ESTUDO DE CASO: ALCOOLISMO SEM DISTINÇÃO DE CLASSE SOCIAL
Por Erasmo Braulino | 05/12/2009 | Saúde
1)Introdução:
Existem registros de consumo de álcool desde a Antigüidade. Embora o uso excessivo tenha efeitos prejudiciais aos seres humanos, o álcool é também usado como facilitador de relações, e seu uso em eventos sociais é amplamente aceito pela sociedade. Pesquisas recentes apontam para os efeitos benéficos do uso moderado de uma ou duas doses diárias Vieira, R.M.T.V. et al,(2005),apd, Lezak, (1995). Entretanto, a alta prevalência de indivíduos dependentes de álcool em todos os estratos sociais e em diferentes culturas, as alterações comportamentais resultantes de seu uso abusivo e os prejuízos sociais, econômicos e de saúde pública estimulam a realização de inúmeros estudos que buscam o entendimento dos seus efeitos sobre o organismo.
Um estudo epidemiológico realizado por Galduróz e Caetano (2004), no Brasil, obteve prevalência de 11,2% de dependentes de álcool, sendo 17,1% entre os homens e 5,7% entre as mulheres.O presente estudo de caso faz referencia ao uso abusivo de álcool, seus transtornos e conseqüências sobre um usuário, que procura tratamento em uma unidade de pronto atendimento P.A. de urgência e emergência psiquiátrica “Adauto Botelho”. A literatura sobre a dependência de álcool no Brasil, embora seja escassa e com as limitações decorrentes do uso das mais variadas metodologias pelos pesquisadores, tem mostrado uma prevalência variando de 3% a 10% na população geral adulta. Ataide,Inês F.C.(2008)
Ainda através de estudos epidemiológicos ,o (MS,2005) fez a constatação de que o uso de substâncias tomou proporção de grave problema de saúde pública no país encontra ressonância nos diversos segmentos da sociedade, pela relação comprovada entre o consumo e os agravos sociais que dele decorrem ou que o reforçam. O enfrentamento desta problemática constitui uma demanda mundial: de acordo com a Organização Mundial de Saúde, pelo menos 10% das populações dos centros urbanos de todo o mundo consomem de modo prejudicial substâncias psicoativas, independentemente de idade, sexo, nível de instrução e poder aquisitivo.
No Brasil, o alcoolismo é a terceira causa de aposentadorias por invalidez e ocupa o segundo lugar entre os demais transtornos mentais (Oliveira et al., 2000). Conforme Vieira,R.M.T. et al ,(2007).A política humanizada de tratamento para transtorno mental, aplicada pelo Estado de Mato Grosso, contempla o tratamento e atendimento de pessoas comprometidas com substâncias psicoativas, como álcool e drogas em nível de urgência e emergencia.Esse serviço de Saúde é oferecido por unidades descentradas do Centro Integrado de Assistência Psicossocial Adauto Botelho (Ciaps Adauto Botelho), da Secretaria de Estado de Saúde (SES), que são o Centro de Atenção Psicossocial- Álcool e Drogas (Caps-AD) e a Unidade III do Adauto Botelho.O acesso a esse tipo de tratamento é facilitado pelo atendimento dado pelas Unidades Básicas de Saúde da rede SUS, as policlínicas, os postos de Saúde e o Programa Saúde da Família (PSF) que podem encaminhar os pacientes que necessitam dos cuidados do CAPSi Adauto Botelho.PA(pronto atendeimento de urgências e emergência psiquiátrica) é porta aberta de atendimentopara as demandas judiciais e espontâneas . A equipe do CAPSI acolhe, avalia e encaminha para internação breve quando necessário e depois encaminha para os caps de referencia seja álcool e drogas ou pra tratamento com médicos de PSF ou das Unidades de saúde do município de Cuiabá . As internações são sempre em último caso, quando houver algum risco à vida do usuário conforme informações (S.E.S MT,2009) .
Em 2002, e em concordância com as recomendações da III Conferência Nacional de Saúde Mental, que o Ministério da Saúde passa a implementar o Programa Nacional de Atenção Comunitária Integrada aos Usuários de Álcool e outras Drogas, reconhecendo o problema do uso prejudicial de substâncias como importante problema da saúde pública e construindo uma política pública específica para a atenção às pessoas que fazem uso de álcool ou outras drogas, situada no campo da saúde mental, e tendo como estratégia a ampliação do acesso ao tratamento, a compreensão integral e dinâmica do problema, a promoção dos direitos e a abordagem de redução de danos(MS do Brasil,2005).
