Espiritualidade Joanina

Por Oscar Paulo Pietsch | 31/10/2017 | Religião

No corpus joânico abre-se uma mística intensa e específica. Se olhar-se o início de 1Jo, percebe-se a experiência histórica do Cristo – ouvir, ver, contemplar, tocar – assim, vive-se a experiência espiritual do Verbo da Vida. Na raiz encontra-se a Encarnação “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1,14).

Leve-se em consideração o verbo ver, não sendo este somente um ver físico, mas um ver em profundidade, um intuir na visão de Jesus o mistério de sua pessoa. “...quem vê o Filho e nele crê, tem a vida eterna...e quem me vê, vê aquele que me enviou...quem me viu, viu o Pai.” (Jo 6,40;12,45;14,9).

Um outro verbo fundamental é amar, este percorre toda a proposta espiritual joânica. É um amor que parte do Pai, manifesta-se em Jesus que ama os seus até o fim, no sacrifício da cruz e se irradia nos discípulos. “Dou-vos um mandamento novo: que vos ameis uns aos outros.” (Jo 13,34). Quem negar Cristo “vindo na carne”, nega consequentemente, o compromisso de amor na História.

O crer joânico é entrar na vida interior de Cristo, aderindo a ele em plenitude. Tem-se que permanecer em Cristo, sendo este recípocro do Cristo e do fiel.

Em João, o Espírito de verdade aparece como o princípio revelador e vital da Igreja pascal. Tem-se como exemplo a adoração em “Espírito e Verdade” no encontro com a samaritana, que introduz o novo culto na escuta do Evangelho e na adesão ao Cristo e ao Pai.

Ainda encontram-se em João, as cinco promessas do Espírito Paráclito na Última Ceia. A primeira evidencia a oposição radical que ele experimenta da parte do mundo pecador no qual o ser humano é libertado; a segunda e a quinta exaltam a função reveladora do Espírito; já a terceira e a quarta o Espírito sustenta o fiel na grande tensão daquele processo que o Evangelho de João abre entre Cristo e o mundo, entre a luz e as trevas, entre a Igreja e o mal.

João enfatiza a impotência do ser humano abandonado a si mesmo, totalmente incapaz de compreender. Também os discípulos não compreendem, pensam no alimento terreno e não suspeitam que em Jesus existe a presença de outra fome e de outra busca.

Para João, também, a conversão é totalmente graça “Ninguém pode vir a mim, se isto não lhe for concedido pelo Pai” (Jo 6,65). João ainda fala do amor a cruz, trata-se de compreender que a cruz é vida, é o mistério do amor de Deus, que às vezes parece abandonar o ser humano.

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