ESTUDO COMPARATIVO DO COMPORTAMENTO HUMANO ACADÊMICO DIANTE DE SITUAÇÕES DIFERENTES DE DESCONFORTO E DE BEM-ESTAR.
Por Milliani Matsui | 09/07/2009 | SaúdeEssa pesquisa trata-se da observação e comparação do
comportamento humano perante situações de desconforto e situações de bem-estar.
Participaram 6 acadêmicos do último ano do curso de graduação em Enfermagem das
Faculdades Integradas de Ourinhos em campo de estágio no Hospital Filantrópico
da cidade de Ourinhos – SP. Situações de desconforto geram estresse emocional
ocasionando, muitas vezes, desinteresse e frustrações. Já em situações de
bem-estar e domínio, a satisfação plena transparece na ação realizada. O
presente trabalho teve como objetivo observar, avaliar os eventos de
desconfortos e de bem-estar e comparar as diferentes ações e comportamento
diante destes eventos. A metodologia aplicada foi de observação direta
sistematizada realizada no setor da Maternidade e no Centro Cirúrgico do
referido hospital. O resultado interpretado apontou que a situação de
desconforto gera sentimentos de impotência e de fuga, experimentados no Centro
cirúrgico. Já as situações de bem-estar foram vivenciadas na maternidade,
revelando sentimentos de felicidade e bom humor. Concluiu-se que a presença de
um professor supervisor com conhecimento teórico e técnico, com discernimento
para compreender diferentes situações é imprescindível para o aprendizado
adequado dos acadêmicos de Enfermagem.
1- INTRODUÇÃO
O bem-estar ocasiona comportamento e afetos positivos. Nos momentos de afeição,
situações conhecidas e de domínio geram sentimentos agradáveis e satisfação.
Situações de desconforto alteram drasticamente o humor ocasionando sentimentos
e afetos negativos.
A graduação em exige estágio supervisionado em atendimento direto com o
paciente, tanto nos hospitais quanto nos centros de saúde.
É sobremodo importante frisar que esse estágio supervisionado é acompanhado por
um Enfermeiro-educador, formado em Graduação de Enfermagem e Especialista na
área de Formação Pedagógica; sendo esta, uma condição imprescindível para o
requisito do corpo docente.
O estágio supervisionado gera muita expectativa e ansiedade, pois é a aplicação
do conhecimento teórico, suas práticas e habilidades. É de se verificar que a
ansiedade dos acadêmicos aumenta por serem avaliados diariamente e diretamente,
sendo atribuídas notas de desempenho a cada dez dias.
Nos diferentes campos de estágio, o aluno deve ter comprometimento para obter
bom desempenho nas tarefas de aprendizagem. Em virtude disso, se torna
necessário saber interagir de maneira a compartilhar informações, confrontar
diferenças e cooperar com os colegas de grupo e com os funcionários do setor
acolhedor.
Cumpre observar preliminarmente que são vários os fatores que podem impedir ou
interferir no bom rendimento do grupo, tais como o seu tamanho, o grau de
motivação de seus membros, a falta de coesão, dificuldades de comunicação e até
mesmo situações de desconforto em que privam o aluno de obter um desempenho
desejável.
O trabalho em questão aborda as situações de domínio e bem-estar, assim como as
situações de desconforto e sofrimento, tendo como locais de instrumento o setor
de Maternidade e o setor de Centro Cirúrgico.
O objetivo é observar, avaliar os eventos de desconforto e de bem-estar e
comparar o comportamento dos acadêmicos diante dessas diferentes situações.
A importância desse estudo se dá ao conhecimento de situações estressantes tanto
para o acadêmico quanto para o educador, sendo que os resultados podem
contribuir para estabelecer e aprimorar novas formas de
ensinamento-aprendizagem para garantir o bem-estar coletivo.
O interesse pelo presente estudo foi despertado por experiência vivenciada
durante estágio supervisionado de Enfermagem, em que acadêmicos demonstravam
postura e humor diferentes em situações adversas.
Ferreira (2001) afirma que:
(...) o prazer-sofrimento é uma vivência subjetiva do próprio individuo,
compartilhada coletivamente e influenciada pela atividade de trabalho. Nessa
perspectiva analítica, todo o trabalho veicula implicitamente um custo humano
que se expressa sob a forma de carga de trabalho, e as vivências de
prazer-sofrimento têm como um dos resultantes o confronto do sujeito com essa
carga que, por conseguinte, impacta no seu bem-estar psíquico.