2) O Caso Propriamente Dito:
M.A.F.S, 36 anos, sexo masculino, casado, engenheiro eletricista, desempregado, natural de cidade de Cuiabá, estado de Mato Grosso,atualmente reside bairro Buritis em Cuiabá-MT,procurou o serviço do pronto atendimento PA Adauto Botelho espontaneamente e de forma voluntaria,veio acompanhado da esposa, foi encaminhado para avaliação psiquiátrica e psicológica em decorrência da dependência alcoólica e queixas pico hipertensivo e diabetes, fazendo uso de medicação para ambas patologias ,paciente relata ter passado por ato cirúrgico para colocação de estender em artéria renal,e que através de consulta com seu medico ,acredita que novamente terá de submeter a ato cirúrgico com o mesmo fim,devido a obstrução da luz da artéria e veia portal. Concluiu o terceiro grau. É o terceiro filho de uma prole de 4,de família de agricultores. Relata que seu pai foi dependente de álcool, bem como seus irmãos ainda o são. Iniciou uso de bebidas alcoólicas aos 16 anos com os colegas, quando foi para a escola noturna. Tendo relatado espontaneamente que se encontrava abstêmio desde o início da semana, em virtude de ter passado ter tido um pico de hipertensão mesmo tomando medicações e freqüente medo de morrer. Durante a entrevista de avaliação, apresentou-se sóbrio, manifestou compreensão e expressão verbal espontânea adequada, condizente com seu nível sociocultural.
3) Consulta de enfermagem:
A Consulta de Enfermagem supõe a entrevista para coleta dos dados, o exame físico, o estabelecimento do diagnóstico de enfermagem, a prescrição, a implementação dos cuidados e a orientação das ações relativas aos problemas encontrados. A partir dos diagnósticos efetivados, serão adotados condutas de resolutividade própria, ou de encaminhamento ao profissional ou serviço competente, no caso de a intervenção fugir ao seu âmbito de atuação.
Ao exame físico,Consciente, calmo, orientado no tempo e espaço, comunicando- verbalmente, abertura ocular espontânea, pupilas isocóricas, e esclerótica em ton ictérica, couro cabeludo sem descamação ou sujidade,cabelos limpos e aparados, conjuntivas coradas(róseas), acuidade auditiva normal D e E sem sujidade ou anormalidade, nariz sem coriza e sem desvio de septo, fala normal, boca com dentição própria e completa ,com boa higiene.Pescoço normal sem gânglios palpáveis ou infartados. Tórax simétrico com boa expansibilidade, frêmito torácico vocal presente, ausculta pulmonar sem presença de ruídos, com sons claros e limpos . Ausculta cardíaca sons normocardio. Abdômen plano, intumescido, som timpânico e presença de ruídos hidroaéreos, constatado pequeno aumento renal, Pele íntegra, boa perfusão periférica, MMII sem edema ou lesão, Sinais Vitais: PA:150x90;(hipertensão), FC:68 bpm; FR:26 rpm; Tº: 35,8ºC; Pulso 82 bpm,realização de destro com resultado de 156(hiperglicemia).
4) A Situação problema:
Fatores determinantes,para o individuo tornar-se alcoólatra,influencias familiares e sociais,genéticas e hereditárias.Dificuldades no atendimento por equipe multidisciplinar,o estigma do alcoolismo e a síndrome de abstinência.
5) O Problema :
Alcoolismo,e os prejuízos sociais e familiares,com acometimento da força jovem de trabalho no estado de mato grosso,o acolhimento tendo como porta de entrada o Pronto Atendimento Capsi (Adauto Botelho).
6)Estrutura funcional e acolhimento no Capsi :Unidade Pronto atendimento de Urgências e emergências Psiquiátricas (Adauto Botelho)
No Capsi , o paciente é acolhido por uma equipe multiprofissional composta por psicólogos, Assistente Social, Clínico Geral, Psiquiatra e outros profissionais que, após o acolhimento inicial do paciente, discute-se o estabelecimento de um projeto terapêutico individualizado.contando com protocolo próprio medicamentoso e de atuação frente a cada quadro apresentado pelo usuário do serviço.
Uma das maiores causas do sucesso do tratamento é a aceitação, por parte do paciente dependente de substâncias psicoativas, de que ele precisa de ajuda. Porque o que se busca no CAPSi é a ressocialização e a autonomia que significa que o paciente alcance uma situação em que possa ser reintegrado ao convívio familiar e na sociedade.
O acolhimento oferecido a esses pacientes inclui a internação, para observação de 72 horas e posterior encaminhamento ao serviço de referencia ou seja a Unidade do CAPS AD, Que só acolhe pacientes com encaminhamento feito pelo Pronto Atendimento do CIAPS Adauto Botelho ou via Poder Judiciário.
