dizer que tem que ser religioso para ser ético. Não existe na visão de BUBER um conforto entre o que é bom e o que é mal.
Para BUBER o ser humano aqui na Terra tem um caminho a percorrer e esse caminho já está determinado para ele e ele tem que segui-lo. Em sua óptica, mal, seria a pessoa não tentar seguir o seu caminho, ou seja, buscar no seu caminho ou então, ter noção do caminho, mas se negar a segui-lo. E bem, seria a pessoa estar se esforçando, encontrar e trilhar por esse caminho enviado para ele por Deus.
Questiona-se: Como vamos descobrir este caminho? BUBER, em seus textos, mostra seis anedotas (lendas) da cultura judaica que revela aspectos importantes para encontrar esses caminhos, pois nestas anedotas ele faz comparação dela com a questão da ética pedagógica, que é a reflexão que iremos dar mais ênfase.
Então, estas seis temáticas abordadas por BUBER, são: Autocomtemplação; o Caminho Específico; a Determinação; Começar Consigo; Não se preocupar consigo e Aqui onde se está.
A Autocontemplação discute sobre os princípios do agir pedagógico. Esta reflexão não aponta o caminho a ser seguido, mas chama atenção para algo que é condição primordial para encontrar o caminho, que é a autocontemplação.
Segundo BUBER, o educador não pode permitir que o seu educando se esconda de si mesmo. Ele tem que chamar a atenção dele, quando não se preocupar consigo e se perde em questão de disputa meramente intelectuais.
Com isso a reação do educador de querer mostrar o caminho certo para o seu educando, sem que haja uma autocontemplação por parte deles, pois isso seria um ato que fere a ética pedagógica.
Refletindo a partir deste parágrafo, entendemos que não adianta o educador quer mostrar o caminho ao seu educando, se ele não sentir a necessário que o educando toma esta decisão, cabendo ao educador mostrar a ele que ele é capaz.
Outra temática é O Caminho Especifico, onde BUBER fala que o caminho do homem não é o mesmo nem para todos, nem para alguns. O caminho é absolutamente individual. Para ele, o homem é responsável a buscar o seu próprio caminho. Em termos de ética pedagógica, o educador não tem em suas mãos o caminho pronto, ele tem que buscar superar os seus caminhos.
No principio da Determinação, na ética pedagógica, BUBER relata que foi difícil de compreender. Mas, segundo ele, o educador pode vigiar o caminho e chamar a atenção quando as obras ultrapassam a capacidade da alma do educando. Então, a postura ética do educador, nesse sentido é a de assumir o papel de guarda da unificação da alma dos seus educandos.
Esta reflexão deixa claro, a necessidade que o educador tem de não deixar o educando desviar-se do seu caminho ou não respeitar as suas próprias limitações.
Nesta fala, BUBER comenta sobre a influencia indireta ou direta exercida pelo educador no educando, e que é primordial que essa influencia seja positiva, e reflete também sobre alguns profissionais que deixam de exercer sua responsabilidade com plenitude, alegando condições externas (remuneração, adversidade política educacional, condições sociais, etc.)
Outra temática importante é Começar Consigo, onde reflete sobre o pensamento, a fala e pratica do educador, ou seja, não é fácil encontrar pesquisas que comprovem que o educador não fala no ato pedagógico o que pensa na teoria e não faz no ato o que pensa e não faz na pratica o que fala e o que pensa em fazer.
Isso demonstra que a maioria das mudanças que dizem "os educadores" quer fazer, na maioria das vezes ficam restritas no projeto pedagógico, e o mais importante ? a pratica pedagógica ? não acontecem às mudanças cruciais.
Outra reflexão interessante é sobre Não Se Preocupar Consigo, em que nos leva a concluir que o educador, segundo a óptica de BUBER, não pode aceitar qualquer caminho do seu educando, pois o povo que se leva em consideração não é livre escolha do caminho, é realmente encontrá-lo.
De acordo com o pensamento de BUBER, o mundo moderno, de novo, revela-se o contrario do que está intencionado na educação, sendo que, por mais que os educadores desempenham o seu papel, mas o "mundo" hoje está preparando os jovens para o caminho "destorcido", ou pelo menos, para caminhos que fogem os princípios éticos e muitas vezes os jovens não chegam a encontrar este caminho.
A ultima temática discutida por BUBER é que Aqui onde se está, que nos leva a meditar sobre a nossa realização autentica, se segundo o autor, ele depende de nós desperdiçarmos ou aproveitarmos as oportunidades que nos surgem.
