ESTAMOS NOS DESTRUINDO OU FINGINDO QUE ESTÁ TUDO BEM?

Por Romão Miranda Vidal | 07/09/2012 | Crônicas

ESTAMOS NOS DESTRUINDO OU FINGINDO QUE ESTÁ TUDO BEM?

Preocupamo-nos com a limpeza dos nossos lares, dos nossos escritórios, dos nossos hospitais, restaurantes, enfim em relação a tudo que nos afeta, em termos de asseio e limpeza.E não poderia ser diferente o raciocínio que ainda impera, no meio produtivo rural.

Limpeza total e de forma drástica. A ordem é limpar tudo.

Mas a limpeza da qual estamos nos referindo é a limpeza de áreas destinadas ao plantio de pastagens e de lavouras e mais recentemente de florestas comerciais.

A ordem de limpar tudo inclui não só o uso das moto-serras, dos tratores com seus correntões e se permitido fosse com Napalm...

Esta faxina total se completa pelo uso do fogo, que reduz a praticamente nada o que antes milenarmente era uma obra da Natureza, que nos ciclos bio-climáticos, propiciou uma formação diversificada de floras e faunas.

Atualmente nos deparamos com um processo que pode ser traduzido da seguinte forma: vamos produzir de forma mais agressiva possível (tanto mercadológica como ambiental) de forma que possamos alimentar (não só os saldos bancários) mas todos os elos das Cadeias Produtivas e quem tem dinheiro para adquirir alimentos básicos. Essa agressividade pode ser entendida, também, como uma forma de SEGURANÇA ALIMENTAR. Em artigo publicado por nós citamos que existem vários tipos de Segurança Alimentar a tal pondo que esta pode ser usada comparativamente com a Segurança Armamentista ou de Defesa Militar. Vamos esclarecer. Um país que possa vir a teriinteresse em determinadas condicionantes que não as possui, mas que é detentor de um considerável poder bélico, pressiona outro pais, que as possui e quando não vê seus anseios atingidos, promove pressões com movimentação de tropas nas fronteiras, exercícios militares de terra,mar e ar de poder, de modo a intimidar seu vizinho.

Este por sua vez ao notar que tal ocorre inicia imediatamente de forma direta e racional a fazer uso da sua Segurança Armamentista.

Na realidade existem várias formas de uso da Segurança Alimentar, uma delas é que hoje experimentamos. Na ordem inversa dos fatos, muitos países estão passando por processos de real e total falta de alimentos. O Brasil como um dos maiores produtores de alimentos básicos entre as proteínas animais e vegetais pode lançar mão e já o faz de forma clara e direta, de um forma de Segurança Alimentar, no caso elevação dos preços.

Mas o que tudo isto tem em haver com o título do artigo: ESTAMOS NOS DESTRUINDO OU FINGINDO QUE ESTÁ TUDO BEM?

Na ânsia de obter lucros cada vez maiores, de produzir de forma quase que irracional em termos ambientais, o Brasil está na contra-mão da história. A destruição constante e acelerada dos biomas frágeis como o Cerrado, nas suas formas bióticas definidas, da floresta amazônica, da caatinga, do que ainda resta da Mata Atlântica e até dos manguezais, com a desculpa que se faz necessário produzirem para aumentar a Balança Comercial e o PIB.

Estamos na realidade caminhando a passos largos de desordenados (ordenados no sentido de destruir)o Brasil é possuidor da maior de mais intensa biodiversidade intercontinental, mas infelizmente está fadado a se tornar um deserto multifacetado.

Por qual razão esta afirmação?

Quem conhece a historio do Paraná, como eu a conheço, lembro-me das “empreitadas” para derrubar glebas e glebas, onde vicejavam perobas, ipês, canafístulas, grápia, canela branca, canela cheira-bosta, angicos,pinheiros que após,derrubados eram queimados.O fogo ardia por dias e dia. Animais mortos pela ação do fogo e eram então expostos. Plantava-se milho, arroz, abóboras e quando não iniciava-se o plantio de cafezais imensos. Era a Natureza morrendo para matar a fome do lucro a qualquer preço, inclusive da fome...

 Hoje nos deparamos ante um processo de destruição constante. Quem já sobrevoou a Amazônia, não só o Amazonas, nos anos de 1985 pode hoje constatar o crime ecológico que urde de forma consensual tanto os pelas autoridades civis como militares. Existe um jogo de empurra entre o que se deve fazer e o que não se faz. Os militares marchando todos os dias até o pé ficar redondo e os políticos se banhando nas cachoeiras.... Uma intervenção direta e constitucional da Presidência da República, tornando toda a região amazônica como área de Preservação Ambiental Intocável, nos preservaria da destruição precoce e definitivamente  do que há de mais rico entre os continentes. Nem as jazidas de diamantes na Costa do Esqueleto ou da África do Sul, se comparam com a riqueza natural da Amazônia.

