ESTUDO DA MORADIA ESTUDANTIL PARA PROMOÇÃO DA CONVIVÊNCIA E INTERAÇÃO SOCIAL

Por ISAQUE FORTALEZA SANTOS | 10/12/2024 | Sociedade

ESTUDO DA MORADIA ESTUDANTIL PARA PROMOÇÃO DA CONVIVÊNCIA E INTERAÇÃO SOCIAL STUDY OF STUDENT HOUSING TO PROMOTE COEXISTENCE AND SOCIAL INTERACTION ESTUDIO DE LAS RESIDENCIAS DE ESTUDIANTES PARA FOMENTAR LA CONVIVENCIA Y LA INTERACCIÓN SOCIAL SANTOS, Isaque Fortaleza Graduando na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo do Centro Universitário Paraíso - UniFAP isaque@aluno.fapce.edu.br RESUMO O presente estudo objetivou avaliar a relevância das habitações estudantis na sociedade brasileira. Para tanto, foram analisados dados estatísticos e artigos que delineiam sobre arquitetura e função dessas habitações. A análise desses elementos contribuiu significativamente para uma compreensão mais abrangente das reais necessidades dos estudantes inseridos no contexto brasileiro, incluindo uma investigação acerca das origens da demanda pelo ensino superior. Destacando que o problema da habitação tende a se agravar nos anos subsequentes. Por fim, a conclusão que se chega é que, para atenuar esse problema no futuro, as habitações estudantis precisam adaptar-se às necessidades presentes e potenciais dos estudantes durante o período de graduação, implementando em conjunto o design biofílico para essa finalidade. Palavras-chave: Habitação Estudantil. Vida Acadêmica. Comunidade. ABSTRACT The present study aimed to evaluate the relevance of student housing in Brazilian society. To this end, statistical data and articles outlining the architecture and function of these homes were analyzed. The analysis of these elements contributed significantly to a more comprehensive understanding of the real needs of students in the Brazilian context, including an investigation into the origins of the demand for higher education. Highlighting that the housing problem tends to worsen in subsequent years. Finally, the conclusion reached is that, to mitigate this problem in the future, student housing needs to adapt to the present and potential needs of students during the undergraduate period, jointly implementing biophilic design for this purpose. Keywords: Student Housing. Academic life. Community. RESUMEN El presente estudio tuvo como objetivo evaluar la relevancia de la vivienda para estudiantes en la sociedad brasileña. Para ello se analizaron datos estadísticos y artículos que describen la arquitectura y función de estas viviendas. El análisis de estos elementos contribuyó significativamente a una comprensión más integral de las necesidades reales de los estudiantes en el contexto brasileño, incluida una investigación sobre los orígenes de la demanda de educación superior. Resaltando que el problema habitacional tiende a agravarse en los años siguientes. Finalmente, la conclusión a la que se llega es que, para mitigar este problema en el futuro, las viviendas para estudiantes necesitan adaptarse a las necesidades presentes y potenciales de los estudiantes durante el periodo de pregrado, implementando conjuntamente un diseño biofílico para tal fin. Palabras clave: Vivienda para estudiantes. Vida académica. Comunidad. 2 ESTUDO DA MORADIA ESTUDANTIL PARA PROMOÇÃO DA CONVIVÊNCIA E INTERAÇÃO SOCIAL 1. Introdução 1.1. Justificativa A temática abordada neste estudo emergiu inicialmente da observação de uma mudança substancial no panorama do mercado de trabalho como um todo. Nota-se um crescente acesso à educação superior no Brasil, (INEP, 2016). o que tem conduzido os novos profissionais ingressantes nesse mercado a uma competitividade sem precedentes na história. Apesar dos avanços conquistados nos últimos anos, especialmente através da democratização do ensino superior (SAMPAIO, 1991), ainda subsistem diversos obstáculos a serem transpostos pelos estudantes, sobretudo no que tange à infraestrutura. Esses estudantes frequentemente se veem compelidos a deslocarem-se para outras localidades. Tal fenômeno gera um fluxo migratório que dificulta a busca por moradia adequada e propícia ao convívio com outros colegas que partilham dos mesmos interesses e aspirações de desenvolvimento através do aprendizado e da convivência em comunidade. O que se observa é a necessidade de abdicar, em grande medida, dos laços familiares para se estabelecerem por períodos prolongados em outras cidades, habitando regiões desconhecidas e enfrentando desafios inéditos, tudo isso visando adaptarem-se a uma nova realidade. Tais desafios poderiam ser minimizados ou inteiramente superados por meio de projetos específicos voltados a sanar esse problema. Nesse contexto, um ponto de vista crucial não deve ser negligenciado. Dentre os diversos fatores que contribuem para a persistência dessa realidade desafiadora, destaca-se a importância de identificar quais deles são mais relevantes para embasar a formulação de planos futuros com vista a auxiliar esses novos profissionais a conquistar seu espaço no mercado de trabalho. E por essa ótica, avaliar a importância da habitação estudantil em suprir essas necessidades e a sua capacidade em mitigar esses fatores. 