Já para Mendes (2001), as vivências de prazer-sofrimento formam um composto de
três fatores: valorização e reconhecimento, que definem o prazer; e desgaste com
o trabalho, que define o sofrimento.
O enfoque teórico adotado para investigar o comportamento humano fundamenta-se
em duas premissas interdependentes: situações de bem-estar e domínio e
situações de desconforto e sofrimento.
2- DOCENTES DE UMA FACULDADE
O docente que quer lecionar na faculdade precisa ser graduado há mais de dois
anos, ser especialista, mestre ou doutor.
A análise de currículo é suficiente para o preenchimento do cargo de docente,
não sendo necessário um processo seletivo com avaliações.
O ensino superior atual enfrenta barreiras ao formar seus acadêmicos, pois a
educação moderna está em crise, gerando jovens lógicos, mas que não sabem lidar
com dificuldades, desafios e conflitos.
O docente precisa estar preparado e estruturado para saber conduzir e elucidar
os possíveis caminhos tortuosos que os acadêmicos poderão encontrar.
Cury (2003, p.140) afirma que o professor influencia mais a personalidade dos
alunos pelo que é do que pelo que sabe.
A dificuldade maior é que esses docentes muitas vezes não sabem como incorporar
esses novos conteúdos.
Carlotto (2002) aponta que:
O professor que resiste a estas mudanças, que ainda pretende manter o papel de
modelo social, o de transmissor exclusivo de conhecimento e o de hierarquia
possuidora de poder, tem maiores possibilidades de ser questionado e de
desenvolver sentimentos de mal-estar.
É preciso um novo modelo de educação onde os docentes consigam contribuir para
o desenvolvimento da capacidade de gerenciar os pensamentos dos seus acadêmicos,
ensiná-los a lidar com as emoções, a enfrentar dificuldades, perdas,
frustrações e conflitos.
3- ACADÊMICOS DE ENFERMAGEM
Os acadêmicos de Enfermagem do último termo, em que se encontram na fase final
da graduação, enfrentam conflitos próprios de ansiedade e angústia.
A grade curricular difere-se totalmente de todas as outras já ultrapassadas até
o momento, o horário habitual de estudo modifica-se de noturno para diurno, o
contato com a comunidade se estreita, seus conhecimentos teóricos são avaliados
a todo o momento e também tem a expectativa da tão esperada formatura.
Esses conflitos não vêm de forma suave, pelo contrário, ele surge impostamente
forte gritando ao íntimo.
A sensatez e o sentimento de conquista devem ser experimentados por todos os
acadêmicos para obter o êxito da graduação.
4- COMPORTAMENTO E SENTIMENTO
4.1- BEM-ESTAR E DOMÍNIO
De acordo com Diener e Suh (2000), a satisfação com a vida é um indicador de
bem-estar, em geral baseada mais em critérios subjetivos do que em medidas
objetivas definidas por especialistas e afetada por fatores situacionais, humor
e padrões de comparação.
É de ser relevado que indivíduos em situações semelhantes podem apresentar
reações diferentes dependendo do grau de interação e confronto com as
diferenças.
Qualquer vivência ganha conotação diferente a partir da personalidade
específica do indivíduo. (DALGALARRONDO, p.293, 2008)
Freire (2001) afirma que:
(...) as medidas de bem-estar subjetivo incluem um julgamento global de todos
os aspectos da vida, e, embora o afeto ou a satisfação quanto a algum domínio
em particular possa ser avaliada, a ênfase é geralmente colocada sobre o
julgamento geral da vida da pessoa.
Somos todos diferentes e com características peculiares, da mesma forma que
cada acadêmico apresenta diferenças na aprendizagem em seus próprios processos.
Verdade seja que cada indivíduo reage e intervém em diversas situações, seja
ela de desconforto ou de bem-estar.
Kanaane (1994) salientou que:
(...) o bem-estar é de extrema importância para o individuo, pois a qualidade
de vida está diretamente ligada com a satisfação das expectativas e que
corresponde ao bem-estar do individuo, no ambiente de trabalho, expresso
através de relações saudáveis e harmônicas.
