Escrever: profissão ou destino?

Por Ana Carolina Marques | 11/06/2009 | Literatura

Sinto muito dizer, mas o que escrevo, por ora, somente algumas pessoas entenderão. A essas pessoas posso dar o nome de escritores, pois somente quem escreve entende o que é fazer parte desse mundo sobrenatural da escrita.

O escritor argentino Rodrigo Fresán soube descrever esse paradigma afirmando que não escolhemos ser escritores, mas sim somos escolhidos para exercer tal ofício. Ser escritor é uma vocação e como tal, não há como fugir dela. Então - outra vez nas palavras de Fresán - se você foi escolhido, terá que carregar esse fardo por toda a vida.

Desde pequenos, sentimos um prazer incomum ao ouvir histórias ou até mesmo contá-las. Até que chega o momento crucial em que o destino será profetizado. Chega o dia em que aqueles símbolos até então estranhos são decifrados e começamos a compreender a extraordinária arte da leitura.

É neste momento que nos tornamos independentes, e o mundo passa a girar em torno de nosso próprio eixo. Não precisamos mais de nenhum intermediário para alcançarmos nosso mundo paralelo. De repente nos tornamos gigantes e capazes de alcançar tudo o que antes nos era inacessível. A curiosidade se torna nossa inquilina e acabamos escravos dela. Queremos decifrar o mundo e nada nos faz parar, a sede de saber é nosso único combustível.

Ao contrário do que muitos pensam, não escrevemos para os outros. Escrevemos para aliviar nossa mente de múltiplas ideias que não param de brotar e se reproduzir. Quando lemos algo que escrevemos é como se olhássemos para nós mesmos através de uma cúpula de vidro. É um vício comum tentarmos absorver o passado que se fez presente na hora em que o texto foi concebido.

Cada vez que escrevemos um texto, é como se déssemos a luz a um primeiro filho. Não existe ordem de importância, mas existe sim a lembrança intacta do contexto temporal em que foi escrito. Escrever não significa somente alinhar palavras e seus significados, é preciso saber conduzi-las, como o maestro de uma orquestra. Regê-las para que sigam a nossa melodia até a última nota onde estacionamos o ponto final.

Não há beleza maior do que ver alguém exercer uma profissão com amor. É a combinação perfeita, e nunca poderá dar errado. Mas é preciso estar atento para ouvir a voz que irá chamá-lo para seu respectivo mundo. A profissão está dentro de nós, e nada que você faça poderá mudar isso.