ESTUDO COMPARATIVO DO COMPORTAMENTO HUMANO ACADÊMICO DIANTE DE SITUAÇÕES DIFERENTES DE DESCONFORTO E DE BEM-ESTAR.

Por Milliani Matsui | 09/07/2009 | Saúde

Essa pesquisa trata-se da observação e comparação do comportamento humano perante situações de desconforto e situações de bem-estar. Participaram 6 acadêmicos do último ano do curso de graduação em Enfermagem das Faculdades Integradas de Ourinhos em campo de estágio no Hospital Filantrópico da cidade de Ourinhos – SP. Situações de desconforto geram estresse emocional ocasionando, muitas vezes, desinteresse e frustrações. Já em situações de bem-estar e domínio, a satisfação plena transparece na ação realizada. O presente trabalho teve como objetivo observar, avaliar os eventos de desconfortos e de bem-estar e comparar as diferentes ações e comportamento diante destes eventos. A metodologia aplicada foi de observação direta sistematizada realizada no setor da Maternidade e no Centro Cirúrgico do referido hospital. O resultado interpretado apontou que a situação de desconforto gera sentimentos de impotência e de fuga, experimentados no Centro cirúrgico. Já as situações de bem-estar foram vivenciadas na maternidade, revelando sentimentos de felicidade e bom humor. Concluiu-se que a presença de um professor supervisor com conhecimento teórico e técnico, com discernimento para compreender diferentes situações é imprescindível para o aprendizado adequado dos acadêmicos de Enfermagem.

1- INTRODUÇÃO

O bem-estar ocasiona comportamento e afetos positivos. Nos momentos de afeição, situações conhecidas e de domínio geram sentimentos agradáveis e satisfação. Situações de desconforto alteram drasticamente o humor ocasionando sentimentos e afetos negativos.
A graduação em exige estágio supervisionado em atendimento direto com o paciente, tanto nos hospitais quanto nos centros de saúde.
É sobremodo importante frisar que esse estágio supervisionado é acompanhado por um Enfermeiro-educador, formado em Graduação de Enfermagem e Especialista na área de Formação Pedagógica; sendo esta, uma condição imprescindível para o requisito do corpo docente.
O estágio supervisionado gera muita expectativa e ansiedade, pois é a aplicação do conhecimento teórico, suas práticas e habilidades. É de se verificar que a ansiedade dos acadêmicos aumenta por serem avaliados diariamente e diretamente, sendo atribuídas notas de desempenho a cada dez dias.
Nos diferentes campos de estágio, o aluno deve ter comprometimento para obter bom desempenho nas tarefas de aprendizagem. Em virtude disso, se torna necessário saber interagir de maneira a compartilhar informações, confrontar diferenças e cooperar com os colegas de grupo e com os funcionários do setor acolhedor.
Cumpre observar preliminarmente que são vários os fatores que podem impedir ou interferir no bom rendimento do grupo, tais como o seu tamanho, o grau de motivação de seus membros, a falta de coesão, dificuldades de comunicação e até mesmo situações de desconforto em que privam o aluno de obter um desempenho desejável.
O trabalho em questão aborda as situações de domínio e bem-estar, assim como as situações de desconforto e sofrimento, tendo como locais de instrumento o setor de Maternidade e o setor de Centro Cirúrgico.
O objetivo é observar, avaliar os eventos de desconforto e de bem-estar e comparar o comportamento dos acadêmicos diante dessas diferentes situações.
A importância desse estudo se dá ao conhecimento de situações estressantes tanto para o acadêmico quanto para o educador, sendo que os resultados podem contribuir para estabelecer e aprimorar novas formas de ensinamento-aprendizagem para garantir o bem-estar coletivo.
O interesse pelo presente estudo foi despertado por experiência vivenciada durante estágio supervisionado de Enfermagem, em que acadêmicos demonstravam postura e humor diferentes em situações adversas.
Ferreira (2001) afirma que:
(...) o prazer-sofrimento é uma vivência subjetiva do próprio individuo, compartilhada coletivamente e influenciada pela atividade de trabalho. Nessa perspectiva analítica, todo o trabalho veicula implicitamente um custo humano que se expressa sob a forma de carga de trabalho, e as vivências de prazer-sofrimento têm como um dos resultantes o confronto do sujeito com essa carga que, por conseguinte, impacta no seu bem-estar psíquico.