1.2 Objetivos 1.2.1 Objetivo Geral Promover uma compreensão das estratégias passíveis de adoção num projeto arquitetônico de habitações, evidenciando a sua importância para sociedade brasileira. 1.2.2 Objetivos Específicos 1. Compreender como a cultura da busca pelo diploma de ensino superior se estabeleceu no Brasil e como essa demanda demonstra uma tendência de aumento do fluxo de estudantes. 2. Avaliar as principais dificuldades dos estudantes que precisam se deslocar para outras cidades para realizar seus estudos. 3. Compreender a arquitetura desenvolvida em habitações estudantis e quais os pontos de melhoria que devem ser considerados para projetos futuros. 3 4. Destacar a relevância da habitação estudantil em democratizar o acesso ao ensino superior. 1.3 Metodologia Inicialmente, foram examinados artigos que estabelecessem uma conexão com a evolução histórica do ensino superior e das habitações estudantis ao longo do tempo, delineando um panorama histórico que relacione a realidade do ensino no Brasil com o surgimento do conceito de habitação em outros países. Esse exame visa compreender os fundamentos sobre os quais as habitações estudantis no Brasil foram estabelecidas e quais desses problemas persistem até os dias atuais para que sejam sanados. Em seguida, houve o trabalho de identificar estudos estatísticos que evidenciem os principais obstáculos enfrentados pelos estudantes, com o intuito de compreender o papel das habitações concebidas de acordo com suas necessidades específicas. Destaca-se a importância de considerar como essas habitações podem contribuir para enfrentar muitos dos desafios cotidianos dos estudantes, por meio de uma arquitetura adequada que leve em consideração seu bem-estar social, físico e psicológico. Por fim, foram analisados dois projetos distintos: a Residência Estudantil da Universidade de Campinas (Unicamp) e o The Student Hotel The Hague, na Holanda. Esses projetos representam diferentes períodos na história da arquitetura, oferecendo uma compreensão mais precisa a respeito da evolução desse conceito ao longo do tempo. Evidenciando como a habitação estudantil é capaz de se adaptar a realidades distintas, fornecendo orientações valiosas para o planejamento desses projetos no futuro. 2. O Ensino Superior no Brasil 2.1 Evolução do Ensino Superior no Brasil Para compreender a tendência no crescimento da demanda pelo ensino superior, faz-se necessário inicialmente averiguar suas origens históricas para assim traçar um panorama com a origem das primeiras habitações em território brasileiro, seguindo essa metodologia, a análise neste capítulo se inicia através dos estudos feitos por (SAMPAIO, 1991), em sua obra denominada Evolução do Ensino Superior Brasileiro, 1808 – 1990, segundo esse estudo, a evolução do ensino superior no Brasil pode ser dividido em cinco fases principais, sendo elas: 1808, 1898, 1930, 1968 e 1985. As habitações estudantis já existiam desde o século XIV no continente europeu conforme (LOUREIRO, 1986), mas no Brasil, avanços nesse sentido só se iniciaram em 1808, com a chegada da família real e a corte portuguesa que trouxeram uma série de transformações radicais relacionadas à organização e funcionamento do até então Brasil Império. Naquele momento, foram estabelecidos os fundamentos que seriam seguidos pelas instituições de ensino superior nos séculos seguintes. (SAMPAIO, 1991). No período inicial que coincide entre a chegada da corte portuguesa e a Proclamação da República (1808 1889), o desenvolvimento do ensino superior caminhava a passos curtos, segundo (SAMPAIO, 1991). O mercado de trabalho restrito garantia ascensão social para os detentores de diploma de ensino superior, muito em razão do alinhamento com os interesses do estado que se focava na ascensão de uma elite que auxiliaria a administração do Império brasileiro. Até 1898, o monopólio da organização das instituições de ensino predominava na mão do governo central, que se focava em interesses do próprio governo. Já com as mudanças ocorridas na década de 1880, como a abolição da escravatura em 1888 e a Proclamação da República em 1889, uma série de mudanças ainda mais disruptivas estava prestes a ocorrer. (SAMPAIO, 1991). 4 A começar pela segmentação do poder pelos estados, onde o monopólio das decisões referentes aos projetos para o ensino superior brasileiro não mais dependia exclusivamente do poder central (SAMPAIO, 1991). Isso possibilitou a criação das primeiras instituições de ensino superior privadas no Brasil, abrindo um novo leque de necessidades que as instituições de ensino deveriam sanar no futuro. No período que compreende 1889 e 1918, 56 novas instituições de ensino superior surgem no Brasil, sendo a maioria destas privadas (SAMPAIO, 1991). Muito delas advindo das novas metodologias paulistas que buscavam se adaptar às novas transformações econômicas e sociais da nova era que estava por vir. Nesta mesma linha, iniciavam-se os debates referentes ao desenvolvimento da primeira universidade brasileira, englobando faculdades de autonomia administrativa própria e com limitada e mínima intervenção do estado em suas políticas. De 1940 a 1960, as matrículas em instituições de ensino superior, tanto privadas quanto públicas, subiram