Mister se faz ressaltar que situação de bem-estar e domínio faz transparecer a
satisfação plena nas ações realizadas, evidenciando sentimentos de felicidade e
bom humor.
No entendimento de Mendes (2001):
(...) o prazer é vivenciado quando são experimentados sentimentos de
valorização e reconhecimento no trabalho. A valorização é o sentimento de que o
trabalho tem sentido e valor por si mesmo. O reconhecimento é o sentimento de
ser aceito e admirado no trabalho e ter liberdade para expressar sua
individualidade.
É bem verdade que o acolhimento adequado e a aceitação do indivíduo em um
ambiente adverso são de suma importância para que a valorização e
reconhecimento sejam experimentados por ele.
4.2- DESCONFORTO E SOFRIMENTO
Cumpre examinarmos que os acadêmicos são submetidos às mudanças bruscas e em
curto espaço de tempo precisa se adaptar a diferentes ambientes de estágio. O
cumprimento do cronograma didático é imprescindível e ininterrupto com carga
horária extensa e cansativa.
Esteve (1999) adverte quanto às desastrosas tensões e desorientações provocadas
nos indivíduos quando estes se veem obrigados a uma mudança excessiva em um
período de tempo demasiadamente curto.
Posta assim a questão de que o desconforto e o sofrimento podem ser atribuídos
ao choque entre a expectativa de realizar novos projetos com um ambiente de
trabalho (aprendizagem) que o ignora.
Essa imparcialidade do ambiente acolhedor promove no individuo um desconforto
sofrível, dando margem aos sentimentos de fuga e frustração.
Silva (2000) diz que:
(...) em uma perspectiva interacionista que considere um ajuste dinâmico entre
pessoa, local de trabalho e organização, pode-se perceber que o ajuste nem
sempre é adequado, e quando assim está, o individuo tende a perceber que não
dispõe de recursos suficientes para ajustar-se, surgindo assim o estado de
estresse.
Mendes (2001) revela que o sofrimento é vivenciado quando experimentado o
desgaste em relação ao trabalho, que significa a sensação de cansaço, desânimo
e descontentamento com o trabalho.
O desajuste do acadêmico diante às situações incômodas como a de não saber
atuar em determinadas situações e não poder aprender atuar, acarreta grande
sofrimento.
Segundo Dejours (1992):
(...) o trabalho contém vários elementos que influenciam a formação da
auto-imagem e que é razão para o sofrimento. Situações de medo e de tédio são
responsáveis pela emergência do sofrimento, que se reflete em sintomas como a
ansiedade e a insatisfação.
Ainda para Dejours (1994):
(...) o sofrimento é também causado pela criação das incompetências,
significando que o trabalhador se sente incapaz de fazer face às situações
convencionais, inabituais ou erradas, quando acontece a retenção da informação
que destrói a cooperação.
É preciso insistir no fato de que situações de desconforto geram estresse
emocional ocasionando, muitas vezes, desinteresse e frustrações, com efeito, de
personalizar e desestruturar a identidade.
Ferreira (2001) lembra que:
(...) o sofrimento é capaz de desestabilizar a identidade e a personalidade,
conduzindo a problemas mentais; mas ao mesmo tempo, é elemento para a
normalidade, quando existe um compromisso entre o sofrimento e a luta
individual e coletiva contra ele, sendo o saudável não uma adaptação, mas o
enfrentamento das imposições e pressões do trabalho que causam a
desestabilidade psicológica, tendo lugar o prazer quando esse sofrimento pode
ser transformado.
Alguns tipos de estresse (desconforto) nos excitam e nos motivam e, no
processo, frequentemente expõem nossas melhores qualidades e estimulam o
crescimento pessoal. (STRAUB, 2005, p.147)
O estresse também oferece vantagens, cada um reage e enfrenta o estresse de
maneiras diferentes. Cabe a cada indivíduo manter um nível adequado e
administrável. A vida seria aborrecida se não houvesse desconfortos e certos
momentos de estresse.
5 – METODOLOGIA
Para a efetiva elaboração do trabalho foi utilizada técnica padronizada de
coleta de dados de observação direta sistematizada. A pesquisa foi baseada nos
referenciais quali-quantitativos, nas quais os dados serão tratados, analisados
e por fim será realizado estudo comparativo entre eles.