Já o Ministério da Saúde,(2008) decidiu atuar emergencialmente para controlar um cenário epidemiológico em expansão do consumo de drogas, como álcool, crack, solventes e cocaína (pasta base, crack e merla), inalantes drogas sintéticas, entre outras. Apesar disso, a droga mais difundida no mundo ainda continua sendo o álcool. No Brasil, o consumo abusivo demonstra tendência de crescimento.
É o que apontou a pesquisa de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel 2008), realizada por amostragem com 54 mil pessoas residentes nas capitais dos estados e no Distrito Federal.Em 2008, 19% dos entrevistados declararam ter consumido álcool de forma abusiva em algum tipo de situação nos últimos 30 dias. Em 2007, haviam sido 17,5%, e em 2006, o primeiro ano do Vigitel, foram 16,1%. O consumo é mais frequente nas faixas etárias mais jovens, conforme demonstrou a pesquisa.(Brasil.M.S.(2008)
Segundo ainda , Souza,D. P. O.,et al ,(2005),o município de Cuiabá na amostra total (13,4%) e entre os adolescentes trabalhadores (14,9%) e não-trabalhadores (12,6%). Esses dados sugerem maior precocidade do consumo de álcool entre os adolescentes
7)Referencial teórico:
O alcoolismo, segundo a OMS, é uma doença de natureza complexa, na qual o álcool atua como fator determinante sobre causas psicossomáticas preexistentes no indivíduo e para cujo tratamento é preciso recorrer a processos profiláticos e terapêuticos de grande amplitude. Já os alcoólatras são bebedores excessivos, cuja dependência do álcool chega a ponto de acarretar-lhes pertubações mentais evidentes, manifestações que afetam a saúde física e mental, suas reações individuais, seu comportamento socieconômico ou pródromos de perturbações desse gênero e que, por isso, necessitam de tratamento (CORDEIRO et al., 1954).
Na atualidade houve substituição desse termo, passando-se a denominar os usuários bebedores problemas e os dependentes de álcool em alcoolistas (BRASIL. M.S.,1990).
Para (Laranjeira,R.2000,et al),a avaliação inicial de um paciente que refere uso crônico de álcool deve ser muito cuidadosa e detalhada.A partir dessa investigação criteriosa é possível que se determine o nível de comprometimento no momento da intervenção, os problemas relacionados a esse uso e à presença ou não de complicações e comorbidades associadas.
A redução ou a interrupção do uso do álcool em pacientes dependentes produz um conjunto bem definido de sintomas chamado de síndrome de abstinência. Embora alguns pacientes possam experimentar sintomas leves, existem aqueles que podem desenvolver sintomas e complicações mais graves, levando-os até a morte.O quadro se inicia após 6 horas da diminuição ou da interrupção do uso do álcool, quando aparecem os primeiros sintomas e sinais. São eles: tremores, ansiedade, insônia, náuseas e inquietação.Sintomas mais severos ocorrem em aproximadamente 10%dos pacientes e incluem febre baixa, taquipnéia, tremores e sudorese profusa,em cerca de 5% dos pacientes não tratados,conforme (Laranjeira,R.2000,et al).
Segundo,(Laranjeira,R.2000,et al), Um conjunto de sintomas, de agrupamento e gravidade variáveis,ocorrendo em abstinência absoluta ou relativa do álcool, após uso repetido e usualmente prolongado e/ou uso de altas doses. O início e o curso do estado de abstinência são limitados no tempo e relacionados à dose de álcool consumida imediatamente antes da parada e da redução do consumo.
Conforme,(Laranjeira,R.2000,et al) a síndrome de abstinência pode ser complicada com o aparecimento de convulsões. Os sintomas mais freqüentes são: hiperatividade autonômica; tremores; insônia; alucinações ou ilusões visuais, táteis ou auditivas transitórias; agitação psicomotora; ansiedade;e convulsões tipo grande mal. O diagnóstico médico pode ainda ser mais especificado, utilizando-se os seguintes códigos:
F 10.30: Síndrome de abstinência não complicada;
F 10.31: Síndrome de abstinência com convulsões.
A SAA evolui com maior ou menor gravidade e pode ser complicada por delirium tremens, descrito a seguir de acordo com os critérios da CID - 10. Alguns fatores estão associados a uma evolução mais grave, e funcionam como preditores de gravidade da SAA, tais como: história anterior de síndrome de abstinência grave (repetidas desintoxicações); alcoolemia alta sem sinais clínicos de intoxicação; sintomas de abstinência com alcoolemia alta; uso de tranqüilizantes e hipnóticos;e associação de problemas clínicos e psiquiátricos ,(Laranjeira,R.2000,et al).