de 27.617 para 93.202, ou seja, o número mais que triplicou. Em contrapartida, o crescimento da população brasileira foi de 41.2 milhões para 70.1 milhões, representando um crescimento de aproximadamente 70%. (SAMPAIO, 1991). Estes dados revelam uma tendência na democratização ao ensino superior que seguiria ainda mais forte nos anos posteriores durante o ápice no período de industrialização do brasil. Nas décadas seguintes, durante o período do regime militar que acabou por instaurar políticas forçadas de fomento à economia, de 1960 a 1980, o número de matrículas subiu de 93.902 para 1.345.000 (SAMPAIO, 1991), sendo estas décadas representativas do maior crescimento de matrículas no ensino superior brasileiro, crescimento nunca antes visto, e que não viria a se repetir, dada a nova realidade que estava por vir no cenário econômico brasileiro. Em 1960, as matrículas em instituições privadas representavam 44%, para logo em seguida, em 1980, representaram 63% (SAMPAIO, 1991). A explicação desse fato pode ser observada pela demanda cada vez maior pelo diploma de ensino superior sendo difundida pela sociedade, levando ao surgimento de novas instituições privadas não universitárias dispostas em atender a demanda crescente. Porém, com implicações indesejadas como evidencia Helena Sampaio: A expansão de estabelecimentos privados e não universitários é governada pelas leis do mercado e está, portanto, condicionada aos elementos mais imediatos da demanda social, que se orienta no sentido da obtenção do diploma. Cria-se, assim, um sistema empresarial de ensino no qual a qualidade da formação oferecida é secundária e a pesquisa totalmente irrelevante. (Sampaio, 1991, p. 19). Nessa mesma linha, ao olhar para a região nordeste e relacionar com aspecto histórico que levou à evolução do ensino superior na brasil, (SAMPAIO, 1991) percebeu que por conta do aumento na demanda pelo diploma de ensino superior, oriundo de uma cultura que se desenvolveu na expectativa de ascensão social garantida, surgiu também a tendência das instituições privadas em buscar atender essa nova demanda, o que aumentou expressivamente o número de estudantes matriculados do ensino superior como um todo. Sendo assim, (SAMPAIO, 1991) evidencia que o fluxo de estudantes ainda tende a seguir forte nas próximas décadas, muito devido a difusão das instituições privadas. No entanto, a região nordeste ainda carece de infraestrutura adequada para receber e se adaptar a esses estudantes. Haja vista a tendência que as regiões do brasil menos desenvolvidas terem em atender estudantes oriundos de lares mais carentes e que necessitam se deslocar para outras cidades para estudar em universidades públicas, muitas vezes sem o adequado auxílio para se estabelecerem nessa cidade. É aí que a habitação estudantil se mostra como ferramenta relevante para mitigar esse problema. 5 2.2 Um panorama Histórico das Moradias Estudantis De acordo com (LOUREIRO, 1986), a Universidade de Bolonha, localizada na Itália, adquiriu reconhecimento por ser pioneira na organização de um sistema de moradias destinadas exclusivamente aos estudantes, já no século XIV. No entanto, as vagas disponíveis eram significativamente limitadas em comparação com as modernas instalações residenciais estudantis existentes atualmente. Conforme (SAYEGH, 2009), os precursores do que atualmente é denominado moradia estudantil começaram a surgir na Europa no século XVIII, com os chamados Halls e Collegues britânicos, que funcionavam essencialmente como internatos, onde os estudantes residiam nas próprias instalações da instituição onde iriam prosseguir com seus estudos. Esse modelo foi posteriormente difundido pelos Estados Unidos, tornando-se uma das características mais marcantes da arquitetura norte-americana, sendo reconhecido mundialmente através da disseminação em diversas mídias de entretenimento. Um dos primeiros exemplos do conceito de colégio internato foi o Massachusetts Hall na Universidade de Harvard, construído em 1722 (FARIAS 2015, apud WALSH, 2012). (Figura 1), um século antes da independência brasileira. Figura 1: Massachusetts Hall em 1924. Disponível em: https://news.harvard.edu/gazette/story/2018/05/historic-massachusetts-hall/. Acesso em: 06 abr 2024. No Brasil, há escassez de informações sobre o surgimento da habitação estudantil. Embora acredite-se que com a chegada da corte real portuguesa no Brasil, as primeiras habitações já tenham começado a surgir. No entanto, não existem documentos que comprovem o verdadeiro propósito inicial dessas habitações. Acredita-se, contudo, que se tratava apenas de espaços alugados temporariamente por estudantes da época a preços mais acessíveis e que eram compartilhados entre si. (GONÇALVES; SCHWANZ, 2020). Oficialmente, as habitações estudantis no Brasil tiveram origem na cidade de Ouro Preto/MG em algum momento entre as décadas de 1850 e 1860, para abrigar estudantes das Escolas de Minas e de Farmácia de Ouro Preto, que posteriormente se uniriam para formar a Universidade de Ouro Preto. (COSTA; OLIVEIRA, 6 2012). Mais tarde, em 1897, com a transferência da capital de Minas Gerais de Ouro Preto para Belo Horizonte, a demanda local por