Especificidades das Pequenas e Médias Empresas Familiares
Por Sandra Regina da Luz Inácio | 25/08/2009 | AdmLeone (2005), a partir de relatórios de pesquisas que tratavam do tema das pequenas e médias empresas familiares, agrupou algumas variáveis e, em função de suas especificidades, caracterizou o dirigente-proprietário apresentando suas conclusões em três vias, como se segue:
Primeira via: Especificidades organizacionais
a) Essas empresas foram identificadas como sendo mais centralizadas, com uma estrutura organizacional simples, necessitando de menos unidades ou funções administrativas. Em razão de suas características naturais, as pequenas e médias empresas familiares não apresentam condições que lhes permitam conservar uma organização administrativa sofisticada. Essa estrutura não é desejada pela pequena e média empresa familiar por causa de sua complexidade e de seu custo e em conseqüência desse fato, estas últimas adotam estruturas simples e de menor custo que respondem de forma apropriada às suas fracas necessidades, levando em conta as exigências momentâneas dos proprietários, de suas famílias e dos empregados;
b) Elas têm, igualmente, um menor controle sobre seu ambiente externo e, em conseqüência, são muito dependentes dos recursos que lhes são disponíveis;
c) A influência da incerteza percebida nos aspectos internos sobre as estruturas organizacionais afeta o comportamento estratégico das pequenas e médias empresas familiares. O ambiente social e econômico força o pequeno e médio dirigente a adotar uma forma de administração centralizada, porque a delegação de autoridade e a racionalidade das formas de controle podem ocasionar grandes perdas;
d) Elas são, também, caracterizadas por um nível de maturidade organizacional muito baixo. Os processos de planejamento e de controle são, geralmente, pouco formalizados e quantificados. O melhor método de planejamento depende de variáveis, tais como o estilo de direção, as capacidades dos responsáveis e a complexidade da atividade;
e) A estratégia é intuitiva e pouco formalizada. Nas pequenas e médias empresas familiares, o dirigente-proprietário é suficientemente próximo de seus empregados para explicar-lhes, no momento adequado, toda mudança de direção;
f) As pequenas e médias empresas familiares operam uma lógica de reação e de adaptação ao ambiente ao invés de lógica de antecipação e de controle mais correspondentes ao comportamento das grandes empresas. Isso se concretiza pela ausência de planejamento formal, embora o dirigente tenha uma visão estratégica não declarada de sua empresa;
g) Nas pequenas e médias empresas familiares, o dirigente-proprietário pode discutir diretamente com seus clientes tanto para conhecer suas necessidades e seus gostos quanto para explicar os diferentes aspectos de seus produtos. Em conseqüência dessa especificidade, o sistema de informação externo é simples.
Segunda via: Especificidades decisórias
a) A tomada de decisão é baseada na experiência, julgamento ou intuição do proprietário-dirigente e, na maior parte do tempo, dentro de uma ótica operacional a curto prazo. O proprietário-dirigente não dispõe de tempo nem de habilidade necessária para adotar uma atividade mais analítica e estratégica. Os processos de decisão são, antes de tudo, individualistas e são realçados de maneira privilegiada entre os responsáveis de pequenas e médias empresas familiares;
b) O sistema de valores do proprietário-dirigente marca, sensivelmente, as tomadas de decisões, a definição das políticas de sobrevivência e de desenvolvimento do próprio negócio. O trabalho faz parte de sua vida e “sua” empresa pode ser considerada como um prolongamento de si mesmo. Alguns aspectos, como a recusa do dirigente em delegar a tomada de decisão, têm repercussões inéditas e importantes sobre a pequena e média empresa familiar. O dirigente exerce toda a responsabilidade e aparece como o único decisor;
c) O poder de direção é localizado e centralizado. Os circuitos de decisão são curtos, o que pode explicar os grandes sucessos registrados por algumas pequenas e médias empresas familiares e os prejuízos estratégicos de outras empresas, quando de uma adoção estratégica errada ou de competência inadaptada dos dirigentes;
d) O conjunto de decisões que são tomadas pelo proprietário-dirigente deve ser analisado não somente como produto de uma racionalidade econômica, mas também como uma racionalidade política e uma racionalidade familiar.
Terceira via: Especificidades individuais
a) As pequenas e médias empresas familiares são caracterizadas pelo papel predominante de um só indivíduo na organização, seja o empreendedor ou o proprietário-dirigente. Essa situação influencia todos os aspectos da empresa, a saber: a estratégia, a estrutura, o clima organizacional e o desempenho. Os objetivos dos dirigentes-proprietários traduzem suas aspirações pessoais e, se essas aspirações pessoais não são satisfeitas, pode-se dizer que a empresa não é eficaz. Ao seio das pequenas e médias empresas familiares existem poucas diferenças entre a pessoa física e a jurídica, entre o dirigente e o proprietário da empresa. Essas empresas conduzem suas operações e vivem essa confusão natural entre empresa e dirigente. A pequena e média empresa familiar é caracterizada por uma grande identidade entre a empresa e o empresário;
b) As pequenas e médias empresas familiares vêem a evidência de sua existência, seu funcionamento e suas perspectivas de expansão afetados pelo percurso pessoal de seu dirigente. Em alguns casos, não estamos longe de uma quase identidade entre a família e a empresa. Tudo que afeta uma, afeta a outra também;
c) O papel do dirigente é baseado na propriedade. A propriedade do patrimônio social é devida ao empreendedor ou à sua família (às vezes aos amigos). Mesmo se tratando de Sociedades Anônimas, as pequenas e médias empresas familiares são, freqüentemente, empresas pessoais ou familiares. Em conseqüência há uma cooperação entre o patrimônio social e o do dirigente. Seu patrimônio pessoal é, freqüentemente, posto a serviço da empresa, de maneira que o dirigente (que pode ser o fundador) arrisque seus próprios capitais;
d) Para um dirigente de pequena e média empresa familiar, a posição que ele ocupa na empresa é a origem principal de seu poder, como também do reconhecimento de seu “status”;
e) O perfil do dirigente da pequena e média empresa familiar é mais um perfil “estrategista, que corre risco” do que um perfil “administrador-gestionário”, que procura aplicar uma estratégia minimizando riscos;
f) É imperativo analisar as competências, as atitudes, as motivações e o comportamento organizacional do dirigente-proprietário de maneira a compreender o funcionamento de sua empresa. A presença de homens comprometidos e implicados pessoal e financeiramente com a empresa leva à adesão de toda a equipe. O sucesso da pequena e média empresa familiar é sempre associado à prioridade dada à função integração dos talentos humanos;
g) Na pequena e média empresa familiar, o dirigente trabalha em estreita colaboração com seus empregados e, por causa dessa situação inusitada, conhece mais facilmente os problemas pessoais de seus colaboradores. O comportamento do dirigente é, fundamentalmente, paternalista, às vezes egocêntrico.
Uma das grandes virtudes dos negócios familiares está certamente na associação de um sobrenome aos padrões de qualidade reconhecidos pelo mercado, o que nem sempre é possível nas grandes corporações. Essa condição tem sido muito bem explorada pelas melhores companhias familiares brasileiras.
Empresas familiares de pequeno e médio porte parecem poder contar com certas vantagens estratégicas para continuar existindo. Com a série crise que envolve a instituição do emprego no Brasil, deflagrada, entre outros motivos pelo alto custo dos encargos sociais e benefícios do vínculo empregatício, emerge a alternativa da terceirização ou subcontratação das pequenas empresas, capazes de produzir bens e serviços a custos competitivos quando administradas por estruturas enxutas e, muitas vezes, familiares.