Já para Mendes (2001), as vivências de prazer-sofrimento formam um composto de três fatores: valorização e reconhecimento, que definem o prazer; e desgaste com o trabalho, que define o sofrimento.
O enfoque teórico adotado para investigar o comportamento humano fundamenta-se em duas premissas interdependentes: situações de bem-estar e domínio e situações de desconforto e sofrimento.

2- DOCENTES DE UMA FACULDADE

O docente que quer lecionar na faculdade precisa ser graduado há mais de dois anos, ser especialista, mestre ou doutor.
A análise de currículo é suficiente para o preenchimento do cargo de docente, não sendo necessário um processo seletivo com avaliações.
O ensino superior atual enfrenta barreiras ao formar seus acadêmicos, pois a educação moderna está em crise, gerando jovens lógicos, mas que não sabem lidar com dificuldades, desafios e conflitos.
O docente precisa estar preparado e estruturado para saber conduzir e elucidar os possíveis caminhos tortuosos que os acadêmicos poderão encontrar.
Cury (2003, p.140) afirma que o professor influencia mais a personalidade dos alunos pelo que é do que pelo que sabe.
A dificuldade maior é que esses docentes muitas vezes não sabem como incorporar esses novos conteúdos.
Carlotto (2002) aponta que:
O professor que resiste a estas mudanças, que ainda pretende manter o papel de modelo social, o de transmissor exclusivo de conhecimento e o de hierarquia possuidora de poder, tem maiores possibilidades de ser questionado e de desenvolver sentimentos de mal-estar.

É preciso um novo modelo de educação onde os docentes consigam contribuir para o desenvolvimento da capacidade de gerenciar os pensamentos dos seus acadêmicos, ensiná-los a lidar com as emoções, a enfrentar dificuldades, perdas, frustrações e conflitos.

3- ACADÊMICOS DE ENFERMAGEM

Os acadêmicos de Enfermagem do último termo, em que se encontram na fase final da graduação, enfrentam conflitos próprios de ansiedade e angústia.
A grade curricular difere-se totalmente de todas as outras já ultrapassadas até o momento, o horário habitual de estudo modifica-se de noturno para diurno, o contato com a comunidade se estreita, seus conhecimentos teóricos são avaliados a todo o momento e também tem a expectativa da tão esperada formatura.
Esses conflitos não vêm de forma suave, pelo contrário, ele surge impostamente forte gritando ao íntimo.
A sensatez e o sentimento de conquista devem ser experimentados por todos os acadêmicos para obter o êxito da graduação.

4- COMPORTAMENTO E SENTIMENTO

4.1- BEM-ESTAR E DOMÍNIO

De acordo com Diener e Suh (2000), a satisfação com a vida é um indicador de bem-estar, em geral baseada mais em critérios subjetivos do que em medidas objetivas definidas por especialistas e afetada por fatores situacionais, humor e padrões de comparação.
É de ser relevado que indivíduos em situações semelhantes podem apresentar reações diferentes dependendo do grau de interação e confronto com as diferenças.
Qualquer vivência ganha conotação diferente a partir da personalidade específica do indivíduo. (DALGALARRONDO, p.293, 2008)
Freire (2001) afirma que:
(...) as medidas de bem-estar subjetivo incluem um julgamento global de todos os aspectos da vida, e, embora o afeto ou a satisfação quanto a algum domínio em particular possa ser avaliada, a ênfase é geralmente colocada sobre o julgamento geral da vida da pessoa.