habitação estudantil diminuiu, e somente em 1950 os casarões abandonados foram reintegrados à Universidade de Ouro Preto para servirem oficialmente como habitação estudantil. (MORAES; MIRANDA, 2011). Na década seguinte, em 1960, acompanhando as tendências do governo, houve também um aumento significativo na matrícula em instituições de ensino superior, (SAMPAIO, 1991). o que permite concluir que uma demanda igualmente significativa por espaços adequados para receber os novos estudantes crescia cada vez mais. Seguindo essa tendência, até 2020, aproximadamente 115 moradias estudantis de diferentes características, como pequenas repúblicas e conjuntos habitacionais universitários modernos, já existiam no Brasil. (NAWATE, 2014). Atualmente, programas como o Programa Nacional de Assistência Estudantil (PNAES) auxiliam estudantes de todo o país a encontrar moradias adequadas para suas necessidades, seja de forma autônoma, por meio de recursos públicos ou privados, ou através de parcerias com universidades locais. (GONÇALVES; SCHWANZ, 2020). No entanto, permanecia os debates a respeito da eficácia dessas moradias em atender e adaptar-se às necessidades dos estudantes na era moderna. 3. Conceituação 3.1 Cenário Atual do Ensino Superior Brasileiro Partindo do reconhecimento de que as transformações advindas do mundo digital proporcionaram um acesso sem precedentes a uma vasta gama de possibilidades, é razoável esperar que mudanças igualmente disruptivas impactem o domínio da educação. Dentre essas mudanças, destaca-se a democratização do ensino e a diversificação das metodologias educacionais. Essa transformação promove um contraste substancial entre as necessidades e aspirações dos estudantes de décadas passadas em comparação com os estudantes contemporâneos. Segundo dados da Associação Brasileira Mantenedoras do Ensino Superior (ABMES), 79% dos estudantes almejam ingressar no ensino superior. Contudo, cerca de metade deles não dispõe de condições para adentrar em instituições privadas. Paradoxalmente, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) revela uma realidade contrastante. Em 2022, o número total de matrículas no ensino superior, distribuídas entre todas as modalidades de administração educacional, atingiu a marca de 9.443.597. Dessas, 78% estão em instituições privadas e os restantes 22% em instituições públicas, indicando uma proporção de quase 4 matrículas em instituições privadas para cada uma em instituições públicas. Em comparação com o censo de 2021, observou-se um crescimento médio de 5,1% no total de matrículas, sendo a maioria delas atribuída a instituições privadas (INEP, 2024). É evidente que há uma demanda significativa que ainda pode ser atendida com iniciativas adequadas de auxílio estudantil. Apesar dos avanços realizados no Brasil nesse sentido, permanecem questões complexas a serem tratadas para que esse número continue a crescer e os estudantes tenham acesso ao ensino superior. A análise dos dados do Fórum Nacional de Pró-Reitores de Assuntos Estudantis (FONAPRACE) em 2016, intitulada "IV Pesquisa do Perfil Socioeconômico e Cultural dos Estudantes de Graduação das Instituições Federais de Ensino Superior Brasileiras", oferece uma perspectiva relevante para a compreensão do sistema de ensino superior como um todo. 7 A pesquisa mencionada lista diversas causas para o abandono de estudantes em instituições públicas, destacando-se as dificuldades financeiras (42,21%), a carga horária excessiva de trabalho (31,14%) e as dificuldades de adaptação à cidade, moradia e distância familiar (21,85%). (FONAPRACE, 2016). Embora esses dados representem apenas uma amostra das instituições federais, eles ajudar a traçar uma visão mais ampla a respeito do cotidiano dos estudantes universitários e dos desafios que enfrentam para prosseguir com seus estudos no ensino superior. Dado que a evasão nessas instituições se dá por uma gama diversificada de motivos, é constatado que as dificuldades financeiras representam menos da metade desse fenômeno, totalizando aproximadamente 42,21%, conforme indicado por (FONAPRACE, 2016). Por conseguinte, as demais causas correspondem a mais de 50% do total, evidenciando áreas nas quais a habitação estudantil pode exercer um papel relevante na mitigação desses motivos, bem como sustentar a marcante tendência de democratização do ensino superior brasileiro observada nos últimos anos. 3.1.1 Estruturação na Dinâmica do Edifício Segundo THOMSEN (2007) a habitação institucional busca atender as demandas de um grupo específico, na maioria dos casos de caráter temporário e vinculado a alguma instituição, além disso, possui a característica de limitar o poder do morador em modificar o ambiente que vive pela necessidade de seguir normas administrativas, da mesma forma, as características arquitetônicas da habitação tendem a seguir a mesma linha de outras edificações sob gestão da instituição. Nesse aspecto, pesquisadores como (BRASILEIRO e DUARTE, 1997; PRIDE 1999. SOMMER, 1973) apontam que a percepção das instituições a respeito de um espaço considerado “institucionalizado” leva ao descontentamento dos estudantes, acarretado por uma arquitetura engessada, muito diferente por exemplo do que se é observado em lares familiares em que os estudantes estão sempre próximos aos seus entes queridos. A conclusão que se chega, é que uma arquitetura “institucionalizada” para habitações estudantis, deve ser evitada. Nesse contexto, o propósito fundamental consiste na adaptação dos espaços e formas de modo a torná-los semelhantes às residências às quais os estudantes já estão habituados. Em outras palavras, o desafio primordial reside em ajustar a estrutura de uma habitação comunitária e a distribuição dos espaços de forma a incorporar os princípios que caracterizam a construção de uma residência unifamiliar, com o objetivo de provocar nos estudantes o mesmo sentimento experimentado em seus lares junto a suas famílias. 