ESTUDO DE CASO, Caso Laura

Por ANGELICA PIOVESAN | 08/09/2010 | Psicologia

ESTUDO DE CASO
Caso Laura


Angélica Piovesan
Mariana Barreto
Carlos Cirino


Este é um estudo de caso de ficção baseado nas sessões de Laura, do seria-do In Treatment, primeira temporada. Paul é o psicanalista. Laura era médica, tinha 29 anos quando iniciou a psicoterapia. A queixa inicial da paciente era em relação ao seu namorado, Andrew, ele queria se casar, mas ela estava em dúvida.
Sua primeira relação sexual é contada quando ela decidiu que seria sua úl-tima sessão. David, era um homem mais velho, foi hospedado em sua casa por seu pai algumas vezes, Laura já conhecia David e sua esposa, passou um tempo com eles quando sua mãe morreu, ele foi personagem de seus desejos sexuais aos 16 anos. Pa-ul conseguiu fazer com que ela entendesse que na sua primeira experiência sexual onde ela achava que foi a sedutora, na verdade ela foi seduzida. A princípio, parecia ser essa a causa do seu sintoma.
Laura tem medo de assumir um compromisso, de sentir-se presa. Seus rela-tos são marcados por traições, términos e retornos na relação. Ela sempre fala da difi-culdade em sentir prazer. Confessou ter se apaixonado pelo terapeuta desde a primei-ra sessão.
Para Paul, David destruiu a capacidade de comunicação de Laura com os homens em contextos não-sexuais. O fato de não haver sexo entre ela e os homens não quer dizer que eles não reconheçam suas capacidades. Laura demonstra mudan-ças de humor e comportamento, oras está triste, oras está sorrindo. Seus relatos sexu-ais detalhados na intenção de provocar e seduzir Paul demonstra um comportamento histérico, faz jogo de sedução. Ela conta as fantasias que tem com o terapeuta quando está flertando com outros homens, em alguns casos, quando chega na hora H quer de-sistir de consumar o ato.
Para Bergeret (2006) "A histeria leva plenamente em conta a onipotência da pulsão e assume suas consequências: da percepção vertiginosa de seu limite ex-tremo, o desejo de desejo insatisfeito, a sua incorporação maior, a saber, a fantasia incestuosa".
A busca por novos parceiros, a culpa pela traição, e a afirmação da dificul-dade de ter prazer nos relatos das sessões, se repetem de tempos em tempos. Ela pa-recia estar num movimento de compulsão a repetição, pois para Freud, " a compulsão de repetição também traz de volta aquelas vivências do passado que não contêm ne-nhuma possibilidade de prazer, que tampouco naquele tempo puderam trazer satisfa-ções, nem mesmo das moções pulsionais desde então reprimidas." (FREUD, 1920/1982, p.230).
Desde a primeira sessão, há um ano atrás, Laura apaixonou-se por Paul, houve transferência, mas não foi percebida por ele. "A transferência é o conjunto de todas as formas pelas quais o paciente vivencia com a pessoa do psicanalista, na ex-periência emocional da relação analítica, todas as "representações" que ele tem do seu próprio self, as "relações objetais" que habitam o seu psiquismo e os conteúdos que estão organizados como "fantasias inconscientes", com as respectivas distorções perceptivas, de modo a permitir "interpretações" do psicanalista, as quais possibili-tem a integração real, o inconsciente com o consciente.(Zimermam, 1999, p.331)
Paul, interpretou a transferência erótica de Laura como sendo amor por ele, justificou pontuando os impedimentos éticos e de sua indisponibilidade para o rela-cionamento. Mas começou a se envolver sentimentalmente com Laura, fez contra-transferência, apesar de não reconhecer no início. Voltou a fazer supervisão com Gi-na após ter abandonado por 10 anos. Para Freud Contratransferência consistia nos sentimentos que surgem no inconsciente do terapeuta como influência nele dos sen-timentos inconscientes do paciente, ele destacava o quanto era imprescindível que o analista "reconhecesse essa contratransferência em si próprio, bem como a necessida-de de superá-la". (ZIMERMAN, 1999).
Diante de seus sentimentos descontrolados e de questões éticas envolvidas profissionalmente, Paul comunicou que iriam interromper gradativamente as sessões e isso fez com que ela, mesmo discordando da interrupção, voltasse para os braços de Andrew mais uma vez, ele é referencial de segurança e estabilidade para sua ansieda-de. Laura tenta de todas as formas que seu terapeuta confesse que está apaixonado por ela, pois tem certeza dos sentimentos dele por ela.
Diante da interrupção das sessões, Paul conseguiu confessar seu amor a Laura apesar de não querer transar com ela logo no início e continuar analisando as situações. O fato de Paul achar que David destruiu sua capacidade de comunicação com os homens foi um dos motivos que ele evitou o contato físico de imediato.
No final quando ele a procurou para conversar sobre a relação entre eles, assumindo que a amava, ela tentou levá-lo para cama e ele não conseguiu tocá-la por saber que inconscientemente não daria certo essa relação.
Apesar de alguns erros cometidos por Paul segundo a ética profissional da psicologia por causa do envolvimento sentimental, a terapia de Laura foi um sucesso, Paul conseguiu que ela reconhecesse que usava o sexo para se libertar das complica-ções emocionais, e ela lhe disse que não queria mais fazer isso, dando o fora nele.


REFERÊNCIAS
Zimerman, D. E. Fundamentos Psicanalíticos, Teoria, técnica e clínica, Artmed, Porto Alegre, 1999

Freud, Estudos sobre a Histeria (1893-1895) volume II, Imago, Rio de janeiro, 2006.

Bergeret, J. Psicopatologia Teoria e Clínica, 9ª. Edição, Artmed, 2006

ANDRÉ, J. " Laura ou os confins sexuais da necessidade". Estudos de Psicanálise ? Salvador ? n. 31 ? p. 64 - 75 ? Outubro. 2008

GUIMARÃES, R. M. ; BENTO, V.E.S. " O método do "estudo de caso" em psicanálise. PSICO v. 39, n. 1, pp. 91-99, jan./mar. 2008

GILIO, C. et. all. Os diferentes manejos da transferência. Instituto de Psicanálise Lacaniana I-PLA,