ESTADO NUTRICIONAL DE TRABALHADORES BENEFICIADOS PELO PROGRAMA DE ALIMENTAÇÃO DO TRABALHADOR: UMA REVISÃO DE LITERATURA
Por Samantha Antunes do Nascimento | 13/10/2010 | SaúdeIBPEX ?Instituto Brasileiro de Pós-graduação e Extensão
Samantha Antunes do Nascimento
ESTADO NUTRICIONAL DE TRABALHADORES BENEFICIADOS PELO PROGRAMA DE ALIMENTAÇÃO DO TRABALHADOR: UMA REVISÃO DE LITERATURA
Nutrição Clínica
Vitória da Conquista ? Ba
2009
ESTADO NUTRICIONAL DE TRABALHADORES BENEFICIADOS PELO PROGRAMA DE ALIMENTAÇÃO DO TRABALHADOR: UMA REVISÃO DE LITERATURA
Samantha Antunes do Nascimento
Clairton Quintela Soares
Resumo
Nos últimos anos, o perfil alimentar e o estado nutricional da população têm sido estudados por conta da grande prevalência de morbidades associadas à alimentação. É de fundamental importância avaliar o estado nutricional da população para que se possa intervir adequadamente, contribuindo para a recuperação e manutenção da sua saúde. Este trabalho é uma revisão bibliográfica do estado nutricional de trabalhadores assistidos pelo Programa de Alimentação do Trabalhador. Pesquisas comprovam que a ingestão calórica inadequada reflete negativamente no rendimento do trabalho. A má nutrição pode induzir a redução da vida média, da produtividade, da resistência a doenças, no aumento da predisposição aos acidentes de trabalho e na baixa capacidade de aprendizado do trabalhador. A dieta quando rica em calorias, gorduras saturadas, colesterol e sódio apresenta-se como fator de risco para o desenvolvimento das doenças cardiovasculares. Numa pesquisa, verificou-se que 53% dos trabalhadores entrevistados perderam ou ganharam peso em 12 meses, sendo que desses, 59,43% afirmaram ganhar peso, dentre eles, os que já apresentavam sobrepeso ganharam uma média de 7,64Kg. Destes, somente 2,83% responderam ter diagnóstico clínico de diabetes, por outro lado, a hipertensão arterial foi referida por 9,83% dos entrevistados. Estudos também apontam que os trabalhadores cobertos pelo PAT apresentaram taxas elevadas de triglicérides, colesterol total e glicemia ou hipertensão arterial. Conclui-se que é fundamental o consumo adequado de nutrientes advindos de uma alimentação apropriada ao tipo de trabalho que o trabalhador desenvolve para um melhor desempenho em suas atividades.
Descritores: Estado nutricional, Programa de alimentação do trabalhador, Alimentação saudável, Alimentação no trabalho.
1 INTRODUÇÃO
Nos últimos anos, o perfil alimentar e o estado nutricional da população têm sido estudados por conta da grande prevalência de morbidades associadas à alimentação, tais como, sobrepeso, hipercolesterolemia, hipertrigliceridemia, hiperglicemia, dentre outros, que alteram o seu bem estar.
A prevalência de doenças crônicas não transmissíveis vem crescendo junto à transição nutricional em que os hábitos alimentares adequados estão sendo substituídos pelos inadequados, refletindo negativamente na saúde dos indivíduos. Desse modo, é de fundamental importância avaliar o estado nutricional da população para que se possa intervir adequadamente, quando necessário, contribuindo para a recuperação e manutenção da sua saúde.
Avaliar a condição de nutrição visa identificar qual o tipo de intervenção a ser realizada na população para melhorar a sua alimentação e obter resultados favoráveis que levem a adequada situação nutricional, promovendo saúde e qualidade de vida.
Sendo assim, este trabalho é uma revisão bibliográfica do estado nutricional num contexto bem específico que são os trabalhadores assistidos pelo Programa de Alimentação do Trabalhador (PAT), onde serão apresentados estudos atuais que demonstrem o estado de saúde destes trabalhadores, os métodos de avaliação do estado nutricional, bem como a importância da alimentação balanceada para o melhor rendimento no trabalho.
2 METODOLOGIA
A pesquisa é do tipo bibliográfica. A pesquisa bibliográfica é desenvolvida a partir de materiais já publicados, principalmente, livros e artigos científicos. Apesar de todas as pesquisas exigirem trabalhos dessa natureza, existem aquelas que são exclusivamente bibliográficas. Pesquisas sobre ideologias, assim como aquelas que analisam os diversos estilos acerca de um problema também costumam se desenvolver basicamente por meio de fontes bibliográficas. Esse tipo de pesquisa apresenta como vantagem o fato de permitir ao investigador a cobertura de uma gama de fenômenos muito mais ampla do que aquela que poderia pesquisar diretamente (GIL, 2002).