Somos todos diferentes e com características peculiares, da mesma forma que cada acadêmico apresenta diferenças na aprendizagem em seus próprios processos. Verdade seja que cada indivíduo reage e intervém em diversas situações, seja ela de desconforto ou de bem-estar.
Kanaane (1994) salientou que:
(...) o bem-estar é de extrema importância para o individuo, pois a qualidade de vida está diretamente ligada com a satisfação das expectativas e que corresponde ao bem-estar do individuo, no ambiente de trabalho, expresso através de relações saudáveis e harmônicas.

Mister se faz ressaltar que situação de bem-estar e domínio faz transparecer a satisfação plena nas ações realizadas, evidenciando sentimentos de felicidade e bom humor.
No entendimento de Mendes (2001):
(...) o prazer é vivenciado quando são experimentados sentimentos de valorização e reconhecimento no trabalho. A valorização é o sentimento de que o trabalho tem sentido e valor por si mesmo. O reconhecimento é o sentimento de ser aceito e admirado no trabalho e ter liberdade para expressar sua individualidade.

É bem verdade que o acolhimento adequado e a aceitação do indivíduo em um ambiente adverso são de suma importância para que a valorização e reconhecimento sejam experimentados por ele.

4.2- DESCONFORTO E SOFRIMENTO

Cumpre examinarmos que os acadêmicos são submetidos às mudanças bruscas e em curto espaço de tempo precisa se adaptar a diferentes ambientes de estágio. O cumprimento do cronograma didático é imprescindível e ininterrupto com carga horária extensa e cansativa.
Esteve (1999) adverte quanto às desastrosas tensões e desorientações provocadas nos indivíduos quando estes se veem obrigados a uma mudança excessiva em um período de tempo demasiadamente curto.
Posta assim a questão de que o desconforto e o sofrimento podem ser atribuídos ao choque entre a expectativa de realizar novos projetos com um ambiente de trabalho (aprendizagem) que o ignora.
Essa imparcialidade do ambiente acolhedor promove no individuo um desconforto sofrível, dando margem aos sentimentos de fuga e frustração.
Silva (2000) diz que:
(...) em uma perspectiva interacionista que considere um ajuste dinâmico entre pessoa, local de trabalho e organização, pode-se perceber que o ajuste nem sempre é adequado, e quando assim está, o individuo tende a perceber que não dispõe de recursos suficientes para ajustar-se, surgindo assim o estado de estresse.

Mendes (2001) revela que o sofrimento é vivenciado quando experimentado o desgaste em relação ao trabalho, que significa a sensação de cansaço, desânimo e descontentamento com o trabalho.
O desajuste do acadêmico diante às situações incômodas como a de não saber atuar em determinadas situações e não poder aprender atuar, acarreta grande sofrimento.
Segundo Dejours (1992):
(...) o trabalho contém vários elementos que influenciam a formação da auto-imagem e que é razão para o sofrimento. Situações de medo e de tédio são responsáveis pela emergência do sofrimento, que se reflete em sintomas como a ansiedade e a insatisfação.

Ainda para Dejours (1994):
(...) o sofrimento é também causado pela criação das incompetências, significando que o trabalhador se sente incapaz de fazer face às situações convencionais, inabituais ou erradas, quando acontece a retenção da informação que destrói a cooperação.

É preciso insistir no fato de que situações de desconforto geram estresse emocional ocasionando, muitas vezes, desinteresse e frustrações, com efeito, de personalizar e desestruturar a identidade.
Ferreira (2001) lembra que:
(...) o sofrimento é capaz de desestabilizar a identidade e a personalidade, conduzindo a problemas mentais; mas ao mesmo tempo, é elemento para a normalidade, quando existe um compromisso entre o sofrimento e a luta individual e coletiva contra ele, sendo o saudável não uma adaptação, mas o enfrentamento das imposições e pressões do trabalho que causam a desestabilidade psicológica, tendo lugar o prazer quando esse sofrimento pode ser transformado.

Alguns tipos de estresse (desconforto) nos excitam e nos motivam e, no processo, frequentemente expõem nossas melhores qualidades e estimulam o crescimento pessoal. (STRAUB, 2005, p.147)
O estresse também oferece vantagens, cada um reage e enfrenta o estresse de maneiras diferentes. Cabe a cada indivíduo manter um nível adequado e administrável. A vida seria aborrecida se não houvesse desconfortos e certos momentos de estresse.

