Espancamento

Por Izabela Ferreira Reis | 13/08/2016 | Crônicas

E quando estamos perante a visão dos justos, somos eternamente abomináveis.

Justos, puros, castos e atiradores de primeiras pedras.

Espanquei assim, toda a minha compaixão. Espanquei até a morte.

Eles me deram as armas, e eu as usei achando que assim me livraria dos fardos que sobre mim puseram. Eu espanquei a minha compaixão até a morte e fui enterrada junto dela.

Mas não sou vítima, sou cúmplice! Eu consenti com os ideais que contrariavam o que eu chamava de redenção, porque me disseram, ou melhor, me convenceram que deveria arrancar isso de mim, e assim fiz, tirei com minhas próprias mãos, vi o sangue escorrendo pelos meus braços, era sangue do ferimento da alma.

O mundo todo tornou-se feroz, queriam julgar a árvore não pelos frutos que rendia, mas sim pelas folhas que caiam sobre suas cabeças. Eles se incomodavam conosco, juventude que só queria voar. Cortaram nossas asas.

Não tive como, me rendi, então com lágrimas escorrendo dos meus olhos eu o fiz. Colocaram o amor e o perdão amordaçados ao meu lado para me assistirem espancando a compaixão.

Sem ela morri sem um pingo de lucidez, nem teria como tê-la, ela era a minha lente, lente esta que me proporcionava enxergar o possível mundo que viveríamos.

Talvez seja por isso que nos prenderam nessas jaulas invisíveis e nos obrigaram a cometer suicídios internos. Eles não queriam o mundo que nós enxergávamos.

Izabela Reis.