3 AVALIAÇÃO DO ESTADO NUTRICIONAL
De acordo com Cuppari (2005, p. 89), a avaliação do estado nutricional tem por finalidade identificar a presença de distúrbios nutricionais em indivíduos, possibilitando uma intervenção adequada na sua saúde e auxiliando na recuperação e/ou manutenção do bem-estar dos mesmos. Essa avaliação envolve parâmetros que deverão ser associados para a obtenção de resultados precisos, pois isoladamente o diagnóstico nutricional poderá não refletir com exatidão o estado de saúde da pessoa.
Os métodos utilizados na avaliação do estado nutricional são: antropometria, composição corpórea, parâmetros bioquímicos, consumo alimentar, exame físico e avaliação subjetiva global (CUPPARI, 2005, p. 89).
Nesta revisão será abordado apenas a antropometria.
4 MÉTODOS DE AVALIAÇÃO DO ESTADO NUTRICIONAL
4.1 Antropometria
A antropometria é a medida do tamanho do corpo e de suas proporções ela mede de maneira estática os diversos compartimentos corporais, incluindo medidas de peso, estatura, circunferências e dobras cutâneas (WAITSBERG, 2006, p.259).
O peso corporal é a soma de todos os componentes corporais refletindo aproximadamente as reservas de energia do corpo, ou seja, o equilíbrio protéico-energético, como também as mudanças no balanço de energia e proteína (CUPPARI, 2005, p.90; WAITZBERG, 2006, p.260). Duarte e Castellani (2002, p.34) acrescentam que o peso revela o somatório de minerais, água corporal, glicogênio, proteína e gordura. Eles afirmam que o peso corporal é um importante parâmetro da avaliação nutricional, uma vez que perdas ponderais graves estão associadas ao aumento das taxas de morbidade e mortalidade dos indivíduos.
A estatura é uma medida realizada com equipamentos específicos que pode ser o estadiômentro ou o antropômetro (CUPPARI, 2005, p.92), essa medida pode ser associada ao peso para avaliação do estado nutricional, determinação do peso ideal e cálculo das necessidades energéticas do indivíduo (DUARTE; CASTELLI, 2006, p.40).
Outro parâmetro utilizado na antropometria são as dobras cutâneas. Conforme Waitzberg (2006, p.265), considerando suas limitações, as dobras cutâneas representam o meio mais conveniente para estabelecer indiretamente a quantidade de gordura corporal. Duarte e Castellani (2002, p.44) asseguram que ela reflete a espessura da pele e tecido adiposo subcutâneo em locais específicos.
5 ALIMENTAÇÃO BALANCEADA
De acordo com Veiros (2002, p.39), uma alimentação balanceada deve ser apropriada a cada indivíduo de acordo com a faixa etária, sexo e atividade ocupacional, além de auxiliar na prevenção de doenças, tornando-o um ser saudável. A dieta também possui papel terapêutico já que a combinação de certos alimentos ou a exclusão de outros na dieta podem trazer resultados significativos ao estado de saúde das pessoas.
Segundo Vanin et. al (2006, p. 36), a ingestão de alimentos saudáveis preserva o valor nutritivo e os aspectos sensoriais dos alimentos tanto quali, quanto quantitativamente. A alimentação deve estar adequada ao hábito alimentar e ser capaz de proporcionar o bem estar prevenido o aparecimento de doenças oriundas de costumes alimentares inadequados. Do mesmo modo, deve ser a alimentação voltada para o trabalhador, já que a alimentação balanceada está diretamente relacionada ao rendimento no serviço, ao aumento da produtividade e à diminuição dos riscos de acidente de trabalho.
Veloso e Santana (2002, p.29) acrescentam que uma alimentação adequada não envolve apenas o acesso, mas a relação entre o indivíduo e o alimento, incluindo suas representações sociais, comportamentais, conhecimento e capacidade de escolhas, entre outros.
World Health Organization apud (VELOSO et. al, 2001, p.770) afirma que a mudança nos padrões da alimentação (redução do consumo de carboidratos complexos e fibras, aumento da gordura saturada, açúcar e alimentos refinados) e o desequilíbrio entre o consumo de energia e atividade física estão sendo, em parte, as causas do aumento de sobrepeso na população mundial. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística -IBGE (2004) apud Veloso et. al (2001, p.770) mostrou numa pesquisa que, no Brasil, essas tendências também estão sendo observadas, verificando que o padrão alimentar da população brasileira é semelhante ao da população mundial, com redução de pessoas com baixo peso e aumento de casos de sobrepeso que já atinge 40,6% da população.
6 ESTADO NUTRICIONAL DE TRABALHADORES ASSISTIDOS PELO PAT
A dieta também está presente na etiologia das dislipidemias, obesidade, e pode atuar como um agravante do diabetes. Quando rica em calorias, gorduras saturadas, colesterol e sódio apresenta-se como fator de risco para o desenvolvimento das doenças cardiovasculares (DCV), que já são consideradas um problema de saúde pública representando a primeira causa de mortes (CERVATO et. al., 1997, p 228).