A ingestão de álcool provoca diversos efeitos, que aparecem em duas fases distintas: uma estimulante e outra depressora.Nos primeiros momentos após a ingestão de álcool, podem aparecer os efeitos estimulantes como euforia, desinibição e loquacidade (maior facilidade para falar). Com o passar do tempo, começam a aparecer os efeitos depressores como falta de coordenação motora, descontrole e sono. Quando o consumo é muito exagerado, o efeito depressor fica exacerbado, podendo até mesmo provocar o estado de coma(Cebrid-Unifesp,2009).
Segundo dados da (O.M.S,2001) cerca de 10% das populações dos centros urbanos de todo o mundo consomem abusivamente substâncias psicoativas, independente da idade, sexo, nível de instrução e poder aquisitivo. Há uma tendência mundial que aponta para o uso cada vez mais precoce de substâncias psicoativas, incluindo o álcool. O álcool é responsável por cerca de 1,5% de todas as mortes no mundo.
Para o (Ministério da Saúde,1997)O uso de álcool e outras drogas têm conseqüências diretas e indiretas nos seguintes agravos à saúde:
Aumento da violência doméstica, sendo que 2/3 dos casos de espancamento de crianças e de agressões entre marido e mulher, ocorrem com pais e/ou maridos embriagados e Provoca o fenômeno de crianças e adolescentes em situação de rua pela desagregação familiar. As meninas usam mais álcool, solventes e anorexígenos do que os meninos e iniciam mais precocemente o uso do álcool e do tabaco.
As ações em saúde, sejam elas em saúde mental ou não, são desenvolvidas pelos municípios. Ao Estado cabe desenvolver ações de acompanhamento, assessoramento, monitoramento e avaliação destas ações e proporcionar meios para que elas ocorram.
Os efeitos do álcool variam de intensidade de acordo com as características pessoais. Por exemplo, uma pessoa acostumada a consumir bebidas álcoólicas sentirá os efeitos do álcool com menor intensidade, quando comparada com uma outra pessoa que não está acostumada a beber. Um outro exemplo está relacionado a estrutura física; uma pessoa com uma estrutura física de grande porte terá uma maior resistência aos efeitos do álcool(Cebrid/Unifesp,2006).
Os estudos neuropsicológicos, mencionados a seguir, apontam alterações cognitivas, comportamentais e emocionais, além da qualidade do funcionamento mental,em indivíduos alcoolistas (dependência atual ou abstinência), que oferecem importantes informações para um melhor entendimento do funcionamento cerebral. Déficits cognitivos têm sido relacionados com anormalidades cerebrais tanto na substância branca quanto na cinzenta. Tem-se constatado atrofia cerebral por meio de diferentes estudos todos
As investigações também têm procurado entender as relações entre os déficits decorrentes do consumo de álcool e a idade, bem como as quantidades de ingestão ,Vieira,R.M.T.. et AL(2007)apud Parsons(1998). Muitos estudos apontam para prejuízos nas funções executivas, em habilidades visuo-espaciais e velocidade psicomotora Vieira,R.M.T.. et AL(2007)apud Parsons(1998 .
Já Vieira,R.M.T.. et AL(2007)apud Parsons(1998), em programas de pesquisas ao longo de décadas, observou que alcoolistas apresentam déficits em testes de aprendizagem, memória, abstração, solução de problemas, análise e síntese perceptuais, velocidade e eficiência no processamento de informação. Seus estudos apontam para um continuum de déficits neurocognitivos indo desde pacientes mais graves (Korsakoff) até aqueles com déficits moderados ou leves em indivíduos que apresentam ingestão mais moderada de álcool. Vieira,R.M.T.. et AL(2007)apud Sullivan et al. (2000) .
Os resultados indicaram que os alcoolistas, comparativamente ao grupo controle, apresentam prejuízos nas funções executivas, habilidades visuoespaciais e também no caminhar e equilíbrio. O padrão de déficits funcionais implica pelo menos dois sistemas neurais principais: o cerebelar-frontal e o corticocortical entre o pré-frontal e o parietal. Além disso, a idade e a quantidade de consumo de álcool eram melhores preditores de prejuízos motores do que cognitivos.
Em estudo realizado pelos mesmos autores com mulheres (2002), observaram-se prejuízos mais marcantes nas funções visuoespaciais e que envolvem processos de memórias de trabalho verbal e não-verbal, além do caminhar e do equilíbrio. O tempo de consumo de álcool relacionou-se a prejuízos severos em Cubos (block design) do Wechsler Adult Intelligence Scale – Revised (WAIS-R) e memórias verbal e não-verbal.Os dados foram sugestivos de rupturas nos sistemas cerebelar, pré-frontal e parietal superior Vieira,R.M.T.. et AL(2007)apud Sullivan et al. (2000) .