Na óptica da ética pedagógica de BUBER, é responsabilidade do educador, educar para que o educando assuma a co-responsabilidade com plena realização dos entes e das coisas do mundo. Essa co-responsabilidade não significa necessariamente ter que seguir, a cidadania, a cooperação, a democracia, etc..O que BUBER quer mostrar é que o alcance delas está profundamente ameaçado quando o homem não começa exatamente de onde está, não é que elas sejam aceitas e valorizadas pelo referido autor.
Com isso, fica evidente que o caminho do educador se torna árduo, pois ele tem que "remar contra a maré", ou melhor, lutar, buscar a integridade moral, ética para seus educandos, sabendo que o "mundo lá fora" da escola mostra (ensina) realidades convertidas, distorcidas muitas vezes.
Então, a tarefa maior do educador é cuidar do seu educando para que ele não perca de vista o seu caminho individual, ou seja, não se deixe influenciar pelos meios (ambiente) em que vive, ou convive parcialmente, mas tenha criatividades suficientes para discernir o seu objetivo e trabalhar o seu caminho.
Diante de todas as temáticas abordadas na visão de vários autores, principalmente de Buber, surgiu a reflexão sobre a relação entre a ética e as mudanças nos paradigmas avaliativos escolares.
Alem de estabelecer o que deve ser, a avaliação implica estabelecer o que deve ser. Por conseguinte, a avaliação tem que responder à questão ética: o que deveríamos fazer? E à questão empírica: O que poderíamos fazer? Não basta desenvolve-la a serviço da ação e como um objeto de futuro, mas tomar decisões educativas embasadas em considerações de valor, de política e filosofia social.
A avaliação educacional, ao lidar com a complexidade do ser humano, deve orientar-se, portanto, por valores morais e paradigmas científicos. Os processos avaliativos não podem estar fundamentados, apenas, em princípios, critérios e regras da investigação cientifica e considerações metodológicas. Torna-se necessário, especialmente, recorrer a princípios de interação e relação social, numa analise ético-política das praticas metodológicas da avaliação.
O entrelaçamento obrigatório das questões "o que devemos fazer?" e "o que podemos fazer?" aponta justamente para a difícil tarefa de avaliar para promover mudanças avaliativas neste século. Em primeiro lugar, porque não basta ter conhecimento cientifico ou técnico em avaliação. As metodologias não deram conta, até então, da complexidade escolar. Não é suficiente o professor observar extensivamente os alunos, aplicar testes tecnicamente perfeitos, definir critérios precisos e registros complexos. Assim como de nada valem os externos e onerosos sistemas de avaliação estatais.
A finalidade primeira da avaliação é sempre promover a melhoria da realidade educacional e não descrevê-lo ou classificá-lo. O compromisso de qualquer estudo avaliativo, na concepção ético-política, é o de sugerir mudanças e abrir caminhos à construção de uma escola onde todos os educandos tenham seus direitos respeitados e tenham oportunidades de encontrar o seu próprio caminho para a conquista de seus ideais.
Entretanto, para concluir toda esta discussão ética e avaliação, fica evidente a urgência de se empreender mudanças nas praticas avaliativas, visto que na escola contemporânea não cabe mais as tradicionais formas de avaliar, de medir conhecimento do educando através de provas, testes, etc., pois esta pratica fere a ética pedagógica atual, visto que segundo, os Paradigmas Curriculares Nacionais, a ética diz respeito às reflexões sobre a conduta humana, e a conduta humana não pode ser quantificada e sim, qualificada, assim como às praticas avaliativas.
Portanto, é a necessidade urgente o educando contemporâneo refletir sobre as suas praticas avaliativas e buscar caminhos que os levam a avaliar não apenas o conteúdo do educando, mas a sua conduta ética, isto é, como esse educando age socialmente, ou tentar mostrar-lhe que é necessário a descoberta autentica do seu objetivo, para poder ser um cidadão ético, capaz de provocar mudanças futuras.
Este talvez seja o caminho mais próximo para se chegar a uma mudança nos paradigmas avaliativos escolares, que tanto se discute, mas a mudança crucial só depende do caminho que o educador escolher para seguir e através deste caminho mostrar para os seus educandos que é capaz, que se pode empreender mudanças nas praticas avaliativas, conquistando assim a confiança dos seus educandos e dos componentes do contexto escolar em que ele desempenham esta brilhante função-educar.
Finalizando, é possível afirmar com base nos pressupostos expostos neste texto, que a ética é fundamental em qualquer segmento, em qualquer grupo social, porém, o que difere é o fato de como ela é vista por determinados grupos. Porem, a prática da ética, é crucial para que qualquer ambiente tenha um clima organizacional suportável.


REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS

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RÖAR, Ferdinand. A ética pedagógica no pensamento de BUBER, Martin. (Texto do Módulo ? Filosofia e Ética Profissional ? Seminário de Mestrado)