ESTILO DE VIDA SAUDÁVEL: UMA BOA PEDIDA

Por ARLEY LEÃO | 10/06/2009 | Saúde

ARLEY SANTOS LEÃO

arleyleao@yahoo.com.br

RESUMO

As crianças e jovens vêm ficando cada vez mais presos a jogos de computadores, videogames e televisores conseguem cada vez mais novos adeptos, em detrimento das atividades de correr, saltar, etc.. O objetivo desse ensaio é apresentar, a partir da literatura existente, discussões sobre o tema estilo de vida, onde este possui intrinseca relação com hábitos diários saudáveis, como a prática de exercícios fisicos regulares, uma alimentação menos calórica, favorecendo com isso um melhor controle do peso corporal, além da questão da convivência com o estresse, que nos nossos dias vem acometendo várias pessoas. Através da literatura existente, foram analisados elementos que estão relacionados à questão da prática regular de exercícios físicos e seus benefícios. É unânime o entendimento a respeito dos benefícios da prática regular de exercícios físicos, aliado ao crescente empoderamento da população a respeito dessa atitude, já presente em várias áreas e em vários grupos sociais.

Palavras-chave: exercício físico – qualidade de vida – hipocinesia

INTRODUÇÃO

Com o progressivo avanço tecnológico, as crianças e jovens vêm ficando cada vez mais presos a uma verdadeira "rede" de entretenimento eletrônico, onde os jogos de computadores, videogames e televisores conseguem cada vez mais novos adeptos, em detrimento das atividades de correr, saltar, etc., originando com isso uma geração que cada vez menos pratica algum tipo de atividade física.

A diminuição dos níveis de atividade física é mais visível nos grandes centros, a partir da adoção de determinados hábitos comportamentais e sociais que favorecem a diminuição da prática de atividade física, além do aumento dos compromissos estudantis, pois com o avançar do nível escolar, novas cobranças e compromissos aparecem, e também profissionais, onde os adultos e chefes de família trabalham cada vez mais, com o objetivo de oferecer uma melhor qualidade de vida à sua família, esquecendo-se muitas vezes de cuidar de si próprios, como também os filhos, que passam grande parte do dia longe dos pais, que seriam as pessoas indicadas para dar-Ihes orientações sobre hábitos alimentares e falta de atividade física. A disponibilidade da tecnologia, o aumento da insegurança e a redução dos espaços livres nesses grandes centros contribuem também para a inatividade, favorecendo atividades sedentárias, como assistir televisão, jogar videogame e utilizar computadores (LAZZOLI et aI, 1998).

Essa progressiva diminuição da prática de alguma atividade/exercício físico pode vir, no futuro, a prejudicar a qualidade de vida das crianças, até mesmo propiciando o aparecimento de certos quadros patológicos, como hipertensão arterial, obesidade, cardiopatias e outras doenças crônico-degenerativas.

O objetivo desse ensaio é apresentar, a partir da literatura existente, discussões sobre o tema estilo de vida, onde este possui intrínseca relação com hábitos diários saudáveis, como a prática de exercícios físicos regulares, uma alimentação menos calórica, favorecendo com isso um melhor controle do peso corporal, além da questão da convivência com o estresse, que nos nossos dias vem acometendo várias pessoas.

Segundo dados recentes do MINISTÉRIO DA SAÚDE (2000), um estilo de vida sedentário é responsável por 54% do risco de morte por cardiopatia, 50% pelo risco de morte por acidente vascular cerebral, 37% pelo risco de morte de câncer e no total 51 % do risco de morte de um indivíduo. Podemos perceber, então, que uma grande parcela da população encontra-se inserida nesse grupo, o que nos leva a acreditar que a prática regular de alguma atividade física pode ajudar as pessoas a manter ou recuperar o peso apropriado, além de contribuir positivamente nas mudanças de outros fatores de risco de doença coronária .

A manutenção do estado de saúde depende essencialmente de como se vive o dia-a-dia. Certos hábitos têm uma relação imediata, onde alguns podem ser nocivos, como o tabagismo, o alcoolismo, o uso de drogas, que podem ocasionar impacto sobre a aptidão relacionada à saúde e à saúde em geral (BOUCHARD & SHEPHARD, 1993; DO RIO, 1995).