Cunha e Novaes (2004) apresentaram descrição dos prejuízos neuropsicológicos nos casos de dependência aguda (atenção, memória, funções executivas e habilidades visuoespaciais) e de abuso crônico (memória, aprendizagem, funções visuoespaciais, velocidade de processamento psicomotor, funções executivas e tomada de decisões).
Vieira,R.M.T.. et AL(2007)apud(.Tedstone e Coyle (2004) investigaram o desempenho de indivíduos com ingestão etílica moderada em tarefas neuropsicológicas e diferentes aspectos de atenção. Na comparação destes com não-alcoolistas, indivíduos com ingestão moderada apresentaram prejuízos significativos em todas as tarefas neuropsicológicas, em atenção dividida e em prova de inibição de estímulos (Stroop). Entretanto, apresentaram um desempenho normal em teste que mede atenção seletiva ,(Vieira,R.M.T.. et AL).
7-1) Diabetes mecanismos ,sinais e sintomas :
Para, Potter PA, Perry AG,(2002), diabetes , é uma doença do metabolismo, caracterizada por deficiência total ou parcial do hormônio insulina. É resultante da adaptação metabólica ou alteração fisiológica em quase todas as áreas do organismo.Segundo Guyton & Hall (2002), o Diabetes Mellitus “é uma síndrome de comprometimento do metabolismo dos carboidratos, das gorduras e das proteínas, causada pela ausência de secreção de insulina ou por redução da sensibilidade dos tecidos à insulina”. O pâncreas é o principal órgão afetado pelo distúrbio
Os principais sintomas de hiperglicemia são: aumento da sede (polidipsia), excesso de urina (poliúria), muita fome (polifagia) e emagrecimento. Outros sintomas são: sonolência, dores generalizadas, formigamentos e dormências, cansaço doloroso nas pernas, câimbras, nervosismo, indisposição para o trabalho, desânimo, turvação da visão, cansaço físico e mental. Em relação à hiperglicemia, torna-se importante educar melhor as crianças e suas famílias quanto os principais sinais e sintomas da mesma, uma vez que o diabetes é uma doença crônica, que a médio e longo prazo pode trazer conseqüências como a retinopatia diabética (Potter PA, Perry AG,2002).
Para Brunner & Suddarth (2002), a meta principal no tratamento para Diabetes é tentar normalizar a atividade de insulina e os níveis de glicose sanguínea, numa tentativa de reduzir o desenvolvimento das complicações vasculares e neuropáticas sem alterar drasticamente os padrões usuais de atividade do paciente.
7-2) Hipertensão mecanismos ,sinais e sintomas :
Segundo Brunner e Suddarth (2005), a Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) ocorre quando a pressão arterial sistólica se encontra superior a 140mmHg e a pressão arterial diastólica maior que 90mmHg, durante um período sustentado, com base na média de duas ou mais mensurações. A hipertensão apresenta-se como uma condição multifatorial, podendo ter como causas alterações em fatores que afetam a resistência periférica e o débito cardíaco, ou modificações com os sistemas de controle que monitoram ou regulam a pressão, entre outras causas.
De acordo com Brunner e Suddarth (2002), os sinais e sintomas específicos sobrevêm, eles geralmente indicam a lesão vascular, com manifestações específicas relacionadas com os órgãos servidos pelos vasos afetados. A cardiopatia coronariana como angina ou infarto do miocárdio é uma consequência comum da hipertensão. A hipertrofia ventricular esquerda acontece em resposta a carga de trabalho aumentada sobre o ventrículo, quando ele se contrai contra a pressão sistêmica mais elevada. Quando a lesão cardíaca é extensa, surge a insuficiência cardíaca.
As alterações patológicas nos rins (indicadas pelos níveis aumentados de uréia e creatinina no sangue) podem manifestar-se como nictúria. O envolvimento vascular cerebral pode levar a um acidente vascular cerebral ou crise isquêmica transitória (TIA), manifestada por alterações na visão ou fala, tonteira, fraqueza, uma queda súbita ou paralisia temporária em um lado (hemiplegia). Os infartos cerebrais contribuem para a maioria dos acidentes vasculares cerebrais e TIAs nos pacientes com hipertensão (BRUNNER; SUDDARTH, 2005).