Hoje o Brasil se depara com uma situação na qual a restauração de ecossistemas passa a ser um desafio, onde as interferências planejadas devem reconstruir as estruturas comprometidas e criar condições para que se estabeleçam também os processos ecológicos de cada ecossistema (Durigan,1999).

Mas estamos comprometidos de forma praticamente irremediável, com as futuras gerações, ante a destruição que o Brasil promove a cada segundo. Quando você (desculpe a intimidade) terminar de ler este parágrafo, 132,00 hectares de mata amazônica já estarão destruídos de forma irreversível. O assassinato ecológico é um dos maiores crimes, que com o devido respeito e imensa consideração, como o Holocausto. O Brasil perpetra diariamente um dos maiores crimes contra a humanidade, ao permitir a destruição de ecossistemas, como os já antes citados.

Os nossos ecossistemas degradados sofrem consideráveis perdas e diminuições da sua plena e total biodiversidade, em função de sofrer sucessivas perturbações que invariavelmente, resultam no aumento da perda da resilência (*), com conseqüente perda da estabilização.

(*) Resilência: Indicativo da capacidade do ecossistema alvo de ações diretas e indiretas de se regenerar, após significativas alterações naturais ou antrópicas, que se relacionam com a saúde do ecossistema.     

De outra parte só no Estado do Tocantins, nos deparamos com 7.200.000,00 hectares de áreas degradadas (pastagens na sua maioria), que resultaram das ações ou distúrbios promovidos, em até de forma criminosa, na praticamente impossibilidade de ações regenerativas naturais, o que resulta em afirmar,que se não houver a intervenção reparadora direta do homem, que provocou tal situação, será instalado um processo irreversível , com reflexos colapsativos das partes  envolvidas – biotas -.

 Mas ainda resta outra situação preocupante.

Áreas em processo de degradação. Um solo quando apresenta uma diminuição de fertilidade, invariavelmente é a resultante de ações não planejadas ecologicamente e em especial as relativas aos solos onde se praticam diversos tipos de explorações  agropastoris, que como citamos resultam na perda da fertilidade anteriormente existente. Para que tal possa se instalar, quase que de forma caótica, quando não caótica,o que contribui de forma direta e contundente são as ações relativas ao manejo de solo, tanto na agricultura como na pecuária de corte. Invariavelmente resultam na mais completa destruição da Matéria Orgânica, extinção total da Biota, em função de ações diretas dos agro-defensivos, mineralização do solo, lixiviação dos nutrientes, acumulação de princípios ativos dos agro-defensivos, aceleração dos processos erosivos em função direta da degradação e posterior compactação do solo.

Então ficamos assim. Em razão direta do nosso desenvolvimento social e econômico, em detrimento da conservação ambiental do que ainda resta em termos da Biodiversidade, tendo como um dos sustentáculos a Segurança Alimentar como forma de pressionar a pagar mais, por uma faixa da humanidade que não tem o que comer ou que necessita dos nossos produtos, para produzirem alimentos agregados de valor, assim como pela irresponsabilidade dos governantes que se sentem aprisionados ante as forças do Congresso Nacional (existe por um acaso um Congresso Internacional em termos políticos no Brasil?),que não  declara a Amazônia como Área de Preservação Intocável, permite um Biosuicídio da nossa flora e fauna,mas que estufa o peito ao afirmar que as nossas exportações de granéis sólidos e líquidos, assim como embarques de carnes suína, aves e bovina chegam a países nunca antes na história deste pais, conseguiu-se chegar. Nós caminhamos lenta e paulatinamente para uma auto-destruição das nossas reservas ambientais, mas continuamos fingindo que tudo está bem...

Por último.

Alguém consegue imaginar colocar toda a população da cidade de São Paulo, na cidade de Brotas? Pensaram como providenciar comida, água, bem-estar, equilíbrio psico-social, moradia  e etc?

Não? Então imagine uma fauna que por milhares e milhares de anos conviveu em 1.000,00 hectares, vê-se ante um dispositivo legal a conviver, reproduzir, alimentar, preservar, defender-se em 300,00 hectares, uma vez que os 700,00 hectares serão transformados em atividades economicamente interessantes em termos pecuniários.

Médico Veterinário Romão Miranda Vidal.