Escola Versus Globalização
Por GLAUCILENE BATISTA | 21/09/2008 | EducaçãoINTRODUÇÃO
Os educadores se deparam com as incoerências, os discursos existentes na escola atualmente e que estão de acordo com a nova lógica do capital. Para entender tal problemática é importante examinar num primeiro momento as questões que surgem no mundo do trabalho a partir da adoção de um novo modelo de produção que foi implantado nos últimos trinta anos do século XX. Estamos falando do toyotismo que passou a ser um modelo em substituição ao modelo taylorista / fordista. E num segundo momento analisar a influência das Novas Tecnologias da Informação e Comunicação no âmbito escolar e como os educadores estão se posicionando diante dessa sociedade do conhecimento.
A RELAÇÃO ENTRE O TRABALHO E A EDUCAÇÃO NA SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO
A instituição escolar não pode mais fugir dessas mudanças rápidas e a introdução de tecnologias provoca uma inquietação tanto para os que insistem em permanecer com suas práticas tradicionais como para os que acreditam que é possível mudar.
O primeiro destaque a ser feito é que a noção de trabalho deve ser entendida a partir de mudanças ocorridas nas sociedades ao longo da história, e que o panorama dos processos produtivos foram sendo reelaborados a partir da ótica do explorador.
A substituição do modelo taylorista/fordista pelo modelo toyotista surgiu justamente para dar conta das adequações do trabalhador ao capitalismo. Essas mudanças surgem a partir de ações empreendidas na fábrica de automóveis Toyota. As inovações tornaram-se parte de um novo paradigma que alicerçou todo o processo de reestruturação produtiva.
No toyotismo a produção está vinculada à demanda. O como produzir é a filosofia desta nova forma que o capitalismo assumiu, tendo em vista as mudanças econômicas, sociais e políticas das últimas três décadas do século XX.
E como deve ser esse trabalhador que deve produzir e produzir para atender a uma demanda, tendo em vista que tempo é dinheiro e quanto mais produtos que atraiam os consumidores mais retorno financeiro as empresas terão?
Esse trabalhar deve ser flexível, as tarefas são feitas num verdadeiro trabalho de equipe. Termos como just in time, horizontalidade, qualidade total e reengenharia fazem parte do vocabulário desse mesmo trabalhador que acaba se tornando tão importante quanto um superior.
É interessante destacar que são criadas estratégias para que o trabalhador produza mais em menos tempo.
As conseqüências desse modelo de produção (toyotista) são perceptíveis em nosso cotidiano: redução de um proletariado estável; terceirização; aumento do trabalho feminino; trabalho combinado e tantas outras.
Com a crise de 70 (século XX) o toyotismo passou a ser o novo modelo de produção, modelo esse que é pautado pela horizontalização, flexibilização e o mais importante: o avanço tecnológico.
O trabalho é a mola propulsora do mundo contemporâneo. O trabalhador se depara com um mundo atraente, cheio de possibilidades, mas o que ocorre? Desemprego, baixa escolaridade que impede o trabalhador de obter uma vaga numa empresa, e o fator tempo: pouco tempo para estudar e se adequar ás novas exigências do mundo do trabalho.
De acordo com Severino (1994, p.150) "o homem é, de fato, um ser em permanente construção, que vai se fazendo no tempo pela mediação de sua prática, de sua ação".
Neste sentido, o homem não pode ser separado de sua trajetória histórica. O homem é aquilo que ele se faz, ou seja, a sua construção enquanto ser atuante depende de suas relações com o meio no qual está inserido. A ação humana sobre a natureza que é capaz de transformá-la é à base da práxis.Tal práxis é subjetiva. O trabalho é assim, uma prática produtiva.
Concordamos com Severino (1994, p.151) quando diz que "Mas ao produzir, transformando a natureza para assegurar sua própria sobrevivência, os homens não estabelecem apenas relações individuais com essa natureza".
Nesse processo de inter-relações o homem estabelece relações com outras pessoas. A sociedade surge mediante as relações de trocas e de intercâmbios. Neste contexto é que se estabelecem relações de poder. O trabalho permite aos homens garantirem sua existência material.
O atual sistema de produção próprio do capitalismo gera uma profunda degradação do trabalho. O trabalho assalariado é considerado um trabalho "livre", mas na realidade ele aliena o produtor direto que é o trabalhador, que fica separado tanto dos meios de produção como dos bens produzidos (SEVERINO, 1994).