Para, Ávila et al (1996),apud, Halper M,(1967). a causa mais comum de oclusão de artéria renal levando a infarto renal é a embolização de origem cardíaca.Sendo um subgrupo de doenças onde a obstrução vascular renal é causada pelo deslocamento de placas de ateroma. Ocorre em aproximadamente
7.3) Patologias ligadas a ingestão excessiva de álcool,seus determinantes e complicadores :
Sistema nervoso central: Apagamentos (amnésia lacunar),Convulsão ,Diminuição da habilidade motora e transtornos motores , Diminuição da capacidade cognitiva,Neuropatia sensório-motora periférica,Síndrome de “Wernicke-Korsakoff”: oftalmoplegia + ataxia + confusão, mental + alterações de memória, Degeneração cerebelar, Encefalopatia hepática, Demência relacionada ao álcool, Transtornos neuropsicológicos relacionados ao álcool e Traumatismo crânio encefálico.
Sistema gastrointestinal: Pancreatite crônica, Esteatose hepática, Hepatite alcoólica, Hemorragia digestiva
Cirrose hepática com ou sem hepatite alcoólica, Gastrite, Esofagite de refluxo e
Tumores
Sistema ósteo-muscular: Fraqueza muscular proximal, Miopatia generalizada, Osteopenia, Quedas freqüentes e fraturas
Anormalidades hematológicas: Distúrbios de coagulação, Anemias por deficiência nutricional
Sistema cardiovascular: “Holiday Heart Syndrome”: episódios de arritmia supraventricular após grande ingestão alcoólica, Arritmias: fibrilação atrial, flutter atrial, extrassistolia, Insuficiência cardíaca, , Miocardiopatia alcoólica, Hipertensão arterial.
Sistema endócrino: Hipoparatireoidismo transitório Alteração do ritmo menstrual, Impotência sexual (por diminuição de testosterona), Ginecomastia , Diabetes ,Infertilidade, Diminuição da libido, Diminuição dos caracteres sexuais masculinos.
Alterações metabólicas: Hipomagnesemia, Hipoglicemia, Hipopotassemia, , Cetoacidose.
Renal: Rabdomiólise / Insuficiência renal aguda
Dermatológico: Pelagra ,Afecções secundárias de pele, Eczemas, Queda de cabelo, Aranhas vasculares, , Eritema palmar, Dermatite seborréica, rinofima, Prurido, Rubor facial.
Ecmoses, Xerodermia, Alterações Nutricionais, Deficiências vitamínico-minerais
Deficiências protéica.
Complicações psiquiátricas: Alterações do sono, Transtorno de personalidade anti-social, Suicídio e ideação suicida, Transtornos depressivos e Transtornos ansiosos.
Segundo FORTES (1975), os setores do organismo atingidos mais severamente são: fígado, pâncreas, sistema cardiovascular, aparelho digestivo, rins, aparelho respiratório, sangue e tecido hematopoiético, aparelho reprodutor, musculatura esquelética, glândulas endócrinas e sistema nervoso central.
Outros autores tais como JORGE & FERRAZ (1981) também revelam a associação de alterações emocionais e orgânicas nos indivíduos que ingerem
abusivamente álcool, num estudo sobre o que leva um alcoólatra à internação, tendo encontrado na sua amostra, que 67,8% das primeiras internações se deve ao comprometimento a nível psicológico ou orgânico (vômitos, tremores, caimbras, desmaios, anorexia, insônia, nervosismo, agressividade, alucinações, tentativa de suicídio).
7.4) As intervenções da enfermagem :
Os princípios básicos para a assistência aos usuários de álcool e outras drogas, não se diferenciam das demais áreas da enfermagem, há necessidade de se promover a aliança terapêutica através de um ambiente acolhedor, da empatia (fundamental para a motivação), conduzindo ao relacionamento interpessoal. Garantindo ao indivíduo assistência integral e contínua e contribuindo para a competência coletiva do trabalho da equipe. É particularmente importante boa comunicação e o trabalho cooperativo. O paciente deve ser entendido e abordado sob a ótica da totalidade numa perspectiva holística (a chave da intervenção terapêutica) que tem como foco principal o ser humano na compreensão e tratamento do problema ou desconforto. Nessa visão, o uso da substância química é visto como o agente gerador de malefícios, que precisa ser tratado de alguma maneira, mas, inegavelmente, o indivíduo deve receber os aportes necessários para alcançar o seu equilíbrio. Nesse sentido, o enfermeiro pode auxiliar nessa instrumentalização, incentivando e apoiando os usuários a assumirem a responsabilidade pela melhora na qualidade de sua vida em todos os níveis.
