Especialistas alertam para o risco do colesterol muito baixo

Por Ricardo Machado | 05/06/2012 | Saúde

Enquanto as pesquisas científicas estiverem focadas quase que exclusivamente na genética e na farmacologia tradicional, com pouca atenção para a bioquímica ou a neurobioquímica, permaneceremos distantes da melhor associação entre longevidade e qualidade de vida. Este é o pensamento do médico gaúcho Juarez Callegaro, aluno do bioquímico americano Linus Pauling (duas vezes Nobel) e autor, com o colega Helion Póvoa (pesquisador da Fiocruz e professor de Harvard), do livro Nutrição Cerebral (Objetiva).

 

Callegaro é um dos conferencistas do Congresso Internacional de Prática Ortomolecular que ocorre de 7 a 9 de junho no Centro de Convenções Frei Caneca, em São Paulo. Em sua 25ª edição, o evento vai reunir mais de 600 especialistas para discutir a prática e os avanços na prevenção e tratamento dos danos à saúde. Para ele, o modelo de pesquisa vigente massifica a atuação médica induzindo a uma conduta “diagnóstico-droga” em que, muitas vezes, não são considerados o indivíduo, seus hábitos de vida e as implicações neurobioquímicas.

 

Equívocos

O médico aponta como um dos grandes equívocos nas abordagens terapêuticas o uso generalizado das estatinas, substâncias indicadas para baixar o colesterol. “Estudos mostram que elas estão relacionadas com problemas como perda de memória, o que, em pacientes com tendência a Alzheimer, é ainda mais danoso”, avalia.

 

O alerta também preocupa a FDA, agência que regula o uso de medicamentos nos Estados Unidos. Em fevereiro passado o órgão informou que as estatinas estão ligadas ao maior risco de problemas de cognição e também de causar dores musculares além de diabetes tipo 2. “São medicamentos que representam um grande avanço, não se tornaram vilões, mas os estudos mostram que não é possível tratar a todos da mesma forma, indiscriminadamente”, acrescenta Efrain Olszewer, presidente do congresso e especialista em clínica médica.

Segundo Callegaro, o excesso de uso das estatinas está associado à busca desenfreada pelas menores taxas de colesterol total - relação entre HDL e LDL (colesterol “bom” e o “ruim”, respectivamente) e os triglicerídeos. “Outro equívoco. O colesterol total muito baixo não favorece a produção de ocitocina, o hormônio que regula as emoções e a socialização e cuja carência está associada à depressão, por isso é preciso haver equilíbrio”, destaca.

 

Bloqueio do “hormônio-mãe”

Segundo o médico, as baixas taxas de colesterol também comprometem a produção da pregnenolona, um hormônio que dá origem a outros como a progesterona, a testosterona e o DHEA (esteroide natural). Com pouco colesterol as mitocôndrias não realizam a síntese adequada desse “hormônio-mãe”. A pregnenolona também estimula a produção da bainha de mielina, responsável por melhorar as conexões cerebrais. “Ela é tão importante nesse processo que sua concentração é 75 vezes maior no líquor do cérebro do que no sangue”, acrescenta Callegaro. O medico informa ainda que “imagens neurológicas, geradas por equipamentos como o tensor de difusão, evidenciam distúrbios de conectividade devido à falta de mielina em autistas, esquizofrênicos e pessoas com Alzheimer”.

Outro aspecto criticado por Juarez Callegaro é o senso quase comum de que é normal taxa zero de estrogênio em mulheres com mais de 75 anos. “A neuroendocrinologia já mostrou que a falta desse hormônio oferece risco de distúrbio de memória e de humor, além de comorbidades como a obesidade”, explica. Segundo o médico, o índice baixo é também um fator preocupante no surgimento do Alzhaimer e da depressão grave - esta, quatro vezes mais incidente em pessoas maiores de 60 anos.

 

As doenças degenerativas tendem a aumentar exponencialmente, devido a maior expectativa de vida da população (no Brasil, a média em 2011 era de 73,5 anos, segundo o IBGE). “Por essa razão, é tão importantes investirmos em formas de prevenção e em abordagens terapêuticas individualizadas”, defende Efrain Olszewer, um dos precursores da prática ortomolecular no Brasil, com mais de 38 livros editados.

 

Para os médicos, a mudança na forma de produzir ciência e de conduzir a avaliação do estado de saúde dos pacientes é essencial para que se possa não apenas viver mais tempo, mas gozar de boa qualidade de vida na longevidade.

 

Brasil tem 13 milhões de depressivos

Em sua conferência durante o 25º Congresso Internacional de Prática Ortomolecular, Juarez Callegaro vai tratar da “Modulação neuro-hormonal nos transtornos da emoção”. Depressão, ansiedade e agressividade, além de oscilação de autoestima, estão na pauta do médico que vai apresentar estudos sobre a relação desses desequilíbrios com os hormônios e a validade da suplementação nutricional bem orientada - uma forma de suprir carências de nutrientes (vitaminas e minerais, por exemplo) ou de combater excessos de toxinas ambientais e disbioses associadas com o mau funcionamento do organismo.

 

O estabelecimento de abordagens complementares ou mais eficientes interessa a um grande número de pessoas. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a depressão afeta cerca de 340 milhões de indivíduos e é causa de 850 mil suicídios por ano no mundo. Não à toa é considerada a quinta maior questão de saúde pública - até 2020 deverá estar em segundo lugar, estima a entidade. No Brasil, são cerca de 13 milhões de depressivos, adultos e crianças.

“O tratamento da depressão apenas com psicofármacos, por mais modernos que sejam, deixa o paciente limitado. A capacidade de combater a dor, o temor e o rancor também está associada à bioquímica e à neurobioquímica, por isso a abordagem deve incluir avaliação sistêmica e suplementação nutricional que são objetos da nutrigenômica e toxigenômica”, defende Callegaro.

 

O Congresso é voltado para médicos, nutricionistas, farmacêuticos e outros profissionais da área de saúde em geral, incluindo estudantes universitários destes segmentos. Paralelo ao evento vão ocorrer ainda o VII Congresso Internacional de Antienvelhecimento, o I Fórum Médico de Dermocosmecêutica e o I Fórum de Nutrição Funcional, Nutrigenômica e Ortomolecular. Informações sobre como se inscrever podem ser obtidas pelo telefone 21-2490-6341, e-mail: lindacamposeventos@yahoo.com.br ou pelo site www.fapes.net.

 

 

SERVIÇO

25º Congresso Internacional de Prática Ortomolecular

1º Fórum Médico de Dermo Cosmecêutica em Medicina

1º Fórum de Nutrição e Nutrigenômica na visão Ortomolecular

 

Data: 7 a 9 de Junho

Local: Centro de Convenções Frei Caneca – R. Frei Caneca, 569, Consolação – São Paulo/SP

 

Informações:

- Telefone: (21) 2490-6341

- E-mail: lindacamposeventos@yahoo.com.br

- Site: www.fapes.net