MATOS et al (1998) avaliaram a saúde e o estilo de vida de adolescentes portugueses, em um estudo da Rede Européia HSBC/OMS, e observaram que 1/3 dos adolescentes praticam meia hora ou menos de atividade física fora da escola por semana; 60,5% praticam entre 1 e 3 horas de atividade por semana e apenas 6,2% praticam mais de 4 horas semanais de atividade física. Com relação à ocupação do tempo livre, 1/1 O dos jovens passam pelo menos meia hora por semana assistindo televisão; 61,3% passam entre meia hora e 3 horas, e 28,4% passam 4 horas ou mais na frente de uma televisão. Quanto aos hábitos alimentares, os rapazes com mais idade são os maiores consumidores de café, coca-cola ou outros refrigerantes. Dentre estes, o refrigerante é o mais consumido. Já com relação aos hábitos alimentares, os rapazes e os mais novos são os maiores consumidores de bolos ou pastelaria, hambúrguer, cachorro-­quente, salsichas e de batatas fritas. As adolescentes foram as maiores consumidoras de frutas e vegetais. A partir desses resultados podemos chegar a algumas conclusões: o tempo destinado à prática de exercícios diminui progressivamente. Já o habito de assistir televisão faz sucesso entre a grande maioria dos jovens, como também o consumo de refrigerantes é bastante elevado entre os rapazes.

O item atividade física pode ser considerado como um dos assuntos mais importantes no aspecto estilo de vida, juntamente com os hábitos alimentares e estresse. Sendo assim, a prática regular de algum tipo de exercício físico pode ser de vital importância na prevenção da obesidade na infância.

Nesse ponto concordamos com PATE (1993), onde este coloca que a atividade física é responsável por uma importante fração do gasto energético total diário em crianças e adolescentes. Além disso, com o avançar da idade, existe uma tendência a um decréscimo do gasto energético médio diário, conseqüência da diminuição dos níveis de atividade física, o que irá propiciar um maior acúmulo de calorias. Também com relação à obesidade, os hábitos alimentares são extremamente participantes nesse processo, pois, além das próprias necessidades orgânicas, vários outros fatores como emoções, preferências pessoais, conhecimento, tradição, motivos econômicos, crenças religiosas, mídia, modismos exercem forte influência nessa escolha. Dessa forma, surgiram os desvios alimentares, trazendo muitas vezes, no futuro, sérias conseqüências (MOTT A, 1985).

Uma alimentação não balanceada, com excesso de calorias pode desencadear a obesidade. O processo em que ocorre a obesidade freqüentemente é em longo prazo, iniciando-se ainda na infância e prolongando-se a obesidade por toda a vida. Só para se ter uma idéia da extensão deste problema, as probabilidades de obesidade na vida adulta em crianças que foram obesas são três vezes maiores, em comparação com crianças de peso normal. Em geral uma criança não depara repentinamente com o problema de obesidade, a gordura excessiva se manifesta também lentamente durante toda a vida, com o período entre os 25 e 44 anos constituindo os anos mais perigosos (MCARDLE, KATCH & KATCH, 1992). Com o objetivo de aumentar o conhecimento nutricional relacionado à saúde, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), desenvolveu o Guia da Pirâmide Alimentar, onde os alimentos estão divididos em seis grupos básicos, recomendando um número de porções diárias de cada um. A quantidade e o número de porções devem considerar as necessidades para o crescimento, nível de atividade física e manutenção do peso desejado (MCARDLE, KATCH & KATCH, 2000).

Outro importante componente bastante importante na configuração de um saudável estilo de vida é o estresse, onde o ritmo rápido, o excesso de informações, os avanços tecnológicos e outras características incorporadas no cotidiano do ser humano civilizado, principalmente a partir do século XX, tornaram-no muito freqüente, sobrando pouco tempo para a atividade física e o relaxamento. Segundo P AULINETTI & MACHADO (1997), a atividade física é extremamente importante nas estratégias de combate ao estresse, pois consegue proporcionar ao organismo vivências de prazer, dor e muitas vezes êxtase. Se somadas à habilidade física, técnico-tática e biológica das reações corporais, certamente estará presente, havendo desta forma uma melhor administração das dores físicas e psíquicas

Em estudo realizado com crianças catarinenses, LOPES (2001) evidenciou que os escolares catarinenses apresentam um estilo de vida com características sedentárias, apesar dos meninos apresentarem-se mais ativos que as meninas. Já no estudo de PIRES (2002), que analisou o estilo de vida através das variáveis atividades diárias, nível de estresse e hábitos alimentares, os meninos apresentaram-se mais ativos nos niveis de esforço moderado e vigoroso. No entanto, as meninas são mais estressadas do que os rapazes, sendo que, demais casos, as características foram similares.