Já, no atendimento inicial, o enfermeiro identifica os problemas associados ao uso das substâncias, ouve as queixas do paciente, percebe os mecanismos de defesa envolvidos (negação, por exemplo), identifica o padrão de consumo da substância no dia, no mês e ao longo da história do paciente, na busca da caracterização do uso nocivo ou dependência. Com base nisso, ele pode classificar esse usuário como dependente (ou não) e de que substância. Nessa primeira entrevista, é importante o enfermeiro ouvir as queixas do paciente, valorizar seus problemas e não fazer julgamentos de valor. Nessa ocasião, podem ser utilizados instrumentos padronizados para a coleta de informações. Ao finalizar a entrevista inicial, é importante dar um retorno sobre as queixas do paciente e apresentar os objetivos do programa de atendimento, o contrato terapêutico, a necessidade de participação de um familiar no tratamento, possíveis interconsultas com outros profissionais da equipe e o planejamento do próximo atendimento.
No processo de acompanhamento, que pode ter como objetivo a desintoxicação (programa de atendimento aproximadamente de
Uma das estratégias que pode ser utilizada pelo enfermeiro no processo de tratamento é o aconselhamento (cuja base é a terapia - cognitiva), buscando fornecer ao pacientes conselhos diretos que promovam reflexões e mudanças de comportamento de maneiras enfáticas. Algumas vezes resumem-se a orientações específicas e, em outras, são necessárias indicações como a redução do consumo e a substituição de uma substância por outra de "menor nocividade", e até sugestões mais drásticas, como a indicação de abstinência total.
Nesse contexto, o enfermeiro pode utilizar outras estratégias que são desenvolvidas concomitantemente no processo de tratamento e reabilitação do usuário de álcool e outras drogas; a prevenção da recaída, a intervenção motivacional e a intervenção breve.
A prevenção de recaída consiste num repertório de meios e estratégias que o indivíduo usuário pode utilizar para evitar recaída em certos comportamentos que fazem parte do quadro da dependência Marlatt A, Gordon J.(1993)
Seu fundamento remonta aos princípios da teoria do aprendizado social, constituindo um programa estruturado, visando ao autocontrole, que inclui procedimentos de treinamento de habilidades, intervenções e mudanças no estilo de vida, Pillon,S.C.2004 apud Beck AT, Wright F, Newmann(1993).
O foco central é a manutenção do processo de mudança do comportamento, objetivando inclusive prevenir a ocorrência de lapso (uso da substância, sem continuidade), mais freqüente no início do tratamento e que esse não se transforme em recaída (retorno ao padrão de uso anterior ao tratamento) Marlatt A, Gordon J.(1993).
Daí a importância da intervenção motivacional, Pillon,S.C.2004,apud Miller WR, Rollnick S(1991). enquanto estratégia baseada em pressupostos da psicologia motivacional. O enfermeiro pode exercê-la incentivando a motivação do usuário para mudar seu comportamento de beber, planejando suas ações de maneira a se proteger das situações de risco e a fazer planos para o futuro.
A intervenção breve Marlatt A, Gordon J.(1993), envolve procedimentos de ensino de meios de autocontrole para atingir os objetivos da abstinência ou diminuição da quantidade e/ou freqüência de uso da substância. Pode ser feita em sessões breves por meio da técnica de aconselhamento, onde o problema é avaliado recebendo retorno personalizado do enfermeiro, que procura trabalhar, nessa intervenção, os mecanismos de resistência e negação do indivíduo. É necessário o desenvolvimento de acordo mútuo por meio do qual sejam explicitados os objetivos do usuário e aqueles do tratamento, podendo ser utilizados vários meios para favorecer a adesão: manual de atividades diárias a ser preenchido pelo cliente, cartão de controle pessoal do uso da substância, contatos telefônicos, visitas domiciliares, encaminhamento a outros profissionais e parcerias com grupos de auto-ajuda.
No processo de tratamento e reabilitação do usuário de álcool ou drogas familiares e cuidadores devem ser incluídos, o enfermeiro pode incentivar a participação em entrevistas individuais e em grupos de apoio para orientação e acolhimento do cliente, pois podem ser de importância fundamental no auxílio às mudanças de comportamento do usuário, necessárias para o desenvolvimento de um estilo de vida mais saudável.
Os diagnósticos de enfermagem encontrados são apresentados segundo a North American Nursing Diagnosis Association (NANDA, 2008) e demonstram um déficit de autocuidado com destaque para higiene oral inadequada, deficiência de atividade física e comprometimento das interações familiares, provavelmente devido à relevância da bebida, um dos sinais e sintomas da síndrome da dependência do álcool que coloca a bebida como o centro das atividades do alcoolista e a coordenadora de suas funções.
Deve-se esclarecer a família e, sempre que possível, o próprio paciente sobre os sintomas apresentados, sobre os procedimentos a serem adotados e sobre as possíveis evoluções do quadro. Deve ser propiciado ao paciente e à família o acesso facilitado a níveis mais intensivos de cuidados (serviço de emergência, internação) em casos de evolução desfavorável do quadro. É importante ainda reforçar a necessidade de comparecimento nas consultas remarcadas, que serão tão freqüentes quanto possível, nos primeiros 15 dias do tratamento.
