Ética a Nicômaco

Por Rafael Augusto Gobis | 12/05/2008 | Filosofia

Ética a Nicômaco

Aristóteles

A obra Ética a Nicômaco é composta por 10 livros. Embora Aristóteles tenha voltado a tratar do tema em outros livros sobre ética[1], este é, sem dúvida, o principal de seus trabalhos no ramo.

Aristóteles nasceu em Estagira (por isso era chamado também de O Estagirita), província da Macedônia. Aproximadamente em 367 ou 366 a.C. partiu para Atenas, a fim de instruir-se nas artes filosóficas.

Na época, duas grandes instituições educacionais disputavam a preferência dos jovens. Uma delas era a Academia de Platão, que, escolhida por Aristóteles, foi sua casa por aproximadamente 20 anos.

Ali Aristóteles conheceu Platão e, ao que consta, tornaram-se amigos, apesar das divergências relativas à Filosofia. Há uma celebre frase creditada à Aristóteles: "Sou amigo de Platão, mas mais amigo da verdade".

Aristóteles teria, na Academia, criado as raízes que lhe permitiram escrever sobre Ética, alguns anos mais tarde.

O nome do livro deve-se principalmente ao compilador da obra, que foi Nicômaco, filho de Aristóteles (o pai de Aristóteles também chamava-se Nicômaco).

Aristóteles foi o primeiro filósofo a distinguir ética da política, sendo que a primeira exprime a ação voluntária e moral do indivíduo, enquanto a segunda exprime as vinculações do indivíduo com a sociedade.

Ética é uma palavra que pode ser definida como a ciência da conduta. Designa as concepções morais nas quais um ser humano tem fé.

Para Aristóteles o homem tem um único objetivo a ser perseguido:o bem.

No primeiro livro, Aristóteles dedica-se a virtude humana, que para ele são duas: as virtudes éticas e as virtudes dianoéticas.

Por virtudes éticas entende-se aquelas que nascem do hábito e as virtudes dianoéticas são aquelas que decorrem da inteligência e podem ser desenvolvidas por um ensinamento.

Por ser o bem o fim de todas as coisas, os fins distantes das ações são os mais excelentes e os que devem ser procurados, em detrimento dos fins secundários.

No livro II Aristóteles trata da virtude. Esta é uma qualidade potencial que só se realiza quando se agem com justiça.

A virtude não é um dom e pode ser adquirida mediante o ensino. Para isto o homem precisa ser educado, justo, comedido e razoável. Ela opõe-se ao mal e possui um valor mediador que interessa à Aristóteles.

A boa legislação torna bons os cidadãos por meio dos hábitos. As virtudes e os hábitos tornam os homens justos ou não.

No livro III Aristóteles estuda o valor das ações voluntárias e involuntárias. A virtude relaciona-se com as paixões e ações voluntárias. Já o relacionamento das paixões com as ações involuntárias ocorrem por compulsão ou ignorância.

Uma ação deliberada tem origem no desejo do sujeito. Este desejo pode ser racional e pode provir de uma escolha ou de uma intenção. O homem, assim, é responsável por sua virtude e por seus vícios.

No livro IV são descritas certas virtudes éticas que o homem deve possuir.

A generosidade é o meio termo em relação à riqueza, assim como a magnificência. Já a ambição é o desejo por honra. A calma é o meio termo para a cólera.

O livro V aborda a questão da justiça, estudada nos seus mais diversos tipos e relações.

Para Aristóteles, justiça é a disposição de caráter que torna as pessoas propensas a fazer o que é justo, desejando e agindo. Quando se conhece a boa condição, a má também se torna conhecida.

As virtudes dianoéticas são estudadas no livro VI. Elas dizem respeito à inteligência e são cinco: ciência, arte, prudência, inteligência e sabedoria.

A ciência demonstra os fatos; a arte tem por objetivo a criação; a prudência é baseada no bom senso e na razão; a inteligência é a detentora dos conhecimentos e, por fim, a sabedoria é necessária para as mais elevadas ações ou reflexões.

No livro VII Aristóteles ataca os homens que utilizam o saber para objetivos nefastos.

Para ele, deve-se evitar o vício, a incontinência e a bruteza.

Os livros VIII e IX, tratam da amizade e o amor. São os livros mais conhecidos de Aristóteles.

A amizade é uma virtude fundamental, necessária para a vida. É por meio dela que o homem pode se salvar e buscar a felicidade. Homens bons são amigos.

Segue tratando os tipos de amizade, argumentando que a verdadeira amizade poupa erros, impele belas ações e constitui a força de amigos.

Por fim, no livro X o assunto é a felicidade, bem supremo procurado por todos os homens.

O exercício da virtude pode dar-se pelo prazer. Para ter uma vida feliz, os homens escolhem o que é agradável e evitam a dor. O prazer é completo a todo o momento. Não há movimento ou geração no prazer, pois ele é um todo. O prazer completa a atividade como um fim alcançado.

A felicidade é atingida quando o homem se liberta dos males terrestres, mas não pode ser contínua. Por isso, é preciso ser virtuoso e respeitar os valores morais.

Referências

 

  • ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. 5ª ed.,São Paulo: Martins Fontes, 2007.
  • ARANHA, Maria Lúcia de Arruda e MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando – Introdução à Filosofia. 2ª ed. São Paulo: Moderna, 1997.
  • ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. São Paulo: Martin Claret, 2003.
  • ARISTÓTELES. Coleção "Os Pensadores". Rio de Janeiro: Nova Cultural, 2000.
  • CHAUI, Marilena. Introdução à História da Filosofia – Dos Pré-Socráticos à Aristóteles. 2ª ed., São Paulo: Companhia das Letras, 2002.
  • DURANT, Will.A História da Filosofia. Rio de Janeiro: Nova Cultural, 2000.
  • HUISMAN, Denis. Dicionário de Obras Filosóficas. São Paulo: Martins Fontes, 2002.

 


[1] Ética a Eudemo e Magna Moralia.