3.1.2 Estratégias de Sociabilidade Segundo (GARRIDO; MERCURI, 2013): A habitação social envolve o estudante em uma gama de atividades extracurriculares que tomam grande parte de suas vidas, atividades inovadoras que os levam a explorar um mundo fora do ambiente acadêmico e que indiretamente os auxiliam no desenvolvimento de habilidades interpessoais e os motivam a engajarem mais em atividades universitárias e culturais na região onde residem. Por esse raciocínio, a habitação estudantil acaba englobando mais áreas do que as previstas no projeto de ensino de uma instituição, e além de contribuir para permanência dos estudantes em situação de vulnerabilidade (ARIOVALDO, 2016). Elas também ajudam no desenvolvimento pessoal e integração acadêmica destes na comunidade de estudantes (GARRIDO; MERCURI, 2013). Portanto, ao levar em consideração as inúmeras atividades curriculares ou extracurriculares que inevitavelmente irão compor o cotidiano desses estudantes, é de se esperar que grande parte do dia a dia 8 deles será repleto de tarefas relacionadas ao seu campo de formação, o que irá afetar o desenvolvimento do círculo social e o seu desenvolvimento pessoal. Levando isso em consideração, há o chamado risco da “padronização”, isto é, o projeto buscar satisfazer fenômenos da sociabilidade sem considerar os aspectos individuais dos estudantes que desempenham atividades diferentes, estudantes que possuem preferências diferentes e cotidianos diferentes, assim como afirma Scoaris: “O fenômeno da sociabilidade se estrutura em um conjunto de fatores que, muitas vezes, tem um potencial operacional infinitamente superior as disposições arquitetônicas” (SCOARIS, 2012, p. 100), ou seja, não basta apenas o projeto de uma habitação trazer proximidade aos habitantes mas sim a de potencializar as que já existem e viabilizar outras que possam vir a ser realizadas. 3.1.3 Espaços e Usos do Edifício SCOARIS (2012) ao analisar os estudos de THOMSEN (2007) em suas pesquisas, atesta a relação entre os acessos claustrofóbicos dos ambientes e a sensação de um espaço negativamente caracterizado como “institucionalizado”, essa característica é notável na análise de uma habitação estudantil em Bjølsen, Noruega, em que há um corredor estreito se estendendo de uma extremidade a outra do edifício cercado de ambos os lados, sendo este o principal meio de acesso aos dormitórios dos estudantes (Figura 2). Figura 2: Habitação Estudantil em Bjølsen, Noruega. Fonte: Thomsen (2007) Essa análise leva a conclusão de que soluções assim devem ser evitadas, dando preferências por espaços abertos, uso de iluminação zenital, e distribuição de aberturas pelos interiores que possam mitigar esse problema, eliminando assim a sensação de “institucionalização” que muitas habitações possuem, exemplo positivo desse tipo de habitação é o alojamento de Palheiros de São Dâmaso, em Portugal, onde esses métodos foram aplicados adequadamente segundo (SCOARIS, 2012). Além desse aspecto, há ainda a questão da personalização dos espaços, pois, como há de se esperar, a segregação da habitação por alas divididas em gênero masculino e feminino tende a apresentar diferentes formas de personalização, previsivelmente relacionadas a estereótipos já conhecidos de cada gênero, porém junto a isso, uma série de fatores devem ser considerados. 9 A personalização acarreta uma alteração no espaço que pode ser incomoda aos futuros moradores que irão ocupar esses espaços, nesse sentido, o ideal para mitigar esse problema seria a de oferecer métodos em que o ambiente facilmente possa ser reversível ao seu estado original (SCOARIS, 2012). A instalação de quadros negros e mobiliários modulares, são algumas das alternativas possíveis para mitigar esse problema e garantir ainda a longevidade da habitação para futuros estudantes. 