Orientação da família e do paciente quanto à natureza do problema, tratamento e possível evolução do quadro; · Propiciar ambiente calmo, confortável e com pouca estimulação audiovisual; · A dieta é livre, com atenção especial à hidratação; · O paciente e a família devem ser orientados sobre a proibição do ato de dirigir veículos; · As consultas devem ser marcadas o mais brevemente possível para reavaliação.
8) Resolutividade :
Os enfermeiros como parte da equipe multidisciplinar e ator principal na porta de entrada do usuário de álcool e drogas deve realizam orientações durante as consultas de enfermagem; abordam a temática do álcool e outras drogas em programas do Ministério da Saúde, como o Hiper-dia e Saúde do Adolescente; prestar esclarecimentos com a finalidade de redução de danos decorrentes do uso abusivo de drogas; orientam para saúde e direcionam os usuários para tratamento especializado.
As equipes de saúde, ao assistirem aos dependentes químicos, devem procuram desmistificar o estigma que o uso de substancias psicoativas já traz ao dependente, trazendo a visão de um indivíduo como um ser humano na totalidade de seus direitos de cidadão. Com base nos discursos analisados e pré concebidos , à luz dos princípios do SUS e da Política do Ministério da Saúde para Atenção Integral ao usuário de álcool e outras drogas,ser humano e humanizador ,trazer a família para o contesto do tratamento fazendo-a participar diretamente na recuperação e nas recaídas a que esta sujeita o portador destas dependências.
Metas para melhoras a qualidade de vida do paciente em estudo, proporcionar apoio emocional,visando prevenir as recaídas ,ensiná-lo auto ajudar-se através da motivação e do auto conhecimento e do conhecimento dos malefícios que o álcool estaria fazendo em seu organismo,neste caso em tela o paciente possui alto conhecimento pela nível cultural e apoio familiar demonstrado na internação e através de ligações dos familiares para saber do paciente,reforçar estes vínculos ,para que possa ajudá-lo no tratamento.
Quanto as patologias que o acomete ,orientar quanto a importância de manter-se afastado da bebida alcoólica,para não ter alterações de pressão arterial e descompensação do diabetes,orientá-lo quanto a necessidade de reidratarão liquida e de alimentação balanceada e de boas noites de repouso.
9)Considerações Finais:
Os princípios básicos para a assistência aos usuários de álcool e outras drogas, não se diferenciam das demais áreas da enfermagem, há necessidade de se promover a aliança terapêutica através de um ambiente acolhedor, da empatia (fundamental para a motivação), conduzindo ao relacionamento interpessoal. Garantindo ao indivíduo assistência integral e contínua e contribuindo para a competência coletiva do trabalho da equipe.
A associação norte americana de enfermagem define a enfermagem psiquiátrica como “uma área especializada da pratica de enfermagem que emprega as teorias do comportamento humano como sua ciência e o uso propositado de si próprio como arte” Ataide Ines F.C. (2007) apud Stuart E Laraia, (2001).
Nas orientações das ações da Enfermagem , o pessoal de enfermagem representa a grande maioria da força de trabalho nos serviços de saúde ,seja no papel de gestor, de membro da equipe em contato direto com o portador de saúde mental e seus familiares, seja na supervisão dos auxiliares e técnicos de enfermagem, ou na determinação do projeto terapêutico para cada pessoa sob seus cuidados, o enfermeiro é elemento chave neste processo de mudança de paradigma. Até porque enfermagem psiquiatra é definida como um processo “a enfermeira auxilia as pessoas individualmente ou em grupos, a desenvolverem auto-conceito mais positivo, um padrão mais gratificante de relacionamento interpessoal e um papel mais satisfatório na sociedade”Ataide I.F.C.(2008),apud,TAYLOR,(1992).
segundo JORGE (1983) de que o alcoolismo é simultaneamente uma doença (enquanto conduta individual) e uma denúncia (enquanto resultado da interação com determinado meio) e que a sociedade que reprime o álcool é a mesma que fomenta o alcoolismo.
Portanto e grande a necessidade de trabalhar a auto- estima do sujeito e a importância da desintoxicação, assim como a prevenção da recaída, são estratégias a serem adotadas nessa fase inicial do tratamento, não só com o paciente, como também com seu sistema familiar e social,valorizando acima de tudo o individuo como um ser único e plural,respeitando sua individualidade ,suas crenças e símbolos,orientando a ele e sua família dentro dos aspectos culturais e diversidade intelectual ,fazendo se entender em busca ,sempre junto com o individuo de sua qualidade de vida.
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