E o trabalhador como fica nesse novo contexto? Precisa se adequar de forma rápida. Neste sentido, a formação profissional no Brasil vem sendo pensada para atender a demanda desse mundo do trabalho. E o perfil desse trabalhador deve estar de acordo com o que as empresas precisam: atitude, autoconhecimento, vontade de aprender mais. Ser competente é imprescindível!
O destaque fica por conta da escola que está sendo balançada pelas mudanças, afinal a sociedade do conhecimento impõe novos procedimentos e novos instrumentos de atuação e transformação da realidade. O espaço escolar deve se adequar e as Novas Tecnologias da Informação e Comunicação são integradas. Mas é necessário ter cautela, afinal às mudanças nem sempre acontecem de forma tão rápida como as que ocorrem no mundo do trabalho.
O fato é que as novas tecnologias não substituem o professor. Mas na prática o que vemos no dia-a-dia são professores desesperados em amarrar os alunos numa "camisa-de-força": práticas pedagógicas mofadas; recursos didáticos restritos a um quadro branco (pelo menos isso! Quem tem alergia agradece esse avanço!), pincel (quando tem!) e o inseparável livro didático (como se bastasse). A realidade é que o governo quer que mudanças ocorram, mas infelizmente só ficam os discursos, e quando os resultados chegam o professor é ainda penalizado, como se ele sozinho pudesse dar conta de políticas públicas incoerentes com o que o mercado de trabalho quer.
Sendo assim, as tecnologias se bem utilizadas podem permitir um novo encantamento pelo espaço escolar, pois possibilitará a interação dos alunos.
CONCLUSÃO
Hoje, com a sociedade do conhecimento, nos três fatores tradicionais de produção (recursos naturais, mão-de-obra e capital), acrescenta-se o conhecimento e a inteligência das pessoas, agregando valor aos produtos e serviços.
A humanidade está inserida na era da informação. O grande volume de informações existentes contribui para tornar o conhecimento uma 'arma' a disposição das pessoas e das empresas para vencer a competitividade.
A comunicação passou a ser valorizada, pois é o meio pelo qual se disseminam as informações, agregando valor aos indivíduos que conseguem transformar essas informações em conhecimento.
Essas mudanças fazem parte de um processo que procura tornar as organizações competitivas através das pessoas.
Considero importante o fato de que a escola pública atualmente seja "sacudida" e que o professor que está querendo mudanças não espere acontecer. Claro que se estivermos qualificados (afinal o mercado exige), teremos maiores condições de sentar em uma mesa de negociações com nossos governantes e reivindicar salários mais dignos, melhores condições de trabalho e sem contar que podemos exigir que as NTIC sejam não apenas "relíquias" guardadas a sete chaves numa sala mofada. Mas isso está longe ainda do que quero na educação.
Talvez por ter vasta experiência no setor privado sonhe com uma escola mais cidadão e consequentemente com alunos preparados para disputar em pé de igualdade com os alunos de escolas particulares.
E qual é a tarefa do professor do século XXI? Mediar; interferir; ligar; religar o que o aluno já conhece com o cotidiano.
Acredito que a educação é a mola propulsora para combater desigualdades e que o professor deve ser um subversivo sim, no sentido de questionar e lutar por melhorias, tanto pessoais quanto coletivas, afinal à escola somos todos nós.
REFERÊNCIAS
ANTUNES, Ricardo. Adeus ao trabalho? : ensaio sobre a metamorfose e a centralidade do mundo do trabalho. – São Paulo: Cortez: Campinas, SP: Editora da Universidade Estadual de Campinas, 2005.
GADOTTI, Moacir; ROMÃO, José E. (orgs.) Educação de jovens e adultos: teoria, prática e proposta. 3.ed. – São Paulo: Cortez: Instituto Paulo Freire,2001. – (Guia da escola cidadã; v.5).
PACHECO, Dalmir. Trabalho, Educação e Tecnologia. Manaus: CEFET/BK Editora, 2007.
SEVERINO, Antônio Joaquim. Filosofia. São Paulo: Cortez, 1994. – (Coleção Magistério 2º grau. Série formação geral).
SOARES, Leôncio. Aprendendo com a diferença - estudos e pesquisas em educação de jovens e adultos. – Belo Horizonte: Autêntica, 2003.