5 – METODOLOGIA

Para a efetiva elaboração do trabalho foi utilizada técnica padronizada de coleta de dados de observação direta sistematizada. A pesquisa foi baseada nos referenciais quali-quantitativos, nas quais os dados serão tratados, analisados e por fim será realizado estudo comparativo entre eles.
Fundamentam-se nos dados observados na primeira quinzena do mês de junho de 2008, durante Estágio Supervisionado de Graduação em Enfermagem pelas Faculdades Integradas de Ourinhos. A pesquisa realizou-se com uma amostra de 6 (seis) participantes. A amostra caracteriza-se por acadêmicos do último ano de Enfermagem, sendo 5 do sexo feminino e 1 do sexo masculino, casados e todos exercendo funções na área Saúde (com carga horária de 36 horas semanais). Os locais escolhidos para observação foi o setor de Maternidade/Obstetrícia e a unidade de Centro Cirúrgico da Sociedade Santa Casa de Misericórdia de Ourinhos, na cidade de Ourinhos – SP.
O hospital tem um setor especialmente voltado para atender o setor de Maternidade e Obstetrícia, na qual possui 22 (vinte e dois) leitos fixos e 2 (dois) leitos móveis, onde são atendidas mulheres e gestantes do SUS, conveniado e particular.
A observação no setor de Obstetrícia foi realizada durante a primeira semana e o setor Cirúrgico foi observado na segunda semana do mês de junho de 2008. Foi utilizado um roteiro de observação contendo a avaliação do humor individual, desenvoltura para mostrar suas habilidades técnicas, aplicação da teoria nas aulas práticas, interação com a equipe técnica local, interação com a equipe cirúrgica, autonomia, autocontrole e consulta ao relógio. Com isso, puderam se conhecer todas as variáveis e assim analisando e interpretando-as adequadamente.
O enfoque metodológico para a análise do recorte temático centrado na atividade de aprendizado durante o estagio supervisionado no comportamento diante de diferentes situações orientou-se pelas seguintes questões durante as observações sistemáticas e registradas através de anotações manuais: Apresentou mudança de humor quando entrou no campo de estágio? Apresentou desenvoltura para desenvolver habilidades técnicas? Manteve interação com a equipe do setor? Consultou o relógio por mais de três vezes? Demonstrou autonomia e autocontrole? Manteve-se irritado e calado?
Os resultados dos instrumentos são integrados na discussão do trabalho, formando um conjunto de dados e fornecendo subsídios para o estabelecimento de relações, tanto do ponto de vista empírico quanto teórico, no sentido de atender aos objetivos do estudo.

6 - RESULTADOS E DISCUSSÃO
6.1 - MATERNIDADE E OBSTETRÍCIA

O setor da Maternidade e Obstetrícia é um local destinado à Assistência a Mulher e ao recém-nascido.
O Setor possui cores, odores e apresentação diferente de qualquer outro local do hospital. O tom das paredes é suave, o cheiro do ambiente é agradável (geralmente lembra talco de bebês) e é possível sempre visualizar arranjos de flores e enfeites lindos nas portas dos quartos com mensagem de "boas vindas" para as futuras mamães e seus recém-natos.
O Berçário é acoplado ao setor onde oferece alojamento conjunto às mães. Sendo inevitável a visão inebriante de vários familiares felizes ao presenciar a chegada de um bebê.
A sensação de bem-estar e alegria é contagiante a todos que circulam por este ambiente.
Foi observado no setor de obstetrícia uma desenvoltura maior dos alunos, que chegavam sorridentes, escolhiam o paciente a ser acompanhado durante o período e interagiam com a equipe de enfermagem de plantão demonstrando muita apatia e afeição. Durante todo o período em que estavam no setor, não foi observado nenhum aluno sem atividade. Todos tiveram a oportunidade de aprendizado colocando em prática todo o conteúdo teórico. Realizaram procedimentos de enfermagem, suporte psicológico, orientações às parturientes tanto com o cuidado com o recém-nascido quanto com a importância da amamentação.
As atividades foram desenvolvidas individualmente sem problemas, com isso demonstraram autocontrole, conhecimento adequado das técnicas e autonomia para realizar tarefas.
O horário do término do estágio aproximou-se despercebido, não havendo pressa de se ausentar do campo de estágio, portanto, não houve consulta ao relógio.
O setor de Obstetrícia é um ambiente calmo, sereno, aconchegante e com presságio de alegria e felicidade pela chegada de um bebê. Momentos de dor e aflição são amenizados pelas palavras de conforto das enfermeiras da sala de pré-parto. Por tudo isso, os afetos positivos transmitiram bem-estar e bom humor aos acadêmicos.
Do exposto obteve-se do roteiro de observação, total expressão de que neste ambiente houve interação, satisfação e sentimentos de bem-estar e domínio.

