Estratificação social: brasil e perspectivas globais
Por Aurélio de Menezes Bezerra | 03/11/2010 | SociedadeA princípio, para se começar a falar sobre estratificação social é de tamanha relevância diferenciar renda de riqueza. A renda refere-se ao montante que alguém recebe em um dado período de tempo, já a riqueza, é o que de fato alguém possui, ou seja, o patrimônio de uma pessoa. É com estes dois conceitos e suas diferenciações que passo a abordar o que é estratificação social, o que ela trata, sobre os grupos e nome que contribuíram para sua importância de estudo.
A estratificação social indica a existência de diferenças, de desigualdades entre pessoas de uma determinada sociedade. Ela indica a existência de grupos de pessoas que ocupam posições diferentes e seus critérios são econômicos, políticos e sociais. A estratificação econômica é baseada na posse de bens materiais, fazendo com que haja pessoas ricas, pobres e em situação intermediária; a política é baseada na situação de mando na sociedade (grupos que têm e grupos que não têm poder), já a social é baseada nos diferentes graus de importância atribuídos a cada profissional pela sociedade. Por exemplo, em nossa sociedade valorizamos muito mais a profissão de médico do que a profissão de pedreiro.
Tratando-se do Brasil, é notória e comprovada que a desigualdade no país é uma das maiores do mundo. Apesar de que nos últimos quarenta anos o Brasil tem se tornado mais rico, isto é, seu produto interno bruto aumentou, entretanto, a distribuição de renda do país tem se tornado cada vez mais desigual. O aumento de riqueza no Brasil explica-se, em parte, pelo processo de industrialização que ocorreu a partir da metade do século passado (século XX).
A Revolução Industrial e a transformação dos sistemas econômicos contribuíram para que as questões sobre a desigualdade social fossem mais bem visualizadas, discutidas e percebidas, principalmente depois do advento do capitalismo, tornando-as mais evidentes. Umas das características fundamentais que distingue nossa sociedade das antigas é a possibilidade de mobilidade social. Diferentemente da sociedade medieval na qual quem nascesse servo, morreria servo, e na qual não era possível lutar por direitos e por uma oportunidade de mudar de classe. Na sociedade ocidental contemporânea, por exemplo, isto já é possível, e a mobilidade social se dá especialmente como conseqüência dos investimentos em educação, dos investimentos de formação e capacitação para o trabalho, que podem vir tanto do Estado quanto da própria iniciativa social.
Acreditava-se que, com a Revolução Verde no Brasil, um aumento expressivo na produção e na produtividade agrícola mundial solucionaria o problema da fome no mundo, pois com muitos investimentos (presença das indústrias) o país tornou-se o segundo maior produtor mundial de soja. Entretanto, em vez de diminuir as desigualdades, ocorreu a intensificação da concentração de terra, agravamento da questão migratória nacional com a expulsão da população rural para os centros urbanos, crescimento do subemprego, enfraquecimento da pequena propriedade e retração da produção de alimentos e outros produtos para o mercado interno com a conseqüente elevação do custo de vida.
Em resumo, a agroindústria da soja tem proporcionado uma mobilidade social ascendente ou vertical- ou seja, tem possibilitado que alguns indivíduos se movam para cima no sistema de estratificação e tem aumentado a renda média nacional, Entretanto, ela também tem aumentado o abismo entre ricos e pobres e gerado novas formas de exploração e de conflitos sociais.
E se tratando de conflitos sociais, as teorias de estratificação de Marx e Weber são de extrema importância para um melhor entendimento do assunto. Os conflitos sociais geram os conflitos das classes sociais, sendo Karl Marx quem procurou colocar no centro de sua análise a questão das classes. Ele distingue as classes com base em sua relação com os meios de produção. Prevê um conflito inevitável entre burguesia e o proletariado e o nascimento de um sistema comunista. Já Weber, distinguiu as classes com base em sua "situação de mercado". Weber argumentou ainda que uma consciência de classe pudesse se desenvolver sob determinadas circunstâncias, embora isso não fosse inevitável, e enfatizou o prestígio e o poder como fontes não econômicas importantes de desigualdade.
Outras teorias se destacaram como a teoria de estratificação de Blau e a de Ducan, como também a atualização de Wrigth com o esquema de classes de Marx e Goldthorpe com uma revisão do esquema weberiano, ao distinguir as classes com base em suas "relações de emprego", entre outras distinções relativas ao setor econômico, à qualificação, etc.
A estratificação social e suas conseqüências estão presentes no nosso cotidiano, portanto, é muito importante a sua percepção e o entendimento da sua distribuição de desigualdades, para que muitos não atribuam a culpa das desigualdades apenas ao Estado e esqueçam as outras realidades que contribuem para atual situação precária de desigualdade do Brasil e do mundo.