Estamira

Por Marcos Miliano | 05/11/2009 | Filosofia

As relações do filme com  as discussões em Etnoecologia

 

 

Paradigmas (em Capra): As concepções, valores e técnicas são definidas por paradigmas científicos, compartilhados e utilizados pela comunidade para definir problemas e soluções, assim, modelando procedimentos para tudo, como se copiassem e não pensassem antes, levando a solução antes de saber do problema. Estamira explica:

 

Nas escolas, elas apenas aprenderam a copiar em detrimento do pensamento – a conseqüência disso é muito grave, pois não aprenderam “com as ocorrências”, isto é, com a experiência ou com o que ocorre com elas. Por isso estão destinadas a copiar “bobajaiadas”, virando “abestaiados” e “abobados”: “[...] essas bobajaiadas, tudo abestaiado, abobado. Sabe ler, sabe escrever, não sabe o que é. Adianta alguma coisa? Adianta você saber ler e escrever e não saber o quê? Adianta?”

 

Visão Ecológica (em Capra): Percepção de como se está encaixado no seu ambiente natural e social – consciência dos modelos e elementos base para formulação de sua visão individual do mundo, como interagir, como sua ação afeta o meio ambiente natural e como a comunidade depende de sua atuação. Pelo fato de possuir a visão do agente causador da degradação da terra, Estamira tem todo o direito de considerar as outras pessoas como “comuns”.

 

“Eu, Estamira, sou a visão de cada um. Ninguém pode viver sem mim. Ninguém pode viver sem Estamira.

 

 

Ética (em Capra): Quando a percepção ecológica profunda torna-se parte de nossa consciência cotidiana, emerge um sistema de ética radicalmente novo. Estamira julga, através do campo de visão dos seus valores morais, que o que não é compreendido não pode ter, por isso mesmo, alguma importância. Essa “inteligibilidade” faz com que os verdadeiros problemas nem sequer possam ser colocados, já que estes estão muito distantes da visão automatizada da massa – de tal forma que ela nem sequer pode imaginar que esses problemas existem.

 

Tem o eterno, tem o infinito, tem o além, e tem o “além dos além.”. o além dos além vocês ainda não viram. Cientista nenhum ainda viu o além dos além.

 

“... atua lucidez não te deixa ver...”

 

 

 

 

Valores e Pensamento (em Capra) :  Sem dividir os homens, sem dar importância à competição, a dominação, negando o poder político; exaltando  a cooperação, a parceria, a racionalidade, Estamira coloca a máxima:

 

 

O homem não pode ser incivilizado. Todos os homens têm que ser iguais.  Tem que ser comunista. Comunismo é igualdade.

 

 

Tudo que é concreto, sólido, se desfaz no ar.... Estamira:

 

A criação toda é abstrasta: os espaços inteiros são abstratos, tudo é abstrato, Estamira também é abstrata.

 

 

Estamira: A cosciência de si, através do outro:

 

Coitada da minha mãe, mais pertubada do que eu.  Bem, eu sou pertubada, mas lúcido, e sei distinguir a pertubação.

 

 

Uma frase marcante do filme

 

“...que deus é esse? Que jesus é esse? Quê que é isso?”

 

A “doutrinação” de Estamira não quer o poder, ou seja, o que todo doutrinador, fundador de religião quer... formar um rebanho para controlar. Já o que move a sua revelação – além de ser uma questão de vida, de sentir-se agradecida ao dar o conhecimento valioso à humanidade – é colocar todos os valores à crítica. Há uma necessidade com a de Nietzche da “transvaloração dos valores” na sua revelação. Recebamos o presente de Estamira, como um estímulo para realizarmos uma crítica aos valores dominantes do mundo moderno.