6.2 - CENTRO CIRURGICO

Um Centro Cirúrgico compõe-se de várias dependências e necessita de pessoal especializado para o seu perfeito funcionamento. (BARROS, 1996, p.37)
Figueiredo (2008, p.55) afirma que:
O Centro Cirúrgico é uma unidade hospitalar de alta complexidade e, como tal, requer profissionais de enfermagem qualificados e equipamentos de tecnologia avançados destinados à manutenção do suporte de vida para clientes que serão submetidos à intervenção cirúrgica.

Por ser um ambiente fechado, de alta complexidade, com pessoal diferenciado e altamente avançado, faz com que o Centro cirúrgico tenha um "ar misterioso" e ao mesmo tempo tenebroso pela sua reclusão sensata das outras dependências do hospital.
Os acadêmicos que iniciam o estágio supervisionado neste setor podem experimentar sentimentos de insegurança e impotência se não forem bem preparados para esta jornada.
O setor de Centro Cirúrgico revela-se um ambiente estressante por ser uma das unidades mais complexas do hospital. A tensão inicia-se ainda no vestiário na hora de se paramentar, já pelo fato de despir-se totalmente para a paramentação adequada, que se faz necessário o uso de uniforme privativo, gorro, prospés e principalmente de máscara. Tudo isso gera grande ansiedade e desconforto.
Os conflitos iniciam tão logo que adentram no setor. O local é restrito, fechado e sem conexão com outros setores do hospital. A porta de entrada é a mesma de saída, não havendo janelas e com isso impossibilitando a visão externa, como por exemplo, se está chovendo ou se faz sol.
A qualidade das relações com as pessoas depende da capacidade de perceber adequadamente o comportamento e a experiência do outro. Porém, no Centro Cirúrgico, é essencial a atenção incondicional aos pacientes pré e pós-cirúrgicos, ocasionando o déficit de atenção dos funcionários para com os acadêmicos propiciando, assim, um ambiente estressante para os alunos, por não poder e não saber atuar junto à equipe local. Esse sentimento de impotência gera afetos negativos.
O sentimento de impotência dos acadêmicos estagiários surge com a falta de habilidade prática para auxiliar nas atividades técnicas da sala cirúrgica.
Mesmo a equipe de funcionários do centro cirúrgico demonstrando empatia e afeição, não há grandes oportunidades de troca de experiências e transmissão de conhecimentos pelo fato de ser muito intenso a velocidade do serviço prestado em sala cirúrgica ao paciente cirúrgico.
De acordo com Stefanelli (p.163, 1995), a comunicação é condição fundamental da vida humana abrangendo todos os procedimentos por meio do qual um ser humano alcança o outro.
Em relação à equipe cirúrgica, observaram-se cirurgiões apressados e calados, no entanto, houve alguns poucos dispostos a relatar as cirurgias, explicando-as e esclarecendo dúvidas enriquecendo, assim, os conhecimentos teóricos adquiridos em salas de aula.
Sentimentos de angústia foram experimentados por todos os alunos em diferentes graus.
Foi observada a constante consulta ao relógio, na ânsia de sair dessa situação de desconforto tão logo possível. Esse comportamento revelou sentimento de fuga, onde situações de desconforto geram conflitos e instiga o aluno a se ausentar deste ambiente de afeto negativo e estressante.
O agrupamento dos alunos não passou despercebido, na qual nenhum aluno desenvolveu nenhuma atividade sozinho, sempre estava em dupla ou mais. Com isso, constatamos que a deficiência de conhecimento especifico do setor poderá ser amenizada com outro integrante do grupo para apoiá-lo em situações adversas, portanto revela a insegurança perante situações e procedimentos técnicos.
Aqueles que temiam as salas cirúrgicas refugiavam-se na Central de Materiais e Esterilização, aparecendo uma vez ou outra para observar algum procedimento cirúrgico. A Central de Materiais e Esterilização é o local destinado à limpeza, preparação, esterilização e armazenamento de materiais cirúrgicos. Neste local não há exigência de rapidez e concentração extrema, como é o caso dos cuidados prestados ao cliente cirúrgico.
A Unidade de Recuperação Pós-Anestésica é considerado o local favorito de todos os acadêmicos, pois é o único local onde aprimoraram suas habilidades técnicas como verificação de sinais vitais a cada 15 minutos, observação do nível de consciência e observação dos prontuários médicos. Nesta unidade os acadêmicos demonstraram autonomia para desenvolver técnicas de aprendizado sem serem observados pelos cirurgiões e anestesiologistas. Nesta Unidade, o cliente está pouco sonolento ou já totalmente lúcido, podendo compactuar com os cuidados pós-operatórios ofertados pelos acadêmicos.
O roteiro de observação, em suma, diagnosticou mal-estar dos acadêmicos durante todo o período de estágio no setor. Em virtude dessas considerações, concluíram-se nitidamente sentimentos de desconforto, frustração e sofrimento.