3.1.4 Espaço Envolvente “É natural imaginar que, se pudessem, os estudantes escolheriam a localização de suas moradias em locais de fácil acesso às salas de aula, do convívio com os amigos e próximos a outras regiões da cidade que porventura os atraiam. Contudo, quando esses edifícios localizam-se no interior do campus universitário, essas predileções podem não ser contempladas.” (Scoaris, 2012, p. 154) Através da análise dos espaços que se encontram nas dependências das universidades, frequentemente nota-se uma desconexão entre a localização do campus em relação aos centros urbanos consolidados, essa realidade aponta a uma sensação de isolamento que é provocada nos estudantes que habitam os espaços com essas características, acarretando uma série de consequências que implicam em barreiras para a formação de uma comunidade acadêmica saudável. (SCOARIS, 2012). SCOARIS (2012) ao analisar os estudos realizados pela jornalista JACOBS (2003) afirma que a há uma tendência natural de os espaços mais frequentados por pessoas se mostrarem como mais agradáveis de se conviver, e consequentemente menos vandalizados. E nesse sentido conclui que o projeto de habitação deve seguir alguns preceitos fundamentais. Dentre esses preceitos, SCOARIS (2012) aponta a necessidade da existência de pequenos comércios próximos a habitação, não apenas para aquisição de produtos essenciais de higiene e alimentação para os estudantes, mas também para a ocupação das calçadas próximas que possibilitariam a formação de novos ambientes de convívio entre os moradores. Esse convívio contínuo contribuiria para redução de atividades de vandalismo comuns em locais desertos e pouco frequentados. SCOARIS (2012) também aponta a necessidade em usar de maneira qualitativa os espaços residuais exteriores ao volume principal da habitação, isto significa se apropriar desses espaços fornecendo, primeiramente, uma transição gradual do interior para o exterior, e em segundo lugar, pensar o espaço externo com oportunidades de convívio capaz de elevar ainda mais a sensação de comunidade entre os estudantes, o que pode ser feito pelo uso de trilhas e de pequenas praças. Além disso, SCOARIS (2012) aponta para os riscos de um projeto de habitação condicionado a formação de conjuntos individualizados, pois, isso traria uma repetição e monotonia que deveriam ser evitados, para contornar esse problema, ele sugere o uso de elementos modulares ou pré-fabricados capazes de reduzir esses efeitos e tornar as fachadas e distribuições dos edifícios mais estimulantes para o convívio e menos monótonas. Por último, fica o critério da articulação com a vizinhança circundante, para (SCOARIS, 2012), é necessário que habitação possua métodos de acesso que respeitem o fluxo pedestres que entram e saem da habitação, isto é, garantir espaços que respeitem a direção destes fluxos, gerando caminhos que cruzem por entre a edificação. Esse cruzamento, segundo ele, abre oportunidades para formação de espaços para diversas atividades como a criação de snack bars, exemplo citado pelo autor, mas que também pode ser usado como pontos de lazer, estudo e esporte. 10 3.2 Design Biofílico Ao considerar as características climáticas que abrangem um país de dimensões continentais, é esperado que variáveis em regiões diferentes desse país sejam um fator previsível, e por isso, no Brasil, soluções arquitetônicas se apresentam em uma variedade riquíssimas nas diferentes regiões do país, fenômeno esse que não se apresenta em igual proporção se comparado a países de dimensões reduzidas. Outro fator que se apresenta em uma variedade imensa é a flora e a fauna brasileira, neste sentido o design biofílico se demonstra como uma solução muito apropriada para arquitetura brasileira, capaz de a diferenciar em relação a arquitetura produzida em outras regiões do mundo, mas além disso, uma série de benefícios desse design ainda podem ser elencados para melhor compreensão desta metodologia. Conforme (HEERWAGEN; LOFTNESS; PAINTER, 2012), a biofilia refere-se à interação do ser humano com outros seres vivos, nesse sentido, há a defesa da ideia de que há uma necessidade intrínseca do ser humano de conviver em proximidade com a natureza para o bem do seu estado mental e físico, o que inevitavelmente impacta positivamente a interação social, fortalece o senso de comunidade e também a produtividade de um alguém que esteja presente em um ambiente em que a natureza se faz presente. Conforme (KELLERT; CALABRESE, 2015), o design biofílico é caracterizado por três dimensões distintas: direta, indireta e a experiência de espaço e lugar. A dimensão direta compreende o contato físico mais imediato com elementos naturais, tais como ventilação natural, presença de água, vegetação e animais. Por outro lado, a dimensão indireta abrange experiências mais sutis, como a incorporação de representações visuais da natureza, como imagens e pinturas, e a utilização de materiais naturais. Já o conceito de espaço e lugar diz respeito aos aspectos culturais e ecológicos que um determinado ambiente proporciona à edificação. Nesse contexto, a implementação do design biofílico pode adotar abordagens diversas, variando em grau de aproximação com a natureza. Entretanto, é incontestável o impacto positivo que essas estratégias têm na melhoria da qualidade de vida dos ocupantes e usuários de espaços que as incorporam. (KELLERT; CALABRESE, 2015). Justamente nesse aspecto, é que o design biofílico apresenta seu potencial em aprimorar a qualidade das habitações estudantis no Brasil para o futuro. 