Fundamentam-se nos dados observados na primeira quinzena do mês de junho de
2008, durante Estágio Supervisionado de Graduação em Enfermagem pelas Faculdades
Integradas de Ourinhos. A pesquisa realizou-se com uma amostra de 6 (seis)
participantes. A amostra caracteriza-se por acadêmicos do último ano de
Enfermagem, sendo 5 do sexo feminino e 1 do sexo masculino, casados e todos
exercendo funções na área Saúde (com carga horária de 36 horas semanais). Os
locais escolhidos para observação foi o setor de Maternidade/Obstetrícia e a
unidade de Centro Cirúrgico da Sociedade Santa Casa de Misericórdia de
Ourinhos, na cidade de Ourinhos – SP.
O hospital tem um setor especialmente voltado para atender o setor de
Maternidade e Obstetrícia, na qual possui 22 (vinte e dois) leitos fixos e 2
(dois) leitos móveis, onde são atendidas mulheres e gestantes do SUS,
conveniado e particular.
A observação no setor de Obstetrícia foi realizada durante a primeira semana e
o setor Cirúrgico foi observado na segunda semana do mês de junho de 2008. Foi
utilizado um roteiro de observação contendo a avaliação do humor individual,
desenvoltura para mostrar suas habilidades técnicas, aplicação da teoria nas
aulas práticas, interação com a equipe técnica local, interação com a equipe
cirúrgica, autonomia, autocontrole e consulta ao relógio. Com isso, puderam se
conhecer todas as variáveis e assim analisando e interpretando-as adequadamente.
O enfoque metodológico para a análise do recorte temático centrado na atividade
de aprendizado durante o estagio supervisionado no comportamento diante de
diferentes situações orientou-se pelas seguintes questões durante as
observações sistemáticas e registradas através de anotações manuais: Apresentou
mudança de humor quando entrou no campo de estágio? Apresentou desenvoltura
para desenvolver habilidades técnicas? Manteve interação com a equipe do setor?
Consultou o relógio por mais de três vezes? Demonstrou autonomia e
autocontrole? Manteve-se irritado e calado?
Os resultados dos instrumentos são integrados na discussão do trabalho,
formando um conjunto de dados e fornecendo subsídios para o estabelecimento de
relações, tanto do ponto de vista empírico quanto teórico, no sentido de
atender aos objetivos do estudo.
6 - RESULTADOS E DISCUSSÃO
6.1 - MATERNIDADE E OBSTETRÍCIA
O setor da Maternidade e Obstetrícia é um local destinado à Assistência a
Mulher e ao recém-nascido.
O Setor possui cores, odores e apresentação diferente de qualquer outro local
do hospital. O tom das paredes é suave, o cheiro do ambiente é agradável
(geralmente lembra talco de bebês) e é possível sempre visualizar arranjos de
flores e enfeites lindos nas portas dos quartos com mensagem de "boas vindas"
para as futuras mamães e seus recém-natos.
O Berçário é acoplado ao setor onde oferece alojamento conjunto às mães. Sendo
inevitável a visão inebriante de vários familiares felizes ao presenciar a
chegada de um bebê.
A sensação de bem-estar e alegria é contagiante a todos que circulam por este
ambiente.
Foi observado no setor de obstetrícia uma desenvoltura maior dos alunos, que
chegavam sorridentes, escolhiam o paciente a ser acompanhado durante o período
e interagiam com a equipe de enfermagem de plantão demonstrando muita apatia e
afeição. Durante todo o período em que estavam no setor, não foi observado
nenhum aluno sem atividade. Todos tiveram a oportunidade de aprendizado
colocando em prática todo o conteúdo teórico. Realizaram procedimentos de
enfermagem, suporte psicológico, orientações às parturientes tanto com o
cuidado com o recém-nascido quanto com a importância da amamentação.
As atividades foram desenvolvidas individualmente sem problemas, com isso
demonstraram autocontrole, conhecimento adequado das técnicas e autonomia para
realizar tarefas.
O horário do término do estágio aproximou-se despercebido, não havendo pressa
de se ausentar do campo de estágio, portanto, não houve consulta ao relógio.
O setor de Obstetrícia é um ambiente calmo, sereno, aconchegante e com
presságio de alegria e felicidade pela chegada de um bebê. Momentos de dor e
aflição são amenizados pelas palavras de conforto das enfermeiras da sala de
pré-parto. Por tudo isso, os afetos positivos transmitiram bem-estar e bom
humor aos acadêmicos.