Esses resultados evidenciam o que se vê no cotidiano, as práticas alimentares incorretas que levam à consequências negativas para a saúde estão presentes em muitos estudos, o que comprova Medeiros et. al, (2007, p.594) estudando o perfil alimentar e o estado nutricional de trabalhadores acidentados verificaram, ao indagá-los sobre a mudança de peso nos últimos 12 meses, que 53% dos entrevistados perderam ou ganharam peso nesse período, sendo que desses, 59,43% afirmaram ganhar peso, dentre eles, os que já apresentavam sobrepeso ganharam uma média de 7,64Kg. Chama-se atenção a média alta de ganho de peso para os que já apresentavam obesidade graus I e II. Considerando o esforço despendido no trabalho e utilizando-se o Índice de Massa Corporal (IMC), observou-se que o sobrepeso ou a obesidade atingiram 54,92% dos que despendiam pouco esforço, contra 42,06% dos que referiram atividades de esforço médio e 45,42% dos que gastavam muita energia. Neste mesmo estudo, também foi investigada a presença de doenças crônicas como diabetes e hipertensão arterial, somente 2,83% responderam ter diagnóstico clínico de diabetes, por outro lado, a hipertensão arterial foi referida por 9,83% dos entrevistados.
Burlandy e Anjos (1997, p.1460-1461), avaliando o estado nutricional dos trabalhadores assistidos pelo Programa de Alimentação do Trabalhador ? PAT, nas regiões Nordeste e Sudeste do Brasil, encontraram certo grau de sobrepeso em 34,5% dos trabalhadores e 4,9% de baixo peso, sendo esse maior entre as mulheres (6,1%) do que entre os homens (3,4%), porém, 56,6% dos trabalhadores estavam com peso adequado.
Estudos apontam que os trabalhadores cobertos pelo PAT apresentaram taxas elevadas de triglicérides, colesterol total e glicemia ou hipertensão arterial (VELOSO E SANTANA, 2002, p.26 ; VELOSO et. al, 2007, p. 772).
Pesquisas comprovam que existe relação positiva entre uma alimentação equilibrada e a melhor produtividade, do mesmo modo que, a ingestão calórica inadequada reflete negativamente no rendimento do trabalho. A má nutrição pode induzir a redução da vida média, da produtividade, da resistência a doenças, no aumento da predisposição aos acidentes de trabalho e na baixa capacidade de aprendizado do trabalhador (AMORIM, 2002 apud VANIN et. al, 2006, p. 32).
7 CONSUMO ALIMENTAR DE TRABALHADORES ASSISTIDOS PELO PAT
Geraldo, Bandoni e Jaime (2008, p.23), ao analisarem os aspectos dietéticos das refeições oferecidas por empresas participantes do PAT, verificaram a ocorrência de oferta inadequada de calorias, estando essas superiores ao valor recomendado pela Organização Mundial de Saúde para uma grande refeição que equivale a 2000Kcal. A oferta de carboidrato apresentava-se inferior ao recomendado, a proteína ultrapassava a recomendação e o lipídio se aproximou ao valor máximo, porém, mesmo estando esse com valor limítrofe, apresentava o percentual de gordura saturada elevada, enquanto que houve baixa oferta de gordura poliinsaturada.
Outros estudos evidenciam que o consumo elevado de gordura, principalmente de origem animal presente nas carnes, leite e derivados, aumenta o risco de câncer de mama, próstata e cólon-reto, enquanto que dietas ricas em legumes, verduras e frutas cítricas, todos estes, fontes de fibras, vitaminas e minerais, protegem os indivíduos de cânceres de pulmão, boca, faringe, esôfago, estômago e cólon-reto (MONTEIRO; MONDINI; COSTA, 2000, p. 252).
8 CONCLUSÃO
Conforme se observa nessa revisão, o estado nutricional dos trabalhadores assistidos pelo PAT tem-se demonstrado inadequado, o que confirma a hipótese levantada no início da pesquisa. É frequente o excesso de peso, a presença de morbidades e a má alimentação nestes trabalhadores.
Compreende-se que é fundamental para o trabalhador o consumo adequado de nutrientes advindos de uma alimentação equilibrada e apropriada ao tipo de trabalho que ele desenvolve para um melhor desempenho, pois isso resultará na maior produtividade. Além disso, a alimentação deverá estar adequada ao seu estado de saúde para prevenir e tratar as morbidades associadas à nutrição.
Desse modo, se faz necessário o acompanhamento nutricional no ambiente de trabalho, onde o nutricionista deverá investigar o diagnóstico do estado nutricional e propor soluções que se adéquem a cada indivíduo. Sugere-se a partir do presente trabalho a realização de pesquisas de acompanhamento individual, para uma identificação mais precisa do estado nutricional dos trabalhadores.
REFERÊNCIAS
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