4. Projetos Relevantes 4.1. Residência Estudantil da Universidade de Campinas (Unicamp) O projeto foi concluído em 1992 pelo arquiteto Joan Villà durante a década de 80. Trata-se de um conjunto habitacional de 300 unidades que recebe estudantes inclusos no Programa de Moradia Estudantil (PME), programa que auxilia estudantes que não possuem meios de se sustentar na cidade de Campinas. O projeto é localizado em Barão Geraldo e em cada habitação há espaço para 4 estudantes, com quatro cômodos cada. (Figura 3). Figura 3: Moradia Estudantil da Universidade de Campinas (UNICAMP) em 2013. 11 Disponível em: https://vitruvius.com.br/revistas/read/projetos/13.154/4895. Acesso em: 06 abr 2024. Além das residências, o projeto é composto por salas de estudo, área infantil, estacionamento e uma linha de ônibus gratuita que é oferecida pela própria universidade para atender os estudantes inclusos no PME do conjunto habitacional. O projeto surgiu a partir de uma reivindicação por habitação dos estudantes de baixa renda que iniciaram em 1986 o movimento conhecido como TABA, em referência as Tabas indígenas. Joan Villà se apropriou de elementos da arquitetura desenvolvida pelo engenheiro uruguaio Eladio Dieste, como painéis de tijolo furado e abóbodas de tijolo na composição dos volumes que formariam o principal aspecto da composição visual da habitação, sendo essa a característica mais marcante da obra. Villà tinha como intenção em seu projeto conciliar o espírito de reivindicação dos estudantes com sua perspectiva social enquanto arquiteto. Desta forma, concebeu conjuntos habitacionais compartilhados, dotados de pátios de acesso ajardinados. Estes espaços foram desenhados para se expandirem, permitindo a criação de áreas adicionais dedicadas a diversas atividades, tais como lazer, alimentação e estudos. Essas características refletem uma abordagem que se alinha tanto com princípios modernistas quanto com elementos clássicos, evidenciados pelo uso predominante do tijolo aparente e pela harmoniosa disposição do layout, reminiscente das características renascentistas. 4.2 The Student Hotel The Hague / HVE Architecten Tratando-se de uma abordagem mais contemporânea ao conceito de habitação estudantil, há o Student Hotel, que envolve uma série de hotéis espalhados por cidades da Europa com objetivo principal de acomodar estudantes. A iniciativa é do empreendedor escocês Charles MacGregor, que se iniciou em 2006. Atualmente é conhecido como Social Hub, e é um local onde além de alojamentos, estudantes podem se reunir para participar de atividades diversas. A iniciativa possui inúmeras sedes ao redor da Europa, mas para esse trabalho foi selecionado a localizada em Deen Haag, na Holanda, o The Student Hotel The Hague foi concluído em 2015 por HVE Architecten. (Figura 4). O projeto se inspirou na revitalização de espaços no que era antes um antigo lar de idosos, o Van 12 Limburg Stirum House localizado próximo à estação de trem Hollands Spoor, adaptando estes espaços de uma arquitetura mais antiga através da adição de elementos modernos. Figura 4: Fachada principal do The Student Hotel, sede localizada em The Hague, Holanda. Disponível em: https://www.archdaily.com/872449/the-student-hotel-the-hague-hve architecten/592d4b5ae58ece98ac0000f6-the-student-hotel-the-hague-hve-architecten-photo. Acesso em: 06 abr 2024. O projeto consiste em 306 dormitórios projetados para acomodar estudantes provenientes de diversas regiões da Europa. Uma das principais modificações realizadas foi na composição da fachada, onde foram criadas aberturas para facilitar a integração com a cidade. Além disso, a recepção foi pintada em um tom claro de amarelo, criando um marcante contraste com o restante da fachada, predominantemente cinza. As instalações disponíveis para os estudantes incluem dormitórios totalmente mobiliados, bicicletas destinadas ao deslocamento na cidade e áreas comuns como academias, espaços de estudo e uma cafeteria localizada no térreo. O projeto reflete uma abordagem arquitetônica mais contemporânea, com ênfase no uso de materiais como aço e concreto, em um estilo que remete ao industrial. 5. Recomendações 5.1 Público-alvo Com base nas investigações conduzidas por (SAMPAIO, 1991) e (SCOARIS, 2012), torna-se evidente que o projeto de habitação estudantil transcende a simples provisão de moradia para estudantes em situação de vulnerabilidade econômica. Pois, além de contribuírem para suprir as necessidades financeiras dos estudantes durante sua permanência nas localidades onde desenvolvem suas atividades acadêmicas, tais habitações também desempenham um papel crucial no desenvolvimento pessoal e na integração social dos mesmos. Embora persistam áreas que demandam aprimoramentos, é inegável que a habitação estudantil representa uma ferramenta fundamental para potencializar o processo de aprendizagem dos estudantes. Apesar de debates sobre sua relação direta com o desempenho acadêmico ainda estarem em curso, sua importância 13 como um recurso com grande potencial para beneficiar a comunidade acadêmica de forma abrangente é inquestionável. Assim, um projeto de habitação adequado deve ir além da mera satisfação das necessidades básicas dos estudantes de baixa renda, pois, também deve fomentar o desenvolvimento de novos hábitos que os auxiliem não apenas em seus estudos, mas também para se tornarem profissionais mais realizados e satisfeitos no futuro. 