Do exposto obteve-se do roteiro de observação, total expressão de que neste
ambiente houve interação, satisfação e sentimentos de bem-estar e domínio.
6.2 - CENTRO CIRURGICO
Um Centro Cirúrgico compõe-se de várias dependências e necessita de pessoal
especializado para o seu perfeito funcionamento. (BARROS, 1996, p.37)
Figueiredo (2008, p.55) afirma que:
O Centro Cirúrgico é uma unidade hospitalar de alta complexidade e, como tal,
requer profissionais de enfermagem qualificados e equipamentos de tecnologia
avançados destinados à manutenção do suporte de vida para clientes que serão
submetidos à intervenção cirúrgica.
Por ser um ambiente fechado, de alta complexidade, com pessoal diferenciado e
altamente avançado, faz com que o Centro cirúrgico tenha um "ar misterioso" e
ao mesmo tempo tenebroso pela sua reclusão sensata das outras dependências do
hospital.
Os acadêmicos que iniciam o estágio supervisionado neste setor podem
experimentar sentimentos de insegurança e impotência se não forem bem
preparados para esta jornada.
O setor de Centro Cirúrgico revela-se um ambiente estressante por ser uma das
unidades mais complexas do hospital. A tensão inicia-se ainda no vestiário na
hora de se paramentar, já pelo fato de despir-se totalmente para a paramentação
adequada, que se faz necessário o uso de uniforme privativo, gorro, prospés e
principalmente de máscara. Tudo isso gera grande ansiedade e desconforto.
Os conflitos iniciam tão logo que adentram no setor. O local é restrito,
fechado e sem conexão com outros setores do hospital. A porta de entrada é a
mesma de saída, não havendo janelas e com isso impossibilitando a visão
externa, como por exemplo, se está chovendo ou se faz sol.
A qualidade das relações com as pessoas depende da capacidade de perceber
adequadamente o comportamento e a experiência do outro. Porém, no Centro
Cirúrgico, é essencial a atenção incondicional aos pacientes pré e
pós-cirúrgicos, ocasionando o déficit de atenção dos funcionários para com os
acadêmicos propiciando, assim, um ambiente estressante para os alunos, por não
poder e não saber atuar junto à equipe local. Esse sentimento de impotência
gera afetos negativos.
O sentimento de impotência dos acadêmicos estagiários surge com a falta de
habilidade prática para auxiliar nas atividades técnicas da sala cirúrgica.
Mesmo a equipe de funcionários do centro cirúrgico demonstrando empatia e
afeição, não há grandes oportunidades de troca de experiências e transmissão de
conhecimentos pelo fato de ser muito intenso a velocidade do serviço prestado
em sala cirúrgica ao paciente cirúrgico.
De acordo com Stefanelli (p.163, 1995), a comunicação é condição fundamental da
vida humana abrangendo todos os procedimentos por meio do qual um ser humano
alcança o outro.
Em relação à equipe cirúrgica, observaram-se cirurgiões apressados e calados,
no entanto, houve alguns poucos dispostos a relatar as cirurgias, explicando-as
e esclarecendo dúvidas enriquecendo, assim, os conhecimentos teóricos adquiridos
em salas de aula.
Sentimentos de angústia foram experimentados por todos os alunos em diferentes
graus.
Foi observada a constante consulta ao relógio, na ânsia de sair dessa situação
de desconforto tão logo possível. Esse comportamento revelou sentimento de
fuga, onde situações de desconforto geram conflitos e instiga o aluno a se
ausentar deste ambiente de afeto negativo e estressante.
O agrupamento dos alunos não passou despercebido, na qual nenhum aluno
desenvolveu nenhuma atividade sozinho, sempre estava em dupla ou mais. Com
isso, constatamos que a deficiência de conhecimento especifico do setor poderá
ser amenizada com outro integrante do grupo para apoiá-lo em situações
adversas, portanto revela a insegurança perante situações e procedimentos técnicos.
Aqueles que temiam as salas cirúrgicas refugiavam-se na Central de Materiais e
Esterilização, aparecendo uma vez ou outra para observar algum procedimento
cirúrgico. A Central de Materiais e Esterilização é o local destinado à
limpeza, preparação, esterilização e armazenamento de materiais cirúrgicos.