CONCLUSÃO

O estudo em questão comprovou os diferentes comportamentos humanos diante de situações de desconforto e de bem-estar. Revelando afetos negativos nas situações de desconforto e afetos positivos nas situações de bem-estar.
Em situações de desconforto apontou para o sentimento de impotência, diante das habilidades técnicas específicas, o que prejudicou muito o aprendizado do aluno.
O sentimento de fuga acarretou mais frustrações, revolta e estresse tanto quanto o aprendizado deficitário. Situação de bem-estar revelou bons sentimentos e bom humor, assim como autonomia, habilidades técnicas e autocontrole.
A tensão aumenta sempre que o setor a ser estagiado oferece desconforto como é o caso do Centro Cirúrgico, onde o ambiente é estressante e concentrado de atenção ao que se executa. No caso do setor de Maternidade e Obstetrícia, que inclui maternidade e berçário, esse desconforto desaparece dando lugar ao desempenho de domínio da situação, pois se torna mais acessível pelo ambiente ser mais calmo, sereno e acolhedor.
O trabalho obteve os resultados esperados e comprova a importância de um preparo eficaz para diferentes situações em campo de estágio. O Enfermeiro-educador que supervisiona o estágio deve ter discernimento e conhecimento apropriado para amenizar situações estressantes, assim como oferecer apoio, ter experiência e dar suporte necessário para ajudar os acadêmicos a superarem frustrações em diversas situações.
Gross (p.67, 2002) lembra que:
(...) a universidade deve protegê-los das tarefas rotineiras, responsabilidades conservadoras, idéias pré-concebidas e caducas, livrá-los de constrangimentos e pressões, e criar condições ambientais e institucionais para ser um microcosmo a serviço do progresso individual e social.