5.2 Programa de Necessidades e Pré-Dimensionamento Partindo do princípio da convivência comunitária entre estudantes, a divisão por gênero em alas separadas é fundamental para a criação de espaços adaptados às necessidades específicas de cada grupo. (SCOARIS, 2012). Em seguida, é necessário avaliar a capacidade de alojamento da habitação, levando em conta o perfil e quantidade dos estudantes a serem atendidos. Assim, os dormitórios devem ser projetados de forma a satisfazer as necessidades individuais de cada perfil, ao mesmo tempo em que permitem uma personalização que se adapte às variações do cotidiano. Além desses aspectos, é crucial considerar a integração dos estudantes em atividades comunitárias que ultrapassam o âmbito acadêmico. Essas atividades fomentariam uma maior interação entre os moradores e a comunidade local, contribuindo para um ambiente de convivência mais harmonioso, conforme ressaltado por (SCOARIS, 2012). 5.3 Fluxograma e Setorização O ideal para o fluxograma de uma habitação seria seguir os princípios delineados por (SCOARIS, 2012), os quais enfocam a integração da habitação estudantil com a vizinhança circundante. Esta abordagem visa criar áreas e conexões entre a habitação e os espaços adjacentes, proporcionando oportunidades para que estudantes e residentes coexistam harmoniosamente. Além disso, propõe-se o preenchimento desses espaços abertos com estabelecimentos comerciais, com o intuito de reduzir a sensação de isolamento frequentemente observada em outras residências estudantis localizadas em regiões distantes dos centros urbanos. A transição entre os espaços seria conduzida de forma harmoniosa, organizada em diversas camadas de uso que variam desde as mais privadas até aquelas mais abertas ao público. Essa abordagem visa evitar a sensação de "institucionalização", conforme discutido por (SCOARIS, 2012) em sua obra. 5.4 Conceito Com base nas análises realizadas por (SCOARIS, 2012), o propósito de uma habitação estudantil é evitar a impressão de “institucionalização” e priorizar a criação de um ambiente que proporcione aos estudantes a sensação de estar em um lar. Isso implica afastar-se dos métodos utilizados em outras residências estudantis, caracterizadas por espaços excessivamente confinados, nos quais a busca pela privacidade resulta na segregação dos estudantes em relação ao ambiente natural circundante. Para contornar esse aspecto, a abordagem do design biofílico emerge como uma alternativa crucial, incorporando elementos da natureza no interior da habitação para melhorar a qualidade de vida dos estudantes. Essa estratégia visa reduzir a sensação de confinamento e isolamento, ao mesmo tempo em que contribui para a melhoria da saúde mental e física dos residentes, fomentando seu desenvolvimento individual a longo prazo. 14 5.5 Partido Arquitetônico O objetivo primordial seria evitar a sensação de “institucionalização”, afastando-se do emprego excessivo de materiais artificiais e adotando o conceito do design biofílico. Isso implicaria na utilização de materiais naturais, iluminação zenital e integração de vegetação em áreas de convívio social estratégicas, buscando aproximar os estudantes do ambiente ao seu redor. Este enfoque se baseia nos benefícios identificados por (HEERWAGEN; LOFTNESS; PAINTER, 2012) em seus estudos sobre o tema, os quais destacam a importância da percepção direta, indireta e do espaço e lugar na conexão dos indivíduos com a natureza. 6. Considerações Finais Portanto, diante do exposto, a partir da análise histórica do desenvolvimento do ensino superior, é perceptível que o alicerce pelo qual a cultura da busca do diploma de ensino superior se formou em razões históricas da expectativa de ascensão social garantida. Embora debates possam ser feitos a esse respeito, a inserção dessa cultura na sociedade brasileira se deu de forma muito forte e persiste até os dias atuais, isso indica que a demanda pela busca pela formação em ensino superior ainda está longe de acabar. Com o crescimento dessa demanda, surge de igual maneira o fluxo migratório de estudantes em larga escala, que se deslocam de suas cidades de origem para outras onde nunca estiveram. Esse fluxo migratório exige planos específicos para o seu tratamento, e a habitação estudantil entra em cena para auxiliar esses estudantes. Por último, apesar de as habitações estudantis já existirem há séculos no Brasil, a qualidade desses espaços ainda carece de maior atenção, como aponta (SCOARIS, 2012). A sensação de um ambiente “institucionalizado” precisa ser mitigada, e o uso do design biofílico se mostra como alternativa de grande potencial para contornar esse problema. Suas implicações em um projeto de arquitetura são inúmeras, e aliar esse método ao potencial da habitação estudantil tem o poder de transformar a vida dos estudantes de forma positiva, facilitando suas vidas e gerando experiências memoráveis que surtirão efeitos positivos em suas vidas profissionais. REFERÊNCIAS ABMES, Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior. Educa insigths. Disponível em:< https://abmes.org.br/abmes-pesquisas> Acesso em 16 abr 2024. ARCHDAILY, 2015. 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