Neste local não há exigência de rapidez e concentração extrema, como é o caso
dos cuidados prestados ao cliente cirúrgico.
A Unidade de Recuperação Pós-Anestésica é considerado o local favorito de todos
os acadêmicos, pois é o único local onde aprimoraram suas habilidades técnicas
como verificação de sinais vitais a cada 15 minutos, observação do nível de
consciência e observação dos prontuários médicos. Nesta unidade os acadêmicos
demonstraram autonomia para desenvolver técnicas de aprendizado sem serem
observados pelos cirurgiões e anestesiologistas. Nesta Unidade, o cliente está
pouco sonolento ou já totalmente lúcido, podendo compactuar com os cuidados
pós-operatórios ofertados pelos acadêmicos.
O roteiro de observação, em suma, diagnosticou mal-estar dos acadêmicos durante
todo o período de estágio no setor. Em virtude dessas considerações,
concluíram-se nitidamente sentimentos de desconforto, frustração e sofrimento.
CONCLUSÃO
O estudo em questão comprovou os diferentes comportamentos humanos diante de
situações de desconforto e de bem-estar. Revelando afetos negativos nas
situações de desconforto e afetos positivos nas situações de bem-estar.
Em situações de desconforto apontou para o sentimento de impotência, diante das
habilidades técnicas específicas, o que prejudicou muito o aprendizado do
aluno.
O sentimento de fuga acarretou mais frustrações, revolta e estresse tanto
quanto o aprendizado deficitário. Situação de bem-estar revelou bons sentimentos
e bom humor, assim como autonomia, habilidades técnicas e autocontrole.
A tensão aumenta sempre que o setor a ser estagiado oferece desconforto como é
o caso do Centro Cirúrgico, onde o ambiente é estressante e concentrado de
atenção ao que se executa. No caso do setor de Maternidade e Obstetrícia, que
inclui maternidade e berçário, esse desconforto desaparece dando lugar ao
desempenho de domínio da situação, pois se torna mais acessível pelo ambiente
ser mais calmo, sereno e acolhedor.
O trabalho obteve os resultados esperados e comprova a importância de um
preparo eficaz para diferentes situações em campo de estágio. O
Enfermeiro-educador que supervisiona o estágio deve ter discernimento e
conhecimento apropriado para amenizar situações estressantes, assim como
oferecer apoio, ter experiência e dar suporte necessário para ajudar os
acadêmicos a superarem frustrações em diversas situações.
Gross (p.67, 2002) lembra que:
(...) a universidade deve protegê-los das tarefas rotineiras, responsabilidades
conservadoras, idéias pré-concebidas e caducas, livrá-los de constrangimentos e
pressões, e criar condições ambientais e institucionais para ser um microcosmo
a serviço do progresso individual e social.
Ao considerar qualidade de vida no aprendizado durante os estágios
supervisionados, de forma a englobar aspectos de bem-estar, o educador deve
tomar medidas de prevenção para que situações de desconforto não afetem a
organização do ensino de maneira a impedir a produtividade e o desenvolvimento
dos acadêmicos.
A implementação de estratégias eficazes e diferenciadas de ensino para atender
as necessidades individuais nos diferentes ambientes, é de extrema importância.
Ao preparar o indivíduo para as situações que ainda não surgiram, os operantes
discriminativos são colocados sob o controle de estímulos que provavelmente
ocorrerão nessas situações. (SKINNER, 2003, p.437)
O acadêmico que busca maior conscientização sobre tudo que o cerca, tem maior
probabilidade de perceber as situações e de se relacionar, facilitando sua
interação no meio de campo de estágio.
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ANEXO
ROTEIRO de OBSERVAÇÃO
1- Apresentou mudança de humor quando entrou no campo de estágio?
( ) SIM
( ) NÃO
2- Apresentou desenvoltura para desenvolver habilidades técnicas?
( ) SIM
( ) NÃO
3- Manteve interação com a equipe do setor?
( ) SIM
( ) NÃO
4- Consultou o relógio por mais de três vezes?
( ) SIM
( ) NÃO
5- Demonstrou autonomia e autocontrole?
( ) SIM
( ) NÃO
6- Manteve-se irritado e calado?
( ) SIM
( ) NÃO