Eterno aprendiz prefiro continuar acreditando nas utopias, a vir a tornar-me o último dos românticos...
Por Francisco Antônio Saraiva de Farias | 21/04/2013 | CrônicasEterno aprendiz prefiro continuar acreditando nas utopias, a vir a tornar-me o último dos românticos...
Rouxinol que canta todas as manhãs na cumeeira da minha casa anunciou a chegada de mais um dia de sol esplendoroso. Abri a janela e a ele dirigi um olhar carinhoso e, como a compreender, ele dobrou o canto. Aquietei-me, olhar fixo naquele rouxinol celestialmente emoldurado pela grandiosidade e beleza do universo. Envolto a tanta beleza aflorou-me à lembrança de alguns dos meus professores. Do ensino fundamental lembrei-me da Prof. Nazaré, uma negra linda de lábios grossos e penteado de beleza singular, do casal Rui e Brasília. Foi lá, em Boca do Acre, no Patronato Nossa Senhora de Nazaré, onde aprendi as primeiras letras. Do ensino médio, confesso, guardo poucas lembranças. Do ensino superior, pedagogia/UFAC, 88/92, vivem em mim os ensinamentos de Maria Correa, Edir Marques de Oliveira, Evaristo de Lucas, Francisco Aldair Mathias, cujo prazer de ensinar nos impressionava. E tantos outros. Buscando de alguma forma homenageá-los, valho-me d’um texto de Neidson Rodrigues, do livro “As Lições do Príncipe e Outras Lições”, que recebi de presente da Profª Maria Correa, no encerramento da sua disciplina.
CAMINHOS...
Lá vem o viandante com seus incertos passos a seguir os seus caminhos certos. Trôpego e cansado, deixa escorrer gotas por suas faces escurecidas pelo sol de todo o tempo, levemente enrugadas e manchadas do pó do seu trabalho. Por entre folhagens e arbustos ergue-se frondoso e altaneiro o velho Jequitibá. Plantado à beira do caminho, sua enorme copa com suas robustas raízes que brotam do chão e abraçam fortemente a base enorme do seu tronco, contam não apenas sua história centenária mas igualmente a luta desencadeada para sobreviver. Seu tronco e raízes revelam o vigor despendido para não ser arrancado por tempestades e ventos durante o seu crescimento. O velho Jequitibá é testemunha de muitas histórias. Árvore frondosa, sob sua sombra, centenas, milhares de viandantes recobraram as forças gastas em muitas andanças. Os “caminhos dos homens do campo” passam por sob seus ramos. Alí está ele, forte, altaneiro, preso ao chão. Não teme mais a força das intempéries. E oferece proteção fresca e saudável aos caminhantes cansados. A ameaça de ser arrancado e lançado ao sabor dos ventos, ficou esquecida no passado. Moldado na adversidade do tempo, pode, hoje, exibir a segurança de suas raízes. Elas foram se enterrando em busca da seiva e da água, e quanto mais se aprofundavam se fortalecia o tronco.
Nos caminhos da política, somos, hoje, ao mesmo tempo, viandantes e Jequitibás. Seguimos estradas errantes e caminhos tortuosos, sempre à procura do lugar que nos ofereça possibilidade de criar raízes tão fundas que permitam ao tronco e folhas crescer cada vez mais alto à cata do sol. Viandantes e Jequitibás, estamos construindo a vida sob o impacto das tempestades e ventanias do cotidiano. Muitas vezes, sonhamos lançar nossas raízes em lugar protegido. Somos tentados a buscar a tranqüilidade do trabalho certo e dos caminhos sem conflito. Nestes momentos, não queremos confrontar nossa esperança de vida com os perigos das intempéries. Preferimos o sol sereno, brisa suave, água molhando as raízes plantadas nos jardins. Desejamos o crescimento disciplinado dos arbustos podados.
Mas tudo isso são devaneios passageiros. É que desenvolver-se a céu aberto e sob o impacto das incertezas ameaçadoras assusta apenas a espíritos acomodados... Os arbustos dos jardins que emolduram o contorno das habitações, não têm história. Sua segurança não depende da força de suas raízes mas das estacas que lhes colocam os jardineiros.