Ao considerar qualidade de vida no aprendizado durante os estágios supervisionados, de forma a englobar aspectos de bem-estar, o educador deve tomar medidas de prevenção para que situações de desconforto não afetem a organização do ensino de maneira a impedir a produtividade e o desenvolvimento dos acadêmicos.
A implementação de estratégias eficazes e diferenciadas de ensino para atender as necessidades individuais nos diferentes ambientes, é de extrema importância.
Ao preparar o indivíduo para as situações que ainda não surgiram, os operantes discriminativos são colocados sob o controle de estímulos que provavelmente ocorrerão nessas situações. (SKINNER, 2003, p.437)
O acadêmico que busca maior conscientização sobre tudo que o cerca, tem maior probabilidade de perceber as situações e de se relacionar, facilitando sua interação no meio de campo de estágio.

REFERÊNCIAS
BARROS, M. C. D.; BARTMANN, M.; HARGREAVES, L. Enfermagem Cirúrgica. Senac. DN. 5ª reimpressão. Rio de Janeiro: Ed. Senac Nacional, 1996.

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CURY A. J. Pais brilhantes, professores fascinantes. Parte 5. Cap.7. P.140. Rio de Janeiro: ed. Sextante, 2003.

DALGALARRONDO, P. Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais. Cap.24. p.293. Campinas: Artmed, 2008.

DEJOURS, C. A loucura do trabalho: estudo de psicopatologia do trabalho. São Paulo: Cortez, 1992.

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DIENER, E.; SUH, E.M. Culture and subjective well-being. Cambridge: MIT. 2000.

ESTEVE, J.M. O mal-estar docente: sala de aula e a saúde dos professores. São Paulo: 1999.

FERREIRA, M.C.; MENDES, A. M. "Só de pensar em vir trabalhar, já fico de mau humor": atividade de atendimento ao público e prazer-sofrimento no trabalho. Vol. 06. N.01. Jan/Jun. Brasília: 2001.

FIGUEIREDO, N. M. A. de; VIANA, D. L.; MACHADO, W. C. A. Tratado Prático de Enfermagem. Vol. 2. Cap. 2. P. 55. São Caetano do Sul. São Paulo: Yendis Editora, 2008.

FREIRE, S.A. Bem-estar subjetivo e metas de vida: um estudo transversal com homens e mulheres pertencentes a três faixas de idade. Tese de Doutorado Não-Publicada, Programa de Pós-Graduação em Educação, Universidade Estadual de Campinas, Campinas: 2001.

GROSS, J.S.; GROSS, R. Propostas de diretrizes para uma nova concepção de universidade. Ciência e Cultura, n. 28, FCHLA 04, p. 67-90, mar. Curitiba: 2002.

KANAANE, R. Comportamento humano nas organizações: o homem rumo ao Século XXI. São Paulo: Atlas, 1994.

MENDES, A.M.; TAMAYO, A. Valores organizacionais e prazer-sofrimento no trabalho. Vol.06. N.01. Junho. Itatiba: 2001.

SKINNER, B.F. Ciência e comportamento humano. Editora Martins Fontes. P.437-438. 11ª edição. Julho. São Paulo: 2003.

SILVA, F.P.P. Burnout: um desafio à saúde do trabalhador. Revista de Psicologia Social e institucional. Vol.02. N.01. Junho. Londrina: 2000.

STEFANELLI, MC. Ensino de técnicas de comunicação terapêutica enfermeiro-paciente. [tese]. Escola de Enfermagem da Universidade Federal São Paulo. p.163. São Paulo: 1995.

STRAUB, R.O. Psicologia da Saúde. University of Michigan, Dearborn. Trad. Ronaldo Cataldo Costa. Cap.4. Parte 2. p.147. Porto Alegre: Artmed, 2005.

ANEXO
ROTEIRO de OBSERVAÇÃO
1- Apresentou mudança de humor quando entrou no campo de estágio?
( ) SIM
( ) NÃO

2- Apresentou desenvoltura para desenvolver habilidades técnicas?
( ) SIM
( ) NÃO

3- Manteve interação com a equipe do setor?
( ) SIM
( ) NÃO

4- Consultou o relógio por mais de três vezes?
( ) SIM
( ) NÃO

5- Demonstrou autonomia e autocontrole?
( ) SIM
( ) NÃO

6- Manteve-se irritado e calado?
( ) SIM
( ) NÃO