O estresse, enquanto um estado de alarme, uma reação de luta ou fuga, tem como objetivo final uma descarga motora, uma ação muscular, nos moldes dos mamíferos superiores e dos ancestrais do homem. Com a civilização, as ações físicas foram em grande parte impossibilitadas devido os condicionamentos repressivos e jurídicos da vida social. Dessa forma, a expressão final dos impulsos interiores é contida à custa de um grande consumo de energia e de estresse (DO RIO, 1995).

Em estudo recente sobre atividade física, padrões de comportamento e estresse em adolescentes entre 15 e 19 anos, do município de Florianópolis-SC, PIRES (2001) observou que quase a metade dos adolescentes (43,1%) estava estressada. A grande maioria (95%) estava na fase da adolescência, e a vulnerabilidade ao estresse foi significativamente associada ao sexo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após essas considerações, pode-se concluir que o estilo de vida adotado a partir da infância poderá influenciar, ou até mesmo determinar, o nível da qualidade de vida das pessoas no futuro. Com isso, é importante que desde cedo se possa incentivar a prática de exercícios físicos, de modo a se tornarem um hábito, e não uma obrigação. Também cuidados com a alimentação devem ser tomados, de maneira que estes possam ser compreendidos como auxílio à prevenção de possíveis doenças. Também a necessidade imposta pela progressiva evolução da sociedade vem provocando o surgimento e o aumento do estresse,onde este pode ser combatido apenas com a prática de exercícios físicos e uma mudança nos hábitos alimentares.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

  • BOUCHARD, C. & SHEP ARD, R L. Physical activity, fitness and health: The modeland key concepts. In C.Bouchard, RJ. Shepard & 1. Sthephens. Physical activity, fitness and health . Toronto. Champaign: Human Kinetics Publishers. 1993.
  • DO RIO, R P. O Fascínio do Stress. Belo Horizonte: DeI Rey. 1995.
  • LAZZOLI, L. K.; NÓBREGA, AC. L.; CARVALHO, T.(et all). Atividade fisica e saúde na infància e na adolescência. Revista Brasileira de Medicina do Esporte, 4 (4), p.l07-109.1998.
  • LOPEZ, A S. Estilo de Vida e Gordura Corporal de Crianças entre 7 e 10 anos do Estado de Santa Catarina - Brasil (sumário). Anais do XXIV Simpósio Internacional de Ciências do Esporte, 154.2001.
  • MATOS, M. G.; SIMÕES, c.; CARVALHOSA, S. F.; REIS, C. & CANHA, L. Saúde e estilo de vida nos jovens portugueses. Estudo Nacional da Rede Européia HSBC/OMS. 1998.
  • MCARDLE; W. D.; KATCH, F. 1. & KATCH, L. V. Fisiologia do exercício: energia, nutrição e desempenho humano. 33 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan. 1992
  • MCARDLE; W. D.; KATCH, F. I. & KATCH, L. V. Essentials of exercise physiology. Philadelphia : Lippincott Williams & Wilkins. 2000.
  • MINISTÉRIO DA SAÚDE. Sobrepeso e obesidade. 2000. Disponível [on-line] em: HTTP:// www.saude.gov.br/programas/carencias/index.html
  • MOTTA, D. G. Comportamento alimentar. In: Alimentação natural- pós & contras: Observações de nutricionistas. São Paulo: IBRASA 1985.
  • PAULINETTI, A P. M. & MACHADO, A A Stress e a performance esportiva. In: A A Machado (org). Psicologia do Esporte: temas emergentes, 1, p. 125-141. 1997.
  • PATE, R. Physical activity assessment in children and adolescents. Critical Reviews in Food Science and Nutrition, 33 (4/5), p. 321-326. 1993.
  • PIRES, M. C. Crescimento, Composição Corporal e Estilo de Vida de Escolares no município de Florianópolis-SC, Brasil. Monografia não publicada. Universidade Federal de Santa Catarina, UFSC. 2002.
  • PIRES, E. A G. Hábitos de atividade física, padrões de comportamento e estresse em adolescentes de Florianópolis. Dissertação de Mestrado - Educação Física. UFSC, Florianópolis. 2001.